segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

MORTE DE EL CID, O MODELO DOS CAVALEIROS MEDIEVAIS

 


O século de “El Cid” foi o século do fervor medieval, onde grandes acontecimentos brilharam na Europa. No ano 1001 Santo Estêvão é coroado rei da Hungria.  Dois grandes Papas santos, Leão IX e Gregório VII, além de Urbano II, o proclamador da primeira Cruzada, deixaram sua marca.  Em 1012 é fundada a Ordem dos Camaldulenses, monges que procuravam seguir com mais rigor a Regra de São Bento; também neste século, São Bruno funda a ordem dos Cartuxos, e no seu final, em 1098, é fundada a Ordem de Citeux (Cistercienses), à qual pertenceu São Bernardo no início do século seguinte.

A Cavalaria cristã se tornou oficial no século XI como resultado de um costume arraigado há mais de 4 séculos na Europa. Para ingressar nela, um longo aprendizado (de 3 a 9 anos) era exigido do jovem guerreiro que, ao final de sua educação, era introduzido na Cavalaria com uma cerimônia chamada de “investidura”. O caráter sagrado da Cavalaria, o ideal da perfeição cristã na vida guerreira que ela propunha, tiveram o seu ápice durante as Cruzadas. Foi Gerard de Tom que, ao final do século XI, fundou a primeira Ordem de Cavalaria, chamada Ordem dos Hospitalários de São João. Aprovada pela Igreja, as regras da nova Ordem exigiam que com a investidura o cavaleiro jurasse defender a Igreja, proteger os pobres, os órfãos, as viúvas, ser leal, fiel e bravo até à morte. Depois, outras Ordens surgiram, com nomes diferentes, mas com objetivos e rituais semelhantes: Ordem de Cristo, Ordem dos Templários, Ordem de Malta, etc.

Primordialmente, o termo “cavaleiro” significava apenas qualquer homem montado a cavalo. No decorrer da Idade Média, os suseranos passaram a investir como cavaleiros seus fiéis súditos que lutavam a seu lado. Esta investidura fazia do cavaleiro um vassalo ligado a seu senhor com um laço quase sagrado de servidão.  O Rei Afonso X, “O Sábio”, escreveu o seguinte sobre a vassalagem:

“Um homem se pode fazer vassalo de outro segundo o antigo costume da Espanha, desta maneira, outorgando-se por vassalo daquele que o recebe e, beijando-lhe a mão por reconhecimento de senhorio e ainda há outra maneira de fazer homenagem que é mais grave porque por ela se torna um homem não somente vassalo de outro, mas fica obrigado a cumprir aquilo que promete por postura.  Homenagem tanto quer dizer como tornar-se “homem de outrem” e se fazer como seu para dar-lhe segurança sobre a coisa que promete dar ou fazer, que a cumpra, e esta homenagem não somente tem lugar em pleito de vassalagem mas em todos os pleitos e posturas que os homens ponham entre si com intenção de cumpri-las”  

Posteriormente, com o surgimento das Ordens militares de monges guerreiros, o Cavaleiro passou a ser principalmente aquele que pertencia à uma de tais ordens. 

El Cid foi o Cavaleiro mais típico da Idade Média, embora não conste nas crônicas que o mesmo haja pertencido a alguma Ordem de Cavalaria. Em castelhano, o seu nome de batismo era Rodrigo Díaz. O termo “El Cid”  provém de uma expressão meio castelhana meio moura, significando “O Senhor”.  O primeiro registro histórico deste honroso título provém de um judeu, chamado Joseph ben Zaddie de Arévalo, que ao fazer uma crônica narrando a vitória de El Cid sobre Saragoça escreveu: “Saragoça foi ganha por Cidi Ru Diaz”. Em hebraico “Cidi” quer dizer  “Meu Cid”, ou seja, meu senhor. Este honroso título mostra quanto Dom Rodrigo tinha ascendência senhorial sobre seus vassalos, até entre mouros. 

Rodrigo Díaz nasceu em Bivar, povoado situado ao norte de Burgos, pelo ano de 1043 e tinha origem nobiliárquica muito alta por parte de seus pais. As crônicas não explicam porque razão ele não foi educado por seus familiares, mas na corte pelo Infante Sancho, filho primogênito de Fernando I, primeiro rei de Leão e Castela. Foi Dom Sancho quem o armou cavaleiro e o levou consigo para a primeira expedição militar.

 Morte de El Cid

O grande herói chegou a atingir o seu objetivo principal, que foi a conquista de Valência e estabelecer um protetorado cristão naquela região tão importante para impedir o avanço maometano e consolidar um reino cristão. Incompreendido pelo principal rei da Península, Dom Alfonso, e também por vários outros reis cristãos,  que fazer?  El Cid poderia declarar-se rei de Valência, mas não o fez. Por fidelidade, lealdade ao rei de Castela, ele sempre se considerou seu vassalo e como tal foi assim que sempre agiu.  

Assim, aquele grande cavaleiro, muito superior em méritos a muitos reis cristãos,  entregou sua alma a Deus prematuramente com apenas cinqüenta e seis anos de idade. Morreu na terra que sempre tentou conquistar, Valência, no dia 10 de julho de 1099. Seu corpo foi levado para o mosteiro de San Pedro de Cardaño e ali venerado como santo. É bom salientar que sua morte causou muita dor, principalmente entre seus vassalos. Foram vistos vários homens e mulheres, até mesmo muçulmanos, como era costume naqueles tempos, golpearem-se no peito como sinal de dor. Quanto aos cristãos, fizeram sentir sua tremenda dor mandando rezar missas em várias igrejas e mosteiros como sufrágio de sua alma. As crônicas não dão detalhes sobre como ocorreu sua morte.

De tal forma a morte de El Cid foi sentida na Cristandade, que no Mosteiro de Maillezais, em Poitu, no centro da França, foi registrado que sua morte era tida como um dos grandes acontecimentos humanos.  Consignaram os historiadores que "faleceu o conde Rodrigo, e sua morte causou a mais grave dor na cristandade e grande alegria entre os inimigos muçulmanos".

Eram dois fatos que tomavam conta da Cristandade: a morte de El Cid e a convocação da Primeira Cruzada. No mesmo ano em que o grande varão católico e guerreiro cruzado morreu, a Cruzada foi convocada por Urbano II e Godofredo de Buillon fundava o reino de Jerusalém, rodeado de muçulmanos da mesma forma que o Campeador.

 (Dados extraídos da obra "El Cid Campeador", de R. Menéndez Pidal, Editora Espasa Calpe S.A., Madri, 1955).

 

 


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