terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Mídia alimenta legenda do terrorista Bin Laden

Quando corria sua fama pelo sertão nordestino, Lampião era costumeiramente acusado de fazer ataques em diferentes regiões. Sabendo que o cangaceiro-mor tinha mais fama, muitos outros bandidos se utilizavam disso para praticar ações criminosas e colocar a culpa nele. Seria possível que Lampião tenha feito algum ataque no interior da Bahia, ou no Piauí? Não, humanamente seria impossível, pois em seus vagarosos deslocamentos a cavalo seu raio de ação era circunscrito a apenas alguns quilômetros de onde tinha seu centro de atividade. A não ser já no fim de sua vida, quando, tentando fugir de seus perseguidores, atravessou o São Francisco e foi perseguido e morto em território baiano. Esta aura, esta fama, é claro que não foi propagada pela imprensa, mas fazia parte de um processo normal ocorrido na sociedade, onde os que praticam o mal procuram ocultar-se e facilmente tentam atribuir seus crimes a outro de maior fama.
Já com o terrorismo moderno, não trata-se apenas de um processo social, mas um estragema da mídia. Vejam o que ocorreu na década de 70 com o terrorista Carlos, “O Chacal”, sobre o qual a mídia criou um mito e lhe creditou vários ataques em toda a Europa. Seria difícil, para uma pessoa de bom senso, acreditar que um bandido fosse tão preparado e (ao mesmo tempo com o poder de bilocação) para agir de forma tão solerte em países como a Inglaterra, França e Alemanha, sem ser rapidamente preso e condenado. Foi criada a legenda de um bandido ativo, esperto, desafiador do poder estatal e, sobretudo, impune (até o dia que foi preso e condenado à prisão perpétua). No entanto, era comum as notícias de que o venezuelano enganava as polícias tão exímias como a “Scotland Yard” e transitava incólume de um país para outro, como a zombar de todos. A grande maioria dessas ações era meramente imaginada pela mídia para alimentar a legenda.
Agora, surge a figura do terrotorista-mor, Bin Laden. Criou-se em torno do mesmo uma aura de mistério e poder, embora a figura que é mostrada seja a de um indivíduo com aspecto imbecil, fraco e indolente (vejam se não tem cara de retardado mental), com uma barba e andrajos sujos, dando a impressão de que, apesar de tão miserável, é capaz de desafiar o maior poder do mundo, os EUA. Que há de propósito neste estratagema? É que para muitos que assim o vêem desafiar e enfrentar o maior poder da terra surge a seguinte indagação: se ele (que parece assim tão fraco e miserável) pode eu também posso. Muitos resolvem segui-lo e, formados ou não em secretas organizações terroristas, passam a desafiar o poder americano. Em seu nome já foram praticados muitos assaltos, mas na realidade quantos realmente foram coordenados por ele? Atribuir um poder que não tem, constitui-se pois uma estratégia de “psy-war”, além de atribuir ao indivíduo ações que ele nunca praticou.
Neste últimos dias surge mais uma peça nesta encenação: será que a recente mensagem publicada pela “Al Jazeera” é verdadeira? Ou será que Bin Laden está morto ou desaparecido há muitos anos e usam seu nome como estratégia de guerra psicológica contra os EUA? Vejam o teor da notícia divulgada pela Reuters:
EUA minimizam vínculo de Bin Laden com atentado frustrado
da Reuters, em Washington

O fato de uma gravaçãoa atribuída a Osama bin Laden ter reivindicado a responsabilidade da rede terrorista Al Qaeda para o frustrado atentado aéreo de 25 de dezembro mostra que ele busca ter sua "glória refletida" e não necessariamente que tenha sido o mentor da trama, disse uma autoridade dos EUA nesta segunda-feira.
Em gravação divulgada no domingo pela TV "Al Jazeera", uma voz identificada como sendo do terrrorista saudita elogia o nigeriano acusado de tentar explodir um voo entre Amsterdã e Detroit e promete novos ataques contra os EUA.
Daniel Benjamin, coordenador de contraterrorismo do Departamento de Estado, disse que o envolvimento de Bin Laden é improvável. "Ele está fazendo o que, para Bin Laden, é uma estratégia testada e verdadeira, de certa forma se associando a isso e dessa forma tentando obter parte da glória refletida do momento, se é que se pode chamar assim", afirmou Benjamin a jornalistas.
"Bin Laden está tentando colocar suas impressões digitais em praticamente qualquer coisa que acontece há anos, e a esse respeito acho que estamos meio que acostumados a isso."
A Al Qaeda do Iêmen reivindicou inicialmente a autoria do frustrado atentado, que desencadeou forte repressão do governo iemenita a militantes islâmicos.
Funcionários norte-americanos de Defesa e contraterrorismo dizem que os EUA estão discretamente fornecendo equipamentos militares, de inteligência e treinamento ao Iêmen para destruir esconderijos da Al Qaeda.
Governos e analistas ocidentais temem que a Al Qaeda iemenita se torne mais violenta, assumindo o vácuo deixado pelas perdas da Al Qaeda "original" no Afeganistão e Paquistão.
Benjamin disse que Bin Laden --cuja família tem origens iemenitas-- e outros dirigentes da Al Qaeda provavelmente estão em contato com a facção iemenita, mas não a controlam diretamente.
A relação "é provavelmente mais estreita do que entre a liderança máxima da Al Qaeda e quaisquer outras afiliadas, mas isso não significa que haja um comando e controle de qualquer forma."
Para ele, a cúpula da Al Qaeda fornece apenas "diretrizes amplas, prioridades gerais de alvos, coisas assim."

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