É comum os rádios, os jornais e as TVs se referirem a temas atuais com os dizeres: “segundo entendidos no assunto”, “conforme experts”, ou então, “conforme experiências científicas”, “segundo estudos” , etc., etc.; estas expressões são bastante para sacramentar qualquer afirmação na mídia. Se há uma “confirmação” científica, um estudo, um trabalho de ciência, o cara pode acreditar que a notícia é séria. Será mesmo?
O que é uma pesquisa científica? Trata-se do resultado de um trabalho, em geral universitário, que é fruto de estudos detalhados e conclusivos sobre alguma descoberta, melhoramento das existentes ou qualquer aperfeiçoamento das atividades tecnológicas. Assim, uma pesquisa para atingir o estágio de ser chamado de “cientista” necessita passar por vários crivos, análises, críticas e publicações especializadas. Tudo parece ser muito sério, mas demos uma análise sobre o que a mídia publica sobre o assunto: há pesquisas publicadas sobre tudo neste mundo, sobre os males ou os benefícios que faz o uso do café, do cigarro, das bebidas, das drogas, etc., além de uma infinidade de outras, muitas das quais de natureza pouco relevantes, como, por exemplo, sobre filmes de terror, qualidade das graxas e óleos lubrificantes, uso do cinto de segurança, e por aí vai. No mesmo dia a mídia publica pesquisas contraditórias: uma diz que o café faz mal a saúde e outra diz o contrário; uma diz que os índios causam devastação nas matas e outra que os índios são protetores das florestas. As únicas pesquisas que coincidem (parecendo haver acordo entre os pesquisadores) são as mentirosas consultas pré-eleitorais, porém estas não têm valor científico, não são publicadas em revistas especializadas nem adquirem o caráter tão sério como as demais. São apenas consultas pré-eleitorais para se aguçar a curiosidade de qual candidato desfruta da maior preferência do eleitorado.
A pesquisa cientifica objetiva fundamentalmente contribuir para a evolução do conhecimento humano, sendo planejada e executada aparentemente segundo rigorosos critérios de processamento das informações. Será chamada pesquisa científica se sua realização for objeto de investigação planejada, desenvolvida e redigida conforme normas metodológicas consagradas pela ciência da área específica. Os trabalhos de graduação e de pós-graduação, para serem considerados pesquisas científicas, devem produzir ciência, ou dela derivar, ou acompanhar seu modelo de tratamento.
Alguns pesquisadores conceituam pesquisa da seguinte forma:
Conjunto de procedimentos sistemáticos, baseado no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar soluções para problemas propostos, mediante a utilização de métodos científicos;
Procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas propostos ;
Atividade voltada para a solução de problemas através do emprego de processos científicos .
Tudo isto exige metodologia, pesquisa, bibliografia, para depois se elaborar o artigo, o trabalho ou a pesquisa propriamente dita.
Não faz muito tempo que publicamos algumas postagens sob o tema acima.
(Que utilidade pode ter as pesquisas científicas? e Que utilidade prática há para o aumento das pesquisas científicas? )
Foi mostrado um quadro da produção científica, no Brasil e no mundo. É impressionante a quantidade de artigos científicos publicados nas revistas especializadas. Como foi visto, só quem lucra com isto são as empresas que aplicam dinheiro em suas área de produção, os próprios cientistas (melhorando seus currículos) e algumas universidades (enriquecendo seu cabedal científico). Quanto à população de modo geral, nada!. Quando esta vier a se beneficiar de algumas destas novidades postas na mídia científica já terão surgido outras que as superaram.
O assunto voltou à baila a semana passada por causa de uma descoberta fenomenal: a produção científica da Rússia (ex-URSS, diga-se de passagem) perde volume e é ultrapassada até pelo Brasil!
Esta conclusão (mais uma pesquisa!) está contida num relatório recente da empresa Thomson Reuteres, que se dedica a catalogar a produção científica mundial reunindo dados de mais de 10 mil revistas especializada. Vejam bem, mais de 10 mil revistas! Nesta pesquisa só entram artigos científicos que passaram pela revisão por pares, na qual especialistas independentes da mesma área de pesquisa avaliam se o trabalho é inovador e merece ser publicado.
Nesta análise, o Brasil supera a própria a Rússia, com mais de 30 mil artigos científicos, contra 27 mil dos russos. A China, nem se fala, está disparada na frente com mais de 112 mil.
A propósito, reproduzimos nossa postagem anterior sobre o assunto:
Que utilidade pode ter as pesquisas científicas?
A “Folha de São Paulo”, edição de 4.7.2008 chama a atenção para o fato do Brasil haver crescido 133% em produção científica, no período de 1998 a 2007.
“Produção científica” entende-se como o resultado das pesquisas publicado em órgão especializado, isto é, um artigo numa revista pode ser considerado uma “produção científica”. Mas existem estudos universitários de diversas naturezas e, de modo geral, a mídia considera “ciência” apenas aqueles de caráter empírico, como as áreas de medicina, botânica, física, química, genética, etc. Será que estudos relativos ao direito, à sociologia, à filosofia, enfim, aquelas matérias de caráter especulativo e da lógica, estão também incluídos nesta estatística divulgada pelo CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), pertencente ao MEC? A notícia não especifica.
A “produção científica”, em todo o mundo, chegaria a mais de três milhões de artigos publicados anualmente. E não é para menos: somente num gráfico anexo à notícia acima, onde são alinhados apenas seis países (Brasil, Índia, China, Rússia, EUA e Canadá) foram publicados 668.665 artigos científicos no ano de 2007. Em outro gráfico, os vinte países que mais publicam “produção científica” dão um total de 1.357.121 publicações. Se levarmos em conta que nos outros 213 países (o ranking é de 233) publiquem uma média cada um de apenas 10 mil artigos científicos por ano teremos mais de dois milhões acrescidos aos artigos acima, totalizando mais de 3,3 milhões no ano..
De outro lado, se um artigo de caráter científico tem que conter pelo menos cem páginas (para algumas áreas se exige muito mais páginas), teremos então mais de 330 milhões de páginas científicas publicadas anualmente. Uma média de cerca de um milhão por dia...
Estão fora deste cálculo aqueles estudos ou pesquisas que não lograram espaço nas revistas especializadas, mas cujos autores estão na fila aguardando sua vez. Embora sem dados sobre estes últimos, poderemos imaginar quantos professores universitários, doutores, pesquisadores, estudantes em pós graduação, equipes de estudos, etc., etc., estão com seus trabalhos prontos mas não se tem conhecimento por falta de espaço. Se houvesse espaço para todos, talvez a quantidade de “produção científica” dobrasse.
Outro dado é relativo à internet. Nem todos os trabalhos são publicados na internet, mas existem muitos que usam aquele meio de comunicação para divulgar seus estudos. Apesar de sua popularidade, a internet ainda não é bem aceita pelo meio científico em geral, talvez por priorizar o estudo mecânico e tecnológico em detrimento do conhecimento mais intelectual e livresco, mas falou-se há 10 anos atrás que existiam mais de um milhão de páginas científicas divulgadas pela internet. E hoje quantas são? Há dados sobre isso? No final destes informes, cabe-nos uma indagação: que utilidade para a humanidade tem esta massiva “produção científica”? Poderemos imaginar alguns setores que podem (ou tiram) proveito desta produção:
1. Os próprios “cientistas”, pelo fato de engordar seus currículos e poder obter assim mais rendimento em sua atividade;
2. As empresas que investem em seus setores de pesquisa, podendo melhorar seu empenho e, conseqüentemente, obter mais lucros em sua atividade;
3. O enriquecimento cultural e científico das comunidades de estudos universitários, melhorando seu padrão e angariando maior espaço na comunidade cultural do mundo;
4. Por último, a população em geral: quando será que a produção científica de um ano (como em 2007, mais de 3 milhões) será desfrutada pela população onde a mesma está sendo aplicada? E quando aquele progresso ou melhoramento científico chegar, decorridos talvez alguns anos, quantos milhões de outros estudos ou pesquisas não terão já o ultrapassado? A eletricidade foi inventada há mais de cem anos e ainda há populações que não desfrutam desta maravilhosa criação científica, embora a ciência já tenha inventado centenas ou milhares de outros recursos energéticos.
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