A coisa funciona mais ou menos assim: um governo é popular porque cumpre com sua função de bem governar. Em tese, seria este o principal motivo de uma boa popularidade política. Em geral os institutos de pesquisa perguntam à população, genericamente, se aprovam ou não tal governo, se o acham ruim ou não, circunscrevendo a pesquisa a perguntas banais e de pouca profundidade. O resultado é sempre simplório demais: tal governante tem tantos por cento de aprovação, enquanto outro tem tantos por cento de reprovação.
Esta forma de medir os acertos de um governo nunca pode representar a realidade, pois a governabilidade exige tantas nuances, está cheia de tantos detalhes e implicações morais, sociais e políticas, que seria necessário um estudo acurado de suas metas, suas ações concretas, seus fins aparentes e escusos, e se até que ponto a população sabe de tudo e os aprova. Nada disto é visto nessas pesquisas. No final, sabe-se apenas que tal governo é ou não aceito pela maioria da população e nada mais.
Pois bem: mesmo que tudo funcionasse perfeitamente e que isso servisse para medir com exatidão se o governo está agindo corretamente em seus fins – que proveito teria para o povo se os seus governantes são populares ou não? Serviria, no caso daqueles impopulares, para tirá-los do poder, mas tal não ocorre. Seria necessário, isto sim, haver uma espécie de “eleição” às avessas, isto é, todos votariam se o cara deve ou não permanecer no poder. Mas, em nenhum país do mundo, dito democrático, existe essa modalidade de contra-eleição. Em nenhum lugar se tira um governante pelo voto, este serve apenas para colocá-lo no poder.
No Brasil, este afã de se saber a popularidades dos políticos já vem de longe. De que serviu para o povo até hoje? Por acaso, ao saber que são impopulares os governantes melhoram seu desempenho? Ou, pelo contrário, como ocorre hoje, sabendo que são aceitos pela maioria da população, isso por acaso serve para evitar que cometam abusos? Na maioria das vezes, a popularidade confere a certos governantes mais elementos com que se baseiam para agir com mais ímpeto na perseguição de inimigos políticos e na implantação de um sistema despótico de governar. Isso tem se tornado muito comum nos últimos tempos. Vejam o exemplo de Hitler.
Recentemente, uma instituição mexicana de pesquisas divulgou uma delas no que diz respeito aos governantes das Américas. Trata-se de uma empresa de opinião pública, chamada “Mitofsky”, a qual tentou apurar o percentual de aprovação que têm os mandatários dos países americanos. No final, se apresentam os resultados de 17 países. Segundo declararam os autores da pesquisa, o objetivo da mesma foi “como uma medição das percepções dos governados em cada país do estilo de governar e dos resultados gerados pela gestão de seus respectivos governantes”. Como se vê, um objetivo bem genérico e fácil de ser manipulado na pesquisa.
Pela apuração da Mitofsky o dirigente mais popular das Américas seria Ricardo Martinelli, presidente do Panamá, com 91% de aprovação, quase uma unanimidade naquele país. O presidente Lula estaria em terceiro lugar, com 83%, seguido pelo do Chile e da Colômbia, com 81 e 64/% respectivamente. A última colocação na enquête estaria com a presidente da Argentina. Não é preciso dizer que a grande maioria de tais governantes são de esquerda: seriam 10 esquerdistas, dois da centro-esquerda (não sei que diferença faz ser centro-esquerda de ser esquerdista), um centro-liberal, um com uma denominação rara nos dias de hoje, que seria “terceira via”, e três direitistas (Colômbia, México e Canadá).
Um governo foi excluído da pesquisa, não se sabe a razão: trata-se de Hugo Chávez, da Venezuela. Que é de esquerda, todos sabem; que é popular, muitos dizem que é, mas se essa popularidade vem decrescendo ou não, pouco se sabe. A empresa de pesquisa também o desconhece oficialmente, dizendo que há “falta de informações”. Também foram excluídos Honduras e República Dominicana, pelas mesmas razões.
A Consultoria Mitofsky é a empresa líder no México no campo da investigação de opinião pública nos últimos vinte anos. Sua tarefa principal é a consultoria especializada em estudos de mercado e de opinião pública através de medições de atitudes, valores e características de diversos estratos sociais.
Constatada a popularidade de uns, e a impopularidade de outros, perguntamos: que benefício isso representa para os povos daqueles países? Serviu para reforçar o poder dos populares e enfraquecer dos impopulares, mas não houve nenhum ganho da população em melhorar o desempenho de tais governantes. Os populares apenas tornaram-se mais fortes em seus partidos e na condução de expedientes muitas vezes até contrários aos desejos dos seus povos, enquanto os impopulares, enfraquecidos, mesmo assim não mudaram em nada sua forma de governar, como vem ocorrendo com a Argentina.
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