No ano de 1959 Dr. Plínio publicou no mensário “Catolicismo”
o livro “Revolução e Contra-Revolução”. Em janeiro do ano seguinte publica uma
análise profética sobre a Revolução no mesmo mensário.
Profética por quê? Porque sua análise contém previsões de
fatos futuros que ninguém pensaria que fosse possível tê-las naquele ano.
Um exemplo é sobre a China. Somente na década seguinte, a
partir dos anos 1970, a China foi oficialmente promovida pela Revolução a
ocupar lugar de destaque junto à URSS, tendo sido o governo Nixon o primeiro a reconhece-la
e promover em consequência emigração em massa de capitais ocidentais para
manter o regime de lá. Sobre a URSS, tudo o que ocorreu na década de 80 com
Gorbachev foi antevisto no presente artigo.
Outros prognósticos e análises feitos neste artigo merecem
ser considerados como feitos sob uma visão profética do andamento da Revolução
no mundo.
“A
REVOLUÇÃO EM 1960 - Plínio Corrêa de Oliveira
Dupla face
Em muitas
polícias existe o hábito de "tratar" os depoentes recalcitrantes por
um sistema que se poderia chamar da ducha fria e da ducha quente. A pessoa de
quem se procura extorquir uma informação é argüida por um agente tremendamente
furioso. Se, esgotada toda a pirotecnia das táticas de intimidação, o
interrogado não faz a revelação desejada, o agente se torna subitamente afável,
carinhoso, "compreensivo". Elogia a nobre constância de sua vítima, manifesta
sua compaixão pelos sofrimentos que ela arrosta, oferece-lhe seus préstimos
comovidos para tirá-la da situação em que está. Só pede uma coisa, uma coisinha
pequena e fácil: que em justa retribuição a tanta bondade, ela conte ao
policial – oh, a ele só, é bem claro – o segredo tão obstinadamente guardado.
Se a vítima resiste, volta-se ao sistema de berros. Ou, mais drasticamente,
passa-se para os soros da verdade ou as salas de tortura...
Quando o assunto que ser quer conhecer importa muito, costuma haver um desdobramento de papéis. Um policial faz o papel de fera, e outro o de "bonzinho". Ao que parece, a maior parte das pessoas se mostra muito "sensível" a esse "tratamento", e acaba deitando no coração do "bonzinho" o segredo que a "fera" não lograra extorquir.
A dupla face comunista
Este
sistema, em que o terror induz a vítima a considerar com pusilânime otimismo o
"agente bom" que é sua tábua de salvação contra o "agente
mau", não se emprega apenas para obter confissões policiais. Ele é
utilizado também em política. Põe-se o adversário diante da ameaça de um
terrível perigo que ruirá sobre ele caso não ceda neste ou naquele ponto. Após
um longo período de guerra de nervos, a vítima transigirá com algum
representante de seu opositor, no gênero "bonzinho". Concederá apenas
uma parte do que se lhe pediu, e julgará fazer assim um bom negócio. Depois de
uma pausa, o representante "bonzinho" será posto de lado e
voltar-se-á à ameaça. Em seguida, virão novo "bonzinho", nova concessão,
nova pausa e nova ofensiva de ameaças, até final liquidação do adversário.
Ora, todo
o ano de 1959, como os anteriores, foi utilizado pelo comunismo internacional
para depauperar por este processo a vitalidade da reação anticomunista no mundo
inteiro. Só que, em 1959, a ação política da União Soviética entrou francamente
na fase correspondente ao policial "bonzinho" e na operação
"sorriso".
Em edição recente, já nos referimos, com toda a extensão desejável, à manobra pela qual o comunismo russo foi mudando gradualmente de atitude, até chegar à risonhíssima visita do risonhíssimo K. aos Estados Unidos. Entretanto, nossas referências ao papel da China nesse jogo foram menos pormenorizadas. É o caso, pois, de voltar ao assunto neste mudar de ano.
A Revolução tem por ponto de mira eliminar toda influência cristã no mundo. Ora, desde o declínio do poderio muçulmano nos Tempos Modernos, pode-se dizer que os povos-líderes da terra foram sempre cristãos. O império da Casa d’Áustria, a hegemonia política e cultural francesa, a dominação inglesa no século XIX, o poderio dos Estados Unidos, que
se tornou há algumas décadas verdadeiramente dominante em boa parte do globo, por fim a ascensão da terrível influência da URSS não alteraram essa constante.
Com efeito, cristãos em situação correta, saudável e normal só os católicos, apostólicos, romanos, filhos a única Igreja verdadeira de Nosso Senhor Jesus Cristo. O cisma e a heresia constituem para o cristão situações revolucionárias, enfermiças e anormais. Contudo não se pode negar que o povo inglês, o americano ou o russo, em sua maioria, é constituído de cristãos. O fato pareceria à primeira vista, particularmente sem importância no que diz respeito à infeliz Rússia, dominada por uma malta de ateus. Na realidade, quanto seria pior a situação do mundo se não fosse notório que a aplicação integral do comunismo naquele país tem esbarrado em toda uma série de resistências – passivas, aliás – decorrentes da índole e da tradição cristã do povo; e se os dominadores desse mesmo povo não encontrassem dentro de casa toda espécie de obstáculos, e pudessem agir com as mãos livres no exterior!
China, "a outra face"
Ora, a
China é precisamente uma nação que em sua imensa maioria jamais foi cristã. Se
bem que de seu glorioso passado imperial lhe advenham muitas tradições
formalmente opostas ao comunismo, é preciso lembrar que o processo de
ocidentalização a que ela já está sujeita há um século – arredondamos um tanto
a cifra –, a proclamação da república, a penetração dos germes terríveis da
Revolução que grassa no Ocidente, o espírito igualitário, laicista e sensual
que infelizmente impregna quase tudo quanto a China vem importando, o
prolongado período de guerras internas que abalaram todos os seus quadros
sociais até a queda de Chang-Kai-Chec e o advento do comunismo, tudo enfim vem
concorrendo de há muito para debilitar a resistência oposta pelas estruturas e
tradições chinesas ao comunismo. Ademais, se é verdade que a Igreja tem
prosperado muitas vezes (e nem sempre, note-se de passagem ) com as perseguições,
também é verdade que estas costuma destroçar tudo quanto não é católico. O
protestantismo, por exemplo, sofreu um tremendo retrocesso com o nazismo, a
igreja cismática foi quase aniquilada na Rússia bolchevista. Pois o que ali se
encontra com esse nome é mais um fantasma suscitado pelos maquiavéis do Kremlin
para efeitos de propaganda, do que propriamente uma seita religiosa.
Assim, o
marxismo encontra, numa China em que sobre o velho tronco pagão se insere o
venenoso enxerto neopagão, verdadeiramente uma terra de eleição.
De onde,
engrandecer a China às expensas da Rússia é transferir gradualmente a
preponderância para o pior dos elementos do mundo comunista.
Ora, é neste processo que está em curso no presente momento. Constitui ele o verso da medalha da "aproximação" da União Soviética com o Ocidente. A China comunista vai ocupando lentamente a Ásia. Infiltrou-se rumo ao sul, até fazer estremecer Singapura e a Austrália. Deglutiu o Tibet com uma selvageria de canibal. A Índia estremece diante dela. Em palavras mais breves, um continente quase inteiro está ameaçado com o crescer deste polvo. E o Micado, o Xá, o Rei da Jordânia ou o Generalíssimo Chang-Kai-Chec sentem que em breve estarão passando pelas mesmas aperturas de Nehru, senão do Dalai Lama.
Os fracos e amáveis camaradas soviéticos
Faça-se o
balanço. Enquanto os "duros" de Pequim vão ganhando a Ásia, o que vai
ganhando a URSS? Ela mantém a custo seus satélites. A Hungria continua uma
chaga viva. A Tcheco-Eslováquia permanece esmagada sob o tacão soviético,
suspirando pela libertação. Na Polônia, a política "distensiva" de
Gomulka cessou. Quanto mais se vai tornando fácil à Rússia lançar satélites em
torno da lua, tanto mais lhe vai ficando difícil conservar reunidos em torno de
si os seus próprios "satélites".
Assim se
vai acentuando a bicefalia do mundo comunista: uma cabeça está em Moscou e
outra em Pequim.
E essas cabeças têm fisionomia e linguagem diversa. Uma olha gentil, sorri, e começa a parecer fraca. A outra carrega o olho, ameaça e vai-se tornando sempre mais forte.
Perspectivas para 1960
Afigura-se-nos
que, salvas as mutações imprevistas, tão frequentes nestes dias de caos, o ano
de 1960 vai ser marcado por um paulatino desenvolvimento dessa manobra. Na
União Soviética a Revolução entrará, ao que parece, em sua fase
"pós-termidoriana", isto é, numa fase recessiva e moderantista,
análoga à que a Revolução Francesa percorreu depois da queda de Robespierre:
liberdade para os perseguidos da véspera, abrandamento na aplicação dos princípios
revolucionários, boas relações com os povos vizinhos, reabertura das fronteiras
para o que era uma forma ancestral do turismo de hoje. Na aparência, a
Revolução era um dragão exausto e malferido, que, por falta de melhor, se punha
a sorrir. Ninguém ousava atacar o dragão, com receio de que ele recobrasse na
lutar seu antigo vigor. Em consequência, todos começaram a corresponder ao seu
sorriso. Entrou-se em regime de convívio sem barreiras. E o resultado, para
abreviar a história, foi que, cem anos depois, a Revolução já era virtualmente
senhora da Europa e do mundo.
Da mesma forma, a Rússia tentará anestesiar e dividir o Ocidente cada vez mais, enquanto a China irá tomando paulatinamente ares de flagelo mundial. Parecerá necessário aceitar o amplexo russo, a aliança do Kremlin, para fazer face ao monstro chinês. Nesse amplexo com a lepra, esta nos contagiará. Teremos para com o novo aliado todas as fraquezas, as condescendências, as imprudências que tivemos para com Tito. E assim a hidra comunista irá progredindo.
Venenosas primícias da política de dupla face
Falamos
de cisão. É preciso dizer algo a respeito.
A boa
harmonia entre a França e a Alemanha é, segundo nos parece, um dos melhores
elementos para defender a Europa contra os soviéts. Ora, precisamente em razão
da "operação sorriso", tal harmonia se quebrou.
Com efeito, a URSS retirou todo o apoio que dava aos argelinos insurretos. De Gaulle parece ter vislumbrado aí uma prova da sinceridade russa em Camp David, e está se aproximando do Kremlin. Está até programando uma visita de K. a Paris.
Ora, o
velho e astuto Adenauer não concorda com essa concepção. Para ele, não há
sinceridade nos soviéticos, e tudo não passa de manobra.
E é o Chanceler que tem razão. Enquanto a Rússia parece retirar-se do campo de ação argelino e, de modo geral, esfriar suas relações com o mundo árabe, a China lhe vai sucedendo nesse terreno, e já é hoje uma da melhores aliadas do pan-arabismo e da FLN.
Em consequência, no fundo, o comunismo lucra de um modo e de outro. Aparentando "sair" da Argélia, ganha um crédito de confiança em Paris, e cinde de Gaulle e Adenauer. "Entrando" na Argélia pela outra porta, continua a trabalhar para expulsar da África do Norte a influência francesa, e a captar as simpatias do mundo árabe.
O papel das minorias sãs
A China,
dizíamos, vai lentamente começando a intimidar e a imobilizar os poltrões do
Ocidente. A Rússia, cada vez mais, agrada, ilude e atrai os tolos. Uns e
outros, poltrões e tolos, tendem a recuar, transigir, conciliar a todo custo.
E, francamente, quando alguém tem de seu lado todos os tolos e todos os
poltrões, pode jactar-se de dispor de uma esplêndida maioria...
Estamos perdidos? Não, porque as vitórias de Deus nunca foram ganhas pelas incontáveis maiorias de tolos e poltrões, mas pelas minorias cheias de fé, de abnegação e de coragem.
Mais do
que nunca, neste limiar de 1960, torna-se patente a importância dessas minorias
para abater o monstro de duas cabeças que se levanta no horizonte. Sem elas,
nada se pode fazer de útil em prol das multidões desnorteadas, anestesiadas,
apavoradas... Nada se pode fazer pela massa, senão com fermento ativo e
pujante. Há vinte séculos o disse Nosso Senhor ( cf. Mt. 13, 33 ), mas os
homens tendem sempre a esquecê-lo. Entretanto, como é fácil compreender a lição
do Mestre Divino, nestes primeiro dias de 1960!
O revigoramento do bom fermento parece-nos ser o sentido mais profundo do Concílio Universal que em tão boa hora João XXIII resolveu convocar.
Dizemo-lo agora só de passagem, pois mais adiante pretendemos voltar a tratar desse santo e nobre assunto.
Cuba, paiol da América
Lemos há
pouco a vida de Santo Antônio Maria Claret, fundador da benemérita Congregação
dos Filhos do Coração de Maria. Esse grande varão de Deus foi Arcebispo de
Santiago de Cuba de 1850 a 1857. Considerando os numerosos pecados dos
espanhóis na colônia, predisse que, como castigo, a ilha se tornaria
independente. O fato se deu pouco depois, como é notório. Castigo para a
Espanha, por certo. Mas, em medida não pequena, castigo para Cuba também, pois
como mostra sua biografia, o Santo foi de certo modo rejeitado pelos cubanos. A
independência foi mais ilusória do que real. O domínio norte-americano ali se
implantou mais ou menos veladamente. E, se trouxe benefícios temporais (grandes
para os Estados Unidos, medíocres para Cuba), é fora de dúvida que para a
preservação dos valores religiosos e espirituais foi sob vários aspectos um mal.
Parece
agora repetir-se a história. Cuba sacode o jugo norte-americano, o que é
explicável castigo para o mal que os ianques ali fizeram. Mas esse sacudir de
jugo não é, infelizmente, um passo para uma justa e louvável independência, mas
para a troca de senhores. E uma troca por um senhor mil vezes pior, pois que só
um demente poderá achar que o jugo norte-americano é comparável ao comunista,
tão completo, tão cruel, tão degradante. Ora, é positivamente uma violenta e
trágica penetração comunista que em Cuba se vai operando.
Em Cuba
só? É inegável que o movimento fidel-castrista teve uma influência
terrivelmente contagiante nas Antilhas, na América Central e na parte
setentrional da América do Sul. De outro lado, produziu ele algumas reações de
simpatia em todas as outras áreas do mundo ibero-americano.
Dado que a pavorosa crise econômica por que passa boa parte da América Latina produz reflexos políticos e sociais tendentes à revolta e ao desespero, é de se compreender que as fagulhas cubanas encontrem por aqui um ambiente propício à combustão. Tanto mais que o mimetismo é um triste vício da gente deste hemisfério.
E, assim,
vale a pena tratar detidamente da questão.
"Não é comunista"
O ponto
capital de todo o assunto cubano consiste em saber se Fidel Castro é comunista
e está a serviço dos agentes soviéticos.
Se fosse
possível documentar a resposta afirmativa, é certo que duas consequências da
maior importância se produziriam:
a. o contágio do clima, do estado de espírito e dos estilos fidel-castristas na
América Latina, tão católica, estaria praticamente impedido;
b. a opinião americana perderia qualquer ilusão sobre a sinceridade dos soviéticos
na "operação sorriso".
Por isto
se compreende que, caso o Kremlin seja o mandante do atual ditador cubano, a
primeira recomendação que terá feito a este é que esconda tal ligação.
De onde, o fato de Fidel Castro dizer que não é comunista, e até dar certas manifestações de apoio à Igreja, em si mesmo nada prova. Apesar disto, a dúvida continua. E o importante é saber se realmente o jovem líder revolucionário é ou não agente de Moscou.
P.C., armazém de pancadas
Um modo
muito fácil para um assecla do Kremlin disfarçar suas intenções, e ao mesmo
tempo agir livremente, consiste em entrar em luta contra o partido comunista,
enquanto vai preparando tudo para que o comunismo triunfe. Isto embai os
incautos, que julgam impossível que um agente de Moscou ataque o próprio
partido de Moscou. E, protegido por esse álibi, o agente poderá fazer o que
quiser em benefício do comunismo.
Fidel Castro, neste ponto, tem sido dos mais ambíguos. Namora o P.C. Mas briga um pouco com ele. E, sobretudo, tem a astúcia de não deixar transparecer nada de claro sobre suas ligações com o Kremlin.
As pessoas bem intencionadas, que intuem que tais ligações existem, procuram, à falta de melhor, provar com os indícios de que dispõem, a realidade profunda dos fatos. Mas, para impressionar o homem simplista e irrefletido de hoje, só servem provas palpáveis, de uma clareza elementar e quase brutal. Provas dessas, ao que parece, não existem. E, assim,
Castro continua calmamente seu jogo.
Argumento baseado no evolucionismo
Seria
muito mais fácil esclarecer pelo menos as elites, se se lhes lembrasse antes de
tudo que, segundo a doutrina marxista, o advento do comunismo em um país
pressupõe que toda a evolução social o tenha "maturado" para tal.
Assim, em
uma nação dada, ainda que o partido comunista tivesse meios materiais para
conquistar o poder, não o faria se o estado dos espíritos, das instituições e
dos costumes não o comportasse. Os bolchevistas em tal caso favoreceriam a
ascensão de um partido de esquerda que acelerasse a evolução social, e só
depois de levada assim a cabo tal evolução, eles se instalariam direta e
ostensivamente no governo. Nem outra coisa se compreenderia numa corrente
fundamentalmente evolucionista, como é o marxismo. Para responder se o primeiro-ministro
cubano é ou não um agente soviético, o que importa, pois é saber se sua ação
acelera a evolução para o comunismo. Neste sentido, pode-se dizer que a
resposta afirmativa se impõe com uma clareza solar.
Se Fidel
Castro é tão útil ao comunismo, será que este não o suscitou, ou pelo menos não
lhe ofereceu apoio? E se ofereceu, será que o interessado não aceitou? E se
aceitou, será que a Rússia já não tem tudo preparado para colher o fruto,
quando maduro?
Só um
ingênuo poderá responder "não" a todas estas perguntas.
Cuba não é o único fruto
Claro
está que Cuba só pode ser vista como cabeça de ponte, como estopim.
Então,
qual é o termo último? Evidentemente a América Latina, que já é a melhor
reserva para a Igreja em nossos dias, e humanamente constitui sua melhor
esperança para o século XXI.
Até que
ponto essa misteriosa, longa e desalentadora crise econômica por que passamos é
uma preparação do fidel-castrismo? Só no Juízo Final, provavelmente, isto se
patenteará com uma clareza inteira. Mas o certo é que a hora é, para nós, mais
do que nunca, de oração, vigília e luta.
Auxilie-no Nossa Senhora a caminhar com confiança e fidelidade sob estas brumas e na perspectiva destas borrascas.
Ouviremos em 1960 a Voz de Maria
O segredo
de Fátima será manifestado ao mundo em 1960, segundo decidiu seu depositário, o
Episcopado Português. Não é, por certo, sem uma especial intenção da
Providência que ouviremos nessa ocasião a confidência celestial. E essa é uma
de nossas razões de alegria nesta passagem de ano.
O que nos
dirá a Virgem Santíssima? É prematuro responder. Mas é possível prognosticar o que Ela não dirá.
Por
exemplo, achamos sumamente duvidoso que, como em certos círculos se tem
propagado, o segredo contenha um mero resumo do que já se sabe que foi dito na
Cova da Iria. Pois parece inverossímil que alguém guarde sob segredo
pensamentos ou conselhos que já comunicou a todo o mundo.
De qualquer forma, peçamos a Nossa Senhora que disponha nossos corações para ouvir com amor e obediência suas palavras maternas.
Um papa providencial
O ano de
1959 foi suficiente para fazer ver ao mundo que a Providência entregou a um
Pontífice sábio, justo e paterno a sucessão do inesquecível Pio XII.
Nestas condições, encaramos o porvir com particular confiança. Pois a ovelha caminha tranquila em qualquer terreno, e ainda que sinta de longe e de perto o uivar dos lobos, quando sabe que está protegida por seu Pastor.
O Concílio Universal
As
esperanças com que atravessamos o limiar do ano vão além de 1960. Elas se
voltam para esses dias de verdadeira aurora que serão os do Concílio Universal.
Pode-se quase dizer, aplicando as palavras de São Paulo (Rom. 8,22), que na
desordem, nos entrechoques, nas vacilações e nos desatinos destas horas torvas,
"todas as criaturas gemem" à espera do Concílio Ecumênico.
E é
nestas imensas perspectivas que, com os olhos postos no Coração Imaculado de
Maria, transpomos, com o passo leve e a alma serena, os últimos minutos de
1959, e penetramos resolutamente em 1960.
Os versos
do hino mariano vibram em nosso ouvido e aquecem nosso coração:
"De
mil soldados não teme a espada
Quem
pugna à sombra da Imaculada"
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