sexta-feira, 10 de agosto de 2018

O VERDADEIRO SACERDÓCIO DEVE SER EXERCIDO SOMENTE PELOS HOMENS






A “questão” do sacerdócio feminino é resumida, mais ou menos, por esta declaração do cardeal progressista E. Schillebeeckx, O. P.: “A exclusão das mulheres do ministério [sacerdotal] é uma questão puramente cultural que hoje não tem sentido. Por que as mulheres não podem presidir a eucaristia? Por que não podem ser ordenadas? Não há argumentos para se opor ao sacerdódio das mulheres...  Neste sentido, estou contente com a decisão [da igreja anglicana] de conferir o sacerdócio também às mulheres, e, em minha opinião, trata-se de uma grande abertura para o ecumenismo, mais que um obstáculo, porque muitos católicos caminham na mesma direção” [1]
O tema foi estudado e esclarecido formalmente pela Igreja, que publicou os seguintes documentos: “Instrução da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, “Inter Insigniores”,  “A questão da admissão de mulheres ao sacerdote ministerial” (15 de outubro de 1976) e a “Carta Apostólica de João Paulo II”, de 22 de maio de 1994, à qual acrescentou o Cardeal Ratzinger: “Resposta à dúvida sobre a doutrina da Carta  Aapostólica Ordinatio Sacerdotalis”, de 28 de outtubro de 1995.
Qual a principal razão da Igreja não admitir a mulher no sacerdócio?  Existem duas fortes razões: a da Tradição e a da Teologia.  De conformidade com a Tradição, tanto Nosso Senhor Jesus Cristo quanto os Apóstolos quiseram preservar o antigo costume de escolher somente homens para o sacerdócio.  Neste sentido, verifica-se que houve uma explícita vontade divina, tornada evidente pelos fatos narrados nos Evangelhos e nos Atos dos Apóstolos. Objeta-se costumeiramente que Nosso Senhor não escolheu mulher entre os doze Apóstolos para conformar-se com os costumes judaicos de seu tempo. No entanto, os fatos demonstram claramente que Ele rompia ordinariamente com os costumes judaicos quando se tratava de temas candentes, como, por exemplo o da mulher: conversa publicamente com a samaritana (Jo 4, 7-26), não leva em conta a impureza da hemorroíssa (Mt 9, 20-22), permite que uma pecadora pública (Santa Madalena) aproxime-se d’Ele, beije seus pés e derrama nele perfumes (Lc 7, 36-49), perdoa a adúltera que iria ser apedrejada (Jo 8, 11), não temendo, sequer, ser tido como desrespeitador da lei de Moisés. 
Perante tão grande liberdade que manifestava com relação aos costumes de seu povo, muitos deles censurados publicamente por Jesus, que dificuldade teria Ele em chamar algumas mulheres para juntar-se ao grupo dos doze Apóstolos? Pior do que isto foi perdoar a adúltera, receber Madadela, conversar com a samaritana, expulsar os vendilhões do Templo com um chicote. Se Ele tivesse a mesma opinião dos progressistas, isto é, que isto é uma “questão cultural”, como Deus que era, além de homem, seria fácil superar esta “questão”.
Vê-se o mesmo com relação aos Apóstolos no início da Igreja: embora tendo entre eles a própria Mãe de Jesus Cristo, que como tal poderia ocupar lugar de destaque na Hierarquia da Igreja, quem sabe até o cargo de São Pedro, no entanto nunca foi chamada, ou sequer lembrada, para as funções sacerdotais. Quando foram preencher o lugar deixado por Judas, aí tinha surgido a oportunidade de introduzir a primeira mulher entre eles; no entanto, o que fizeram? Submeteram à votação os nomes de dois homens para que um deles fosse o escolhido. Questão cultural também? Mas, como, se eles encontravam-se escondidos no Cenáculo, com medo dos judeus, numa reunião íntima e sem que o povo soubesse de nada?
Se os Apóstolos tivessem permanecido sempre entre os judeus, poderia se colocar a questão cultural.  Mas não foi assim, pois logo tiveram que emigrar para o meio de diversos povos, dentre os quais o paganismo permitia “culturalmente” que mulheres fossem sacerdotizas em seus templos religiosos.  Oportunidades não faltaram para as mulheres serem ordenadas. São Paulo narra os casos de diversas mulheres que foram suas excelentes colaboradoras. Cita-as nominalmente, como Prisca, Maria, Júnia, Trifena, Trifosa, Perside, Hermas, Patrobas e Olímpia, todas elas chamadas de cooperadoras (Rom 16, 3-15). Lídia foi também uma grande amiga e colaboradora do Apóstolo.  No Atos dos Apóstolos, São Lucas também fala delas, como Priscila (At 18, 26) ou as “santas mulheres” (At 1, 14). 
No início da Igreja, algumas seitas gnósticas e heréticas quiseram que a Igreja admitisse mulheres no sacerdócio, mas a idéia foi prontamente recusada pelos Padres daqueles tempos, dando prosseguimento não só à Tradição como também a um princípio teológico baseado na vontade de Cristo.
O outro argumento que se soma ao da Tradição é o da fundamentação teológica, baseada na expressa vontade divina.  O ministério sacerdotal é sinal sacramental de Cristo Sacerdote e Vítima. Os sinais sacramentais não são meramente convencionais, são símbolos naturais que representam ou significam por uma natureza semelhante. Desta forma, o pão e o vinho para a Eucaristia são sinais adequados por representar o alimento fundamental dos homens, a água para o Batismo  por ser o meio natural de se limpar, lavar, etc. Isto vale não só para as coisas mas também para as pessoas. Portanto, se nos sacramentos é necessário que se expresse  um sinal de Cristo, o mesmo pode-se dizer do sacerdócio, por ser Ele o supremo Sacerdote; o ministério afim somente pode ser exercido com uma pessoa da mesma natureza. A Encarnação do Verbo fez-se numa pessoa do sexo masculino, e isto é uma questão de fato que tem relação com toda a Teologia.
Os progressistas também refutam que, ao encarnar-se, Cristo não representa com sua masculinidade o varão mas sim a humanidade. Desta forma, não é o varão que representa adequadamente Cristo no sacerdócio, mas toda a humanidade, incluindo as mulheres.  Ora, os sinais sacramentais têm que guardar os sinais adequados, isto é, devem ser o mais específico possível. Se a Eucaristia só é válida sob a forma do pão e do vinho, como então colocar-se outros alimentos em seu lugar sob o pretexto de que o trigo e a uva os compõem? Com relação ao sacerdócio, somente o homem possui em sua essência e natureza um sinal adequado ao de Cristo Sacerdote.

A palavra final da Igreja
A fim de dar uma palavra final sobre o assunto, também tratado por Paulo VI através da Declaração “Inter Insigniores” , em 15.10.1976, o Papa João Paulo II publicou uma Carta Apostólica, sob o título de “Ordinatio Sacerdotalis”, cujo teor reproduzimos abaixo:
1. A ordenação sacerdotal, pela qual se transmite a missão, que Cristo confiou aos seus Apóstolos, de ensinar, santificar e governar os fiéis, foi na Igreja Católica, desde o inicio e sempre, exclusivamente reservada aos homens. Esta tradição foi fielmente mantida também pelas Igrejas Orientais.
Quando surgiu a questão da ordenação das mulheres na Comunhão Anglicana, o Sumo Pontífice Paulo VI, em nome da sua fidelidade ao encargo de salvaguardar a Tradição apostólica, e também com o objetivo de remover um novo obstáculo criado no caminho para a unidade dos cristãos, teve o cuidado de recordar aos irmãos anglicanos qual era a posição da Igreja Católica: “Ela defende que não é admissível ordenar mulheres para o sacerdócio, por razões verdadeiramente fundamentais. Estas razões compreendem: o exemplo – registrado na Sagrada Escritura – de Cristo, que escolheu os seus Apóstolos só de entre os homens; a prática constante da Igreja, que imitou Cristo ao escolher só homens; e o seu magistério vivo, o qual coerentemente estabeleceu que a exclusão das mulheres do sacerdócio está em harmonia com o plano de Deus para a sua Igreja”[2]
Mas, dado que também entre teólogos e em certos ambientes católicos o problema fora posto em discussão, Paulo VI deu à Congregação para a Doutrina da Fé mandato de expor e ilustrar a este propósito a doutrina da Igreja. Isso mesmo foi realizado pela Declaração “Inter Insigniores”, que o mesmo Sumo Pontífice aprovou e ordenou publicar.
2. A Declaração retoma e explica as razões fundamentais de tal doutrina, expostas por Paulo VI, concluindo que a Igreja “não se considera autorizada a admitir as mulheres à ordenação sacerdotal”.  A tais razões fundamentais, o mesmo Documento junta outras razões teológicas que ilustram a conveniência daquela disposição divina, e mostra claramente como o modo de agir de Cristo não fora ditado por motivos sociológicos ou culturais próprios do seu tempo. Como sucessivamente precisou o Papa Paulo VI, “a verdadeira razão é que Cristo, ao dar à Igreja a Sua fundamental constituição, a sua antropologia teológica, depois sempre seguida pela Tradição da mesma Igreja, assim o estabeleceu”
Na Carta Apostólica “Mulieris dignitatem”, eu mesmo escrevi a este respeito: “Chamando só os homens como seus apóstolos, Cristo agiu de maneira totalmente livre e soberana. Fez isto com a mesma liberdade com que, em todo o seu colmportamento, pôs em destaque a dignidade e a vocação da mulher, sem se conformar ao costume dominante e à tradição sancionada também pela legislação do tempo”.
De fato, os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos atestam que este chamamento foi feito segundo o eterno desígnio de Deus: Cristo escolheu os que Ele quis (cfrs. Mc 3,13-14; Jo 15, 16; ) e fê-lo em união com o Pai, “pelo Espírito Santo”  (At 1,2), depois de passar a noite em oração (Lc 6, 12). Portanto, na admissão ao sacerdócio ministerial, a Igreja sempre reconheceu como norma perene o modo de agir do seu Senhor na escolha dos doze homens que Ele colocou como fundamento da sua Igreja (Ap 21, 14). O mesmo fizeram os Apóstolos, quando escolheram os seus colaboradores que lhes sucederiam no ministério.  Nessa escolha, estavam incluídos também aqueles que, ao longo da história da Igreja, haveriam de prosseguir a missão dos Apóstolos de representar Cristo Senhor e Redentor.
3. De resto, o fato de Maria Santíssima, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, não ter recebido a missão própria dos Apóstolos nem o sacerdócio ministerial, mostra claramente que a não admissão de mulheres à ordenação sacerdotal não pode significar uma sua menor dignidade nem uma discriminação a seu respeito, mas a observância fiel de uma disposição que se deve atribuir à sabedoria do Senhor do universo.
A presença e o papel da mulher na vida e na missão da Igreja, mesmo não estando ligados ao sacerdócio ministerial, permanecem, no entanto, absolutamente necessários e insubstituíveis. Como foi sublinhado pela mesma Declaração “Inter Insigniores”,  “a Santa Madre Igreja auspicia que as mulheres cristãs tomem plena consciência da grandeza de sua missão: o seu papel será de capital importância nos dias de hoje, tanto para o renovamento e humanização da sociedade, quanto para a redescoberta, entre os fiéis, da verdadeira face da Igreja”. Os Livros do Novo Testamento e toda a história da Igreja mostram amplamente a presença na Igreja de mulheres, verdadeiras discípulas e testemunhas de Cristo na família e na profissão civil, para além da total consagração ao serviço de Deus e do Evangelho.  “A Igreja defendendo a dignidade da mulher e a sua vocação, expressou honra e gratidão por aquelas que – fiéis ao Evangelho – em todo o tempo participaram na missão apostólica de todo o Povo de Deus.  Trata-se de santas mártires, de virgens, de mães de família, que corajosamente deram testemunho da sua fé e, educando os próprios filhos no espírito do Evangelho, transmitiram a mesma fé e a tradição da Igreja”.
Por outro lado, é à santidade dos fiéis que está totalmente ordenada a estrutura hierárquica da Igreja.  Por isso, lembra a Declaração “Inter Insigniores”, ‘o único carisma superior, a que se pode e deve aspirar, é a caridade (I Cor 12-13). Os maiores no Reino dos céus não são os ministros, mas os santos”.
4. Embora a doutrina sobre a ordenação sacerdotal que deve reservar-se somente aos homens, se mantenha na Tradição constante e universal da Igreja e seja firmemente ensinada pelo Magistério nos documentos mais recentes, todavia atualmente em diversos lugares continua-se a retê-la como discutível, ou atribuindo-se um valor meramente disciplinar à decisão da Igreja de não admitir as mulheres à ordenação sacerdotal.
Portanto, para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence á própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (Lc 22, 32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja.
Invocando sobre vós, veneráveis irmãos, e sobre todo o povo cristão, a constante Judá divina, concedo a todos a Bênção Apostólica.
Vaticano, 22 de maio, Solenidade de Pentecostes, do ano de 1994, décimo sexto de Pontificado”.




[1]              Soy un teólogo feliz”: Entrevista c/ F. Strazzati, Sociedad de Educación Atenas, Madrid 1994, pp. 117-118
[2]              Carta ao Arcebispo de Cantuária, datada de 30.11.75.

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