quinta-feira, 20 de junho de 2013

Vitória dos radicais



                                                                           (quem será o Conh-Bendit brasileiro?)

A situação em que se encontra o Brasil é comparável à de um doente em que uma terrível doença ataca todos os órgãos e cujas células começam a morrer e dizimar umas as outras. Os principais órgãos, formados pelas elites políticas, trabalham enfermos desde a proclamação da república em 1889, causando um tremendo mal-estar em todo o corpo social. O qual jaz doente sem encontrar em si mesmo solução para seu caso. E o pior: não há um médico que possa aplicar naquele corpo gangrenado uma medicação eficiente, pois o doente se recusa a ser medicado. Por que recusa? Porque perdeu o senso de orientação, o sendo de direção para lhe nortear e guiar seus passos. Não se busca mais os caminhos normais para a solução dos problemas, e por isso se vai atrás da cura em fórmulas mágicas da panacéia anarquista. Todos gritam ao mesmo tempo, pedindo tudo ao mesmo tempo, sabendo que tais gritos não vão solucionar seus problemas.

Dentro deste panorama, pergunta-se: quais os próximos passos desta revolução que se faz espontânea e se diz ter nascida do povo? Não se pode vislumbrar os próximos passos a não ser num exercício de imaginação, ou de quase adivinhação. Primeiramente, os radicais precisam se posicionar, acampar, se instalar, numa praça, numa rua, numa cidade, e a partir daí, com a conivência, se possível, das autoridades, formar “comandos” com os quais precisam continuar avançando. É por isso que eles insistem tanto em invadir prefeituras ou quaisquer prédios públicos. Como não pretendem tomar o poder, pois não é própria da anarquia a assunção de cargo público (esta a razão de não aceitarem siglas partidárias em seu meio), as autoridades podem julgar que serão inofensivos ali instalados. Formarão “tribos” e poderão compor uma nova sociedade, toda ela igualitária, sem governo, sem lei entre si a não ser de seus comandos. Por enquanto, só podemos analisar o que já fizeram até agora. Por exemplo, nesta última manifestação.

Na hora de escolher mais um motivo para sair às ruas os responsáveis pelas manifestações de rua no Brasil viram um só: comemorar a vitória de haver conseguido as autoridades recuarem e terem reduzido o preço das passagens de ônibus. Quando soube desta motivação lembrei-me do célebre episódio de Pirro, o qual perdeu a guerra ganhando a batalha. Sim, porque a vitoria não foi dos que desejavam protestar contra certas coisas erradas de uma forma “pacífica”, mas dos radicais, que querem, a todo custo, botar fogo no país. Se prestarmos bem atenção, o foco de todo o noticiário das TVs foi sobre a ação dos vândalos e arruaceiros, quase não se ouviu ecoar a voz dos que ostentavam seus cartazes ou pixavam seus slogans nas paredes. O destaque foi, realmente, dos radicais.

Por qual razão os pacifistas perderam para os radicais? Simplesmente porque não querem chegar até às últimas conseqüências e temem uma reação contrária da população. Esta, vendo o perigo que nos traz a ação dos radicais terá que apoiar os pacifistas, onde julgam encontrar uma revolução menos dolorosa. Mas, não seguirão estes últimos porque não indicam um caminho, um rumo a seguir, tudo é confuso entre eles, falta-lhe um líder e um lema. Quanto aos radicais, vão continuar avançando e, talvez, com mais adesões a crescer, porque sempre haverá alguém que quer ir até às últimas conseqüências e radicalizar junto com eles. É sempre assim quando estoura uma revolução: os radicais vão na frente para arrastar os demais que vêm atrás.

Veio-me a propósito, novamente, a lembrança do que ocorreu na Revolução da Sorbonne de 1968. Os moderados ou “pacifistas”(pelo menos na aparência), liderados pelo estudante francês-alemão Daniel Cohn-Bendit (que depois virou político da ecologia), deixaram o movimento “morrer” por falta de fôlego, mas os radicais avançaram. Tanto que chegaram a se estruturar em grupos terroristas, como aconteceu com dois deles ao formar as “Brigadas Vermelhas” e o “Baden-Meinhof”, que atuaram na Itália e Alemanha respectivamente. Eram todos universitários e um dia chegaram a ser doutores. Mas não pararam por aí. Um grupo mais feroz deu seu apoio ao “Khmer Vermelho”. Como se sabe o “Khmer Vermelho” foi o grupo guerrilheiro mais violento que já houve, tendo eliminado mais de 2,5 milhões de pessoas no Camboja quando assumiu o poder daquele país. Um dos filósofos que muitos julgavam “moderados” em 1968 era Jean-Paul Sartre, mas este chegou a condenar o terrorismo apenas na Europa, apoiando os grupos armados que haviam no Brasil. Ao visitar um ativista do grupo Baden-Meinhof na cadeia, chegou a declarar que o “terrorismo era justificável no Brasil”, mas não na Europa. Por analogia, era justificável também na Ásia, no Camboja.
A violência dos grupos armados de esquerda deixou um legado de um verdadeiro rastro de sangue que até hoje enxovalha nosso país. Foram eles que criaram o famoso "Comando Vermelho", foram eles que inauguraram a "moda" de assaltos a bancos para financiar as guerrilhas, foram eles que protagonizaram as cenas de crime e de sangue mais violentas em nosso país. Todo o banditismo que há atualmente no Rio e em São Paulo, e suas ramificações pelo resto do país, nasceu, foi parido, na "montanha vermelha", são filhos da esquerda.

Estão sendo hoje treinados entre os vândalos e arruaceiros que acompanham o movimento de protestos no Brasil os futuros terroristas, talvez de um terrorismo diferente, mais avançado, talvez até mais cruel. Quanto aos outros que fazem pacificamente as manifestações, um dia descobrirão muito tarde que colaboraram com tais radicais, os únicos vitoriosos nos últimos dias. Colaboraram como? Simplesmente saindo às ruas sem ordem, sem direção, sem senso de orientação, de uma forma anárquica, causando desgoverno na própria polícia e impedindo-a de barrar os radicais da violência. Toda a mídia derrama rasgados elogios aos manifestantes pacíficos, mas, não demonstram que é por detrás deles, nas costas deles, ou até mesmo na frente deles, que os vândalos cometem tantos crimes e arruaças. Se o Ministério Público quiser responsabilizá-los pelos crimes poderá enquadrá-los no tipo “culposo”, quando não há a intenção, mas culpa, involuntária ou não, pelos crimes ocorridos. E, assim, a vitória dos radicais se deve à presença dos moderados nas ruas... os quais só obterão vitórias semelhantes ás de Pirro em Roma.

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