terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Peleguismo de ontem e de hoje



Ainda existe o peleguismo? Ou trata-se de coisa do passado? Tudo indica que a palavra vem dos pampas gaúchos, pois surgiu exatamente no período Vargas para caracterizar os sindicalistas fiéis ao governo. “Pelego”, no dicionário, se refere a pele de carneiro na linguagem gaúcha, ou então, a um passo dado errado nas danças características de lá. Vejam uma dessas definições: “Pele de carneiro, com a lã, usada como xarel ou couximilho; (bras.do sul) passo errado nas danças gaúchas” É mais ou menos como o ditado que fala de alguém vestido com pele de cordeiro, um falso líder entre os liderados.
O termo tem se prestado a interpretações errôneas. Muitos a aplicam àquele que é “fura-greve” e não concorda com as lideranças sindicais, taxando-o de covarde ou sem personalidade, traindo seus companheiros. No governo de Getúlio o peleguismo não era somente uma casta de sindicalistas que trabalhava em prol da política governamental mas até recebia contribuições federais para exercer seu trabalho. Eram como “lobos vestidos com peles de ovelha” no meio do rebanho de pacíficos cordeiros. Comparar o “fura-greve” com um pelego é uma injustiça, pois muitos “fura-greves” são mais fiéis a seus companheiros, em certos casos, do que mesmo seus líderes sindicais.
Há outra interpretação, um tanto forçada, que diz que pelego se refere aos líderes ou representantes de um sindicato que em vez de lutar pelos interesses dos trabalhadores defende sorrateiramente os interesses dos patrões. Em geral, essa versão do termo é utilizada mais como jargão sindicalista para “carimbar” os opositores e desmoralizar aqueles que rivalizam com eles o poder. Mas, não confere com o sentido que o termo teve em sua origem.
Como a palavra surgiu para identificar exatamente os sindicalistas que usam o sindicato para fazer a política governamental, nada impede que o termo seja usado hoje para caracterizar aqueles que usam os mesmos sindicatos para se alçarem na carreira política. Pois o objetivo do pelego é sempre a política, não importando o meio usado para tanto. Foi o que ocorreu com Lula, no Brasil, e Lech Valesa, na Polônia, e com diversos outros sindicalistas, que, de simples líderes sindicais transformaram-se em vereadores, deputados, prefeitos, governadores, senadores, etc. Só não são chamados de pelegos por que o termo caiu em desuso. Não podem também ser chamados de pelegos na medida em que se utilizam do sindicato para fazer carreira política? Será que alguém faz carreira política sem transigir com os governantes?
As observações acima me surgiram a propósito das greves de polícias que explodiram nos últimos dias no Brasil. Em que pese as centenas de mortes, roubos, arrastões, crimes de toda espécie, muitas vidas ceifadas que ficarão impunes, as autoridades de nosso país estão sendo muito complacentes com os amotinados. Repetem amiúde um velho jargão de que “respeitam o direito de greve”, acentuam demasiadamente este “direito” em detrimento da ordem social e da paz na sociedade. Deveriam agir com mais rigor e disciplinar os revoltosos, mas temem fazê-lo por causa da mídia que lhes cairia em cima com manchetes desmoralizantes. E quem lucra com isso? Os amotinados, nossos futuros dirigentes...
No caso da Bahia, muitos são os crimes cometidos pelos amotinados. Por exemplo, o grupo que invadiu a Assembléia Legislativa de uma forma violenta e cruel, fez várias pessoas prisioneiras lá dentro (cárcere privado, cerceamento da liberdade) que não tinham nada a ver com a greve, alguns eram simples funcionários da Assembléia; foram liberados, mas os revoltosos levaram propositalmente seus familiares, como esposas e filhos (muitas crianças) numa atitude preventiva, pois sabiam que o exército iria desalojá-los e, fazendo-o pela força, encontraria mulheres e crianças pela frente. Trata-se de uma moderna ação revolucionária, tirada dos manuais da Sorbonne e dos antros negros das guerrilhas modernas. Na greve de Fortaleza, por exemplo, alguns militares chegaram a seqüestrar familiares da desembargadora que decretou a ilegalidade da mesma e a intenção era fazer com que ela voltasse atrás em sua decisão. Quer dizer, as corporações militares é que ficam desprestigiadas com tais atitudes, exigindo-se que as autoridades sejam mais rigorosas na punição dos culpados e deixar de ser tão condescendentes com tais motins.
Apesar de ter sido um político muito odiado, muitos baianos andam suspirando pelas ruas dizendo “ah, se ACM fosse vivo e estivesse no governo daqui...”. Quer dizer, o que anda na cabeça do povo é que há necessidade de alguém que tenha pulso forte, o que faz lembrar quão duro foi no passado o político Antonio Carlos Magalhães com esse tipo de gente, fazendo o povo crer que já teria tomado uma atitude corretiva e resolvido a questão.
Anotem os nomes dos líderes grevistas, especialmente aqueles que sofreram punições com suas atuações, ou perdendo cargos ou sendo presos, confiram no final das eleições deste ano quantos deles não se candidataram, e até foram eleitos para cargos políticos. O próprio atual governador da Bahia foi um deles, e quando ele chama o principal incitador do motim policial baiano de “marginal” está, com isso, dando-lhe cacife para enveredar com mais força na política.


Por isso, ninguém diga que o sindicalismo está imune da política... Que o digam os pelegos modernos...

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