quinta-feira, 5 de maio de 2011

Machucou-se, meu filho?

Apesar de haver pertencido à Academia Francesa, o escritor (e também ator) Jean Richepin (1849-1926) não nos legou obras de grande vulto. No entanto, ficou celebrizado por haver composto um poema, "La Chanson de Marie-des-Anges", adaptado musicalmente por seus conterrâneos. Sua característica era escrever obras dramáticas e violentas, daí surgindo o pequeno conto da Canção de Maria dos Anjos. Como se vê no texto abaixo, tradução de Guilherme de Almeida, ele imaginou a história de um filho que matou a mãe e arrancou-lhe o coração, a pedido da própria esposa, e, ao levar o coração para lhe ser entregue, tropeça e cai, ouvindo então o coração dizer: "machucou-se, meu filho?".
Apesar do aspecto trágico, novelesco e quase inversossímil, a legenda nos serve para demonstrar o quanto ama seu filho um coração de mãe. Veja a seguir um vídeo com a famosa canção ou diretamente no
Glória TV.

La Chanson de Marie-des-Anges

Y avait un'fois un pauv'gas,
Et lon la laire,
Et lon lan la,
Y avait un'fois un pauv'gas,
Qu'aimait cell'qui n'l'aimait pas.

Elle lui dit : Apport'moi d'main
Et lon la laire,
Et lon lan la,
Elle lui dit : Apport'moi d'main
L'cœur de ta mèr' pour mon chien.

Va chez sa mère et la tue
Et lon la laire,
Et lon lan la,
Va chez sa mère et la tue,
Lui prit l'cœur et s'en courut.

Comme il courait, il tomba,
Et lon la laire,
Et lon lan la,
Comme il courait, il tomba,
Et par terre l'cœur roula.

Et pendant que l'cœur roulait,
Et lon la laire,
Et lon lan la,
Et pendant que l'cœur roulait,
Entendit l'cœur qui parlait.

Et l'cœur lui dit en pleurant,
Et lon la laire,
Et lon lan la,
Et l'cœur lui dit en pleurant :
T'es-tu fait mal mon enfant ?

(Autor: Jean Richepin)

Tradução de Guilherme de Almeida

Era uma vez um bom rapaz,
E tra la li,
E tra la la,
Era uma vez um bom rapaz
Que amou quem não o amou jamais.

Ela diz: Dá-me o coração
E tra la li,
E tra la la,
Ela diz: Dá-me o coração
De tua mãe para o meu cão.

Ele procura a mãe e mata-a,
E tra la li,
E tra la la,
Ele procura a mãe e mata-a,
E o seu coração lhe arrebata.

E, quando vem correndo, cai,
E tra la li,
E tra la la,
E, quando vem correndo, cai,
E o coração por terra vai.

E enquanto vai, vai a rolar,
E tra la li,
E tra la la,
E enquanto vai, vai a rolar,
O coração põe-se a falar.

E o coração lhe diz baixinho,
E tra la li,
E tra la la,
E o coração lhe diz baixinho:
Tu te magoaste, meu filhinho?




Um comentário:

Anônimo disse...

AMOR MATERNO
(Mario Proth)
Ao Dr. José Auguto da Freitas
Isaura, a mais cruel de todas as perdidas,
Entre os braços de Fausto, o mísero rapaz,
Disse um dia a sorrir:—Quem ama tudo faz...
Exijo deste amor as provas decididas.—
—Pede tudo, mulher, se queres destruidas
As duvidas que tens: ordena e então verás
Se tenho amor ou não: de tudo eu sou capaz...
Por ti arrancarei milhões, milhões de vidas!—
E a Dalila soltou estridula risada...
Disse a Fausto: —Pois bem, se tu não temes nada
Quero de tua mãe tragar o coração!—
E o louco o foi buscar... De volta, no caminho,
Tropeçou e cahio... Disserem-lhe baixinho:
“—Magoaste-te, meu filho?... Aceita o meo perdão”.

Cyridão DURVAL. Accordes. Bahía: Impremta Popular, 1904, p. 269-270.