segunda-feira, 17 de outubro de 2022

EXEMPLOS BÍBLICOS DE PUREZA E CASTIDADE (II)

 


 

 

História de Susana

Havia também um homem que habitava em Babilônia, e o seu nome era Joaquim. Este casou, pois com uma mulher chamada Susana, filha de Helcias, formosíssima e temente a Deus: porque seus pais, como eram justos, instruíram a sua filha segundo a lei de Moisés.

Ora, Joaquim era muito rico e tinha uma horta ajardinada junto a sua casa: e os judeus concorriam a ele, porque era o mais respeitável de todos.

Naquele ano, porém tinham sido constituídos juízos dois velhos dentre o povo, dos quais falou o Senhor quando disse: que a iniqüidade saiu de Babilônia por uns velhos que eram juízes, os quais pareciam governar o povo. Estes freqüentavam a casa de Joaquim, e a eles vinham todos os que tinham negócios para julgar. E ao meio-dia, quando o povo se tinha ido, entrava Susana, e passeava no pomar de seu marido.

E estes velhos a viam entrar, e passear todos os dias: e conceberam uma ardente paixão por ela: e assim perverteram o seu sentido, e voltaram os seus olhos para não verem o céu, nem se lembraram dos justos juízos. Eles, pois estavam ambos feridos do amor de Susana, e, todavia não declaravam um ao outro o motivo da sua dor; porque se envergonhavam de descobrir um ao outro o seu libidinoso apetite, tendo cada um tenção de corromper Susana. Assim eles observavam todos os dias com grande cuidado o tempo em que a poderiam ver. Um dia, pois disse um ao outro: Vamos para casa, porque são horas de jantar. E tendo saído, se separaram um do outro. Mas tornando logo a vir, se encontraram de novo no mesmo lugar: e depois de se terem perguntado de parte a causa, confessaram ambos a sa paixão, e então de comum acordo, ajustaram tempo, em que a pudessem achar só.

Aconteceu, pois que aguardando eles uma ocasião oportuna, entrou ela enfim como tinha de costume, acompanhada somente de duas donzelas, e quis lavar-se no pomar: porque fazia calma: e não estava então ali ninguém, senão os dois velhos, que estavam escondidos e a estavam contemplando. Disse, pois Susana às donzelas: Trazei-me cá os óleos, e as pomadas, e fechai as portas do jardim, para me lavar. E fizeram as donzelas o que ela lhes tinha mandado: e fecharam as portas do jardim, e saíram pela porta travessa para trazerem o que lhes tinha mandado: elas não sabiam que os velhos estavam dentro escondidos.

E tanto que as donzelas saíram, levantaram-se os dois velhos, e correram a ela, e lhe disseram: Eis aí estão fechadas as portas do jardim, e ninguém nos vê, e nós ardemos em paixão por ti: rende-te, pois ao nosso desejo, e entrega-te a nós: porque se tu não quiseres, daremos testemunho contra ti, dizendo que estava contigo um mancebo, e que por isso despediste as donzelas.

Ao ouvir isto, deu Susana um grande gemido, e disse: De todas as partes me vejo cercada de angústias: porque se eu fizer o que vós desejais, incorro na morte: e se não fizer não escaparei de vossas mãos. Porém melhor me é a mim cair entre as vossas mãos sem cometer o mal, do que pecar na presença do Senhor.

E imediatamente deu Susana um grande grito; e os velhos também gritaram contra ela. E um deles correu à porta do jardim e a abriu. Os criados da casa tendo, pois ouvido gritar no jardim, correrem lá pela outra travessa com ímpeto para verem o que era. E depois que lhos disseram os velhos, ficaram os criados sumamente envergonhados, porque nunca tal coisa nunca se tinha dito de Susana. E amanheceu o dia seguinte.

E tendo vindo o povo à casa de Joaquim, seu marido, vieram também os dois velhos, cheios de iníquo pensamento que tinham formado contra Susana, para lhe fazerem perder a vida. E eles disseram diante do povo: Mandai buscar a Susana, filha de Helcias, mulher de Joaquim. E logo a mandaram buscar. E ela veio acompanhada de seus pais e de seus filhos e de todos os seus parentes. Ora Susana era por extremo delicada, e de uma formosura extraordinária. Então aqueles iníquos lhe mandara descobrir o rosto (porque o tinha coberto com um véu) para se fartarem ao menos assim com a vista da sua beleza. À vista, pois deste caso choravam os seus, e todos os que a conheciam.

Então aqueles dois velhos levantando-se no meio do povo, puseram as suas mãos sobre a cabeça de Susana. A qual chorando levantou os olhos ao céu: porque o seu coração tinha uma firme confiança no Senhor. E os velhos disseram: Quando nós passeávamos sós no jardim, entrou esta mulher com duas donzelas: e fechou a porta do jardim, e despediu de si as donzelas. E um mancebo, que estava escondido veio-lhe ao encontro, e pecou com ela. Ora nós, que estávamos escondidos a um canto do jardim, vendo esta maldade, corremos a eles, e os vimos estar ambos neste ato. E nós não pudemos na verdade apanhar o mancebo, porque era mais forte do que nós e tendo aberto a porta se salvou correndo: mas tendo nós apanhado a esta, lhe perguntamos que mancebo era aquele, e ela não no-lo quis dizer. Deste sucesso somos testemunhas.

Todo o ajuntamento lhes deu crédito, como a velhos e a juízes do povo, e eles a condenaram á morte. Então exclamou Susana muito de rijo e disse: Deus eterno, que penetras as coisas escondidas, que conheces todas as coisas ainda antes que elas sejam feitas. Tu sabes que eles deram  contra mim um falso testemunho: e eis aqui morro, sendo que eu não fiz nada do que eles inventaram maliciosamente contra mim.

E escutou o Senhor a sua oração. E quando a conduziam á morte, suscitou o Senhor o santo espírito de um moço ainda menino, cujo nome era Daniel: e gritou em alta voz dizendo: Eu estou inocente do sangue desta mulher. E tendo-se voltado para ele todo o povo, lhe disse: Que quer dizer essa palavra que tu acabas de proferir? Daniel, pondo-se em pé no meio deles, disse: É possível, filhos de Israel, que sejais vós tão fátuos que sem forma de juízo, e sem mais informação da verdade, condenastes a uma filha de Israel? Tornai a julgá-la de novo, porque eles disseram um falso testemunho contra ela.

Voltou, pois o povo apressadamente, e os velhos disseram a Daniel: Vem, e assenta-te no meio de nós, e instrui-nos: porque Deus te deu a honra da velhice. Daniel disse aos do povo: Separai-vos longe um do outro, e eu os julgarei.

Tendo sido, pois separados um do outro, chamou Daniel um deles, e lhe disse: Homem inveterado no mal, os pecados que tu cometias noutro tempo, caíram agora sobre ti, sobre ti que pronunciavas juízos injustos, que oprimias os inocentes, e que absolvias os culpados, apesar de dizer o Senhor: Tu não farás morrer o inocente e o justo. Agora, pois, se tu apanhaste esta mulher, dize debaixo de que árvore os viste tu falar um com o outro. Ele  respondeu: Debaixo de um lentisco. E Daniel lhe disse: Justamente é que a tua mentira vai a recair sobre a tua cabeça: porque eis aí o anjo de Deus, que tendo recebido dele o poder de executar a sentença contra ti proferida, te partirá pelo meio.

E feito retirar este, mandou que viesse o outro: e lhe disse: Raça de Canaã, e não de Judá, a formosura te seduziu, e a concupiscência te perverteu o coração. Assim é que tu fazias às filhas de Israel, e elas por medo falavam convosco: mas a filha de Judá não sofreu a vossa iniqüidade. Dize-me, pois agora, debaixo de que árvore os apanhaste tu, quando se estavam falando. Respondeu ele: Debaixo de um carvalho. E Daniel lhe disse: Justamente é também que a tua mentira vai a recair sobre a tua cabeça: porque o anjo do Senhor está esperando com a espada na mão, para te cortar pelo meio, e para vos matar a ambos.

Logo todo o povo gritou em altas vozes e bendisseram a Deus, que salva aos que esperam nele. E eles se levantaram contra os dois velhos (porque Daniel os tinha convencido por sua própria boca de terem dado um testemunho falso) e lhes fizeram sofrer o mesmo mal que os dois tinham querido fazer a seu próximo, para cumprirem a lei de Moisés: assim eles o mataram e o sangue inocente foi salvo naquele dia.

Então Helcias e sua mulher louvaram a Deus por Susana, sua filha, com Joaquim, seu marido, e com todos os parentes, por se não ter nela achado coisa que ofendesse a honestidade.

E Daniel desde este dia, e pelo decurso do tempo, se fez grande diante do povo.

(Dan XIII)

 

(Extraído de “A FELICIDADE ATRAVÉS DA CASTIDADE”, págs. 160/161. Desejando o texto integral dessa obra, ainda inédita, enviar mensagem por e.mail para juracuca@gmail.com )


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