quinta-feira, 21 de junho de 2012

A ditadura sindical

Um fato inusitado chamou-me a atenção para um aspecto peculiar das greves, que é uma completa imposição da vontade sindical que impera nos momentos em que as mesmas são decretadas em suas assembleias. E o fato foi o seguinte: tendo os sindicalistas “decretado” uma greve entre professores da Universidade Federal da Bahia, um grupo discordante resolveu fazer uma consulta a todos os demais professores da instituição se concordavam ou não com a mesma. Chamaram muito apropriadamente a esta consulta de “plebiscito”, prática muito comum em países que se dizem democráticos. O resultado é que a grande maioria votou neste inusitado “plebiscito” contra a greve, deixando os sindicalistas desmoralizados, pois fizeram uma coisa em desacordo com o que desejava a maioria. No entanto, perante a justiça trabalhista o que ficou prevalecendo foi a vontade expressa na assembleia sindical, pois esta, segundo a lei vigente, é que tem autorização para “falar em nome da maioria”.
Vamos agora à segunda parte: o que decorre do episódio? É que, como o sindicato agiu dentro da lei, embora acintosamente contra o que desejava a maioria , poderá (para prevalecer o que foi decidido na “assembleia”) fazer piquetes e outras demonstrações de coações que visem impedir os demais de frequentar ao trabalho. É isto o que chamam de democracia.

Lembro-me bem de como procediam os sindicatos (o meu era o dos bancários) no tempo em que eu trabalhava, e nada mudou nos dias atuais, continuam agindo da mesma forma. Certa feita estive presente a uma dessas assembleias. A falta de representatividade é clamorosa; apenas alguns grupos, em geral politizados, comparecem à reunião.  A imensa maioria não vai a essas assembleias: alguns por comodidade, e outros porque já percebem de antemão que tudo lá é dirigido por grupos de manobra. Em geral, as pessoas dizem assim: “Não vou lá, não, pois não adianta minha opinião, tudo é resolvido mesmo por aqueles caras que comandam tudo...”  Quer dizer, dentro da minoria que ali comparece existem grupos, outras minorias, que procuram dominar os demais e forçar o conjunto a tomar uma decisão que já foi tomada antes. Pela lei, a convocação deve ser feita a todos, é o primeiro passo para que a assembleia seja legitimada depois; mas, na hora de se exigir que a decisão represente o pensamento da maioria a lei não exige que esta mesma maioria esteja presente e vote na assembléia, basta que vote os que estiverem lá presentes. Assim como nas reuniões de condomínios: quem decide é quem foi, e acabou. Mesmo que a decisão seja contrária ao pensamento da grande maioria.
Mas a coisa não pára por aí. Temos agora o que decorre disso tudo. Decidida a greve pelos que compareceram à reunião (embora não se possa comprovar como foi a votação, basta que se faça uma ata e diga que a maioria lá presente aprovou a greve) é necessário que se cumpra o que foi ali decidido. É necessário que a greve efetivamente seja feita. E agora, o que fazer com a maioria que não concorda? Aquela minoria ativa, decidida e politicamente organizada (ao contrário da grande maioria silenciosa) se organiza (fora da assembleia, é claro) e vai fazer piquete nas portas para impedir que os demais compareçam o trabalho. Afixam cartazes, ficam postados na frente (alguns entopem até as fechaduras para que não se abram as portas do local de trabalho) e nada é feito contra tais medidas atentatórias às liberdades individuais; até mesmo a polícia, quando é chamada, fica à distância, observando, e só agindo se houver brigas e arruaças. No entanto, o maior crime, a maior violência que se pratica ali é aquela que impede aos discordantes da greve de comparecer ao trabalho.
Quer dizer, nesta sequência, o sindicato age com uma férrea ditadura: Na hora de decidir antecipadamente o que eles querem e dominar a reunião feita para isso, e no momento de forçar os descontentes a cruzar os braços através de piquetes violentos e completo cerceamento das liberdades individuais.  Contra estes despotismos ninguém tem coragem de falar. É a democracia, dizem. Em nome dessa democracia tudo vale. E aqueles que mais a defendem são os que não suportam as opiniões contrárias, como, certamente, muitos dos que lerem o que foi dito acima e terão vontade de jogar pedras em mim.

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