terça-feira, 5 de outubro de 2021

A CARNE, O MUNDO E O DEMÔNIO: INIMIGOS DE NOSSA ALMA

 



 São as três principais fontes dos pecados do homens, citados com freqüência nos Evangelhos e entre moralistas e santos católicos.  Vejamos a função de cada deles nas tentações.

 A CARNE

Primeiramente vamos considerar a “carne”, isto é, nossa natureza.  Entende-se por carne (no caso favorecedora dos pecados) as fraquezas humanas provenientes das más inclinações. Temos inclinações para o bem e para o mal, sendo que as de natureza maligna são mais fortes. Inclinações, tendências, facilidades de ceder aos impulsos da natureza. As tendências e inclinações para o bem exigem esforço e muita disciplina, enquanto as para o mal, não: basta às vezes se deixar levar, ficando indiferente ou mesmo fazendo concessões aos impulsos carnais. Para praticar o bem temos que desenvolver grande luta interior contra as más inclinações, enquanto que para o contrário basta cair gostosamente no gozo dos prazeres ou do orgulho próprio.

A maioria dos pecados nós cometemos cedendo a tais impulsos, dando azo a nossas más inclinações. O apetite sensual, por exemplo, é despertado ao vermos uma figura provocativa ou ouvirmos algo na mesma linha, mas ele é despertado quando interiormente nós cedemos aos impulsos sensitivos. Se reagimos e, sobretudo, pedimos o amparo da graça divina, o pecado pode ser evitado, a tentação morre por si mesma.

O maior exemplo de pecado oriundo de nossas más inclinações tivemos com o primeiro deles, cometido por Adão e Eva. No primeiro momento teve a participação do demônio, que tentou Eva não diretamente mas através da serpente. Talvez se aparecesse a ela tal qual ele é não teria obtido êxito. Eva pecou incentivada pelo instinto do orgulho, o desejo de se transformar numa deusa. A partir daí não há mais participação do demônio, mesmo sob a aparência de uma serpente, mas é a própria Eva que, sozinha, leva a tentação a Adão. E quem o faz cair é sua carne, quer dizer, a fraqueza de ceder ao orgulho de ser um deus, tal qual Eva havia cometido. De outro lado, pode-se dizer que o mundo também o influenciou, aquele mundo tão pequeno constituído apenas de um casal, mas que formando uma sociedade. A influência de Eva, representando o mundo, fez Adão cair. Mas, o demônio, desta vez não; pelo menos de uma forma direta.

 O MUNDO

O que é o mundo? Trata-se da sociedade em que vivemos e convivemos. A família, os vizinhos, a cidade e a nação em que nascemos e vivemos constituem o mundo nessa linguagem moral. E este mundo influencia poderosamente as pessoas, ou para o bem ou para o bem, sendo mais forte a influência para o mal. Assim, como nossas inclinações pessoais são mais fortes para a prática do mal, assim também os costumes vividos no chamado mundo. Se todas as pessoas deste mundo, desta sociedade, praticarem costumes sérios e castos, isso pode nos influenciar para a mesma prática. A honestidade, por exemplo, sendo vivida por todos será modelo para a prática desta virtude. No entanto, não é isso que ocorre na maioria das sociedades. As tendências naturais de todos, as inclinações pessoais, sendo propensas para a facilidade da prática do mal, no dia a dia torna-se uma prática comum e social.

Por causa disso a maioria das pessoas é levada a pecar por causa do mundo, por verem os outros fazerem aquilo com naturalidade. Trata-se, portanto, de um importante e poderoso impulso ao pecado.

 O DEMÔNIO

Por último vem o demônio.  Nem sempre é o demônio o incentivador do pecado, como muita gente pensa. A propósito, muitos santos dizem que o demônio mais tenta os que praticam as virtudes do que aqueles que levam uma vida pecaminosa. Isso porque os pecadores incorrigíveis já lhes possuem, estes não precisam ser tentados pelo demônio, basta o mundo e a carne. Quanto aos demais, que resistem ás más inclinações da natureza (carne) e aos costumes sociais (o mundo) são mais visados diretamente pelo próprio demônio.

Como o demônio é anjo, e tem inteligência superior à nossa, ele age com cautela e de uma forma sutil a fim de não despertar suspeitas. Deixa que o mundo e a carne façam o seu papel, só intervindo diretamente quando ver que os outros meios não tiveram êxito. E nesse caso passa a agir apenas inspirando à nossa mente, primeiramente, a idéia do pecado e, posteriormente, usando de artifícios externos provenientes do mundo. À vezes fica até difícil caracterizar uma tentação como tendo sido proveniente só do demônio. De modo geral, quando elas não nascem no próprio interior da pessoa, elas provêm de um nosso semelhante ou de vários fatores existentes nos lugares em que estamos, sendo que a parte do demônio pode ser apenas de sugestões, de inspirações ou de maquinações muitos sutis.

Há casos em que as tentações são diretamente deles, mas é mais raro e só ocorrem quando a pessoa já está em fase adiantada de ascese cristã.

 O PECADO SOCIAL

É preciso notar que é mais proveitoso para o demônio criar um clima social que estimule a vida pecaminosa em seus habitante do que investir pessoalmente em cada indivíduo.  Nesse sentido, ele prima por espalhar o que se chama “pecado social”, pecado coletivo, praticado em comum por uma sociedade humana. Um exemplo é o liberalismo. A idéia de que a liberdade é plena, deve ser total, concedido ao bem e ao mal, pode ser aceita e convivida em toda uma sociedade. Isso se constitui num pecado social, aceito por todos, que permite enganar-se todos e praticar o mal como se fosse coisa permissível. Outro exemplo é o relativismo, forma de pensar que julga tudo relativo, não há verdades eternas e estáveis, e assim considera tanto o bem quanto o mal como coisas passageiras, podendo ser praticados ou não conforme o queira a liberdade de cada um. Liberalismo e relativismo constituem, pois, os dois maiores pecados sociais. Tão abomináveis que podem criar clima favorável à expansão do “corpo místico do demônio”, uma sociedade de homens maus que, cientes ou não de suas culpas, participam de uma organização preternatural, nutrida pelo demônio, que age na sociedade para implementar o culto satânico através deste maldito corpo místico. Quem pratica o pecado social teve ficar bem atento ao fato de estar alimento o corpo místico do demônio.

De algum modo a atuação do demônio, da carne e do mundo pode ser representada na explicação que Nosso Senhor Jesus Cristo dá sobre a parábola do joio:

“Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: “Explica-nos a parábola do joio!” Jesus respondeu: “Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao maligno. O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifadores são os anjos. Como o joio é recolhido e queimado ao fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará os seus anjos e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; e depois os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça”.  (Mt 13, 36-43).

Quer dizer, o mundo é o campo onde se semeia a boa semente, mas também o joio. O inimigo que é o demônio, no caso faz o papel de quem semeia o joio, portanto, trata-se de alguém que procura agir no mundo por via indireta a fim de que a boa semente se transforme e produza frutos ruins, que são os pecados.


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