quarta-feira, 14 de março de 2012

O laicismo anti-religioso restringe a prática religiosa

A Holanda é vista por muitos como o país das tulipas e dos famosos moinhos de vento. Poucos sabem que lá, também, se desenvolveu umas das seitas mais ardorosamente anti-católicas e, depois, tornaram-se até anti-cristãs, oriunda ainda das guerras religiosas do século XVI. A vizinha Bélgica, apesar da mesma origem, não aderiu ao protestantismo, continua católica, e sofre menos as revoluções morais que grassam no mundo, muitas delas nascidas na própria Holanda, que é hoje tida como símbolo do "secularismo libertário" - uma onda que invade o mundo moderno.
Ao receber o novo embaixador holandês para a Santa Sé, em 20 de outubro de 2011, o Papa Bento XVI referiu-se à mentalidade anti-religiosa presente em muitas sociedades modernas, mesmo naquelas em que a liberdade religiosa está incluída na proteção de seus direitos positivos. Disse o Papa:


"A liberdade de religião está ameaçada não só pelas restrições legais nalgumas regiões do mundo, mas também por uma mentalidade anti-religiosa em numerosas sociedades, mesmo naquelas onde ela goza da proteção jurídica. Por conseguinte, é desejável que o seu Governo esteja vigilante para que a liberdade de religião e de culto continue a ser protegida e promovida quer no país quer no estrangeiro.
Da mesma forma tranqüilizam-me as medidas que o Governo holandês tomou para desencorajar o abuso de drogas e a prostituição. Embora a sua Nação tenha sido uma defensora da liberdade de escolha dos indivíduos, estas devem ser desencorajadas se prejudicarem os que as fazem ou outras pessoas, para o bem de cada um e da sociedade em geral. A doutrina social católica, como se sabe, dá grande ênfase ao bem comum, assim como ao bem integral dos indivíduos; além disso, é necessário ter o cuidado de discernir se os direitos sentidos estão na verdade de acordo com os princípios naturais que mencionei anteriormente".

A Holanda é, no continente europeu, o paradigma da cultura relativista, a expressão mais avançada de um secularismo libertário, que foi fortemente influenciado pela legislação. Como se sabe, lá existe os “Coffee Shop”, autorizados a vender drogas para indivíduos que têm mais de 18 anos; a prostituição é reconhecida como “profissão” legal; o incesto não pode ser incriminado se consumado por formas consensuais entre adultos; casamentos do mesmo sexo são reconhecidos por lei desde 2001, facilitando a adoção de crianças por casais homossexuais; foi até constituído legalmente o “partido dos pedófilos”, agora dissolvido por causa de uma campanha pública feita por um padre; quanto à eutanásia, já vem se tornando uma prática comum e nunca foi proibido o "Protocolo de Groningen" , o acordo alcançado em 2005 entre o Hospital Universitário de Groningen e as autoridades judiciais holandesas, sobre o alargamento da possibilidade de eutanásia para crianças menores de 12 anos, até a idade neonatal: dos cerca de 200 mil crianças nascidas na Holanda a cada ano, cerca de mil morrem no primeiro ano de vida. Para cerca de 600 dessas crianças, a morte é precedida por uma decisão sobre o fim da vida, de caráter meramente médica, sem levar em conta os fatores morais e éticos ou mesmo religiosos. É comum a expressão “sem perspectiva de vida útil” para caracterizar as pessoas que possam nascer com defeitos físicos. Povos bárbaras procedem assim também: os índios brasileiros, por exemplo, eliminavam todas as crianças que nasciam com defeitos físicos. Por essa razão os colonizadores nunca encontravam um índio cego, aleijado ou com alguma deformidade física. Ainda hoje, na China e na Índia pagãs, se ouve falar em eliminação de crianças que possam causar transtornos futuros aos pais. É para lá que caminha a tão decantada liberdade do povo holandês?

O primeiro artigo da Constituição holandesa, que é uma cópia fiel das constituições republicanas modernas (embora lá reine uma monarquia), afirma que "cada pessoa deve ser tratada em igualdade de circunstâncias" e que a discriminação "com base na religião, crença, opinião política, raça ou sexo ou de qualquer outra forma, não será permitida". Por sua vez, o artigo 6 (outra versão holandesa de liberdade, própria das constituições republicanas) garante que "todos têm o direito de praticar livremente a própria religião ou crença, individual ou em comunidade com outros, sem prejuízo de sua responsabilidade perante a lei", embora o Parlamento possa estabelecer "regras relativas ao exercício do direito de exterior dos edifícios e lugares fechados ", a fim de" proteger os interesses da saúde de tráfego e de combater ou prevenir doenças. "
A participação religiosa da população é a seguinte: 31% são católicos; seguidores da Igreja Reformada Holandesa, protestante, são 14%; lá ainda há calvinistas, com 8% da população; 3,9% são muçulmanos; 4,1% são de outras religiões, e sem praticar religião, a maioria, isto é, são 39%. É para este último grupo que caminha o geral da população, manipulada pelo agnosticismo moderno.

Intolerância religiosa, fruto do “laicismo libertário”

O relatório sobre Liberdade Religiosa, da Fundação de direito pontifício "Ajuda à Igreja que Sofre (AIS)", afirma que a pressão cultural do secularismo e do relativismo cria problemas de discriminação legal contra os cristãos. Por exemplo, um cristão que queira exercer a medicina, se diz não estar disponível para praticar ou auxiliar um aborto ou a eutanásia, é discriminado e até pode ser processado criminalmente, dado as exigências legais para se cumprir tais eventos. Mesmo no caso de objeção de consciência, se, por exemplo, um funcionário público declarar que não está disposto a registrar um casamento gay. Recentemente, o parlamento holandês decidiu que um funcionário público não pode se recusar a realizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo, e ao se recusar a fazê-lo poderá sofrer uma acusação de violação de lei anti-discriminação. Posteriormente, foi alterada a lei sobre os casamentos, revogando a parte em que há a objeção de consciência por motivos religiosos. Quer dizer, o abuso do exercício da liberdade em benefício de certas correntes termina por prejudicar e punir a parte sã da sociedade, composta de cristãos. Na realidade, este “laicismo libertário” nada mais é do que intolerância religiosa, hoje uma tendência mundial nas leis laicas de diversos países.


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