segunda-feira, 10 de outubro de 2022

A VIRGEM MARIA SANTÍSSIMA, MODELO CASTÍSSIMO DE PUREZA (II)

 




Virgem sem perder a fecundidade

São Tomás de Villanueva:

“Ó Virgem, quantas virgens esclarecidas renunciam à flor de sua virgindade por amor à descendência, embora sabendo que não hão de engendrar senão um triste mortal! E Vós, sabendo que haveis de dar à luz a Deus, ainda vacilais e exclamais:  “Como há de ser isso, ó Anjo de Deus?”

“Não temais, Maria: esta concepção não Vos arrebatará a virgindade, mas a consagrará;  não Vos diminuirá o pudor, mas o sublimará com a descendência, já que haveis de conceber por obra do Espírito, e não com o concurso de varão; virgem dareis à luz e virgem permanecereis depois.  Sereis virgem, porém fecunda. Mãe sereis, mas incorrupta;  conservando a honra da virgindade com os gozos da maternidade”. [1]

Padre Rolland:

“Um dos mais gloriosos privilégios da Santíssima Virgem, ou antes o mais glorioso após o de sua maternidade divina, é a sua inalterável e perpétua virgindade. (...)

“Pode-se afirma, sem receio de equívoco, que esse privilégio de Maria é, verdadeiramente, um dos mais esplêndidos milagres operados pela destra do Onipotente. É ele tão grande, que Deus o quis representar pelas figuras da Antiga Lei. Por certo, admiro a sarça incandescente que ardia sem se consumir; admiro o velo de Gedeão, ora seco quando tudo ao seu redor estava coberto de umidade, ora banhado de rocio, quando toda a terra se achava desolada pela aridez; admiro os três mancebos dentro da fornalha, sem ressentirem a menor ofensa das chamas: estes são grandes milagres. Contudo, o milagre de [ser] Maria sempre virgem e ao mesmo tempo Mãe de Deus, é incomparavelmente mais maravilhoso, tanto mais superior aos primeiros, quanto a realidade excede à figura!

“Esse prodígio é tão sublime que Deus (...) o anunciou por seus Videntes, em solenes termos, como sendo uma nova criação, uma obra absolutamente extraordinária.  “Eis, diz Isaías a Acaz, um sinal extraordinário que surpreenderá o céu e a terra: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o seu nome será Emanuel, isto é, Deus conosco”.

“Sim, a perpétua virgindade da Santíssima Virgem é uma maravilha entre as maravilhas.

“O Senhor fez em Mim grandes coisas”, dizia Nossa senhora a sua prima Isabel.  Essas grandes coisas são: primeiro e, antes de tudo, sua maternidade divina mas, logo em seguida, é sua perpétua virgindade.” [2]

Padre Félix Cepeda, CFM:

“Grande é a glória de uma mulher que chega a ser mãe; mais pura é a glória das que permanecem virgens. Essas duas glórias são incompatíveis:  Quem aceita uma, necessariamente se despoja da outra.  Vede as árvores na primavera como se cobrem de flores brancas ou encarnadas. Chega o outono, e nos regalam frutos delicados.  Porém, em vão buscareis as flores, pois estavam murchas e caíram. Não é possível que [as árvores] ostentem, ao mesmo tempo, flores e frutos.

“Não assim com Maria: é virgem e mãe juntamente, o que convém somente a Ela.  Por isso a Igreja canta com o poeta Sedulio:  “Não se viu nada semelhante, nem antes nem depois”. E São Dionísio Areopagita, em seu livro “Dos Nomes Divinos”:  “Esta é uma coisa nova, a mais nova de todas”. [3]

São Bernardo:

“Ditosa em tudo Maria, a quem não faltou a humildade, nem a virgindade. Singular virgindade a sua, que não foi prejudicada, mas honrada pela fecundidade; não menos ilustre humildade, que não diminuiu, mas engrandeceu sua fecunda virgindade; e inteiramente incomparável fecundidade, que a virgindade e a humildade, juntas, acompanham. Qual dessas coisas não é admirável? Qual não é incomparável? Qual não é singular?

“Maravilha será se, ponderando-as, não duvides qual julgarás mais merecedora de tua admiração;  quer dizer, se será mais estupenda a fecundidade numa virgem ou a integridade numa mãe; sua dignidade pelo fruto de seu castíssimo seio, ou sua humildade com tão imensa grandeza. Sem dúvida, a cada uma dessas coisas se devem preferir todas juntas, e é incomparavelmente maior excelência e maior ventura havê-las tidas todas, do que precisamente algumas.

”E por que se espantar de que Deus, a quem lemos e vemos admirável em seus Santos, se tenha mostrado mais maravilhoso em sua Mãe?

“Venerai, pois, vós que vos achais em estado de matrimônio, a integridade e pureza do corpo num corpo mortal;  admirai também vós, virgens sagradas, a fecundidade de uma virgem; imitai, homens todos, a humildade da Mãe de Deus; honrai, Santos Anjos, a Mãe de vosso Rei, vós que adorais o Filho de nossa Virgem, nosso e vosso Rei, reparador de nossa linhagem e restaurador de vossa cidade”. [4]

São José de Anchieta, em suas poesias, tece comentários sobre a Virgindade de Nossa Senhora de grande valor teológico:

“Ouviste, enfim, piedosa, o celeste recado

que a ti, ó virgem, deu o mensageiro alado

Virgem, de nossa gente és a glória, és a palma!

Virgem, és salvação, vida, descanso d’alma!

Ouviste, e o coração em doçuras te salta,

E um fogo sacrossanto o espírito te exalta.

Dano algum serpeará nos umbrais da pureza,

e o Redentor virá de tua carne ilesa.

Teu ventre avultará num divino tecido:

Não sentirá porém o peso recebido.

Ansiavas, e te é dada uma e outra beldade:

Luz da maternidade, honra da virgindade!

Virgem, não teças mais dúvidas que tiveras:

Já não te resta mais ocasião de esperas.

Tudo seguro vês:  no portal de teu seio

Não range gonzo algum, não há um só meneio”.  [5]

 

O cedro é o símbolo da inalterável pureza de Maria

“Além da elegante folha da palmeira, encontramos outro gracioso símbolo da Santíssima Virgem nesta passagem do Eclesiástico (XXIV, 17): “Elevei-me como o cedro do Líbano”.

“O cedro domina todas as árvores da floresta, ele se alça a extraordinárias alturas; sua madeira é de uma essência incorruptível. Ele representa a santidade incomparável de Maria, que excede em perfeição a dos Anjos e dos Santos;  e [simboliza] também sua inteira isenção de todo pecado e sua inalterável pureza (...).

“Pureza completa  de corpo, de alma, de pensamento, de afetos, de olhares, de palavra e de ações.

“Pureza constante, que nunca padeceu sombra ou eclipse, mas que sempre brilhou de renovado fulgor: em sua Imaculada Conceição, em sua natividade, em sua estadia no templo, durante o santo casamento com São José, até ao último instante passado sobre a Terra.

“Pureza supereminente, (...) de uma sublimidade incomparável. Ela está tanto acima das meras criaturas humanas, das Ágatas, das Cecílias, das Filomenas, tanto acima do mais santo dos Anjos, quanto o céu está acima da terra!” [6]

 

Fundadora da virgindade, rara e única

“Nossa Senhora é a Virgem Singular, isto é, virgem como ninguém o foi, nem o será jamais. Ela é a Santa Virgem das virgens, Aquela cuja virgindade é tão excelsa que, perto dela, torna-se pálida a intacta virgindade das outras virgens. Nossa Senhora é a Virgem suprema, inesgotavelmente perfeita, inimaginavelmente graciosa!”

“Compartilha este sentimento o Pe. Jourdain, que escreve: “Maria é chamada Virgem das virgens, porque sua virgindade não é semelhante à comum. A sua é rara, única, ilustre e desconhecida em todos os séculos, em todo o universo. É rara, pois Maria é, ao mesmo tempo, Mãe e Virgem; Ela teve um Filho que não possui um pai segundo a natureza, é o Espírito Santo, o Esposo Celeste, que n’Ela opera. (...)

“A virgindade de Maria é única. Longe de ser estéril, só ela é fecunda; só ela ignora os males e as enfermidades da natureza. Somente Maria porta a coroa da virgindade realçada pelo fulgor de uma rica maternidade:   (...) Mãe de Deus e perpetuamente Virgem, sem exemplo, sem igual.

“Assim, a Igreja A chama em seus hinos: Virgo singularis, Virgem singular, Virgem única. Ela o é, verdadeiramente, pois a natureza e mesmo a graça jamais produziram tal;  nunca o mundo viu outra semelhante;  e jamais inteligência humana e angélica conceberam nada de mais belo.  Ela é realmente singular, pois entre todos os Santos é a mais santa, entre todas as virgens puras, é a mais pura.

“Ela é o prodígio do Céu, o espelho da virtude, a alegria do Paraíso e da Terra”. [7]

Este privilégio da Santíssima Virgem é também maravilhosamente contemplado nas poesias de São José de Anchieta:

“Mas vês enorme risco ao pudor virginal,

que é o teu grande amor, teu máximo ideal.

Decidida a cumprir a divina vontade,

Hesitas a temer por tua virgindade.

Como sucederá em ti tal maravilha,

Perguntas toda ansiosa em teu rubor de filha:

“De que modo, santo anjo, há de obrar-se teu dito

E com que traça enfim se alcançará tal fito?

“Meu seio há de avultar com tal fruto em mim feito

e algum filho afinal há de nutrir meu peito?

 “Pois eu sempre fugi a contato malsão,

virgem permaneci, sem conhecer varão.

“Intacto meu pudor, sem partilha de leito,

em virgindade ilesa haure o candor perfeito.

“Cresceu comigo, a mais, desde a idade mais terna,

o veemente amor da integridade eterna.

“Dentro d’alma fixei não manchar a pureza

nem quebrantar jamais o voto de inteireza.

“Mas se do Deus imenso eu a mãe devo ser,

e me manda o Senhor sob condição qualquer

“alegro-me em subir para tão alto estado,

e me sujeitarei ao divinal mandado.

“mas sinto se, por mãe, devo ser despojada

dessa formosa flor da virgindade amada”

 

Não encontrando exemplo entre os feitos da história

Continua São José de Anchieta:

“É com tais termos, é com tal modo que troca

Tal imenso silêncio a tua humilde boca?

Com a conceição de Deus, à maior glória vais,

E inda duvidas tu, buscas ainda mais?

Chama-te o Verbo eterno a nutrir-se em teus seios:

Cuidados de pudor serão os teus receios?

Tanto amor de pureza e honra de integridade,

E tão preciosa te é a santa virgindade?

Por que preocupas tu o puríssimo peito?

Por que perguntas mais como isso será feito?

Que importará à mãe, se o feitor do orbe todo

Se quer fazer seu filho, seja qual for o modo?

Mas engano-me, louco! O saber do carnal

Nada sabe, afogado em teu oceano astral.

Tanto excede tua graça os humanos costumes

Quanto o sol refulgente ofusca os outros lumes.

Não te deram o exemplo os pais nossos primeiros,

Para que tu, audaz, corresses tais carreiros.

Jamais outra mulher preveniu tuas vias

E a estrada te mostrou que tu palmilharias.

Única, sem exemplo, as alturas descerras,

 E desprezas o pó de nossas baixas terras.

Num dilúvio de mal nosso mundo já tomba

Sem pouso oferecer para teus pés, ó pomba!

Não encontrando exemplo entre os feitos da história

Dos avós, que te fosse a digna trajetória.

Deixas veloz o chão, transpões o éter profundo,

Para o que o céu te dê o que te nega o mundo.

Mas sorvendo a pureza em os céus refulgentes,

Mal podem saciar-te angelicais torrentes.

Sobes mais alto pois a beber no caudal

Donde contínuo flui Deus, nosso bem total.

Com sua mão bondosa, ele apanha-te e aninha

Em sua arca e te dá tesouros de rainha.

Achaste o preço aqui de tua nívea candura:

Daqui a origem vem de tua vida pura.

Aqui matas a sede em copiosos bicais

Do vinho que germina os corpos virginais.

O Deus que te previu para seres a guia

De vida e salvação, mestra da casta via.

Quis que do filho seu fosses mãe não inglória,

Mas maravilha só, de luz, beleza e glória  [8]

 

Pioneira da virgindade consagrada

Prossegue Anchieta:

“Ele foi o primeiro a ensinar-te a pureza:

com tal mestre tens vida, espírito e carne ilesa,

a fim de ao mundo encher fecunda virgindade,

e ser honra do céu casta fecundidade.

Primeira, em sendo oculta, és magnífica guia

Primeira a ir ao céu por desusada via.

Primeira entre espinhais a abrir largo caminho,

A palmilhar locais, cheios de horror maninho.

Primeira que por senda escabrosa se atreve

Dura rocha a calcar com alvos pés de neve.

Primeira a dominar, por escarpas estranhas,

Os brancos alcantis intactos das montanhas.

Pões no alto, qual bandeira, o pudor, que se eleve

Mais fulgente que o sol, mais cândido que a neve.

A senda, áspera há pouco, é suave demanda;

Aquela que foi dura é por teus passos branda.

Já turmas virginais seguir-te-ão as pegadas,

E à bandeira da luz hão de correr ousadas.

Muito homem e mulher atarão com um voto,

Seguindo teu exemplo, o coração devoto.

Ó tu, mestra e raiz da pureza guardada,

Da honestidade mãe, da virgindade estrada,

Noiva, glória da terra e fulgor das alturas,

Modelo de virtude, ápice d’almas puras,

Agradece-te o céu, pois na argila que a veste

A terra, por teus pés, chega ao candor celeste.

Agradece-te a terra: embebendo-a em costumes

Do céu, se faz capaz dos teus celestes cumes”  [9]


(Extraído de “A FELICIDADE ATRAVÉS DA CASTIDADE”, Continuação do capítulo 5, págs. 133/138. Desejando receber o texto integral desta obra, favor enviar mensagem para o email juracuca@gmail.com – Juraci Josino Cavalcante)



[1] Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado – João S. Clá Dias – Arrpress, São Paulo – pág. 157

[2] idem,  pág. 157

[3] idem, pág. 158

[4] idem, pág. 158

[5] “Poema da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus – tomo 1 – Ed. Loyola – pág. 215/217

[6] Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado – João S. Clá Dias  p. 178

[7] idem, ib. pp. 189 e 192

[8] “Poema da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus – tomo 1 – Ed. Loyola – pág. 197/201

[9] Poema da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus – Pe. José de Anchieta – Ed. Loyola – pág. 201


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