terça-feira, 24 de janeiro de 2023

SÃO FRANCISCO DE SALES

 




 Apontando-nos os Santos como exemplo, a Igreja Católica destrói, sem argumentar, a pretensa ignorância e humildade de condição dos que seguem os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Encontramos, de fato, entre eles, muitos que se dedicaram durante a vida a misteres mais humildes e que, muitas vezes, desdenharam a instrução, para cultivarem apenas a verdadeira sabedoria, que é o amor de Deus. Porém, ao lado deles, e em não menor número, se acham reis, rainhas, nobres e sábios, relembrando quotidianamente, e com a força irrecusável dos fatos, que seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo nada mais exige do que a boa vontade.

A condição social e a ciência são, separadamente, os dois obstáculos que os incrédulos julgam existir para a difusão da Igreja. E a Igreja responde-lhes com a vida de um São Francisco de Salles, que aliava à nobreza de sua família uma ciência invulgar adquirida com brilhantismo nos melhores colégios de França.

São Francisco foi enviado pelo pai a Paris para estudar. Sua mãe, no entanto, que temia pela virtude do filho assim abandonado numa grande cidade, despediu-se dele recomendando-lhe insistentemente a frequência aos Sacramentos, afirmando preferir vê-lo morto a saber que um dia tivesse cometido um pecado mortal.

São Francisco progrediu rapidamente nos estudos, fazendo-se admirado pelos professores e colegas, não só pela sua inteligência, como pela virtude que conseguia manter no meio de tantos perigos, recebendo frequentemente os Sacramentos.

Nosso Senhor desejava, no entanto, grandes coisas de São Francisco e por isso submeteu-o a uma aridez completa com a ideia de que estava predestinado ao inferno, de nada lhe valendo todo o esforço empregado para se salvar.

Obcecado por essa ideia, São Francisco, um dia, ajoelhou-se aos pés de Nossa Senhora, e entre lágrimas, rezou a oração de São Bernardo (o “Lembrai-vos”), acrescentando-lhe: “Ó minha Senhora e Rainha, sede minha intercessora junto de Vosso Filho, perante o qual não me atrevo a comparecer. Queridíssima Mãe, se tiver a infelicidade de não amar a Deus no outro mundo, alcançai-me a graça de amá-lo o mais possível enquanto aqui estou!”

Desde esse dia cessou completamente essa tentação. Nosso Senhor ouviu a oração belíssima de São Francisco, que se entregava completamente à sua vontade, a ponto de não titubear em amá-Lo e servi-Lo neste mundo sem nenhuma recompensa no outro.

Acabados os estudos, São Francisco ordenou-se apesar da oposição do pai e o Papa nomeou-o preboste de Genebra, que era o centro da heresia calvinista.

Desdobrou-se São Francisco em atividade, procurando por todas as formas destruir a heresia. Setenta e dois mil calvinistas ele trouxe para o seio da Igreja Católica, e quando pela morte do Bispo de Genebra a diocese passou para suas mãos, visitou-a inteira a pé exortando os fiéis à perseverança e procurando mostrar aos hereges os seus erros.

Vinte anos ele dirigiu a diocese de Genebra, apesar das ciladas que armavam os calvinistas, para retirar do seu caminho o grande Bispo que tantos claros abria em suas fileiras, apenas com a palavra, a mansidão e o exemplo.

Aos 56 anos, São Francisco entregou a Deus a sua alma. 23 anos depois o Papa Alexandre VII inseriu o seu nome no catálogo dos Santos e em 1933 foi declarado Doutor da Igreja e Padroeiro da Imprensa e dos jornalistas.

São Francisco foi durante a vida um verdadeiro lutador da Igreja contra a heresia, e hoje em dia a imprensa católica é também obrigada, ao mesmo combate, pois o mundo se abisma cada vez mais na heresia e na dissolução dos costumes, com a cumplicidade da chamada imprensa neutra.

Só a Imprensa Católica se oporá a essa onda, e só o espírito de sacrifício, que animava São Francisco de Sales a combater a heresia calvinista em sua própria sede, poderá fazer com que ela vença a indiferença que a cerca e possa combater eficientemente contra a Imprensa neutra, que esconde atrás de sua suposta neutralidade, um verdadeiro ódio à Igreja de Nosso Senhor.

Que São Francisco de Sales interceda junto a Nosso Senhor, d’Ele conseguindo a graça sem a qual nada poderá ser feito e dando a todos os jornalistas católicos o espírito de sacrifício necessário para sua obra.

 (Plínio Corrêa de Oliveira – “Legionário”, 23 de janeiro de 1938, pág. 5)

 


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