segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Papa consagra a igreja do arquiteto de Deus

A propósito do templo que o Papa fez a dedicação ontem, a igreja da Sagrada Família em Barcelona, há uma controvérsia animada principalmente pela imprensa. O templo é uma das obras consideras patrimônio da humanidade, mas, mesmo assim, há vozes contrárias à sua conclusão. A razão? Trata-se de uma bela obra arquitetônica que louva a Deus por sua beleza, harmonia e maravilhoso. Dentre os contrários, conta-se, por exemplo, personalidades do mundo revolucionário como Le Corbusier e Miró. A dedicação do altar da nova basília irá, certamente, animar os construtores a concluir a obra, e da forma como a imaginou seu autor.
Segundo comentários insuspeitos de um jornal português "Na Sagrada Família de Barcelona encontramos o último grito tecnológico." Isto quer dizer que para se concluir o templo há a necessidade de muita teconologia moderna, diferente da que se usava no início de sua construção.
Uma das novas técnicas é usada por um dos trabalhadores que faz um pequeno molde para uma maqueta. Na parede, uma placa atribui uma frase a Gaudí: “O trabalho é fruto da colaboração e esta só se pode fundamentar no amor. É por isso que é preciso afastar os que são fermento de ódio.”
Comenta o jornal: "O debate sobre o (des)respeito para com a obra de Gaudí continua a ser um dos mais importantes no que diz respeito à intervenção na Sagrada Família. Corre por blogues, pela imprensa, pela televisão. Há ano e meio, a historiadora e crítica de arte María del Mar Arnús escrevia no El País um “Alerta vermelho” em defesa de Gaudí".
“O que se está a fazer na Sagrada Família é ilegal, insustentável, desnecessário e imoral. [...] Sem um processo de trabalho definido, contrário ao estabelecido por Gaudí, e sem nenhum respeito pelo seu legado, as obras do templo deram lugar, ao largo destes anos, a uma contínua adulteração.”
No blogue El Fenômeno Gaudí, Luis Gueilburt defende que a única solução para resolver esses e outros problemas relacionados com a herança de Gaudí seria a criação de uma verdadeira fundação.
O arquitecto David Mackay, da MBM Arquitectes (um dos ateliers que concebeu a Aldeia Olímpica de Barcelona), é um dos nomes mais importantes que se opõem à ideia de terminar as obras. E também fala do desrespeito pela herança gaudiniana.

Já em 1964, Mackay assinara uma carta em que se manifestava contra a ideia de prosseguir as obras do templo. Com ele, estavam o arquiteto Le Corbusier, os artistas Antoni Tàpies e Joan Miró ou o escritor Camilo José Cela. E ainda padres e teólogos, expoentes da época na Igreja Católica na Catalunha.
“Se considerarmos o edifício adicional como uma maqueta à escala real, já que segundo os arquitetos atuais se baseia no modelo de Gaudí, o templo teria de ser acabado sem o acrescento de símbolos ou outros elementos decorativos”, diz Mackay à Pública. Há pormenores introduzidos “que nada têm que ver com a mente criativa de Gaudí e o seu sentido táctil”.
Bento XVI celebra «gênio» de Gaudí
Da agência "Ecclesia"

Bento XVI celebrou este Domingo, em Barcelona, o “gênio” de Antoni Gaudí ao dedicar ao culto a igreja da Sagrada Família, um "milagre arquitetônico" que elevou à categoria de basílica.
Segundo o Papa, que falava perante uma igreja repleta, obras como esta ajudam a “mostrar ao mundo o rosto de Deus, que é amor e o único que pode responder ao desejo de plenitude do homem”.
“Essa é a grande tarefa, mostrar a todos que Deus é o Deus da paz e não da violência, da liberdade e não da coação, da concórdia e não da discórdia”, disse na homilia da Missa de consagração do templo, em construção há mais de 125 anos.
Para Bento XVI, esta celebração é de “grande significado” numa época em que “o homem pretende edificar a sua vida de costas para Deus, como se já não tivesse nada a dizer-lhe”.
“Gaudí, com a sua obra, mostra-nos que Deus é a verdadeira medida do homem”, apontou.
Depois da homilia e das ladainhas, tem lugar propriamente o rito da dedicação que simboliza a intenção de consagrar a igreja a Deus.
Com Bento XVI celebram 25 cardeais, bispos - incluindo D. Manuel Clente, bispo do Porto - e padres, num total de 1100 membros do clero, que se somam a 450 religiosos e religiosas e 800 cantores, para além de autoridades políticas, com destaque para os reis de Espanha. 50 mil pessoas acompanham a celebração no exterior do templo.
O Papa falou na igreja-símbolo de Barcelona como uma “síntese admirável entre técnica, arte e fé”.
Nesse sentido, agradeceu a todos os que trabalharam neste templo expiatório – assim denominado por ser construído apenas com donativos privados -, lembrando uma “longa história de sonhos, trabalho e generosidade”.
Bento XVI elogiou em particular o «pai» deste projeto, Antoni Gaudí, (1852-1926), cujo processo de beatificação está em curso, "arquiteto genial e cristão conseqüente, com a chama da sua fé ardendo até ao final da sua vida, vivida em dignidade e austeridade absoluta”.
“No coração do mundo, diante do olhar de Deus e dos homens, num humilde e gozoso ato de fé, levantamos uma imensa mole de matéria, fruto da natureza e de um incomensurável esforço de inteligência humana, construtora desta obra de arte”, assinalou ainda.
Para Bento XVI, esta obra é um “sinal visível do Deus invisível” e une “a realidade do mundo e a história da salvação”.
Gaudí, precisou, “introduziu pedras, árvores e vida humana dentro do templo, para que toda a criação convirja para o louvor divino, mas ao mesmo tempo colocou fora os retábulos, para pôr diante dos homens o mistério de Deus, revelado no nascimento, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo”.
O arquiteto catalão, acrescentou, cumpriu “uma das tarefas mais importantes de hoje, superar a cisão entre consciência humana e consciência cristã”.
“A beleza é a grande necessidade de homem, é a raiz da qual brota o tronco da nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convida à liberdade e arranca do egoísmo”, assegurou Bento XVI.
O Papa deixou uma nota pessoal, confessando a sua “alegria” pelo fato de a basílica estar ligada à “figura de São José”, com quem partilha o nome (Joseph, ndr).
A primeira intervenção em Barcelona concluiu-se em catalão, com uma evocação a Nossa Senhora, pedindo que “os pobres possam encontrar misericórdia, os oprimidos alcançar a verdadeira liberdade e todos os homens se revistam da dignidade de filhos de Deus”.

Barcelona e Compostela: Deus faz sentido no século XXI
Viagem de Bento XVI deixa um testamento espiritual sobre a essência do Cristianismo

A viagem-relâmpago de Bento XVI a Espanha, de 6 a 7 de Novembro, fica para a história do pontificado como uma síntese das preocupações de Joseph Ratzinger sobre a Europa do século XXI, progressivamente afastada da fé em Deus.
Em Santiago de Compostela e Barcelona, o Papa deixou uma espécie de testamento espiritual a partir de dois locais altamente simbólicos: o Santuário galego - e os caminhos que até lá levam centenas de milhares de pessoas – e a basílica catalã da Sagrada Família, de Gaudí.
Vários temas uniram as sete intervenções em solo espanhol: peregrinação e descoberta de Deus, fé e laicismo, caridade e solidariedade, beleza e defesa dos valores transcendentes.
Logo no avião que o transportou de Roma a Compostela, Bento XVI demonstrou consciência de que esta mensagem nem sempre é bem recebida e apontou o dedo a um laicismo e secularismo “agressivo”, que a tenta mesmo calar.
Em Santiago, lançou um apelo a toda a Europa, para que dê uma “nova pujança às suas raízes cristãs” e defendeu que “a Europa da ciência e das tecnologias, da civilização e da cultura, tem de ser, ao mesmo tempo, uma Europa aberta à transcendência e à fraternidade com os outros continentes”.
Na catedral galega, o Papa vestiu a capa do peregrino, com a Cruz de Santiago e a concha, afirmando que “quem peregrina a Santiago, no fundo, fá-lo para encontrar-se, sobretudo, com Deus” e que os caminhos desta peregrinação ajudaram a moldar a “fisionomia espiritual” da Europa.
“Como mais um peregrino” - expressão repetida por Bento XVI para dar conta do seu estado de espírito -, explicou que “o cansaço do andar, a variedade das paisagens, o encontro com pessoas de outra nacionalidade” abrem os peregrinos ao “mais profundo e comum que une os seres humanos”.
A Deus leva também, em Barcelona, o “gênio” de Antoni Gaudí, autor de um "milagre arquitetônico" que o Papa elevou à categoria de basílica.
No dia do “batismo” da Sagrada Família, visitada por milhões de pessoas todos os anos, Bento XVI disse que a mesma ajuda a “mostrar ao mundo o rosto de Deus, que é amor e o único que pode responder ao desejo de plenitude do homem”.
O arquiteto catalão, acrescentou, cumpriu “uma das tarefas mais importantes de hoje, superar a cisão entre consciência humana e consciência cristã”.
Com várias intervenções a questionar a auto-suficiência de uma sociedade cada vez mais centrada na técnica, o Papa defendeu que “a beleza é a grande necessidade de homem, é a raiz da qual brota o tronco da nossa paz e os frutos da nossa esperança”.
Além da beleza, Bento XVI deixou claro de que o testemunho cristão passa pela “alegria, coerência e simplicidade” com que os crentes concretizam a sua fé, também no seu compromisso como “cidadãos”.
Como esperado, algumas passagens tiveram um peso político específico, em especial com a crítica indireta às políticas do governo espanhol em matérias como o aborto ou a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Em Barcelona, o Papa recordou que a Igreja se opõe a “todas as formas de negação da vida humana” e defende a “ordem natural no âmbito da instituição natural”.
Bento XVI pediu que se “defenda a vida dos filhos como sagrada e inviolável desde o momento da concepção” e que a natalidade seja “valorizada e apoiada jurídica, social e legislativamente”.
Junto da basílica, falou na “dignidade e o valor primordial do matrimônio e da família”, “esperança de humanidade, na qual a vida encontra acolhimento, desde a sua concepção ao seu declínio natural”.
Simbolicamente, a última paragem foi uma obra social dedicada a pessoas com deficiência, pessoas que entram no grupo de “pobres e desfavorecidos” para quem o Papa pediu “justiça”.
Ali, apelou ainda a um esforço solidário por parte dos membros da Igreja, num momento de crise, assinalando que a “caridade é o sinal distintivo” da condição de cristão.
Bento XVI lembrou os avanços da medicina, nas últimas décadas, desejando que sejam acompanhados “pela crescente convicção da importância de um esmerado cuidado humano para o bom resultado do processo terapêutico”.
“É imprescindível que os novos desenvolvimentos tecnológicos no campo médico nunca surjam em detrimento do respeito da vida e dignidade humana”, declarou.
Mais uma vez, a certeza de que o progresso humano, por si só, não é garantia de humanidade. Por isso, antes de partir, o Papa pediu que a Espanha e a Europa saibam “preservar e fomentar” o seu “rico patrimônio espiritual”, moldado pela fé cristã.
Este esforço, assinalou, é “uma via privilegiada para transmitir às novas gerações os valores fundamentais, tão necessários para edificar um futuro de convivência harmônica e solidária”.
Compostela e Barcelona foram o destino da 18ª viagem do Papa ao estrangeiro, a segunda de Bento XV à Espanha, que em Agosto de 2011 ali voltará, para a Jornada Mundial da Juventude, em Madrid – fazendo do nosso país vizinho o mais visitado no atual pontificado.





Assista o vídeo da consagração da Igreja

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