Conforme Dom Duarte Leopoldo e Silva , a revolta pernambucana de 1817, foi uma revolução de padres. A lista dos que participaram do movimento abrange, no avultado número, cônegos e governadores do Bispado, vigários e coadjutores, regulares e seculares, dos quais dois se suicidaram, quatro foram supliciados e muitos condenados à pena comum de prisão.
Entre os prisioneiros havia 57 religiosos. Todos ou quase todos esses padres eram membros das sociedades secretas, reunidas sob as denominações de “academias” ou “areópagos”, onde se cultivavam as idéias libertárias da Revolução Francesa. Tem-se dito que essas lojas maçônicas eram simplesmente “nacionalistas”, como ao depois pretenderam e pretendem se passar como simples entidades filantrópicas. Como quer que seja, é certo que, à sombra do mistério que as envolvia, se desenvolveram doutrinas absolutamente contrárias à ortodoxia católica que, a seu tempo, se encontraram em campo aberto contra a Igreja.
Dom Duarte comenta em sua obra que “o espírito de tolerância que, então como hoje, apregoavam os adeptos dos “mistérios democráticos”, bem lhes serviu para iludir incautos e até sacerdotes, ilustres talvez nas ciências profanas, mas ignorantes das ciências eclesiásticas, pouco ou nada cultivadas em um país que não possuía seminários regulares bem dirigidos. Os poucos que, em Portugal, iam beber as ciências eclesiásticas, voltavam ainda mais contaminados”. A fumaça de Satanás, no dizer de Paulo VI em relação à crise religiosa do século XX, já penetrava no santuário desde longas datas, como se vê.
Por diversas cidades nordestinas, do interior e das capitais, pregavam essas dezenas de padres a revolta libertária e a implantação de uma república. Da mesma forma como no século XX o clero progressista pregava a Teologia da Libertação, com a diferença que hoje pregam o socialismo utópico enquanto naqueles tempos apregoavam a derrocada da monarquia e a implantação da república.
O centro daquele movimento era uma loja maçônica denominada “Areópago de Itambé”, criada no fim do século XVIII pelo padre Arruda Câmara. Este religioso teve sua formação religiosa inteiramente deturpada pelos ideais libertários da Revolução Francesa, ainda fumegante, e que a trouxe para o seminário de Olinda, fundado por ele em 1800 e tinha na sua direção outro padre revolucionário, Miguel Joaquim de Almeida Castro, estreitamente ligado ao “Areópago de Itambé”. O movimento era contestatório contra Dom João VI e diz-se que agia sob a inspiração de Napoleão Bonaparte. Na mesma época, o desventurado falso imperador estava preso na Ilha de Santa Helena, muito próxima do Brasil, o que inspirou aos idealizadores do “areópago” um plano para libertá-lo e aclamá-lo como nosso imperador.
O movimento fracassou, como se sabe, e os cabeças foram punidos. Mas, quais as seqüelas deixadas na região onde pregaram, e até pegaram em armas, tais sacerdotes? De tudo isto resultou, naquela região, a disseminação de uma grande centelha de ódio, a violência entre famílias, o espírito de vingança e, finalmente, o tão famigerado cangaço!
Um dos membros da agitação foi o sub-diácono José Martiniano de Alencar, pai do famoso romancista do mesmo nome, filho de Bárbara de Alencar, ardorosa revolucionária da cidade do Crato, no Ceará. Posteriormente, o sub-diácono foi ordenado sacerdote, teve vida irregular como religioso, casou-se, foi suspenso de ordens, e participou de outro movimento revolucionário em 1824, a “Confederação do Equador”, também liderada por um padre.
Quando estourou a revolta de 1817, com Bárbara de Alencar e seu filho como os principais mentores dela na cidade do Crato, houve muita violência e mortes. Destas escaramuças se originaram rixas de famílias que perduraram por mais de um século, e algumas perduram até hoje.
Conforme o escritor cearense Nertan Macedo, especialista em Lampião, o cangaço não teve origem no século XX, mas desde os primórdios do século XIX, exatamente logo após a revolta de 1817. Os revoltosos que fugiam das tropas do governo se embrenhavam pelas matas e passavam a levar vida de bandidos, saqueando e matando. Nertan Macedo pesquisou em detalhes a origem do bando de Lampião, que começou na cidade de Flores (PE). Um dos patriarcas da cidade, que era um capitão-mor das ordenanças, chamado Joaquim Nunes de Magalhães, foi assassinado no ano de 1838 por um da família dos Carvalho. As divergências entre estas duas famílias vinham desde o tempo da guerra de 1817, quando elas se dividiram entre conservadoras e liberais, a favor e contra a monarquia.
No entanto, o cangaceiro mais antigo de que se notícia é Jesuíno Alves de Melo, ou “Jesuíno Brilhante”, morto no ano de 1879. Não se sabe mais detalhes, diz-se apenas que nasceu em 1844, no Rio Grande do Norte, mas não se fala se já aderiu a algum bando de cangaceiros que existia por lá ou se formou um deles. Isto não impede que a tese de Nertan Macedo não esteja correta, pois é bem provável que todo cangaceiro, a maneira de Lampião, já encontrara um bando formado e a ele aderira, tornando-se o mais esperto a ser o líder do grupo. Assim, passados apenas algumas décadas após as revoluções de 1817 e 1824, seus reflexos podem muito bem ter originado o surgimento desses bandos de criminosos, só tomando forma definitiva de cangaço na época de Jesuíno Brilhante.
O grupo dos Pereira assumiu, logo após aquelas revoluções, a direção de um bando que se refugiava nas matas para evitar o confronto direto com a família rival. Ao longo dos anos, este grupo foi crescendo e ficando famoso por suas ações criminosas, ataques a fazendas, saques e assassínios. Da guerra entre famílias se passou facilmente para o cangaço. Quando Lampião assumiu a direção de seu grupo já contava este com 67 homens, dirigidos sempre por indivíduos mais aguerridos e líderes, que se sucediam ao longo dos anos. Quem foi o antecessor de Lampião? Não se sabe, não se fala quem foi porque não há dados, ninguém ainda fez uma pesquisa sobre o assunto.
Vimos, então, que a atuação do Clero revolucionário nada mais fez do que acender uma centelha de ódio, alimentando rixas de famílias sob o pretexto da revolução libertaria. É o fruto mais remoto da atuação de tais religiosos que tão tristes recordações deixaram no Brasil: a de terem inspirado a vida aventurosa e criminosa de cangaceiros. Diz-se, inclusive, que alguns apetrechos da indumentária dos cangaceiros, como o chapéu virado com a aba para a frente e as cartuchei-ras cruzadas no peito, foram inspirados nos soldados de Napoleão, o pretenso protetor do “Areópago de Itambé”.
Bibliografia
• “O Clero e a Independência” – Dom Duarte Leopoldo e Silva – Centro Dom Vital, Rio, 1823.
• “História do Brasil” – Luiz Koshiba e Denize Manzi Fryze Pereira – Atual Editora.
• “A Vida de José de Alencar” – Luís Viana Filho – Livraria José Olym-pio Editora, 1978.
• “Capitão Virgulino Ferreira Lampião” – Nertan Macedo – Editora Lei-tura S. A.
Entre os prisioneiros havia 57 religiosos. Todos ou quase todos esses padres eram membros das sociedades secretas, reunidas sob as denominações de “academias” ou “areópagos”, onde se cultivavam as idéias libertárias da Revolução Francesa. Tem-se dito que essas lojas maçônicas eram simplesmente “nacionalistas”, como ao depois pretenderam e pretendem se passar como simples entidades filantrópicas. Como quer que seja, é certo que, à sombra do mistério que as envolvia, se desenvolveram doutrinas absolutamente contrárias à ortodoxia católica que, a seu tempo, se encontraram em campo aberto contra a Igreja.
Dom Duarte comenta em sua obra que “o espírito de tolerância que, então como hoje, apregoavam os adeptos dos “mistérios democráticos”, bem lhes serviu para iludir incautos e até sacerdotes, ilustres talvez nas ciências profanas, mas ignorantes das ciências eclesiásticas, pouco ou nada cultivadas em um país que não possuía seminários regulares bem dirigidos. Os poucos que, em Portugal, iam beber as ciências eclesiásticas, voltavam ainda mais contaminados”. A fumaça de Satanás, no dizer de Paulo VI em relação à crise religiosa do século XX, já penetrava no santuário desde longas datas, como se vê.
Por diversas cidades nordestinas, do interior e das capitais, pregavam essas dezenas de padres a revolta libertária e a implantação de uma república. Da mesma forma como no século XX o clero progressista pregava a Teologia da Libertação, com a diferença que hoje pregam o socialismo utópico enquanto naqueles tempos apregoavam a derrocada da monarquia e a implantação da república.
O centro daquele movimento era uma loja maçônica denominada “Areópago de Itambé”, criada no fim do século XVIII pelo padre Arruda Câmara. Este religioso teve sua formação religiosa inteiramente deturpada pelos ideais libertários da Revolução Francesa, ainda fumegante, e que a trouxe para o seminário de Olinda, fundado por ele em 1800 e tinha na sua direção outro padre revolucionário, Miguel Joaquim de Almeida Castro, estreitamente ligado ao “Areópago de Itambé”. O movimento era contestatório contra Dom João VI e diz-se que agia sob a inspiração de Napoleão Bonaparte. Na mesma época, o desventurado falso imperador estava preso na Ilha de Santa Helena, muito próxima do Brasil, o que inspirou aos idealizadores do “areópago” um plano para libertá-lo e aclamá-lo como nosso imperador.
O movimento fracassou, como se sabe, e os cabeças foram punidos. Mas, quais as seqüelas deixadas na região onde pregaram, e até pegaram em armas, tais sacerdotes? De tudo isto resultou, naquela região, a disseminação de uma grande centelha de ódio, a violência entre famílias, o espírito de vingança e, finalmente, o tão famigerado cangaço!
Um dos membros da agitação foi o sub-diácono José Martiniano de Alencar, pai do famoso romancista do mesmo nome, filho de Bárbara de Alencar, ardorosa revolucionária da cidade do Crato, no Ceará. Posteriormente, o sub-diácono foi ordenado sacerdote, teve vida irregular como religioso, casou-se, foi suspenso de ordens, e participou de outro movimento revolucionário em 1824, a “Confederação do Equador”, também liderada por um padre.
Quando estourou a revolta de 1817, com Bárbara de Alencar e seu filho como os principais mentores dela na cidade do Crato, houve muita violência e mortes. Destas escaramuças se originaram rixas de famílias que perduraram por mais de um século, e algumas perduram até hoje.
Conforme o escritor cearense Nertan Macedo, especialista em Lampião, o cangaço não teve origem no século XX, mas desde os primórdios do século XIX, exatamente logo após a revolta de 1817. Os revoltosos que fugiam das tropas do governo se embrenhavam pelas matas e passavam a levar vida de bandidos, saqueando e matando. Nertan Macedo pesquisou em detalhes a origem do bando de Lampião, que começou na cidade de Flores (PE). Um dos patriarcas da cidade, que era um capitão-mor das ordenanças, chamado Joaquim Nunes de Magalhães, foi assassinado no ano de 1838 por um da família dos Carvalho. As divergências entre estas duas famílias vinham desde o tempo da guerra de 1817, quando elas se dividiram entre conservadoras e liberais, a favor e contra a monarquia.
No entanto, o cangaceiro mais antigo de que se notícia é Jesuíno Alves de Melo, ou “Jesuíno Brilhante”, morto no ano de 1879. Não se sabe mais detalhes, diz-se apenas que nasceu em 1844, no Rio Grande do Norte, mas não se fala se já aderiu a algum bando de cangaceiros que existia por lá ou se formou um deles. Isto não impede que a tese de Nertan Macedo não esteja correta, pois é bem provável que todo cangaceiro, a maneira de Lampião, já encontrara um bando formado e a ele aderira, tornando-se o mais esperto a ser o líder do grupo. Assim, passados apenas algumas décadas após as revoluções de 1817 e 1824, seus reflexos podem muito bem ter originado o surgimento desses bandos de criminosos, só tomando forma definitiva de cangaço na época de Jesuíno Brilhante.
O grupo dos Pereira assumiu, logo após aquelas revoluções, a direção de um bando que se refugiava nas matas para evitar o confronto direto com a família rival. Ao longo dos anos, este grupo foi crescendo e ficando famoso por suas ações criminosas, ataques a fazendas, saques e assassínios. Da guerra entre famílias se passou facilmente para o cangaço. Quando Lampião assumiu a direção de seu grupo já contava este com 67 homens, dirigidos sempre por indivíduos mais aguerridos e líderes, que se sucediam ao longo dos anos. Quem foi o antecessor de Lampião? Não se sabe, não se fala quem foi porque não há dados, ninguém ainda fez uma pesquisa sobre o assunto.
Vimos, então, que a atuação do Clero revolucionário nada mais fez do que acender uma centelha de ódio, alimentando rixas de famílias sob o pretexto da revolução libertaria. É o fruto mais remoto da atuação de tais religiosos que tão tristes recordações deixaram no Brasil: a de terem inspirado a vida aventurosa e criminosa de cangaceiros. Diz-se, inclusive, que alguns apetrechos da indumentária dos cangaceiros, como o chapéu virado com a aba para a frente e as cartuchei-ras cruzadas no peito, foram inspirados nos soldados de Napoleão, o pretenso protetor do “Areópago de Itambé”.
Bibliografia
• “O Clero e a Independência” – Dom Duarte Leopoldo e Silva – Centro Dom Vital, Rio, 1823.
• “História do Brasil” – Luiz Koshiba e Denize Manzi Fryze Pereira – Atual Editora.
• “A Vida de José de Alencar” – Luís Viana Filho – Livraria José Olym-pio Editora, 1978.
• “Capitão Virgulino Ferreira Lampião” – Nertan Macedo – Editora Lei-tura S. A.
Um comentário:
Muito interessante. Nunca soube que possuía origem entre religiosos. Mais uma pérola do blog.
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