“A Revolução e o papel higiênico” é o título
de artigo publicado por Roberto Pompeu de Toledo, na edição de 22.05.2013 da
revista “Veja”. O articulista está criticando a “Revolução Bolivariana” da
Venezuela pelo fato de um ministro venezuelano afirmar que “ a Revolução trará
ao país o equivalente a 50 milhões de rolos de papel higiênico”. A grotesca
afirmação foi feita a propósito da escassez de gêneros de primeira necessidade
por que passa aquele país como conseqüência, inevitável, do controle socialista
da economia. Mas, foi a propósito do termo “Revolução” que Roberto Pompeu fez
comentários mais judiciosos.
“Já faz dois séculos e meio que a palavra “revolução”
paira, como sonho ou pesadelo, sobre os processos políticos, mundo afora. Os
eventos fundadores do fenômeno são a Revolução Americana e, principalmente, a
Francesa. Com os franceses, “revolução” virou sinônimo de refundação do mundo.
Tanto eles acreditaram nisso que revogaram o antigo calendário e instituíram um
novo. Impunha-se que o tempo começasse
de novo, do zero. O caráter refundador da “revolução radicalizou-se com as
revoluções comunistas, no século XX, a começar da Bolchevique. E ganhou acentos
místicos com a promessa de criação de um mundo novo, marcado pela paz, pela
generosidade e pela fraternidade, e povoado por um “homem novo”. “Revolução”
passava a equivaler a purgação dos pecados e renascimento. O marxismo ateu irmanava-se às religiões ao
prometer um futuro de bem-aventurança, e ganhava delas ao localizá-las não no
Céu, mas na Terra mesmo”
“ O problema é que as revoluções, segundo indicaram os
fatos, nestes últimos dois séculos e meio, abrigam em si o germe da
destruição...”
O que há de novidade nas afirmações acima? É
que elas partem de um articulista bem lido, de um órgão de imprensa que se diz
o paladino dos princípios da Revolução Francesa (Igualdade, Liberdade e
Fraternidade), mas que, provavelmente, foi mandado falar mal da Revolução (no
caso, um braço dela, que é a da Venezuela) por causa de seu público que o
exige. Pelo que se vê, a palavra “Revolução” já não tem tanto atrativo como
antigamente; pelo contrário, é sinônimo de desgraças.
Na mesma edição de “Veja”, às páginas 116 e
117, há uma pequena reportagem sobre outro fiasco da Revolução, com o título de
“Os ossos do socialismo”, onde se comenta o fracasso de uma experiência
coletivista feita na primeira colônia inglesa dos Estados Unidos da América,
Jamestown, no início do século XVII. É
claro que todas as experiências coletivistas fracassaram, especialmente as do
comunismo do século XX. A novidade da colônia americana acima citada é a
antiguidade do caso. A revista não entra em detalhes de onde partiu a idéia,
mas já desde o século XVI, quando o protestantismo deu seu grito de revolta, já
havia experiências semelhantes. Uma delas feita, inclusive, com a seita dos
Anabatistas.
Na colônia americana em destaque, ocorreu uma
verdadeira desgraça: a falta de estímulo na produção gerou fome e miséria. A
fome era tão grande que os colonos chegaram a praticar canibalismo. É um bom
exemplo a ser mostrado na Venezuela. Transcrevo, abaixo, excertos da
reportagem:
“Jamestown,
um forte triangular nas proximidades do Rio James, foi fundada em 1607. No
início, a relação entre os ingleses e os integrantes da tribo powhatan era
amigável. Os índios davam-lhes alimentos em troca de peças de metal.
“Não
havia moeda naqueles tempos. Tudo era feito por escambo”, diz o arqueólogo
americano William Kelso, que encontrou os ossos de Jane. Foi naquele período
que uma menina de 11 anos, Pocahontas, se enamorou do capitão John Smith, que
liderava os colonos. A relação entre os dois, edulcorada recentemente em
desenho animado pela Disney, acabou em 1609, quando o capitão foi ferido e
retornou à Europa. Os colonos já não tinham nada para oferecer aos índios em
troca de comida. Findo o comércio, começaram as hostilidades. “Os índios
sitiaram o forte. Ninguém podia sair para conseguir alimentos”, diz Kelson.
Situação parecida aconteceu em outro colônia, Plymouth, fundada pelos colonos
que chegaram no navio ‘ Mayflower” e que também adotaram a propriedade
comunitária. Eles venderam a roupa do corpo aos índios em troca de milho.
Outros roubaram grãos dos índios. Alguns se tornaram seus escravos.
“No
auge da penúria de 1609, em Jamestown, centenas de novos habitantes chegaram em
navios de suprimento, entre os quais Jane, e comeram todo o alimento disponível
em três dias. A fome veio em seguida. Segundo um relato posterior do então
governador, George Percy, os moradores devoraram cavalos, cachorros, gatos e
ratos. Depois, comeram sapatos e todo o couro que encontraram. Quando as opções
se esgotaram, começou o canibalismo. Percy contou que ordenou a execução de um
de seus homens, que matou e canibalizou a esposa grávida.
“Se não
fosse o sistema de produção fracassado, a situação dificilmente teria chegado a
esse ponto. O coletivismo fora implantado pela Companhia da Virgínia, empresa
responsável pela empreitada em Jamestown, por temor de que, se os colonos
tivessem sua própria terra do outro lado do Atlântico, deixariam de enviar o
que produziam para Londres. Apesar do solo fértil, da abundância de peixes, das matas ricas em veados e perus,
porém, os homens não encontraram estímulos para trabalhar. “Os colonos não
tinham o mínimo interesse na terra”, escreveu o historiador americano Philip
Bruce no fim do século XIX. A paz e a prosperidade só começaram a se tornar
realidade em Jamestown a partir de 1611, com a chegada do administrador inglês
Thomas Dale. Ele se surpreendeu ao notar que, em meio à fome, os homens se
dedicavam a vagabundear pelas ruas. A raiz do problema, ele percebeu, era o
sistema comunitário. Dale então determinou que cada homem deveria receber três
acres de terra e só precisava trabalhar um mês por ano para a matriz. A decisão
despertou os traços hoje bem conhecidos do capitalismo americano: o
empreendedorismo e a aptidão para a competição. Mais produtivos, os colonos
passaram a vender milho aos índios em troca de peles de animais. O comércio
trouxe a paz....”
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