No último domingo de agosto é celebrado o Dia do Catequista. Deixamos aqui uma homenagem a todos estes homens e mulheres que dedicam seu trabalho e seu afeto para que a mensagem de Jesus tenha a boa acolhida no coração das crianças, dos jovens e dos adultos.
Também a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) celebrou o dia “com admiração, reconhecimento e gratidão”, lembrando que “celebrar o Dia do Catequista é sempre uma graça, motivo de alegria e de reflexão mais profunda sobre o ser do catequista, sua vocação e missão na Igreja e na sociedade”.
Para homenagear este dia a CNBB divulgou o vídeo abaixo.
O Catecismo através da História
Nos primeiros séculos, a Igreja só tinha mestres semelhantes aos Apóstolos. Os catequistas eram seus doutores. Esta função divina de ensinar, de maneira simples e familiar , a Doutrina Cristã era a mesma que os bispos herdaram de Jesus Cristo; consideravam-na peculiar à sua qualidade de pais e pastores. Quando, com o aumento do número de fiéis, viram-se constrangidos pela força das circunstâncias a passar essa tarefa a outros, tiveram o cuidado de escolher, para tão nobre missão, os homens mais capacitados e virtuosos de sua igreja.
Os mais destacados doutores dos primeiros séculos da Igreja ufanaram-se da função de catequista e da preparação dos catecúmenos para o batismo. São Cirilo, bispo de Jerusalém, Santo Ambrósio, arcebispo de Milão, São Gregório de Nissa e Santo Agostinho até compuseram livros, que ainda conservamos, para orientar os catequistas e ensinar-lhes o método de transmitirem os princípios da fé às crianças e aos adultos que se preparavam para o batismo.
Na igreja de Alexandria funcionava uma célebre escola de catequistas para instruir os catecúmenos. Pantenus, São Clemente de Alexandria e Orígenes, que sucessivamente a dirigiram, deram à escola tanta fama, que para ela acorriam pessoas das mais longínquas regiões. Nela, São Gregório Taumaturgo aprendeu os rudimentos da fé e fez progressos tais, que o tornaram célebre pelos séculos afora.
Entre as honrarias da Igreja de Constantinopla, o registro dos serviçais menciona a de catequista, cujas funções eram instruir o povo e todos os que abandonavam a heresia para retornar ao seio da Igreja Católica. Orígenes foi encarregado da doutrina aos catecúmenos já aos dezoito anos quando ainda era leigo. Em Cartago, São Cipriano nomeou para o mesmo serviço um mestre de retórica chamado Optato. Declara-o nestes termos: “Nomeamos Optato, um dos leitores, mestre dos catecúmenos”. Duzentos anos depois, o diácono Deogratias exercia idêntica função na mesma igreja, e foi a seu pedido que Santo Agostinho compôs o belo livro intitulado: “De catequizandis rudibus” . Tudo isso comprova que se confiava essa tarefa ora a um diácono, ora a um sacerdote e, às vezes, até a um simples leigo e que, na seleção de catequistas, olhava-se menos a posição social da pessoas do que seus talentos, virtudes e dons particulares.
Isso continuou até que, tendo a maioria dos homens abraçado o cristianismo, a falta de catecúmenos fez desaparecer aos poucos a função de catequista. Em tal situação, os pais e as mães e, na falta deles, os padrinhos e as madrinhas assumiram o encargo de ensinar a doutrina às crianças. Ao mesmo tempo, os bispos fundaram escolas para instruir a juventude na religião e nas ciências humanas. A criação, nas igrejas catedrais, do título de “écolâtre”, ou chanceler, remonta àquela época. Os que eram investidos dessa dignidade deviam supervisionar as escolas primárias e tinham o direito de: nomear os mestres e as mestras de primeiras letras e dar-lhes posse; resolver e julgar eventuais divergências; e, elaborar estatutos e regulamentos para as escolas primárias e exigir-lhes exata observância.
Foi daí que surgiu a “Escolástica”. O termo “Escolástico” vem do latim “Scholasticus”, que designava o clérigo dirigente da escola vinculada à igreja catedral. Na França medieval, a palavra latina foi deformada para “scolastre”, gerando o termo francês “Écolâtre”. No início do Cristianismo era muito comum se determinar que alguém ensinasse o Catecismo, sendo depois regulamentada aquela função com a designação de um clérigo que, futuramente, ficou dirigindo a escola vinculada à igreja principal, ou catedral. No decorrer dos anos, o termo foi evoluindo até tomar o significado que tem hoje: nome de um método de ensino utilizado nas escolas e universidades medievais a partir do século XI. Várias etapas compõem esse método. A primeira consiste em comentar e explicar os autores, isto é, os escritores considerados autoridades na matéria tratada. A isso chama-se “lectio”, na verdade uma exposição que começa com a análise do texto, de sua correção e significação. A seguir, uma discussão (“disputatio”), onde se estabelece a sentença, isto é, o ensinamento que se pode tirar do texto. A partir do momento em que esse texto é posto em questão, surge a terceira fase do método (‘questio”) na qual alunos e mestres apresentam a conclusão do que examinaram (“determinatio”), sempre dirigida pelo professor. Então, “lectio”, “disputatio”, “questio”, e “determinatio” formam o caminho percorrido pela Escolástica para se chegar á Verdade, que seria a “conclusio”. Duas vezes por ano, os professores organizavam uma reunião chamada “quodlibet”, em que propunham o debate de um tema sugerido por qualquer pessoa presente. A Escolástica tornou-se, com o tempo, o nome que sintetiza as doutrinas teológicas e filosóficas dominantes na Idade Média, cujo cume foi atingido com o Tomismo.
A maioria dos concílios medievais, notadamente os de Châlons-sur-Saône (813), Aix-la-Chapelle (816), Paris (829), Meaux (845), Troflé (909), e Latrão (1179 a 1198), recomendavam encarecidamente a fundação de escolas e obrigaram os párocos a ensinarem o catecismo ao povo.
Apesar do empenho da Igreja, ainda havia muita ignorância religiosa. Jean Charlier, conhecido como Jean de Gerson, ou simplesmente como Gerson, (1363-1429) famoso reitor da Universidade de Paris e teólogo notável, teve que escrever um livro , “Traité du zèle pour attirer les petits enfants à Jésus-Christ” (Tratado do zelo para levar as criancinhas à Jesus Cristo), com objetivo de catequizar as crianças. Ele próprio, reitor e teólogo de fama, exerceu as funções de catequista em Lion, tendo por isto sido julgado como pessoa de mente fraca.
Anos depois, o Concílio de Trento promulgava vários decretos cujos objetivos eram a catequese. Num deles cada vigário era obrigado a dar o catecismo às crianças, aos domingos e dias de festa. Numerosos concílios provinciais confirmaram e publicaram os decretos do Concílio de Trento, obrigando por sua vez seus pastores a serem catequistas de suas paróquias. Na Itália, São Carlos Borromeu foi o primeiro a apoiar a medida, ordenando inclusive que as crianças fossem chamadas ao catecismo pelo toque do sino.
Nos dias atuais a catequese (dar aulas de catecismo) é função quase exclusiva dos leigos, havendo pouquíssima (ou quase nula) participação de sacerdotes ou religiosos de modo geral nesta sublime missão. Da mesma forma, o catecismo dedicado às crianças não sofreu substanciais modificações didáticas, sendo que a última data ainda do tempo de São Pio X, há exatos cem anos.
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