sábado, 19 de dezembro de 2015

MARIA E SEU DIVINO INFANTE: INSONDÁVEL UNIÃO





Plínio Corrêa de Oliveira


Coração de Maria, no qual foi formado o Sangue de Jesus, preço de nossa  Redenção . rogai por nós.


Esta jaculatória, da Ladainha do Imaculado Coração de Maria, além de sua particular  unção, encerra um significado sumamente elevado e belo, que vem muito a propósito considerarmos nesta véspera de Natal

“Caro Christi, caro Mariae”

Com efeito, pelas leis comuns da reprodução da espécie, o homem traz consigo algo do sangue do pai e algo do sangue da mãe. Entretanto, o preciosíssimo sangue de Nosso
Senhor Jesus Cristo, bem como sua carne sacratíssima, foram exclusivamente formados de Nossa Senhora. E isto porque, em se tratando de milagrosa concepção da parte de uma Virgem, nela não interveio obra de varão. Motivo pelo qual podemos repetir o que, com inteira propriedade, afirmou Santo Agostinho: caro Christi, caro Mariae. A carne de Cristo é, de algum modo, a própria carne de Maria.
Em Nosso Senhor Jesus Cristo não havia senão o sangue da Santíssima Virgem, que Ela, com amor e comprazimento indizíveis forneceu a seu Divino Filho, o Redentor do gênero humano.

O Homem-Deus se fez escravo de Nossa Senhora

A consideração desse fato tão singular e tão maravilhoso nos ajuda a compreender melhor o que pode ter sido o período em que Nosso Senhor esteve em gestação no corpo de Maria.
Não há maior sujeição nesta terra do que a de uma criança à mãe que a carrega no seio, dando-lhe todos os elementos vitais para a constituição de sua parte física. Ora, durante nove meses consecutivos, Nosso Senhor quis pertencer inteiramente a Nossa Senhora. Jesus, o esperado das nações, o homem tão perfeito que não é simplesmente homem, mas é Homem-Deus . porque a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade se uniu hipostaticamente à sua natureza humana . Jesus quis se fazer escravo de Maria.
E desde o instante em que o primeiro elemento do corpo d.Ele começou a existir, como era perfeito! Começou a pensar, começou a orar e, conhecendo perfeitamente de que mãe era filho, deve ter dito a Ela uma palavra de amor. Pode-se calcular qual foi essa primeira palavra de afeto e carinho d.Ele para a Santíssima Virgem, e qual foi a resposta d’Ela ao sentir uma ternura que Lhe vinha do Filho-Deus?
Que terá Ela respondido a Jesus? Meu Deus? Ou Lhe terá chamado meu Filho.? Ou, ainda, com maior desvelo e solicitude, tê-Lo-á agradado dizendo “Filhinho”?
Quanta riqueza de alma é preciso ter para responder adequadamente a esse primeiro carinho do Verbo Encarnado! Que noção dos matizes e das situações! Que exímia e completa disponibilidade de alma para corresponder a tudo perfeitamente, e oferecer a Ele esta premissa incomparável: o ato de amor inicial que o gênero humano Lhe tributava!

Crescente e insondável união

Além disso, quantas e quão elevadas disposições de alma Nossa Senhora deve ter  sentido, quando notava o Filho mexer-se dentro d'Ela? Nesses momentos, por certo Lhe vinham pensamentos como este: Deus se move em Mim! Aquele a quem o Céu e a terra não puderam conter, está no meu claustro, porque Deus assim o quis. Ei-Lo que se move em Mim delicadamente, amorosamente, nobremente, com uma movimentação cheia de símbolos e de mistérios. Ouço, sinto e rezo, porque são mensagens para Eu compreender, são comunicações para Eu entender...
Oh recolhimento! Oh oração! Oh prenúncio do que deveriam ser ao longo dos séculos as almas eucarísticas que têm a felicidade sem nome de, a cada dia, por alguns instantes ter no seu próprio peito a Nosso Senhor Jesus Cristo! Oh maravilha!
E assim como o Santíssimo Sacramento comunica suas graças e se une às almas que se lhe tornam sacrários vivos, tudo indica que, pelas leis da reciprocidade, à medida que a Santíssima Virgem ia dando de seu próprio corpo a Nosso Senhor, Ele como que retribuía, conferindo-Lhe seu espírito. Nossa Senhora ia crescendo, pois, em união com Ele de modo insondável. De tal modo que, quando a obra puríssima das entranhas d’Ela chegou a seu termo e se encontrava prestes a nascer na noite de Natal, o vínculo entre ambos havia atingido um ápice inconcebível. Ela estava pronta para ser, em todos os sentidos da palavra, a Mãe do Redentor.

Diálogo inimaginável

O longo período de indizível e misterioso convívio cessa. Os Anjos se rejubilam e cantam nos Céus. Numa gruta dos arredores de Belém, Jesus vem ao mundo.
Nosso espírito se sente pequeno, ao procurarmos imaginar o embevecimento de Nossa Senhora ao ver a face do Menino Jesus, e o arroubo que sentiu, quando recebeu d.Ele o primeiro agrado externo... Quando O viu voltar-se para São José e manifestar afeto também a ele. Quando, percebendo que Jesus sentia fome, compreendeu que Lhe competia, com seu leite indizivelmente precioso, saciar o Filho de Deus. Quando, ao vê-Lo passar frio e incômodo na manjedoura, se desdobrou em mil cuidados, para melhor agasalhá-Lo e para Lhe aumentar o conforto no rude tabuleiro que lhe servia de berço. E quando, ao sentir o bafo dos animais que O aqueciam, disse-Lhe com inexcedível amor:
“Meu Deus, tão pouco para Quem é tanto”!
E quando o Menino, sem proferir palavras, respondeu-Lhe no fundo da alma: “O que é pouco para Mim, quando tenho a Vós?” Quem pode imaginar semelhante diálogo?!

Somente por meio de Maria chegamos a seu Divino Filho

Pode-se notar, por essas considerações, como a união de almas entre o Menino Jesus e Nossa Senhora é estritamente insondável para a mente humana.
Entretanto, essa mesma insondabilidade nos faz compreender melhor o papel da Santíssima Virgem como intercessora e medianeira; deve, pois, arraigar-se ainda mais em nossas almas a convicção de que, para nos aproximarmos do Divino Infante, é indispensável achegarmo-nos antes a Nossa Senhora. Ficarmos junto d’Ela, amando-A de todo o coração, é a forma mais segura e acertada de estarmos junto de Deus, porque Deus está sumamente próximo de sua Mãe, tanto quanto Ele o possa estar de uma criatura.
Nossa Senhora é a Porta do Céu, a Arca da Aliança. E assim como aquele Menino veio a nós por meio de Maria, assim também somente podemos chegar a Ele por meio d’Ela.

(Extraído da revista “Dr. Plínio”, nº 21, dezembro de 1999)



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