sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

APARIÇÃO DO MENINO JESUS NO CERRO DE PICHINCHA

 


Nossa Senhora do Bom Sucesso apareceu diversas vezes à Madre Mariana de Jesus Torres, no Equador (século XVII), nas quais sempre com o Menino Jesus nos braços. Eis como o Menino Jesus manifestou-se numa dessas aparições:

“Então, Nossa Senhora do Bom Sucesso apareceu-lhe com seu Doce Infante nos braços e disse:

“Pobre filha de meu coração, com visão tão formidável desfaleceu já tuas forças naturais, e se quisessem voltar à vida, humanamente não conseguirias. Mas ainda não é tempo de deixares a terra. Sete anos mais, em memória de minhas sete dores e alegrias, peregrinarás na terra, sofrendo e gozando em teu espírito. Depois teu Amor te chamará à sua Casa e companhia lá nos Céus, onde tua longa vida não parecerá ter durado senão um dia, e tu te rirás dos teus grandes sofrimentos desta vida, os quais se te afigurarás como insignificantes, e desejarás então voltar a viver para sofrer e merecer o dobro.

Doravante a estima de tuas irmãs e dos devotos deste meu querido Convento será o maior dos sofrimentos para teu coração, que ansioso desejará, sem agora conseguir, os desprezos, as burlas e as calúnias, porque já passou por ti esse tempo de ouro. Ele, entretanto, virá para minhas filhas e tuas em tempos futuros, pois almas muito formosas teremos neste lugar querido.

Secreto e oculto viverá teu espírito nelas, e serão o desprezo das próprias irmãs, cujas mentes obscurecidas por disfarçada soberba não compreenderão nem saberão dar valor ao tesouro que possuirão em suas irmãs santas. Quantas mencionarão o teu nome desejando ter vivido em teu tempo, e não se darão conta de que tu mesma estarás vivendo em algumas das irmãs, as mais esquecidas e oprimidas.

Felizes as minhas boas filhas cujas almas unidas a Deus e à sua Mãe passarão esquecidas, e, tranquilas na obscuridade e na dor, farão o bem aos seus e a estranhos”

E prosseguiu a Rainha dos Céus:

“Levanta agora tuas vistas e olha para o cerro de Pichincha, onde verás crucificado este Divino Infante que trago em meus braços. Entrego-O à Cruz a fim de que Ele dê sempre bons sucessos a esta república, a qual será muito feliz quando, em toda sua extensão, Me conhecerem e Me honrarem sob esta invocação,  pois terão bom sucesso nas almas, casas e famílias, e esta invocação será penhor de salvação”.

Em seguida Madre Mariana de Jesus viu os três Arcanjos, São Miguel, São Gabriel e São Rafael, tomarem o Divino Menino dos braços de sua Santíssima Mãe e conduzirem-No ao cerro de Pichincha, deixando-O ali com reverente acatamento, desaparecendo logo depois.

O Divino Menino parecia ter a idade de doze a quinze anos, formoso e cheio da Divindade, ainda que oculta sob sua santa Humanidade. Ele prosternou-se em terra, com os braços em cruz, e orou a seu Eterno Padre, dizendo:

“Meu Pai e Deus Eterno, considerai benigno esta pequena  porção de terra que hoje Me dais, para nela reinar, como Senhor absoluto, o meu amoroso e terno Coração e o de minha Mãe Santíssima, criatura tão pura e tão bela qual outra não há.

“Neste lugar se dará liberdade de república nova, e meu Coração infantil se enche de infinita ternura ao olhar quantos heróis perderão a vida temporal. Benditos sejam mil vezes por seus heroicos sacrifícios: sejam suas almas recebidas no Céu para que gozem o prêmio de seus esforços! É por isto que quero orar neste monte como orei no Getsêmani, pedindo-Vos para Mim todas as almas que povoarem estas terras, livrando-as da ira diabólica que tanto as ameaça. Eu quero salvar a todos: e para isto tenho esposas virgens que, associadas a Mim, elevam suas mãos súplices ao trono de Vossa Majestade, quais rolas inocentes gemendo sempre ao pé do meu Sacrário.

“Sobretudo olhai minha Casa e Mosteiro, propriedade de minha Mãe Imaculada, fundada por vossa santíssima vontade no próprio coração da cidade, para desgravo de tantos crimes que se cometerão em todos os tempos. Ali temos, e em todos os séculos teremos, almas crucificadas e justas que imitarão a Mim e à minha Mãe sem mácula: elas sustentarão o braço encolerizado de vossa Justiça Divina para impedir grandes males físicos e morais em sua pátria querida.

“Por esta razão o Mosteiro será perseguido e o demônio procurará extingui-lo,  valendo-se de bons e maus. Mas minha Mãe querida, qual Estrela luminosa, brilhará sobre ela em todos os tempos e será seu melhor arrimo, sua muralha impenetrável, e lhe dará sempre bons sucessos. Por isso tantas vezes ali estivemos, e deixamos na preciosa Imagem o melhor penhor de nosso amor e proteção. Abençoai-as e sustentai-as em suas lutas e sofrimentos”

Terminada esta oração, ouviu-se uma voz no céu que disse: “Este é meu Filho muito amado em quem encontrei sempre minhas complacências. Ouvi-O, imitai-O, almas escolhidas e queridas”.

 No monte envolto de luz

 E todo o cerro logo se envolveu de uma luz celeste. E o Menino Jesus, levantando-se da terra, encontrou diante de Si uma cruz de madeira lisa e achatada, não roliça, com a inscrição INRI no alto; no braço esquerdo pendia uma coroa de agudos espinhos, e no braço direito uma estola branca.

A seguir surgiram os três Santos Arcanjos. São Gabriel trazia reverente e muito devoto uma branca hóstia. São Miguel uma longa túnica branca, salpicada de estrelas. São Rafael, um manto de uma cor rosada muito preciosa, nunca vista na terra.

O Menino Jesus, cheio de contentamento, vestiu-se por Si a túnica branca que tomou das  mãos do Príncipe São Miguel, sobre a qual o Arcanjo ajustou a estola que estava no braço direito da cruz, segundo o uso dos diáconos (dos ombros á cintura em diagonal). Por cima da túnica o Menino Jesus pôs o precioso manto, tomando das mãos do Arcanjo São Rafael.

Assim vestido, aproximou-se da cruz, fixou-a com amor e, pelas rosadas faces correram grossas lágrimas, logo recolhidas pelos Arcanjos São Miguel e São Rafael, que as aspergiram em toda a nova nação.

Tomando com amor a coroa de pontiagudos espinhos do braço esquerdo da cruz, colocou-a em sua santíssima cabeça. Achegou-se a cruz e estendeu suas mãozinhas, ficando crucificado sem aparecer os cravos.

Ordenou em seguida ao Arcanjo São Gabriel  que pusesse a hóstia por trás da nuca, à meia altura de sua divina Cabeça. Isto feito, apareceram sobre o branco da hóstia os três fachos de luz do resplendor, o que conferia um extraordinário realce, porque a auréola era de ouro polido e lavrado com verdes e finíssima esmeraldas. No raio vertical estava inscrita a palavra Amor, no raio do lado direito Equador e no do lado esquerdo Espanha.

O Menino Jesus assumiu um semblante majestoso e um tanto triste como refletindo a dor que intensamente afligia seus ternos e divinos membros. Mas ao mesmo tempo, mostrava-se comprazido em sofrer por quem a tanto amava. De sua coroa de pungentes espinhos saíam grossas gotas de sangue que corriam por sua fronte; de suas mãos, as feridas dos cravos também vertiam sangue e o mesmo se dava com seus pés que pisavam o solo daquele cerro. Contudo, não apareciam cravos nem nas mãos nem nos pés.

Seu olhar, da cruz, abarcava toda a nova pátria; sua cabeça não se movia e permaneceu um pouco inclinada à direita; e soluçando repetia as seguintes palavras:

“Não posso fazer mais por ti para demonstrar-te meu amor. Almas ingratas, não Me pagueis com desprezos, sacrilégios e blasfêmias tanto amor e delicadezas de meu Coração. Pelo menos vós minhas mui amadas e escolhidas esposas, sede meu consolo em minhas soledades eucarísticas: velai em minha companhia; longe de vós o sono da indiferença em relação a Deus, que tanto vos ama! Sede continuamente as heroínas de vossa pátria em meio aos amargos e funestos tempos que a ela sobrevirão. Vossa humilde, secreta e silenciosa oração, juntamente com vossa penitência voluntária salvá-los-ão da destruição para onde a conduzirão seus filhos ingratos, pois estes, humilhando e desprezando os bons, exaltarão e louvarão os maus e adventícios satélites de satanás”.

Em torno da cruz não havia senão arbustos de espinhos com graciosas flores. O Menino Jesus estava crucificado diante do grande Pichincha.

 (“Vida Admirável da Rev. Madre Mariana de Jesus Torres, espanhola, uma das Fundadoras do Monastério de La Limpia Concepcion de la Ciudad de Quito, escrito pelo Rev. Padre Manuel Sousa Pereira da Ordem Seráfica dos Menores do Convento Máximo de São Francisco de Quito, Equador” – Tomo II págs. 78/80).

 


Nenhum comentário: