Lanciano, ano 700. Lanciano é uma pequena cidade medieval, banhada pelo Mar Adriático, na Itália, entre as cidades de San Giovanni Rotondo e Loreto.
Antigamente a denominavam de “Anxanum”. A mudança de nome foi com a finalidade de perpetuar uma homenagem à conversão de Longino, que segundo a Tradição nasceu lá e foi o centurião romano que cravou a sua lança no flanco direito de Jesus Crucificado, alcançando o Coração do Redentor, para ver se ELE ainda estava vivo, conforme descreve São João em seu Evangelho (Jo 19,34).
Na seqüência dos muitos acontecimentos que sucederam na vida do centurião, despertaram o seu espírito e o conduziram ao caminho da conversão. A Igreja reconhece a notável transformação espiritual que o santificou e o colocou entre os Santos. É conhecido como São Longino e sua imagem está no Vaticano, no Santo Sepulcro em Jerusalém e em diversos outros altares do mundo. Sua Festa é comemorada no dia 15 de Março.
Na época em que aconteceu o Milagre, a Igreja de Lanciano estava entregue à proteção dos Santos Legonciano e Domiciano, e era administrada pelos Monges Basilianos do Rito Grego Ortodoxo.
Como ocorreu o milagre
Um Monge da Ordem de São Basílio (Basiliano), sábio nas coisas do mundo, vacilava contudo nas coisas da fé, e atravessava um terrível período de perturbação espiritual de tal ordem que o levava a duvidar da presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Hóstia Consagrada. Mas ele lutava contra aquela abominável tentação e rezava, suplicando ao Criador que iluminasse o seu espírito e o livrasse daquela dúvida e do medo que envolvia a sua consciência, que o fazia imaginar estar perdendo a vocação sacerdotal. À medida que passavam os dias, aquele drama interior aumentava de intensidade e afetava a sua disposição, roubando-lhe até o prazer de viver.
Por outro lado, a situação do mundo naquela época não lhe favorecia em nada para ajudá-lo fortalecer a sua fé. Havia muitas heresias disseminadas em todas as partes, as quais eram acolhidas por leigos e pessoas da Igreja. Diversos Bispos e Sacerdotes aceitavam aquelas doutrinas naturalmente, sem uma maior e mais profunda reflexão, deixando confusas as mentes de muitos fieis e religiosos que observavam aquele comportamento, resultando sempre em mal-estar e incompreensões no seio da Igreja.
Numa manhã, como habitualmente fazia, o Monge celebrava a Santa Missa quando foi acometido por uma incontrolável onda de dúvidas. Envergonhado consigo mesmo, com um olhar de piedade, contemplou a Hóstia com o vinho que estavam a sua frente e que ele consagrava. De súbito, suas mãos tremeram e seu corpo foi envolvido por uma vigorosa e profunda emoção. Permaneceu imóvel, em silêncio, de costas para o povo, como as Missas eram celebradas antigamente. Depois de alguns minutos, voltando-se para os fieis que sem saber o que acontecia, aguardavam com expectativa e ansiedade, falou:
“Ó testemunhas afortunadas, a quem o Santíssimo Deus, para destruir minha falta de fé, quis revelar-Se a Si Mesmo neste Bendito Sacramento e fazer-Se visível diante de nossos olhos. Venham irmãos, venham todos e maravilhem-se com o nosso Deus tão próximo de nós. Venham contemplar a Carne e o Sangue de nosso Amado Cristo”.
A Hóstia tinha se transformado em Carne e o Vinho convertido em Sangue do Senhor.
As pessoas, presenciando o Milagre, manifestaram-se emocionadas e surpresas, repletas de alegria pela infinita bondade divina em lhes proporcionar tão extraordinária manifestação. Por isso, clamavam perdão e misericórdia para as suas vidas, declarando-se indignas de presenciarem tão grandioso e comovente Milagre.
Com o avançar das horas, saíram para as suas casas e divulgaram a auspiciosa notícia por onde passavam. Em pouco tempo, toda a cidade ficou sabendo da notável manifestação sobrenatural e afluíram à Igreja centenas e milhares de pessoas, que superlotaram todas as dependências do templo cristão, porque todos estavam ávidos de verem o Corpo e o Sangue de Jesus.
O Milagre ocorreu no ano 700 de nossa era e causou um efeito admirável, porque atuou preponderantemente sobre a crença daquele Sacerdote Basiliano e sobre a fé de muitas pessoas frias e indiferentes, que não acreditavam na Sagrada Eucaristia, na presença Real de Jesus, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, na Hóstia e no Vinho Consagrados.
É importante destacar que desde a data do acontecimento, a Igreja acolheu o Milagre como “um verdadeiro Sinal do Céu” e venerou o Corpo e o Sangue do Senhor nas procissões que anualmente são realizadas no dia da Festa, último domingo do mês de Outubro.
Como se conserva até hoje o sangue miraculoso de Cristo
Inicialmente o Milagre foi conservado num artístico relicário de marfim. Posteriormente foi colocado num magnífico Ostensório de ouro.
O Sangue do Senhor no momento do Milagre, coagulou em cinco porções, como se fossem cinco pelotas. Elas guardam uma incrível propriedade: cada bola de sangue coagulado tem o mesmo peso que as outras juntas.
O Sangue adquiriu uma cor marrom-sépia. A Carne ficou com uma cor grená-escuro. Entretanto, quando se coloca uma lâmpada por trás, ela adquire uma cor rosada.
A Igreja de Lanciano permaneceu sob a custódia dos Monges de São Basílio até 1176, quando assumiram os Padres Beneditinos e permaneceram até 1252. A seguir vieram os Franciscanos e tiveram que fazer muitas obras, porque a estrutura do templo estava comprometida.
Em 1258, os Franciscanos construíram uma nova Igreja, no local da antiga, e a colocaram sob a proteção de São Francisco.
Em 1515 o Papa Leão X implantou em Lanciano uma sede episcopal e em 1562, o Papa Pio IV emitiu uma Bula elevando-a a condição de sede Arcepiscopal.
Em 1887 o Arcebispo de Lanciano, Monsenhor Petrarca, obteve do Papa Leão XIII indulgência plenária perpétua para quem visitasse o Milagre Eucarístico no período da Festa, último domingo de Outubro e os seguintes oito dias, da oitava, em cujo período transcorre as celebrações em honra do Sangue e do Corpo do Senhor.
Em 1566, com a ameaça de invasão pelos turcos, Frei Giovanni Antônio de Mastro Renzo e seus companheiros, construíram uma Capela especial e bem protegida, a Capela Valsecca, onde foi abrigado com segurança o Milagre de Jesus Eucarístico. Ali permaneceu até o ano 1902, quando construíram um magnífico Altar com dois Tabernáculos: no superior colocaram o Milagre e no inferior está o Sacrário com as Hóstias Consagradas nas Santas Missas, para serem consumidas pelos fieis. Pela parte de trás, tem uma pequena escada de acesso, por onde as pessoas podem admirar bem de perto o extraordinário Milagre.
A Carne e o Sangue atualmente visíveis não só são a Carne e o Sangue de Jesus Cristo como toda Hóstia consagrada, senão que mantém até hoje os acidentes próprios de carne e sangue humano. A Carne, desde 1713, conserva-se num artístico ostensório de prata, da escola napolitana, finamente trabalhado. O Sangue está contido numa rica e antiga ampola de cristal de Roca.
A emoção da visita é sempre grande e proporciona manifestações espontâneas que atestam a admiração e a comoção das pessoas diante do próprio Deus.
A parte da Hóstia no centro do círculo de carne, embora fosse verdadeiramente a Carne de Jesus Cristo continuou apresentando os acidentes de pão sem levedura depois do milagre, tal como ocorre com a Consagração. Manteve-se por muitos anos, porém se desintegrou porque a lâmina que a continha não havia sido hermeticamente fechada.
O milagre de Lanciano e a ciência
Ao longo dos séculos, desde o início, muitas pesquisas foram feitas com a Carne e o Sangue do Milagre Eucarístico de Lanciano. As investigações mais modernas, que foram concluídas em 1970-71 e 1991, levados a efeito pelo Professor Odoardo Linoli, docente de Anatomia e História Patológica em Química e Microscopia Clínica, em colaboração com o Professor Ruggero Bertelli, da Universidade de Siena, utilizando-se de recursos avançados de pesquisa, concluíram o seguinte:
1 – A Carne é verdadeira carne humana.
2 – A Carne é um pedaço do tecido muscular do coração, presentes partes do miocárdio, do endocárdio e do nervo vago do ventrículo cardíaco esquerdo.
3 – O Sangue também é humano
4 – A Carne e o Sangue tem o mesmo tipo sanguíneo: “AB”.
5 – No Sangue encontram-se proteínas na mesma proporção que se encontra num sangue humano vivo.
6 – No Sangue também se encontram minerais em proporções idênticas as encontrada num ser humano normal: dosagem do cloro, fósforo, magnésio, potássio, sódio e do cálcio.
7 – A preservação da Carne e do Sangue durante mais de 12 séculos sem a ajuda de qualquer ingrediente químico, é perfeita e admirável.
Através dos tempos se têm escrito muitos relatos para comprovar a autenticidade do milagre eucarístico de Lanciano, com milagres de natureza tanto física quanto espiritual. Estes fatos foram cuidadosamente registrados por causa da importância que a Cristandade, e com e ela Igreja, sempre deu a este milagre.
Na mesma época do milagre os fatos foram redigidos num manuscrito, em Grego e Latim. Numa cronologia da cidade de Lanciano, um historiador escreveu que em princípios de 1500 dois monges basilianos vieram à igreja, que estava aos cuidados dos franciscanos, e pediram para passar a noite ali. Pediram também para ver o pergaminho que continha a história do Milagre. Os franciscanos lhes deixaram ver e estudar o pergaminho histórico durante a noite, porém ao amanhecer os monges basilianos foram embora cedo levando consigo o pergaminho. Acredita-se que o motivo da conduta dos monges basilianos é que ficaram envergonhados porque um deles havia perdido a fé na Eucaristia. O fato é que o manuscrito nunca foi recuperado.
A igreja onde se encontra o Milagre Eucarístico de Lanciano está no local que hoje se insere no centro da cidade, mas na época do milagre era um subúrbio e se chamava de “Igreja dos Santos Longino e Domiciano”. Um dos benfeitores da igreja foi o bispo Landulfo que lhe fez o Santuário. Em 1258 os franciscanos edificaram a igreja atual, reformada finalmente em 1700 de estilo românico-gótico para o estilo barroco.
Em 25 de junho de 1672, o Papa Celemente X declarou o altar do Milagre Eucarístico como um altar privilegiado na Oitava do dia de Finados e em todas as segundas-feiras do ano.
No tempo de Napoleão, em 1809, os franciscanos foram expulsos da cidade, mas voltaram a assumi-la solenemente em 21 de junho de 1953.
Ainda em 1566, no dia 1º de agosto, Frei Giovanni Antonio de Mastro Renzo perdeu a fé, não na Eucaristia, mas na proteção da Providência para salvá-los junto com os outros frades da investida dos turcos. Vendo a necessidade de salvar o milagre eucarístico, colheu o relicário e com seus frades desapareceu da cidade. Caminharam toda a noite e antes do amanhecer Frei Giovanni sentiu que já havia grande distância entre eles e o inimigo, ordenando então a seus frades que descansassem. Ao surgir o sol, pela manha, se deram conta de que se encontravam exatamente na entrada da cidade. Entenderam, então, que o Senhor havia intervido porque queria que o Milagre Eucarístico fosse um sinal de segurança para as pessoas da cidade, um sinal de que Deus não os havia abandonado. Inspirados pelo Espírito Santo, todos os frades ofereceram-se, então, com magnanimidade para ficar na igreja e proteger o Milagre Eucarístico com suas vidas. Nosso Senhor os protegeu e não foi necessário suas vidas, pois os turcos recuaram.
A primeira experiência, dita “científica”, feita com as sagradas espécies data do ano de 1574, quando descobriram um fenômeno inexplicável: as cinco bolhas de sangue coaguladas são de diferentes tamanhos e formas, mas têm o mesmo peso. O fato foi documentado.
Veja vídeo do Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=1UY2kHRp8iA
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