domingo, 9 de outubro de 2022

A VIRGEM MARIA SANTÍSSIMA, MODELO CASTÍSSIMO DE PUREZA (I)

 


 



 Nunca os autores sacros foram tão inspirados quando falaram de Maria Santíssima, de modo especial quando dissertaram sobre a sua castidade. Dentre estes destaca-se o grande apóstolo marial Santo Afonso Maria de Ligório:

“Depois da queda de Adão, a virtude da castidade é a mais difícil de se praticar, por causa da rebelião dos sentidos contra a razão. Entre todas as batalhas que tem de levar o homem, disse Santo Agostinho, as mais sangrentas são as batalhas da castidade, porque o combate é de todos os dias e raras são as vitórias. Porém seja sempre bendito e louvado o Senhor que nos deixou em Maria um acabado modelo desta virtude.

“Com razão Maria é chamada Virgem das virgens, diz Santo Alberto Magno, porque foi a primeira que, sem conselho e sem exemplo de ninguém, fez a Deus oferecimento de sua virgindade, dando a todos o exemplo de virginal pureza, como o havia profetizado David:  “Ao rei é conduzida entre brocados, suas companheiras, virgens depois dela, trazidas são a ti. Com gozo e regozijos são levadas, penetram na câmara do rei”  (Salmo 44, 15-16). Fez, pois, profissão de virgindade sem conselho e sem exemplo, e assim, o pergunta São Bernardo: Quem te ensinou a agradar a Deus com a virgindade e a viver na terra vida angélica? Foi o mesmo Jesus Cristo, responde Sofronio, que escolheu por Mãe a esta puríssima Virgem, para apresentar a todo o mundo o exemplo da castidade.  Por isto Santo Ambrósio chama Maria de Porta-Estandarte da virgindade.

“Por causa desta pureza, chamou à Virgem o Espírito Santo formosa como a pomba (Cant 7, 9). Maria é a puríssima pombinha, diz Aponio. Por sua pureza se a chamou também lírio: Como lírio entre os espinhos, assim é minha amada entre as donzelas (Cant, 2, 2). A respeito do que adverte Dionísio Cartusiano que foi chamada lírio entre os espinhos porque todas as demais virgens foram espinhos para si ou para os outros, ao passo que a Santíssima Virgem não o foi para si nem para os demais. Só em deixar-se ver infundia a todos pensamentos e afetos puros;  e o confirma São Tomás com estas palavras: A formosura da Santíssima Virgem convidada a quantos a olhassem à prática da castidade.  Assegura São Jerônimo que ele tem por certo que São José permaneceu sempre virgem devido à companhia de Maria, pois apostrofando ao herege Helvídio, que negava a virgindade de Maria, argumenta assim: Tu dizes que Maria não permaneceu sempre virgem, e eu sustento ainda mais, que o mesmo São José permaneceu virgem devido a Maria. Diz um autor que a Santíssima Virgem foi tão amante desta virtude que em troca de conservá-la houvera estado prestes a renunciar até á dignidade de Mãe de Deus. Isto se baseia na resposta que Maria deu ao Arcanjo: “Como será isso, pois não conheço varão?”, e nas palavras com que terminou: “Faça-se em mim segundo tua palavra”, significando com isso que prestava seu consentimento apoiada nas palavras do anjo, que a havia assegurado que seria mãe por obra tão só do Espírito Santo.

“O que guarda a castidade, diz Santo Ambrósio, é um anjo, e o que a perde é um demônio. Os castos se transformam em anjos, como diz o Senhor: “Serão como anjos de Deus” (Mt 22, 30), ao passo que os desonestos, a semelhança dos demônios, fazem-se abomináveis aos olhos de Deus. São Remígio dizia que a maior parte dos adultos se condena pelo vício da impureza.

“Rara é a vitória sobre este vício, como no início nos lembrou Santo Agostinho; mas por que serão raras tais vitórias? Porque não se empregam os meios para vencer; os mestres espirituais assinalam três: jejum, fuga das ocasiões e oração. Por jejum se entende a mortificação, especialmente dos olhos e da gula. Se bem que Maria Santíssima estava cheia da graça divina, contudo mortificou os olhos, até o ponto de tê-los sempre baixos, sem fixá-los jamais em pessoa alguma, como sustentam Santo Epifânio e São João Damasceno, os quais acrescentam que desde menina Ela era tão modesta que causava admiração a quantos a viam. Por isto nota São Lucas que quando foi visitar Santa Isabel se dirigiu pressurosa (Lc 1, 39), para ser menos vista das gentes. – E quanto à comida, assegura Filiberto que um ermitão chamado Félix soube por revelação que a menina Maria mamava no peito somente uma vez ao dia, e São Gregório Touronense atesta que a vida da Virgem foi um jejum perpétuo. São Boaventura afirma que jamais Maria Santíssima haveria alcançado de Deus tão grande acúmulo de graças se não tivesse sido moderadíssima no comer, porque a graça e a gula não se compadecem. Finalmente, foi Maria tão mortificada em tudo, que dela se disse: “Minhas mãos gotejaram mirra” (Cant 5, 5).

“O segundo meio é a fuga das ocasiões: “O que aborrece os compromissos vive tranqüilo” (Prov 11, 15)[1] Por isso disse São Filipe Néri: Na luta conta os sentidos vencem os covardes, quer dizer, os que fogem das ocasiões. Maria fugia, enquanto podia, da vista dos homens, que por isso notou São Lucas que na visita a Santa Isabel Maria se dirigiu pressurosa à montanha. E adverte um autor que a Virgem se despediu de Isabel antes de seu parto, conforme se deduz do relato evangélico: “Permaneceu Maria com ela cerca de três meses e voltou para sua casa. A Isabel se lhe cumpriu o tempo de seu parto e deu a luz a um filho”. Por que não esperou Maria ao parto de sua prima? Para fugir das visitas e conversações que com o motivo do parto se haviam de ter naquela casa.

“O terceiro meio é a oração. O Sábio disse: “Mais entendendo que de outro modo não a alcançará, se não é Deus que me a dava... acudi ao Senhor e lhe roguei”   (Sab 8, 21)[2].  A Santíssima Virgem revelou a Santa Isabel, monja beneditina, que não alcançou virtude alguma sem trabalho e muita oração. Diz o Damasceno que Maria é pura e amante das almas puras, pelo que não pode tolerar os desonestos. Porém bastará recorrer a Ela para ver-se livre deste vício com somente nomear confiadamente seu nome.  O Bem-Aventurado Padre João de Ávila assegurava que muitos tentados contra a castidade venceram só pelo afeto que professavam á Virgem Imaculada.

‘Oh Maria, puríssima pomba, quando se hão condenado por este vício! Senhora, livrai-me dele; fazei que nas tentações recorra sempre a Vós e vos invoque, dizendo: “Maria, Maria, ajuda-me.Amém”.[3]

 

Imagem viva da virgindade

“Em seu admirável Tratado das Virgens, o grande Santo Ambrósio traça o perfil moral d’Aquela que é a Virgem singular:

“Começarei por vos apresentar a imagem viva da virgindade, personificada na Virgem Maria, espelho de pureza e exemplo de virtude, digna de que A tomeis como regra de vida, porque Ela nos ensina, como mestra divina de bondade, o que haveis de corrigir, o que vos convém evitar e o que deveis pôr em prática.  Pois,  (...) se o primeiro e principal estímulo é a virtude do mestre que leva ao aluno a prestar-lhe fé e a segui-lo, que mestre superará em dignidade a Mãe de Deus? Quem mais esplendorosa do que Ela, a quem cobre o próprio esplendor?  Que mestre de castidade se Lhe poderá comparar?

“E que direis das demais virtudes que A ornam?

“É virgem no corpo e na alma, pura de desordenados afetos. De coração humilde, moderada no juízo, grave e prudente no falar, recatada no tato, amiga do trabalho.

“Inimiga de honras terrenas, mede suas ações de acordo com a razão, movendo-se unicamente por amor à virtude.  (...) Nunca afligiu os humildes, nem desprezou o débil, nem desamparou o necessitado, nem teve trato com os homens, a não ser o que era ditado pela misericórdia e tolerava o pudor. Seus olhos não conheceram o fogo da luxúria, nem seus lábios pronunciaram palavras levianas, nem faltou jamais com a decência em sua conduta. Nunca se viu n’Ela movimento indecoroso, nem andar descomposto, nem voz presumida. Ao contrário, sua compostura refletia a força interior da alma.  (...)

“Sua moderação  nos alimentos era sobre-humana, e contínua sua dedicação em trabalhos manuais, porque jejuava diariamente, sem comer mais que o necessário para conservar a vida, e trabalhava incessantemente, sem dar trégua à ociosidade.  No curto descanso que concedia a si mesma, enquanto o corpo repousava, vigiava o espírito, interrompendo inúmeras vezes o sono para ler ou se dedicar a exercícios piedosos, ou à preparação do que havia de fazer em seguida.

“Inimiga da rua, não sai senão para visitar o templo, e sempre acompanhada de seus pais ou familiares;  não porque sua honestidade exigisse vigilância, pois no seu recolhimento levava a melhor defesa, mas por maior decoro e modéstia, a qual resplandecia em seus movimentos e palavras com tal arte, que conquistava o respeito e admiração de quantos A viam, apartada das vaidades e entregue inteiramente à virtude.  (...)

“Assim no-La apresenta o Evangelho, assim A achou o Anjo, assim A elegeu o Espírito Santo. Para que investigar mais no arquipélago daquela santidade, que arrebatou o coração de seus pais, foi digna dos elogios dos estranhos e, sobretudo, foi merecedora de que Deus A escolhesse por Mãe? (...)

“Fixai o olhar neste perfeito modelo e viva escola de todas as virtudes, escutai-o e imitai-o, se desejais dirigir vossos passos pelas vias da glória eterna”.

(Santo Ambrósio, Tratado das Virgens, Editorial Tor, Buenos Aires, pp. 41-44 e 46)[4]

 

Maria, agasalho da Castidade

“Um piedoso autor do século passado assim descreve a castidade de Nossa Senhora: “A Virgem Maria conservou durante toda sua vida uma puríssima castidade. (...) Nunca teve Ela o mais leve pensamento, ainda que breve e fugaz, nem imaginação, nem desejo, nem pendor, nem primeiríssimo movimento na alma que fosse ou pudesse chegar a ser contrário à formosa virtude.

“Manteve Ela, sempre, todos os seus pensamentos, afetos e desejos fixos e absortos em Deus.  (...) De onde nasceu em Maria aquela serena compostura, aquela suave modéstia, aquela casta gentileza em seu semblante e em toda sua pessoa, que arrebata o coração só de olhá-La;  (...) aquele atraente candor que admiramos em suas imagens, e que basta, amiúde, para operar entre os infiéis e entre os mais endurecidos pecadores, milagrosas conversões; que basta para pôr em fuga o demônio, para rejeitar todo afeto e desejo, toda imaginação e pensamento menos honesto.

“Fixai os olhos numa imagem do Crucificado e vos inspirará compunção. Fixai-os numa imagem de Maria, e percebereis brotar em vosso coração sentimentos e afetos de castidade.  Nunca pôde nada contra Maria o hálito pestilencial do demônio, cuja orgulhosa e asquerosa cabeça Ela esmagou”. [5]

 

Castidade vitoriosa

“Com belas palavras, o Pe. Thiébaud apresenta-nos a castidade de Nossa Senhora como fonte  dos grandes triunfos do cristianismo:

“É sob o patrocínio da Virgem que a castidade invadiu de súbito todo o universo, e que esta virtude não apenas povoou os santuários e os desertos de uma nova raça, mas também se espalhou pelo mundo, produzindo, com inesgotável e juvenil fecundidade, gerações castas. Poucos anos depois do exemplo de Maria, Roma, segundo expressão de Santo Ambrósio e de Tertuliano, contava já em seu seio todo um povo de virgens – “Plebem pudoris”. (...)

“A Virgem Maria foi a primeira que se consagrou a Deus por um voto de castidade perpétuo.

“Esse corajoso exemplo produziu, e continua a produzir todos os dias, na Igreja, Anjos de virtude que se lançam com confiança nesse caminho novo, e que realizam, palmilhando-o, o prodígio das paixões extintas, das inteligências esclarecidas, das fraquezas vencidas e das vontades divinamente inabaláveis.  É à virtude da castidade da qual a Virgem Maria é o primeiro modelo, que o cristianismo deve seus mais belos triunfos e suas mais esplêndidas vitórias” [6]

 

Castidade contra-revolucionária e misericordiosa

“À luz dos princípios de “Revolução e Contra-Revolução”, o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira traça-nos este elogio d’Aquela que é o Agasalho da castidade:

“A sensualidade é, juntamente com o orgulho, uma das molas propulsoras da Revolução.  Em sentido oposto, Nossa Senhora, Rainha e Arquétipo dos contra-revolucionários, praticou as virtudes da humildade e da castidade em grau inimaginável.

“O que dizer da pureza d'Aquela que foi imaculada desde o primeiro instante de seu ser? D'Ela brota para toda a Humanidade, como de uma fonte inexaurível, a virtude da castidade.  E porque incomparavelmente pura, Ela é, mais do que ninguém, a protetora dos fracos, o socorro dos que se debatem nas tentações da carne. Engano seria pensar que, por ser Ela castíssima, Nossa Senhora tem invencível horror aos impuros. Ela tem, sem dúvida, aversão ao pecado de impureza, mas se compadece daquele que o comete, e deseja a emenda e a salvação deste infeliz.

“Ela está pronta a se inclinar sobre o mais miserável dos homens, e lhe dizer: “Meu filho, em que pântano caíste?!  Entretanto, continuo sendo tua Mãe, e por isso me curvo até ti, por mais baixo que tenhas caído. Até aos extremos de tua fraqueza chega minha misericórdia, disposta a te salvar”.  [7]

 

(Extraído de “A FELICIDADE ATRAVÉS DA CASTIDADE”, págs. 127/133 Desejando receber o texto integral desta obra, favor enviar mensagem para o email juracuca@gmail.com – Juraci Josino Cavalcante)



[1] Numa versão em português: quem evita os laços, vive tranquilo, ou seja, em paz.

[2] E como eu sabia que de outra maneira não podia ter continência, se Deus ma não desse...

[3] Obras Ascéticas de San Alfonso Maria de Ligorio – As Glórias de Maria – BAC – págs. 914/918

[4] Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado – João S. Clá Dias – págs. 190/191

[5] Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado – João S. Clá Dias – pág. 164.

[6] Op. cit. pág. 166

[7] op. cit. pág. 166


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