sábado, 2 de outubro de 2021

COMO A ÁGUA É VISTA NAS SAGRADAS ESCRITURAS

 


                        (Nas Bodas de Caná a água foi transformada em vinho)

Nas Sagradas Escrituras a água é citada desde o Gênesis, na criação do mundo, com menção em todas as fontes, mares e rios: “...e o espírito de Deus era levado por cima das águas”...; “Faça-se o firmamento no meio das águas, das que estavam por baixo do firmamento, das que estavam por cima do firmamento”...; “As águas que estão debaixo do céu, ajuntem-se no mesmo lugar, e elemento árido apareça. E assim se fez. E chamou Deus ao elemento árido terra, e ao agregado das águas mares” (Gen 1, 2-10). Pela narrativa vê-se que o elemento primordial na Criação, entre nós, foi a água, coisa cientificamente comprovada.

 

Maldições pelas águas:

 

“Moisés e Aarão fizeram como o Senhor tinha ordenado. E Aarão levantou a sua vara e feriu as águas do rio na presença do faraó; e dos seus servos; e toda a água do rio transformou-se em sangue”. (Ex 7, 20)

“Por isso mesmo que este povo rejeitou as águas de Siloé, que correm em silêncio, e quis antes acostar-se ao partido de Rasin, e ao do filho de Romélia: por este motivo eis que o Senhor fará sobre eles vir as águas impetuosas e abundantes, ao rei dos assírios, e todo o seu poder: e subirá sobre ele todos os seus ribeiros, e correrá por cima de todas as suas margens. E se espraiará por Judá inundando-a, e indo assim passando, lhe chegará até o pescoço. E a extensão de suas asas encherá a largura da tua terra, ó Emanuel”  (Is 8. 6-8). Rasin foi um rei da Síria (século VIII a.C) que invadiu o reino de Judá (IV Rs 15,16; II Par 28,5) e cercou Acaz, em Jerusalém. Foi morto pelo rei da Assíria, Teflatfalasar.

 

“E se irá extinguindo a água do mar, e o rio minguará, e se secará. E as ribeiras se esgotarão: as levadas por entre açudes diminuirão e se secarão: as canas e os juncos murcharão: o álveo dos regatos ficará descoberto desde o seu olheiro, e toda sementeira de regadio se secará, ir-se-á murchando, e não vingará. E entristecer-se-ão os pescadores e chorarão todos os que lançam anzol ao rio, e desmaiarão os que estendem redes sobre a tona d’água. Confundidos serão os que trabalham em linho, frisando  e tecendo finas teias. E ficarão as suas terras de regadio assim fracas: todos os que faziam lagoas para apanhar peixes” (Is 19, 5-10).

 

Há uma expressão usada na Bíblia, chamada de “água da aflição” ou “água da angústia” que é usada para caracterizar um castigo semelhante ao que passa fome e sede: “Metei este homem na cadeia e sustentai-o com o pão de tribulação, e água de angústia, até que volte a paz”  (III Rs 22, 27 e II Par 18, 26).

 

A respeito do adultério, Moisés aprovou o seguinte procedimento legal:

“O sacerdote pois a oferecerá, e a apresentará diante do Senhor. E tomando da água santa num vaso de barro, lançará nela um pouco de terra do pavimento do tabernáculo. E tanto que a mulher se apresentar diante do Senhor, o sacerdote lhe descobrirá a cabeça, e lhe porá nas mãos o sacrifício de reconciliação, e a oferta de zelos: e ele mesmo terá as águas amaríssimas, sobre que pronunciou as maldições com execração: e a esconjurará, e lhe dirá: Se um homem estranho não dormiu contigo, e tu te não manchaste, largando o leito de teu marido, não te farão mal estas águas amaríssimas, sobre que eu lancei as maldições. Mas se tu te apartaste de teu marido, e te manchaste, e te deitaste com outro homem: cairão sobre ti estas maldições: o Senhor faça te faça um objeto de maldição, e um exemplo para todo o seu povo: Ele faça que apodreça a tua coxa, e que o teu ventre inchado arrebente. Estas águas de maldição entrem no teu ventre, e inchando-te o útero, apodreça a tua coxa.” (Num 5, 16-22). Tal ocorreria apenas se a mulher fosse culpada, pois se fosse inocente não sentiria a amargura da água.

 

As bênçãos, muitas vezes, são dadas através das águas:

 

“Tendo Moisés pois estendido a sua mão sobre o mar, o Senhor lhe dividiu as águas fazendo que toda a noite assoprasse um vento veemente, abrasador, que lhe secou o fundo. Estando a água assim dividida, entraram os filhos de Israel pelo meio do mar seco, pela direita e esquerda a água que lhes servia como um muro”. (Ex 14, 21-22).

 

“E sentindo grande sede, clamou ao Senhor, e disse: Tu foste o que salvaste o teu servo e o que lhe deste esta grande vitória: eis agora morro eu de sede, e cairei nas mãos dos incircuncidados. Abriu pois o Senhor um dos dentes molares na queixada do jumento, e saíram dele águas. E bebendo delas Sansão recobrou alento e recuperou as forças. Por isso foi àquele lugar chamado até o dia de hoje fonte do que invoca da Queixada”  (Jz 15, 18-19).

“Tão saborosa é a água fria à alma que tem sede como é uma boa nova que vem de um país remoto” (Provérbios 25, 25).

 

“Assim como na água resplandece o rosto dos que estão se vendo nela, assim os corações dos homens são descobertos aos prudentes” (Provérbios 27, 19).

“E dar-se-á chuva para o teu grão, onde quer que o semeares na terra: e o pão dos frutos da terra será abundantíssimo e pingue: naquele dia será o cordeiro apascentado em espaçosa extensão na tua herdade. E os teus touros, e jumentinhos, que lavram a terra, comerão toda a mistura de grãos como eles foram padejados na eira.  E sobre todo o monte alto, e sobre todo o outeiro elevado haverá arroios d’águas correntes no dia da mortandade de muitos, quando caírem as torres. (Is 30, 23-26).

 

“Porque eu derramarei águas sobre a terra sequiosa, e rios sobre a seca; derramarei o meu espírito sobre a tua posteridade, e a minha bênção sobre a tua descendência” (Is 44, 3).

 

“E todo o que der a beber a um daqueles pequeninos um copo d’água fria, só pela razão de ser meu discípulo, na verdade vos digo, que não perderá a sua recompensa”(Mt 10, 42).

 

“Em verdade, em verdade, te digo, que quem não renascer da água, e do Espírito Santo, não poderá entrar no reino de Deus”(Jo 3, 5).

 

A purificação pela água

 

São João Batista não foi o primeiro “Eu vos batizo em água para vos trazer à penitência” (Mt 3, 11), pois já havia o costume há muitos anos entre o povo eleito da purificação pela água, o que motivou, por exemplo, esta bênção de Ezequiel:

“E derramarei sobre vós uma água pura, e vós sereis purificados de todas as vossas imundícies, e eu vos purificarei de todos os vossos ídolos”. (Ez 36, 25).

No Cântico dos Cânticos, referindo-se a Nossa Senhora, chamada ali de “Jardim Fechado” e “Fonte Selada”, a produção é abundante: “As tuas produções são um jardim de romãs com frutos de macieiras. Chipres com o nardo, o nardo e o açafrão, a cana aromática e o cinamomo com todas as árvores do Líbano, a mirra e o aloés com todos os bálsamos da primeira estimação.  A fonte dos jardins: o poço das águas vivas que com ímpeto correm do Líbano” (Cânt 4, 13-15)

 

O pior dos males é a falta de água:

 

“... e não puderam beber das águas de Mara, porque eram amargas...” (Ex 15, 23); “...tu ferirás a pedra, e dela sairá água, para que o povo tenha donde beber” (Ex 17, 6).

“Disseram também a Eliseu os habitantes desta cidade: a habitação desta cidade é muito cômoda, como tu mesmo , senhor, vês: mas as águas são péssimas, e a terra estéril. E ele respondeu: Trazei-me um vaso novo, e deitai-lhe sal. Como lho tivessem trazido, saiu ele à fonte das águas, e deitou sal nela, e disse: Eis aqui o que diz o Senhor: Eu sarei estas águas, e elas não causarão mais nem morte, nem esterilidade. Tornaram-se pois sadias as águas até ao dia de hoje conforme a palavra que disse Eliseu”  (IV Rs 2, 19-22)

“Os magnates enviaram os seus inferiores por água: foram a tirá-la, não acharam água, voltaram com os seus cântaros vazios: confundiram-se e afligiram-se e cobriram as suas cabeças. Pela desolação da terra, porque não veio chuva sobre a terra, se confundiram os lavradores, cobriram as suas cabeças”. (Jer 14, 3-4). “... e a terceira parte das águas se converteu em absinto, e muitos homens morreram das águas, porque elas se tornaram amargas.”(Apoc 8, 11).

 

Águas da contradição:

 

Nome dado para lembrar o lugar onde o povo eleito se revoltou e murmurou contra Deus, após Moisés haver batido com o cajado no rochedo e a água não haver brotado de imediato: “Esta é a água da contradição, onde os filhos de Israel murmuraram contra o Senhor, e onde o Senhor foi santificado no meio deles” (Num 20, 13). Por causa disso, tanto Moisés quanto os “anciãos do povo” não entraram na terra prometida, mas morreram todos antes: “...porque vós prevaricastes contra mim no meio dos filhos de Israel nas águas da contradição em Cades, do deserto de Sin: e não me santificastes entre os filhos de Israel. Tu verás defronte de ti a terra que eu hei de dar aos filhos de Israel, e não entrarás nela”  (Dt 32, 51). Quando Deus diz assim “tu verás diante de ti a terra que eu hei de dar...”, significa que era fácil identificar a terra prometida antes de entrar nela, talvez pela exuberância e riqueza de seu solo, como havia sido dito em várias passagens anteriores da Sagrada Escritura.

Mulheres vão em busca de água:

 

Em geral eram as mulheres, e não os homens, que buscavam água pra beber nas fontes. São Marcos dá ênfase ao fato de Jesus haver dito que um homem levaria água para a Santa Ceia: “... e lá vos sairá ao encontro um homem que levará uma bilha de água: ide atrás dele...” (Mc 14, 13), pois isso não era comum, mas não indica que ele tinha ido á fonte pegar aquela água ou se a trazia de sua casa. O costume era que as mulheres fossem ás fontes buscar água, como narra o episódio da Samaritana (Jo 4, 7-8): “Veio uma mulher de Samaria a tirar água...”

 

Deus é fonte de água viva:

 

“Porque dois males fez o meu povo: Deixaram-me , fonte de água viva, e cavaram para si cisternas rotas, que não podem reter as águas” (Jer 2, 13).

“Senhor, tu és a esperança de Israel! Todos os que te deixam, serão confundidos: os que se apartam de ti, serão escritos sobre a terra: porque deixaram o Senhor, que é a fonte das águas vivas” (Jer 17, 13).

 

“Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber: tu certamente lhe pedirás, e ele te daria a ti da água viva” (Jo 10, 11).

“Todo aquele que bebe desta água tornará a ter sede; mas o que beber da água que eu lhe dar, nunca jamais terá sede.  Mas a água que eu lhe der virá a ser nele uma fonte de água, que salte para a vida eterna”  (Jo 4, 13-14).

"Se alguém tem sede, venha a mim e beba. O que crê em mim, como diz a Escritura, do seu ventre correrão rios de água viva". (Jo 7, 38).  “...porque o Cordeiro, que está no meio do trono, os guardará, e os levará às fontes das águas da vida, e enxugará Deus toda a lágrima dos olhos deles” (Apoc 7, 17).

“De Vós tem sede a minha alma, por Vós desfalece a minha carne; Como a terra árida, esgotada e sem água”(Sl 62, 2).

 

“Eis aqui vêm os dias, diz o Senhor: e enviarei fome sobre a terra: não a fome de pão, nem a sede de água, mas de ouvir a palavra do Senhor. Eles se comoverão desde um mar até outro mar, e desde o aquilão até ao oriente, eles andarão por toda a parte buscando a palavra do Senhor, e não a acharão”(Am 8, 11-12).

 

Água batismal  

 

É a água benta solenemente no Sábado Santo e na vigília de Pentecostes, em todas as igrejas que tenham pia batismal, consistindo numa série de orações , cantos e bênçãos,  incluindo a imersão do círio pascal e a mistura da água com os óleos santos abençoados pelos bispos em todas as catedrais na Quinta-Feira Santa. Há no Ritual uma fórmula abreviada para essa bênção quando feita fora dos dias assinalados.

 

Água Benta  

 

Trata-se da água benta pelo celebrante durante os ofícios do Sábado Santo, ou quando for necessário, de preferência antes da missa principal aos domingos. Tem sido usada na Igreja desde o século IV, tanto no Ocidente quanto no Oriente. Usa-se também como sacramental antes da Missa dominical de preceito; ao entrar e sair da igreja e em quase todas as bênçãos de pessoas, lugares e objetos de uso pessoal ou coletivo. A Igreja usa também a água benta como exorcismo, em nome da Santíssima Trindade, subtraindo-a ao poder do demônio e invoca sobre ela o poder para lançar fora ou dominar, pela presença do Espírito Santo, a influência dos demônios. Mistura-se também com a água benta o sal exorcizado para significar a preservação do pecado. O uso piedoso da água benta, como os demais sacramentais, traz benefícios aos que a usam, quer pela bênção da Igreja, quer pela fé e piedade que inspira.

 

Para que serve a água benta?

 

Há várias formas de usá-la. A mais comum é persignar-se com ela. Outra é aspergi-la sobre si mesmo, sobre outras pessoas, lugares ou objetos. Qualquer leigo ou leiga pode fazer isto. Naturalmente, quando feito por um sacerdote tem mais peso.Seu efeito mais importante é afastar o demônio. Este “ronda em torno de nós como o leão que ruge”, procurando fazer- nos toda espécie de mal, como nos adverte São Pedro (I Ped 5,8). Os espíritos malignos, cujas misteriosas e sinistras operações afetam às vezes até as atividades físicas do homem, querem, antes de tudo, induzir-nos ao pecado grave, que conduz ao inferno. Para isto empregam todos os recursos. Às vezes, por exemplo, provocam em nós um sem número de incômodos físicos ou psicológicos.

Outras vezes provocam pequenos incidentes, em nosso dia-a-dia, criam atrapalhações que parecem ter causas meramente naturais.Por exemplo, na hora de cumprir um dever, a pessoa sente um inexplicável mal-estar, um inesperado desânimo, uma estranha dor de cabeça… Em certas oportunidades, sem qualquer motivo, o marido fica repentinamente irritado contra a esposa, ou vice-versa, daí surge uma discussão e se quebra a paz do lar. Ou, então, o pai ou a mãe deixa-se levar por um movimento de impaciência e repreende duramente o filho, em vez de admoestá-lo com doçura. O filho se revolta, sai de casa. Está criado um problema! Tudo isso pode ser evitado afugentando o demônio com um simples sinal-da-cruz, feito com água benta. Quando você sentir uma irritação estranha, faça essa experiência, e preste atenção no efeito salutar que produz! Logo lhe voltará a serenidade.

 

Além do mais, a água benta é um sacramental que nos alcança o perdão dos pecados veniais, pode livrar-nos de acidentes (trânsito, assaltos, quedas), e ajuda até a curar doenças. O conhecido livro “Tesouro de Exemplos” conta que uma criança gravemente enferma ficou imediatamente curada ao receber a bênção de São João Crisóstomo com água benta.A água benta, como todo sacramental, leva-nos a invocar, nas diversas circunstâncias do dia, o socorro do Divino Espírito Santo, para o bem de nossa alma e de nosso corpo.

 

Outro benefício muito interessante e pouco conhecido: ela pode ser usada eficazmente em proveito de pessoas que se acham distantes de nós. E mais, cada vez que a utilizamos para fazer o sinal-da-cruz, na intenção das almas do purgatório, elas são aliviadas dos seus sofrimentos.

 

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