segunda-feira, 17 de junho de 2013

Uma Sorbonne brasileira?



(oferta hipócrita de flores aos policiais)

Pouquíssimas pessoas estão entendendo o que acontece no Brasil. Entender tais coisas exige que se conheçam algumas realidades mais profundas. As agitações em São Paulo deixam a população atônita, perplexa e confusa, pois tudo é assim complicado e inexplicável, como o são todos os problemas do homem de hoje. Esse clima foi o mesmo que antecedeu ou que se seguiu aos primeiros dias da revolução da Sorbonne de 1968. Naquele ano, num primeiro instante, os revoltosos protestavam contra a decisão de uma daquelas faculdades parisienses de se proibir doravante a residência conjunta de moças e rapazes nas casas estudantis. Logo depois, as manifestações eram contra a Universidade e sua forma de dirigir os cursos universitários, passando depois para os protestos contra a polícia, contra o governo, contra a guerra do Vietnã, contra o capitalismo, contra o poder, contra a família, contra qualquer tipo de autoridade, etc., etc. Quando as manifestações estavam em seu ponto alto, surgiram adesões importantes para manter o ânimo dos revoltosos, e veio o apoio das centrais sindicais, de jornalistas esquerdistas, de intelectuais, etc., E o objetivo não era tomar o poder, mas acabar com todo tipo de poder: idéia anarquista em sua essência. Essa idéia anarquista, resumida na célebre frase “é proibido proibir” tomou conta de toda a sociedade ocidental, estando hoje o Brasil colhendo seus frutos.

No Brasil, os fatos se assemelham: o protesto contra o aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus, ao lado das arruaças e depredações, tem já o apoio de algumas centrais sindicais e de políticos, intelectuais e jornalistas. Não sei por que, os índios não aderiram ainda ao movimento. Dizem que não há um só entre eles que use o transporte coletivo, pois são quase todos da classe média ou média-alta, que anda pra cima e pra baixo montado em seus carros de luxo. Não, ninguém quer derrubar o governo, nem quer assumir o poder – é a anarquia mesmo que se quer implantar no Brasil, isto é, a ausência de governo. A par disso, jornais divulgam que a inflação aumenta e que diminui a popularidade da presidente em decorrência disso. Como se fosse realmente conseqüência de causa e efeito. De outro lado, o dólar sobe, a bolsa cai, como ocorre no resto do mundo. Tudo noticiado num só pacote, a idéia geral é de desgoverno, de anarquia. E as notinhas e cochichos fervilham de todos os quadrantes: milionários começam a retirar seus recursos do Brasil e um dos motivos é uma lei socialista que querem aprovar no país, atingindo de cheio as empresas mineradoras. Querem copiar lei semelhante feita na Venezuela, de onde saíram prejudicadas várias empresas internacionais do ramo de exploração mineral. E tais empresas pesam na bolsa.

Como se vê, parece estar havendo um clima pré-revolucionário de grande alcance, com o incentivo da mídia internacional: a BBC e as grandes redes noticiosas mais famosas do mundo distorcem os fatos e dizem que se trata do reflexo de uma insatisfação popular, que a revolta é de “estudantes” e que o povo brasileiro vai ás ruas da mesma forma como o fizeram alguns no Egito, na Síria e em alguns países árabes. Lá denominaram as revoltas de “primavera árabe” ( o povo egípcio nem árabe é) e andaram espalhando por aí que foi uma coisa “espontânea”, como querem que seja espontânea toda e qualquer revolução, como a Francesa de 1789, a russa de 1917, a da Sorbonne de 1968,, etc. Uma “espontaneidade” dirigida...

Ninguém diz que tudo não se trata senão de uma revolta orquestrada por grupos organizados, fora do povo e contrária ao mesmo. Ninguém divulga as organizações que estão por detrás de tudo e quais seus objetivos ideológicos, filosóficos... Pelo contrário: dizem que tudo é fruto de insatisfação popular. E a repressão da polícia é vista por estes órgãos da mídia como a demonstração de intransigência e intolerância do Governo, ou dos governos, pois, nesse momento, são envolvidos no mesmo diapasão os governos federais, estaduais e municipais. Nem sequer destacam que o estadual é a oposição do municipal e do federal e que não se entendem em matéria política e até mesmo administrativa. Todos os três são envolvidos no mesmo “pacote” e apresentados como culpados por tudo o que ocorre. Torna-se necessário que sejam assim acusados para que se apresente na opinião pública a idéia de uma completa anarquia, de desgoverno, caos...

Os próprios grupos que engrossam os protestos não se entendem e nem são da mesma origem, pelo menos pela aparência. Tanto são vistos aqueles que portam cartazes conhecidamente esquerdistas como outros que protestam contra o Partido governante, de esquerda, e seus próceres mais influentes. Quer dizer: “direita” e esquerda envolvidos na mesma direção. Quem entende? Ocorre que não é para se entender mesmo: o objetivo é causar confusão, deixar as pessoas desorientadas e “desgovernadas”, pois os princípios do anarquismo exigem que o desgoverno, a anarquia, seja total, inclusive, e principalmente, na opinião pública.

Perca do “senso de orientação”

Todo animal possui um sentido que se chama “senso de orientação” ou de direção, pelo qual ele sabe para onde vai e onde buscar alimento e segurança. Este sentido ou senso no homem, porém, é muito mais requintado e elevado por causa de sua alma imortal. Assim, o homem usa tal senso para programar seu futuro, sua vida, posicionar-se na sociedade e compreender o mundo político que o rege. Se não entende o que ocorre na sociedade, onde a tônica é o desgoverno, o caos, a anarquia, o indivíduo perde este senso de orientação no que diz respeito ao futuro da sociedade em que vive. Desnorteado vai passar a agir como mero autômato, sujeito aos influxos de grupos organizados que o impelirá a agir por impulsos. Veremos, assim, uma sociedade composta de autômatos, irracionais, cujo resultado final será a luta entre si, contra tudo e contra todos, onde campeará um clima de violência propício ao “mata-mata”, e cada um por si. É para lá que caminhamos. É para este “tipo” de sociedade, de homens sem senso de orientação, que nos está impelindo os arruaceiros que lutam contra o aumento de passagens de ônibus.

Táticas de guerrilhas urbanas não nascem entre o povo

Muitas coisas estão imiscuídas entre nosso povo, mas não nascem dele e, muitas vezes, são voltadas contra ele mesmo. Um exemplo é o banditismo, que existe, atua e se esconde entre nosso povo, mas não nasceu dele e sim de grupos externos que formam as quadrilhas. O mesmo pode-se dizer daqueles que se especializam em táticas de “guerrilhas urbanas” com o fim de tumultuar e fazer com que impere a anarquia. Em geral, tais grupos nascem dentro de grupos organizados de partidos políticos, universidades e sindicatos, mas nunca se originam da população, isto é, não é nada autêntico e natural do povo. São oriundos de grupos organizados que pregam um sistema de vida, no caso atual, a ausência de poder, de governo, ou seja, o anarquismo.

Tais grupos das chamadas “guerrilhas urbanas” aprendem todas as táticas modernas de enfrentamento contra a polícia, inclusive com técnicas psicológicas para irritar os policiais e fazê-los agir com violência e lhes causar vítimas e mártires. Alguns anos atrás, em Salvador, uma grevista cuspiu no rosto de um policial com visível intuito de provocá-lo e, como o mesmo reagiu dando-lhe uma cassetetada, o flagrante foi apanhado por um fotógrafo que certamente já estava combinado e aguardando o momento. A foto do revide do policial foi aproveitada pela grevista para fazer sua própria propaganda política: ela hoje é deputada. Na mesma capital baiana houve fatos insólitos alguns anos atrás, por ocasião também de uma manifestação contrária ao aumento de passagens de ônibus. Vou descrevê-los.

O movimento sempre se autoproclama “estudantil”, pois assim consegue atrair a simpatia do público, mas é dirigido e composto por uma miscelânea de atividades pertencentes a diversas correntes de sindicatos e partidos políticos de esquerda. Mas, na frente têm que estar os estudantes. A tática consistiu em arrebanhar vários jovens, menores de idade e pertencentes a colégios do nível primário, colocando-os como testas-de-ferro, na frente das passeatas, ocasião em que os mesmos eram orientados a sentar-se no chão, em cima de suas mochilas, quando a polícia chegava para dispersá-los. Ali sentados em frente aos ônibus, impediam que os mesmos circulassem de uma forma “pacífica”. Ai do policial que batesse numa “criança” daquelas. Ainda bem que o Ministério Público foi advertido e fez um bom trabalho, processando aqueles que haviam aliciado os menores para desordens públicas, um crime um tanto difícil de se constatar, pois necessita-se de investigação entre os próprios estudantes. Parece que a solução foi responsabilizar os pais dos mesmos, fazendo com que denunciassem aqueles que iam aos colégios aliciar seus filhos.

O movimento que se dizia popular e espontâneo (sempre querem dar a entender isso) foi traído por causa dos mesmos refrões, mesmas músicas, mesmas táticas e mesmos horários de reuniões e passeatas. Era impossível que uma coisa popular e espontânea tivesse tanta organização e fizesse tudo combinado, com táticas e horários programados.

O mesmo ocorre em São Paulo, na atual campanha contra os transportes coletivos. Existem diferenças de táticas apenas em aspectos exteriores, mas, na essência, dá-se o mesmo.

Assistimos, assim, um prolongamento da Revolução da Sorbonne, de 1968, executado num lapso de tempo tão longo, isto é, 45 anos depois!

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