domingo, 19 de setembro de 2010

CARDEAL NEWMAN BEATIFICADO EM VISITA HISTÓRICA

Birmingham, Inglaterra - Bento XVI beatificou este Domingo em Birmigham, Inglaterra, o Cardeal John Henry Newman, uma das maiores figuras eclesiais no século XIX. Perante mais de 50 mil pessoas, que assinalaram com palmas o momento solene, o Arcebispo de Birmingham, D. Bernard Longley, pediu formalmente que o Papa beatificasse John Henry Newman e o vice-postulador da causa de canonização leu uma pequena biografia.
Bento XVI proferiu, em seguida, a fórmula de beatificação, anunciando que a festa litúrgica do Beato Newman será celebrada a 9 de outubro, precisamente a data da sua conversão, em 1845.
Um retrato do novo beato foi destapado e as suas relíquias colocadas junto ao altar, antes de o Papa cumprimentar o Arcebispo local e o vice-postulador da causa do Cardeal Newman, que continuará agora a trabalhar para a sua canonização, último degrau da «escada» de santidade já percorrida.
Esta é uma opção simbólica, mostranto que o Papa quer apresentar o Cardeal inglês, respeitado por crentes e não crentes, como modelo de pensador e líder espiritual numa altura em que a Igreja Católica atravessa um momento delicado.
Forte influência na vida e pensamento de Joseph Ratzinger, Newman é reconhecido como um notável escritor, pregador e teólogo, que James Joyce apelidava o “maior dos escritores ingleses em prosa”.
Nascido em Londres a 21 de fevereiro de 1801 e falecido a 11 de agosto de 1890, John Henry Newman converteu-se do anglicanismo ao catolicismo aos 44 anos.
Antes da sua conversão, foi uma das figuras principais do Movimento de Oxford, que procurava aproximar das suas raízes a Igreja Anglicana da Inglaterra, na qual era clérigo.
Após a sua conversão foi ordenado padre católico em Roma, no ano de 1847, e encorajado pelo Papa Pio IX regressou à Inglaterra, onde fundou o oratório de S. Filipe Néri.
Escritor prolífico, como recorda o Vaticano na sua biografia oficial, Newman abordou diversas matérias com destaque para a relação entre fé e razão, a natureza da consciência e o desenvolvimento da doutrina cristã, obras que lhe valeram grande reconhecimento do mundo católico e que influenciaram mesmo o Concílio Vaticano II, nos anos 60 do século XX.
Em 1879, com 78 anos de idade, foi criado Cardeal por Leão XIII, tendo morrido no ano de 1890, em Birmingham.
A 22 de janeiro de 1991, o Cardeal Newman foi declarado venerável por João Paulo II, uma vez comprovada a heroicidade das suas virtudes.
Durante o processo de beatificação, os seus restos mortais foram transladados do pequeno cemitério de Rednall Hill, nos subúrbios de Birmingham, onde estava enterrado juntamente com Ambrose St. John, também convertido ao catolicismo, para o Oratório São Felipe Néri de Birmingham.
Bento XVI sempre teve um interesse pessoal nesta causa e é um apreciador da teologia do Cardeal Newman, já desde os tempos em que era um jovem seminarista na Alemanha, o que justifica que, pela primeira vez no atual pontificado, o Papa abra uma excepção à prática que implementou e presida pessoalmente a uma beatificação.
"Newman pertence deveras aos grandes doutores da Igreja, porque ele toca ao mesmo tempo o nosso coração e ilumina o nosso pensamento", disse o então Cardeal Ratzinger sobre este Cardeal inglês, em 1990.
A beatificação, a primeira a ter lugar em solo inglês, acontece após a Congregação para as Causas dos Santos ter reconhecido em 2008 que a cura de uma lesão na coluna vertebral de Jack Sullivan, diácono permanente de Boston, Massachussets, não encontrava “explicação médica”, podendo ser considerada como milagre.
O Cardeal Newman foi uma figura muito popular no seu tempo: a sua conversão teve grande impacto na sociedade vitoriana e restaurou o prestígio da Igreja Católica na Inglaterra.
A sua autobiografia espiritual “Apologia pro vita sua” (1864) é vista por muitos como a maior obra do gênero desde as célebres “Confissões”, de Santo Agostinho.
É este o homem escolhido por Bento XVI para o momento mais importante da sua primeira visita de Estado ao Reino Unido, que decorre desde 16 de setembro, um Cardeal inglês que o atual Papa apresentou recentemente com “extraordinário exemplo de fidelidade à verdade”, mesmo “à custa de um considerável sacrifício pessoal".
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Fonte: AGÊNCIA ECCLESIA


O Papa define o Beato Cardeal Newman “uma figura de doutor da Igreja para nós e para todos", e também uma ponte entre anglicanos e católicos
Edimburgo (Agência Fides) - Durante a viagem no avião rumo ao Reino Unido, para a sua 17ª Viagem Apostólica em vista da beatificação do Cardeal John Henry Newman, o Papa Bento XVI encontrou-se com os jornalistas do vôo papal. Respondendo às perguntas de alguns deles, apresentadas por Pe. Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, o Papa deteve-se na figura do Cardeal Newman com as seguintes palavras:
"O Cardeal Newman é principalmente por um lado, um homem moderno, que viveu todo o problema da modernidade, que viveu também o problema do agnosticismo, a impossibilidade de conhecer a Deus, de crer. Um homem que teve ao longo de sua vida em caminho, no caminho de deixar-se transformar pela verdade, em busca de grande sinceridade e grade disponibilidade, para conhecer melhor e para encontrar, acertar o caminho para a verdadeira vida. Esta modernidade interior do seu ser e de sua vida, significa a modernidade de sua fé. Não é uma fé em fórmulas de uma época passada: é uma fé pessoal, vivida, sofrida, encontrada num longo caminho de renovação e conversões. E um homem de grande cultura, que por um lado, participa na nossa cultura cético hoje – à questão se pode entender alguma coisa sobre a verdade do homem, do ser ou não, e como podemos obter a convergência das probabilidades. Um homem que, por outro lado, com uma grande cultura do conhecimento dos Padres da Igreja, ele estudou e renovou a gênese interior da fé e reconheceu a sua figura e construção interior. Ele é um homem de grande espiritualidade, de um grande humanismo, um homem de oração, de uma profunda relação com Deus e uma relação pessoal, por isso também de uma relação profunda com os outros homens do seu e do nosso tempo. Eu diria esses três elementos: modernidade da sua existência, com todas as dúvidas e os problemas de nosso ser de hoje; grande cultura, o conhecimento dos grandes tesouros da cultura da humanidade, a disponibilidade de busca permanente, de renovação contínua; e espiritualidade: vida espiritual, vida com Deus, dão a este homem uma excepcional grandeza para o nosso tempo. Por isso, é uma figura de Doutor da Igreja para nós e para todos, e também uma ponte entre anglicanos e católicos". (SL) (Agência Fides 17/09/2010
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Homilia de Bento XVI
O serviço concreto a que foi chamado o Beato John Henry incluía a aplicação entusiasta de sua inteligência e sua prolífica pluma a muitas das mais urgentes “questões do dia”. Suas intuições sobre a relação entre fé e razão, sobre o lugar da religião revelada na sociedade civilizada, e sobre a necessidade de uma educação esmerada e ampla foram de grande importância, não somente para a Inglaterra vitoriana. Hoje também seguem inspirando e iluminando a muitos em todo o mundo. Gostaria de render especial homenagem à sua visão da educação, que fez tanto por formar o ethos que é a força motriz das escolas e faculdades católicas atuais. Firmemente contrário à qualquer enfoque redutivo ou utilitarista, buscou lograr condições educativas em que se unificasse o esforço intelectual, a disciplina moral e o compromisso religioso. O projeto de fundar uma Universidade Católica na Irlanda lhe brindou a oportunidade de desenvolver suas idéias a respeito, e a coleção de discursos que publicou com o título “A Idéia de uma Universidade” sustenta um ideal mediante o qual todos os que estão imersos na formação acadêmica podem seguir aprendendo. Mais ainda, em que melhor meta podem se fixar os professores de religião do que no famoso chamado do Beato John Henry por leigos inteligentes e bem formados: “Quero um laicato que não seja arrogante nem imprudente na hora de falar, nem polêmico, mas homens que conheçam bem sua religião, que se aprofundem nela, que saibam bem onde estão, que saibam o que têm e o que não têm, que conheçam seu credo a tal ponto que possam dar contas dele, que conheçam tão bem a história que possam defendê-la” (A Posição Atual dos Católicos na Inglaterra, IX, 390)? Hoje, quando o autor destas palavras é elevado aos altares, peço para que, através de sua intercessão e exemplo, todos os que trabalham no campo da educação e da catequese se inspirem com maior ardor na visão tão clara que ele nos deixou.

(Excerto do sermão do Santo Padre, o Papa Bento XVI, na Santa Missa de Beatificação do Cardeal John Henry Newman, Cofton Park de Rednal – Birmingham).

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