sexta-feira, 13 de julho de 2012

Situação da Igreja no Vietnan

Nossa Senhora de Lavang, padroeira do Vietnan

O Vietnan foi um dos países que Santa Teresinha mais rezou pela conversão. Ela chegou a fazer apostolado com um sacerdote francês que missionou naquele país. Porém, a desgraça desabou sobre o Vietnan após o desastroso fim da guerra em 1975, pois o comunismo assenhorou-se completamente dele e os católicos tiveram que sofrer terríveis perseguições. Como sofrem ainda. Pela entrevista dada pelo bispo Monsenhor Paul Nguyên Thai Hop, abaixo transcrita, podemos avaliar a situação em que se encontram os católicos vietnamitas. 
                    

Entrevista com monsenhor Paul Nguyên Thai Hop, bispo de Vinh:

A Zenit está divulgando a seguinte entrevista dada pelo bispo vietnamita:
No día seguinte dos sucessos ocorridos na comunidade católica de Con Cuông, monsenhor Paul Nguyên Thai Hop, bispo da diocese de Vinh e presidente da Comissão Justiça e Paz da Conferência Episcopal do Vietnan, concedeu uma entrevista para comentar este e outros temas. A entrevista com a agência "Eglises d'Asie" foi realizada em París no dia 8 de julho.


- Excelência, a comunidade católica de Con Cuông onde se ocorreram os fatos é designada nos textos com o nome de Giao Diêm (lugar religioso). Pode nos dizer o que significa?


--Mons. Nguyên Thai Hop: Este termo se encontra em alguns decretos publicados nos anos de 1990, antes da aparição da Ordenança sobre a crença e a religião. Se faz uma distinção entre as paróquias propriamente ditas (Giao Xu), os anexos às paróquias (Giao Ho) e este tipo de comunidade cristã que não constitui todavía uma unidade canônica. É o equivalente do que a literatura missionária antes chamava “cristandade”, uma comunidade cristiã em fase de constituição.


- Na origem da maior parte dos conflitos entre as autoridades e as comunidades católicas, dos últimos tempos, estava a questão das propriedades espoliadas pelo Estado, ou mesmo das atividades sociopolíticas dos jovenes católicos. Nada disto em Con Cuông!
Qual é pois a razão de desencadear-se nas autoridades locais tal onda de violência contra um pequeno grupo de crentes que querem celebrar a eucaristía? Esta razão parece bem misteriosa...


--Mons. Nguyên Thai Hop: É verdade que tudo isto parece inexplicável. Não se chegam a compreender as motivações profundas das autoridades, nem o espírito que há guiado sua ação. Sem embargo, se podem adiantar certas razões. No Vietnan existem distritos chamados “distritos heroicos” [considerados como lugares da “resistência comunista”]. Para preservar este estatuto de “heroísmo”, devem submeter-se a três ou quatro critérios. Um dos critérios é a ausência de religião e de manifestações religiosas no território do distrito. Precisamente, o distrito de Con Cuông, situado a noroeste da província de Nghê An, forma parte desta categoría de distritos que têm a obrigação de perpetuar e preservar tal tradição de heroísmo. Se pode pensar que esta é uma das razões da brutalidade de comportamento das autoridades neste assunto. Também se pode falar de uma motivação de ordem política, que sería plausível no Vietnan de hoje.
Há muito tempo que os cristãos estão presentes nesse distrito de Con Cuông. A partir de 1970, vieram sacerdotes para a região a fim de celebrar a missa e ajudar às minorias. Um sacerdote se desloca regularmente ao lugar, no domingo, para celebrar a missa. Já foram enviadas quatro petições às autoridades para pedir que se crie no lugar uma "cristandade" (Giao Diêm) que não existía e uma paróquia anexa (Giao Ho). Enviamos uma petição escrita solicitando a criação de uma paróquia anexa, também sem resposta.
Não compreendemos porque as autoridades interviram com um comportamento tão brutal contra a comunidade católica de Con Cuông. O ano passado, uma mina explodiu na capela. Um ato criminoso. Protestamos sem que tenha havido reação das autoridades civis e policiais.
Desta vez, a 1 de julho, esta brutalidade se manifestou abertamente, de algum modo oficialmente. Isto é inaceitável! Sempre buscamos dialogar, falar com as autoridades e não compreendemos porque chegaram até a utilizar membros do exército contra concidadãos católicos. Alguns se perguntam por que os militares, que gozam de grande poder, não se preocupam em defender a soberanía vietnamita nos arquipélagos de Hang Sa e de Truong Sa, em lugar de utilizar as armas contra seus compatriotas católicos desarmados. Tudo isto é difícil de compreender.
Queremos viver em diálogo com as autoridades. Não temos intenção de utilizar o assunto de Con Cuông para impor nossas reivindicações ou caluniar o Partido e o governo. Mas o caso do 1 de julho é excepcional; é intolerável para a maioría dos católicos. As autoridades foram muito longe! Como se diz entre nós, quando se ultrapassam certas fronteiras, deve-se reagir. A paciência é uma virtude católica, uma virtude humana. Mas como tudo o que é humano, tem seus límites que não se podem ultrapassar impunemente. Tal é o sentimento dos católicos de nossas dioceses. O que prevalece é a solidariedade com nosos irmãos e irmãs católicos numa situação difícil . Não queremos somente protestar, desejamos também expressar esta solidaridade e pedir justiça para as vítimas desta brutalidade.


- O caso de Con Cuông é totalmente isolado ou existe, em sua diocese, regiões onde fatos semelhante poderiam ocorrer?


--Mons. Nguyên Thai Hop: Em minha diocese há três províncias, Nghê An, Ha Tinh e Quang Binh. Há dois anos, em Quang Binh, na aldeia de Tam Toa, houve fatos tão violentos como os de Cong Cuông. A violência, eu não sei por quê, deslocou-se agora para a  província de Nghê An. Alí ocorreram os sucessos intoleráveis de Con Cuông. Felizmente, nas outras províncias não há pelo momento nenhum conflito similar. Nas últimas festas de Natal, um alto funcionário governamental veio de Hanoi para nos transmitir os desejos do governo de um feliz Natal e nos dirigir suas próprias felicitações. Nos perguntou: “Qual é a situação na diocese de Vinh?”. Eu lhe respondí que em minha diócese havía três províncias e que cada uma tinha sua particularidade. Não se podem comparar. Cada uma tem sua cor, sua luz, sua originalidade própria. Mas se tivesse que escolher, prefería as cores das províncias de Ha Tinh e de Quang Binh. Mais tarde, um funcionário de Nghê An me preguntou: “Por que não escolher a Nghê An?”. Lhe respondí: “Em minha diocese, há três províncias. Eu escolho duas, pode-se compreender!.


- O Senhor preside a Comissão Justiça e Paz, criada pela Conferência Episcopal do Vietnan há um ano e meio. É bem preparado sem dúvida para fazer um balanço de sua atividade. Mas há concordância ou desacordo entre a doutrina socal da Igreja e a ideologia em vigor no Vietnan atual?


--Mons. Nguyên Thai Hop: Efetivamente, faz pouco tempo que nossa comissão inciou sua missão. No espaço de ano e meio não temos muitas coisas, por causa de nossos limites pessoais, mas também pela situação sociopolitica que não nos permitia fazer o que pensávamos e queríamos. Consideramos a difusão e a aplicação da doutrina social da Igreja como uma maneira de evangelizar o mundo. O Papa João Paulo II disse:
“A doutrina social da Igreja não é a terceira via entre o capitalismo de uma parte e o marxismo de outra". O Papa Bento XVI acrescentou que a Igreja não subsitui o estado em suas funções, senão que podia oferecer sua contribuição e dialogar com o governo com o objetivo de servir aos homens. Devemos evangelizar e servir aos homens de nosso tempo. O Papa Bento XVI pediu aos bispos vienamitas que colaborem e dialoguem francamente com o Estado. Mas nossa vocação evangélica nos obriga a privilegiar o que é conforme a verdade, o que for útil ao serviço do país e conforme os direitos humanos. Por isso somos partidários do diálogo. Um diálogo que é muito interessante mas que está longe de ser simples e fácil.

- A última publicação de sua comissão é um informe intitulado “Considerações sobre a situação geral do país”. Menciona a evolução positiva do país alguns anos atrás, sobretudo no plano econômico. Mas salienta numerosos aspectos negativos da sociedade atual. Não é demasiado pessimista?


--Mons. Nguyên Thai Hop: Obrigado por sua observação. Algumas notas são com efeito um pouco pessimistas, ainda que eu mesmo seja por temperamento otimista. Porém há que ser claro. Olhemos a história do Vietnan dos últimos quarenta anos. Desde 1975 até 1990, a situação foi difícil, especialmente nos anos 1980. Nesta época, houve muitas dificuldades, e sobretudo para os católicos. No período que vai de 1990 a 2008-2009, a situação mudou. A  política do "dôi moi" (cambio) ganhou pouco a pouco terreno e renovou o país em todos os campos. Isto é inegável. Porém, nestes  últimos anos, houve uma rápida desaceleração do progresso. A sociedade civil e a sociedade política têm visto também um retrocesso. Não é que eu seja pessimista, é que a situação é ruim. A situação sociopolítica é preocupante. Não sou o único que assim  pensa. Se ouve o mesmo toque de alarme entre os intelectuais comunistas, e na Assembléia nacional onde se tem pronunciado numerosas declarações importantes a este respeito. Por isto, para este informe, nossa comissão quis  fazer ouvir a voz da crítica, mas uma crítica construtiva, desejosa de ver o país empreender o caminho de um verdadeiro desenvolvimento. O desenvolvimento econômico deve estar ligado ao social e humano.

- Hoje no Vietnan o combate pela defesa da soberania vietnamita sobre o conjunto do território e contra a vontade expansionista de seu grande vizinho do norte é apoiada por muita gente incluindo os católicos O senhor mesmo tem se expressado nesta matéria várias vezes. Pensa que este combate forma parte de sua missão de pastor?


--Mons. Nguyên Thai Hop: O Concilio Vaticano II, na constituição pastoral sobre a Igreja no mundo de seu tempo declara: “As alegrías e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens deste tempo, dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrías e as esperanças, as tristezas  as angústias dos discípulos de Cristo, e não há nada verdadeiramente humano que não encontre um eco em seu coração”. Somos ao mesmo tempo discípulos de Cristo e filhos de um povo, somos vietnamitas e cristãos. Vietnan é o povo que Deus nos deu para ser verdadeiramente humanos e cristãos. Por isso as alegrias e tristezas de nosso país são nossas alegrias e nossas penas. Assim, com os outros cidadãos, católicos, não católicos, e inclusive marxistas, queremos manifestar nossa preocupação a respeito da situação muito perigosa para o destino do país. Neste espírito, o clube «Paul Nguyên Van Binh» em Saigon, tem organizado foruns sobre a questão da soberania vietnamita no Mar oriental. O primeiro forum encontrou muitas dificuldades mas realizou-se. Os conferencistas não eram somente católicos, havia também não católicos marxistas ou não marxistas. Mesmo com dificuldades para organizar o colóquio foi um serviço governamental o que financiou a publicação dos textos das intervenções. O segundo forum devia celebrar-se sobre o tema "Justiça e paz no Mar oriental". Lamentavelmente, não pôde celebrar-se nas acho que poderão ser publicados os textos previstos. Este combate é para nós um dever de respeito a nosso povo, a nossos antepassados. Cumprimos este dever com os intelectuais do país, católicos ou não, comuistas ou não. É o dever de todos os vietnamitas frente as dificuldades e as ameaças que pesam sobre a independência de nosso país.

- No informe da Comissão Justiça e Paz sobre a situação geral do país, está a questão da liberdade religiosa. Se mencionam os numerosos textos legislativos aparecidos sobre esta matéria e se conclui - caricaturizo um pouo - que a liberdade de religião não poderá verdadeiramente existir senão quando não exista mais leis sobre a matéria.

--Mons. Nguyên Thai Hop: Há que reconhecer que o governo tem feito muito, tanto em favor da Igreja como em favor das religiões em geral. Se se faz a comparação entre a situação da Igreja no Vietnan pouco depois de 1975 e a que existe hoje, pode-se constatar que tem havido muito progresso. O Vietnan entrou na Organizaçao Mundial do Comércio, converteu-se em membro de numerosas instituições internacionais e está já obrigado a aplicar as convenções internacionais sobre os direitos humanos. Falta agora chegar à normalização da situação no que concerne à religião. Hoje está a caminho de preparar um novo decreto sobre a religião. Mas se a situação fosse normal não haveria necessidade deste decreto. É necessário tratar os católicos, os não católicos, os budistas e todos os demais como cidadãos! Temos já um código civil e todo mundo deve ser tratado segundo a lei. Não digo que isto possa fazer-se tudo em seguida. Mas devemos tender para este gênero de situação. Se o conseguirmos, poderá dizer-se então que há uma verdadeira liberdade religiosa.  

- Nos anos 1978-79, o arcebispo de Huê, monsenhor Nguêm Kim Dien, declarou numa reunião pública a que havia sido convocado: "Hoje, os católicos são cidadãos de segunda classe...".  A situação tem mudado atualmente?

 
--Mons. Nguyên Thai Hop: Sim, se fala da situação da época depois de 1975, não se pode senão constatar que tem havido mudanças. Hoje, os católicos podem entrar na universidade e exercer muitas profissões. Mas algumas funções ficam, porém, reservadas aos membros do Partido. Na vida de todos os días, restam todavía muitas coisas que mudar. Do lado católico como do lado comunista, do lado da Igreja como do lado do governo, já se tem feito um bom trabalho, mas este trabalho deve prosseguir. Para todos os vietnamitas, ateus como crentes, budistas como protestantes, minorías étnicas como os católicos, é necessário criar una sociedade humana e moderna. Há pois  que continuar nosso trabalho para que o Vietnan se converta verdadeiramene num país sem discriminação para todos os cidadãos.







Para inteirar-se melhor sobre a situação dos católicos no Vietnan, veja as duas postagens abaixo

Católicos enfrentam comunistas no Vietnan


http://quodlibeta.blogspot.com.br/2008/09/catlicos-enfrentam-comunistas-no-vietn.html


Manifestações de piedade dos católicos vietnamitas


http://quodlibeta.blogspot.com.br/2008/09/manifestaes-de-piedade-dos-catlicos.html


Relação dos MÁRTIRES CATÓLICOS DO VIETNAN




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