Há algo de autêntico nas manifestações de rua? Sim, é
verdade que campeia um grande descontentamento na população, fato inegável. Tal
descontentamento vem sendo alimentado e estimulado por um trabalho sorrateiro
da mídia. Por exemplo, sempre que se noticia um crime clamoroso, logo em
seguida vem a frase “o bandido até o momento não foi preso”; sempre que se
comete uma barbaridade contra alguém, um assassinato frio e cruel, o repórter é
orientado a perguntar pelos familiares das vítimas sobre o direito de justiça,
que seria punir o culpado. Esse anseio por justiça chegou a movimentar toda a opinião pública contra os responsáveis pelo incêndio da boate de Santa Maria, não houve um só que manifestasse o perdão aos culpados, involuntários, diga-se de passagem. Muitas vezes a exigência de se cumprir justiça
confunde-se com mero desejo de vingança. E assim é alimentada a indignação contra
a Justiça, morosa, lenta e benigna com os crimes. Quando os temas são de ordem
política a mídia alimenta mais ainda a insatisfação, colocando no “pelourinho”
aqueles mais corruptos e mais visados por causa de cargos altos. Embora os
órgãos de imprensa ajam sempre assim, no entanto nunca apresentam uma solução
para os problemas, deixando o povo sem rumo e considerando que “o Brasil não
tem jeito”. Quer dizer, promovem a
desesperança, que já impera em muitos. O trabalho deles é tirar a seiva da
lenha para que fique seca e venha o fogo e lavre mais facilmente.
É justo reclamar contra a corrupção? É claro, é evidente. No entanto, pouco se diz que o problema
da corrupção está enraizado em nosso povo; de tal sorte que, em geral, os
mesmos que protestam contra os políticos corruptos também participam de uma corrupçãozinha
em seu nível familiar ou pessoal. É uma questão de cultura e de educação.
É justo protestar contra os gastos abusivos das copas de
futebol? Sim, é justo se indignar e protestar contra tais gastos abusivos,
deixando que uma organização internacional de futebol mande no Brasil. Como
tais copas envolvem altos negócios, tudo é perdoado pelas autoridades. Ninguém
pode ficar calado perante tantos desmandos.
É lícito que se proteste contra a impunidade? É evidente que
o povo tem o direito de se indignar e se manifestar contra a grande impunidade
que campeia no país, havendo rumorosos casos de políticos e de pessoas
influentes que se beneficiam de seu prestígio para fugir da justiça. Mas, isso é algo tão complicado que, para
mudar, tem que haver adequação até do nosso Código Civil, que premia bandidos
com redução de pena, coisa inédita no mundo. O problema da maioridade penal,
por exemplo, que tem diversos movimentos pedindo para reduzir para os 16 anos,
foi declarado pelo próprio ministro da justiça como “causa pétrea”, algo que
não se pode mexer. Quer dizer, há uma má vontade de nossa elite política em
solucionar o problema da impunidade judicial.
Enfim, todas as questões levadas para as manifestações de
rua são justas, lícitas e razoáveis? Todas, não; pois a maioria porta cartazes
com bobagens e coisas que não representam o pensamento da população. Mas, no
geral, há reivindicações autênticas, como as elencadas acima. A este ponto
chegamos em concordar com o descontentamento, mas fica por aí. Vem agora, a
forma de fazê-lo e o que se encontra por detrás de tudo isso. Uma coisa é a
doença que ataca o corpo do paciente e outra são os remédios que lhe querem
aplicar.
Dá para desconfiar que um movimento tenha surgido, assim de
repente, fruto das redes sociais, e tenha feito esta massa ter saído de casa
para enfrentar a policia e a ordem pública. Os organizadores programaram os
locais, o horário e o dia das concentrações, deram orientações de não permitirem
partidos políticos, espalharam palavras de ordem, mas não deram aos
manifestantes um ideal fixo, uma questão-base, um lema para ser levado em
questão. Não, tudo ficou por conta de cada um, dando ao movimento um sentido mais
de anarquia do que de organicidade. É,
exatamente, essa anarquia que não corresponde aos anseios de nosso povo, que
precisa de ordem para ter paz E não se
obtém ordem com passeatas, quebra-quebras e confrontos com a polícia.
Aqui chegamos a uma questão básica, que é analisar até que
ponto a autêntica insatisfação e indignação de nosso povo está sendo manipulada
para fins escusos. Os manifestantes, que saíram às ruas justamente indignados
com tantas coisas erradas em nosso país, não percebem que estão sendo usados
como “massa de manobra” para outros fins que aqueles pelos quais lutam. Os
radicais, como vimos em nossa postagem anterior, o sabem, e por isso estão na
frente do movimento.
Como estão misturados com os pacifistas, foram por estes
ocultados e lhes deram cobertura para praticar seus crimes. Os pacifistas
agiram como os do famoso cavalo de Troia, que levava em seu interior os
soldados que iriam invadir a cidadela. Quanto aos crimes de vandalismo, no caso, seria razoável que o Ministério Pública os processasse por crime culposo, aqueles que a pessoa é responsável mesmo sem ter a intenção de praticá-los.
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