sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A CRISE NA FAMÍLIA



O texto abaixo foi publicado num livro do hoje Monsenhor João Clá, em 1986, e, decorridos mais de trinta anos, mantém toda sua atualidade:


"A família

A família cristã, nascida do pacto conjugal elevado por Nosso Senhor Jesus Cristo à dignidade de sacramento, tem como características:
1 – a indissolubilidade do vínculo conjugal e a fidelidade dos esposos entre si;
2 – a autoridade do esposo sobre a esposa, e de ambos sobre os filhos;
3 – a observância da castidade perfeita, tanto das filhas quanto dos filhos, antes do matrimônio.
No lar cristão bem constituído, tudo conduz a que, se algum dos filhos receber a vocação para o sacerdócio ou o estado religioso, seja ela tida como uma alta honra, e acolhida pressurosamente, não só pela pessoa desta maneira favorecida, mas pelos pais e por todos os que constituem o lar.

A família e a sociedade temporal em crise

De que forma a sociedade contemporânea, vista como um todo, costuma cooperar – em nossos dias – para que assim sejam as famílias cristãs?
A pergunta faria sorrir ironicamente , se fosse formulada com seriedade. Pois é evidente que dos mais variados modos, com o maior afinco, essa sociedade trabalha a todo momento para a desagregação da família. Ou seja, para sua descristianização.
A seguirem no mesmo rumo as mentalidades e os costumes reinantes, em breve a família autenticamente cristã terá passado a constituir exceção raríssima e mal vista, no seio de uma sociedade descristianizada. De uma sociedade anticristã, portanto.
“Quem não está coMigo está contra Mim”, ensina Nosso Senhor no Evangelho. [1]
Tal vai sucedendo , em suprema instância, pela ação das forças preternaturais engajadas na perdição do mundo[2], as quais tão bem sabem mover em sua conspiração os agentes naturais – individuais, sociais e outros. Vão elas dispondo assim de um crescente poder sobre as massas.
Era inevitável que chegasse a esse cúmulo de desgraças o gênero humano? De nenhum modo. Com efeito, outro poderia ter sido o curso das coisas se todas as pessoas e instituições especialmente prepostas para o combate contra a corrupção das idéias e dos costumes tivessem tido sempre, face a esse ruinoso curso das coisas, a conduta militante, ininterrupta e desassombrada, que seu dever lhes impunha.
A tal respeito, a atitude não só omissa mas até fortemente propulsora, de tantos dos poderes públicos, nos Estados contemporâneos, tem favorecido largamente a obra das trevas. De onde decorre que, pelo desdobrar lógico das consequências, e por merecida punição de Deus, todas as nações – sem excetuar as mais poderosas e prósperas – se encontram à beira de riscos de uma gravidade sem nome, e sob vários aspectos já se pode afirmar que vão rolando precipício abaixo, rumo à sua desagregação total. É isso de tal maneira notório, que dispensa provas ou exemplificações.

A família e a Igreja em crise

A responsabilidade por essa situação desastrosa não toca apenas ao Estado.
A Santa Igreja Católica, a única verdadeira Igreja de Deus, se vê envolta hoje em uma crise cuja gravidade já foi discernida por Paulo VI, bem insuspeito, entretanto, de pessimismo ou animadversão para com o mundo moderno, ao qual fez aberturas que surpreenderam por vezes não poucos dentre os melhores.[3]
João Paulo II, entretanto tão benévolo – ele também – em relação ao mundo moderno, expendeu reflexões análogas[4]; e um Prelado eminente pelo saber e pelas altas funções que ocupa na Santa Igreja, o Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, publicou em 1985 sem famoso “Rapporto sulla Fede”, no qual se deve louvar a nobre franqueza com que descreve sintomas altamente expressivos da crise que lavra como um incêndio no interior da Santa Igreja.
O valor deste autorizado testemunho cresce ainda de ponto considerando-se que o Purpurado, quer no conjunto de sua obra de intelectual, quer em sua atuação à testa do ex-Santo Ofício, vem seguindo uma linha que não permite incluí-lo honestamente entre os que as “mass media” qualificam de reacionários, extremistas da intolerância, etc.
Ora, de onde procede essa dolorosa crise na Igreja? Sem dúvida, e em larga medida, de agentes do Leviatã comunista que, de fora da Cidade Santa, se empenham com esforço total em destruí-La. Mas uma pesquisa dos fatores dessa crise não seria lúcida nem proba se se limitasse a olhar para além dos muros d’Ela. Cumpre indagar se também entre os católicos – entre os leigos, bem entendido, mas também nas fileiras augustas da Sagrada Hierarquia – há propulsores de tal crise.
A pergunta pode surpreender a alguns... dia a dia menos numerosos. Não faltará ainda quem brade, alarmado, que ela é escandalosa, revolucionária, blasfema.
É explicável que a tais reações conduza a crassa ignorância religiosa em que estão imersos tantos fiéis neste triste ocaso do século XX. Na realidade, se conhecessem melhor a doutrina e a História da Igreja, a reação deles seria bem outra. A fim de evitar digressões doutrinárias, destinadas a aplacar tal estranheza, as quais se afastariam por demais do eixo central das presentes considerações, basta lembrar aqui um documento memorável, a instrução do Papa Adriano VI (1522-1523), lida pelo Núncio pontifício Francisco Chieregati aos Príncipes alemães reunidos em dieta, em Nuremberg, em 3 de janeiro de 1523. Transcreve largos trechos desse documento o historiador austríaco Ludwig Pastor em sua obra célebre “Geschichte der Papste” – História dos Papas. A conjuntura em que essa instrução foi ditada pelo Pontífice se insere na terrível crise protestante do século XVI, tão semelhante e ao mesmo tempo tão menos profunda do que a de nossos dias.[5]
Dessa instrução destacamos os seguintes tópicos:
“Deves (dirige-se o Pontífice ao Núncio Chieregati) dizer também que reconhecemos livremente haver Deus permitido esta perseguição a sua Igreja, por causa dos pecados dos homens, e especialmente dos Sacerdotes e Prelados, pois de certo não se encurtou a mão do Senhor para nos salvar; mas são nossos pecados que nos afastam d’Ele, de modo que não nos ouve as súplicas.
“A Sagrada Escritura anuncia claramente que os pecados do povo têm origem nos pecados dos sacerdotes, e por isto, como observa (São João) Crisóstomo, nosso Divino Salvador, quando quis purificar a enferma Jerusalém, dirigiu-se em primeiro lugar ao Templo, para repreender antes de tudo os pecados dos sacerdotes; e nisso imitou o bom médico, que cura a doença em sua raiz.
“Bem sabemos que, mesmo nesta Santa Sé, há já alguns anos vêm ocorrendo, muitas coisas dignas de repreensão; abusou-se das coisas eclesiásticas, quebrantaram-se os preceitos, chegou-se a tudo perverter. Assim, não é de espantar que a enfermidade se tenha propagado da cabeça aos membros, desde o Papa até aos Prelados.
“Nós todos, Prelados e Eclesiásticos, nos afastamos do caminho reto, e já há muito não há um que pratique o bem. Por isso devemos todos glorificar a Deus e nos humilharmos em sua presença; que cada um de nós considere por que caiu, e se julgue a si mesmo, ao invés de esperar a  justiça de Deus no dia de sua ira.
“Por isto (igualmente) deves tu prometer em nosso nome que estamos resolvidos a empregar toda a diligência a fim de que, em primeiro lugar, seja reformada a Cúria Romana, da qual talvez se tenham originado todos esses danos; e acontecerá que, assim como a enfermidade por aqui começou, também por aqui comece a saúde.
“Nós nos consideramos tanto mais obrigados a levar isto a bom termo, quanto todo o mundo deseja semelhante reforma.
“Porém não procuramos nossa dignidade pontifícia (o Papado que Adriano VI exerce), e de mais bom grado teríamos terminado na solidão da vida privada nossos dias; de bom grado teríamos recusado a tiara, e só o temor de Deus, a legitimidade da eleição e o perigo de um cisma nos determinaram a aceitar o supremo múnus pastoral. Em consequência, queremos exercê-lo não por ambição de mando, nem para enriquecer nossos parentes, mas para restituir à Santa Igreja, Esposa de Deus, sua antiga formosura, prestar auxílio aos oprimidos, elevar os varões sábios e virtuosos, e, genericamente, fazer tudo o que compete a um bom pastor e verdadeiro sucessor de São Pedro.
“Não obstante, que ninguém se surpreenda, se não corrigimos todos os abusos de um só golpe; pois as doenças estão profundamente enraizadas e são múltiplas; pelo que é preciso proceder passo a passo, e opor primeiramente os oportunos remédios aos danos mais graves e perigosos, para não perturbar ainda mais a fundo por meio de uma precipitada reforma de todas as coisas. Com razão diz Aristóteles que toda mudança repentina é muito perigosa para uma sociedade”.[6]
Quantos ensinamentos profundos há a deduzir dessas nobres e sábias considerações! Ninguém as pode tachar de irreverentes para com a Santa Igreja, de escandalosas, revolucionárias, blasfemas, como de bom grado o fariam certos católicos de vistas estreitas.
E quantos exemplos concretos haveria que citar em cada país da Cristandade contemporânea, em confirmação desses ensinamentos de Adriano VI!
Para não alongar demais essa triste lista, bastaria mencionar a desconcertante indolência – para dizer só isto  - de tantos Prelados católicos diante da exibição do filme blasfemo de Jean-Luc Godard, “Je vous salue Marie”. Indolência esta em que se assinalou de modo especial o Episcopado francês.[7]

A família, fator da crise do mundo contemporâneo

Contudo a responsabilidade pela crise da Igreja e do mundo não toca apenas ao Clero, mas à família. Responsabilidade por omissão, e também por ação.
Com efeito, incontáveis são hoje as famílias cujos membros professam e até praticam a religião católica mas que, tendo sem embargo horror a toda forma de sofrimento não só físico mas também moral, não querem abster-se dos prazeres corruptos deste século. Muitos membros delas se recusam normalmente a travar no seu íntimo a dura batalha contra os apetites desregrados, açulados de mil formas pelo estilo de vida contemporâneo. E, ademais, desejam com veemência cercar-se o mais possível de simpatia e consideração nos meios sociais a que respectivamente pertencem. O que só conseguirão se aceitarem largamente, e praticarem, as normas “morais” do neo-paganismo.
Daí decorre que, não havendo paz possível entre os filhos da luz e os das trevas, nem entre os filhos da Virgem e os da serpente[8], eles não tardam em notar no convívio social que serão incompreendidos, marginalizados e até caluniados, se se mantiverem fiéis à moral ensinada pela Igreja.
Em consequência, cederão à onda avassaladora da impiedade e da corrupção, pelo menos na medida em que seja indispensável para não perderem a benquerença geral.
Tal é a triste situação das pessoas e das famílias que, deixando-se arrastar pela pressão da sociedade neo-pagã contemporânea, capitulam e dobram os joelhos perante Belial. Árdua, e não raras vezes heroica, é a resistência que deve ser desenvolvida contra essa pressão pelas pessoas ou famílias que, recusando-se a dobrar vilmente os joelhos ante o ídolo, se mantém fiéis à lei de Deus.
Tivemos ocasião de o expor em outra obra, intitulada “Guerreiros da Virgem – a réplica da autenticidade: A TFP sem segredos”:
“Cet animal est très méchant; quand on l’attaque il se défend” (Este animal é muito mau: quando atacado, ele se defende) – diz uma canção  popular correntemente citada pelos franceses (La Menagère, 1868). Essa a estranha posição de certos críticos da TFP, que acham très méchant que sócios e cooperadores se afastem, por defesa da própria dignidade, dos ambientes em que são vilipendiados de modo desconcertante. Tanto mais desconcertante quando vivemos numa sociedade cada vez mais permissiva, na qual até o direito de cidadania para a homossexualidade encontra apaixonados propugnadores.
Ambientes que chegam a esse extremo não são raros, mas, felizmente, não constituem a regra geral. Sem embargo, ainda há outros fatores que tornam explicável que deles se afastem – em media maior ou menor, segundo as circunstâncias – sócios e cooperadores da TFP. E não só estes, como frequentemente os correspondentes da Sociedade esparsos pelo Brasil, em geral pais e mães de família que, por imperativo de consciência inegavelmente respeitável, intencionam firmemente manter-se na prática dos princípios da Moral tradicional da Igreja.
“Desta prática se afastou gradualmente , no decurso dos últimos vinte ou trinta anos, um impressionante número de ambientes sociais, nos quais os temas das conversas, as liberdades de trato entre os sexos, a televisão ligada de modo incessante, e difundindo tantas e tantas vezes cenas imorais, não podem deixar de entrar em dissonância profunda com a consciência de católicos não progressistas.
“Tais ambientes, em lugar de se adaptarem, na medida do necessário, às convicções e à sensibilidade moral dos católicos não progressistas, mantém em presença destes exatamente  o mesmo “tônus” em vigor se estes estivessem ausentes.
“Isto equivale a lhes dizer: “Vocês são uns atrasados, de idéias estreitas e modo de ser antipático. Para vocês, só há cidadania entre nós se consentirem em calcar aos pés os princípios morais que professam”.
“’Acolhidos’ assim, que podem fazer os católicos não aggionartti pelo progressismo?
“- Romper com a própria consciência? – Sofreriam merecidamente o desprezo mudo daqueles mesmos ante quem capitulassem.
“ – Protestar? – Desencadeariam com isto a indignação irada dos dominadores do ambiente, de onde se seguiriam discussões e rupturas. E, paradoxalmente, a fama de intolerantes ainda recairia sobre aqueles que o despotismo do espírito moderno não havia tolerado.
“ – Retirar-se? – Os arautos desse mesmo espírito os acusariam de ‘esquisitos’.
“Resultado dessa situação é que, em certo número de vezes, o melhor para o católico não aggionarto consista mesmo em manter-se à distância.
“Tudo quanto acaba de ser dito aqui, poucos têm a coragem de o afirmar em letra de forma, com tanta franqueza e tantos pormenores.
“Mas, de uma vez por todas, era preciso que fosse dito. E dito fica.” (PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA, op. cit. Ed. Vera Cruz, S. Paulo, 1985,pp. 105 a 107).



(Texto extraído da obra “A TFP: UMA VOCAÇÃO, TFP E FAMÍLIAS, TFP E FAMÍLIAS NA CRISE ESPIRITUAL E TEMPORAL DO SÉCULO XX” – de João S. Clá Dias - Artpress – Papéis e Artes Gráficas Ltda, S. Paulo, fevereiro de 1986, vol. I, págs. XI/XXI do Prefácio, de autoria de Plínio Corrêa de Oliveira).



NOTAS
[1] Mt XII, 30
[2] Na alocução “Resistite fortes in fide”, de 19 de junho de 1972, Paulo VI afirma; (as palavras textuais do Pontífice são as citadas entre aspas no resumo da Alocução apresentado pela Poliglota): Referindo-se à situação da Igreja de hoje, o Santo Padre afirma ter a sensação de que “por alguma fissura tenha entrado a fumaça de Satanás no templo de Deus”.  Há a dúvida, a incerteza, o complexo dos problemas, a inquietação, a insatisfação, o confronto. Não se confia mais na Igreja; confia-se no primeiro profeta profano (estranho à Igreja) que venha falar, por meio de algum jornal ou movimento social, a fim de correr atrás dele e perguntar-lhe se tem a fórmula da verdadeira vida. E não nos damos conta de já a possuirmos e sermos mestre dela. Entrou a dúvida em nossas consciências, e entrou por janelas que deviam estar abertas à luz. Da ciência, que é feita para nos oferecer verdades que não afastam de Deus, mas nos fazem procurá-lo ainda mais, e ainda mais intensamente glorifica-lo, veio pelo contrário a crítica, veio a dúvida. Os cientistas são aqueles que mais pensada e dolorosamente curvam a fronte. E acabam por revelar: “Não sei, não sabemos, não podemos saber”. A escola torna-se um local de prática da confusão e de contradições, às vezes absurdas. Celebra-se o progresso para melhor poder demoli-lo com as mais estranhas e radicais revoluções, para negar tudo aquilo que se conquistou, para voltar a ser primitivos, depois de ter exaltado tanto os progressos do mundo moderno.
Também na Igreja reina este estado de incerteza. Acreditava-se que, depois do Concílio, viria um dia ensolarado para  História da Igreja. Veio, pelo contrário, um dia cheio de nuvens, de tempestade, de escuridão, de indagação, de incerteza. Pregamos o ecumenismo, e nos afastamos sempre mais uns dos outros. Procuramos cavar abismos, em vez de soterrá-los.
Como aconteceu isto? O Papa confia aos presentes um pensamento seu: o de que tenha havido a intervenção de um poder adverso. O seu nome é diabo, este misteriosos ser a que também alude São Paulo em sua Epístola (que o Pontífice comenta na Alocução).Tantas vezes, por outro lado, retorna no Evangelho, nos próprios lábios de Cristo, a menção a este inimigo dos homens. “Cremos – observa o Santo Padre – que alguma coisa de preternatural veio ao mundo justamente paraa perturbar, para sufocar os frutos do Concílio Ecumênico, e para impedir que a Igreja prorrompesse num hino de alegria por ter readquirido a plenitude da consciência de si”. (Insegnamenti de Paulo VI, Tipografia Poliglota Vaticana, vol. X, pp. 707 a 709).
[3] Em Alocução aos alunos do Seminário Lombardo, em 7 de dezembro de 1968, disse Paulo VI:  “A Igreja atravessa hoje um momento de inquietude. Alguns praticam a autocrítica, dir-se-ia até a autodemolição. É como uma perturbação interior, aguda e complexa, que ninguém teria esperado depois do Concílio. Pensava-se num florescimento, numa expansão serena dos conceitos amadurecidos na grande assembleia conciliar. Mas posto que ‘bonum ex integra causa, malum ex quocumque defectu’, fixa-se a atenção mais especialmente sobre o aspecto doloroso. A Igreja é golpeada também pelos que dela fazem parte. (Insegnamenti di Paolo VI, Tipografia Poliglota Vaticana, vol. VI, p. 118 – as palavras não são textuais do Pontífice e sim do resumo que delas apresenta a Poliglota Vaticana)
[4] Em Alocução de 6 de fevereiro de 1981, aos Religiosos e Sacerdotes participantes do I Congresso nacional italiano sobre o tema Missões ao povo para os anos 80, João Paulo II assim descreve a desolação hoje reinante na Igreja: “É necessário admitir realisticamente e com profunda e sentida sensibilidade que os cristãos hoje, em grande parte, sentem-se pedidos, confusos, perplexos e até desiludidos: foram divulgadas prodigamente ideias contrastantes com a Verdade revelada e desde sempre ensinada; foram difundidas verdadeiras heresias, no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões e rebeliões; alterou-se até a Liturgia; imersos no ‘relativismo’ intelectual  moral e por conseguinte no permissivismo, os cristãos são tentados pelo ateísmo, pelo agnosticismo, pelo iluminismo vagamente moralista, por um cristianismo sociológico, sem dogmas definidos e sem moral objetiva” (L’Osservatore Romano, 7-2-81).
[5] A corrupção era grande em Roma. Adriano VI não só apontava os males da Igreja, mas desejava uma reforma profunda que sanasse esses males, tendo-a começado por cima com decidida resolução.
Onde lhe foi possível, se opôs à acumulação de benefícios, proibiu toda a espécie de simonia, e velou solicitamente pela eleição de pessoas dignas para os cargos eclesiásticos, conseguindo as mais exatas informações sobre a idade, os costumes e a instrução dos candidatos, lutando com inexorável vigor contra os defeitos morais.
Com a radical reforma da Cúria Romana, empreendida por Adriano VI, não queria somente este nobre Papa pôr fim ao estado de coisas que lhe causava tão viva repugnância; mas esperava também, por este meio, tirar aos Estados alemães o pretexto para a sua apostasia de Roma, (Cfr. LUDOVICO PASTOR, História dos Papas, tomo IV, vol. IX).
[6] LUDOVICO PASTOR,”História de los Papas”, Editorial Gustavo Gili, Barcelona, 1952, Tomo IV, vol. IX, pp. 107 a 109 / Imprima-se: El Vicario General José Palmarola, por mandato de Su Señoria, Lic. Salvador Carreras, Pbro., Scrio, Canc. – OS NEGRITOS não constam no original.
[7] Mons. Gaillot, Arcebispo de Evreux, concedeu entrevista a “L’Evénement du Jeudi” nos seguintes termos:
-“Suponho que o Sr. Não tenha ainda visto o filme “Je vous salue Marie”, de Jean-Luc Godadar.
- “Não, mas tenho desejo de vê-lo!”
- “A censura incide sobre esse filme porque nele se apresenta a Virgem nua. A interdição lhe parece legítima?
- “Eu tenho pouco desejo de que ele seja interditado. Dada a qualidade do cinema de Godard, parece-me interessante que ele tente exprimir o “Mistério” na sua arte. Eu não vi o filme, mas a priori não gostaria que ele fosse interditado nem que se fizesse uma gritaria escandalosa em torno dele”.
Cfr. Ainda o artigo “Escândalo na França: filme blasfemo elogiado até pelos que o deveriam imputnar”, publicado em “Catolicismo”, de maio de 1985.
[8] Vejam-se, a esse respeito, as seguintes frases de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. Se vós fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque vós não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do meio do mundo, por isso o mundo vos aborrece. Lembrai-vos daquela palavra que Eu vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se eles me perseguiram a Mim, também vos hão de perseguir a vós; se eles guardaram a minha palavra, também hão de guardar a vossa”  (Jo XV, 18-20).
“Eu disse-vos estas coisas para que vos não escandalizeis. Lançar-vos-ão fora das sinagogas; e virá tempo em que todo o que vos matar, julgar prestar serviço a Deus’ (Jo XVI, 1-2).
Veja-se, ainda, este trecho do célebre “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de São Luís Maria Grignion de Montfort. Nele o grande apóstolo marial comenta as palavras do Gênesis: “Inimicitias ponam inter te et mulierem, et semen tuum et semen illius; ipsa conteret caput tuum, et tu insidiaberis calcâneo eius” (Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar” (Gn III, 15).
“Uma única inimizade Deus promoveu e estabeleceu, inimizade irreconciliável, que não só há de durar, mas aumentar até ao fim: a inimizade entre Maria, sua digna Mãe, e o demônio; entre os filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e sequazes de Lúcifer; de modo que Maria é a mais terrível inimiga que Deus armou contra o demônio. (...)
“Deus não pôs somente inimizade, mas inimizades, e não somente entre Maria e o demônio, mas também entre a posteridade da Santíssima Virgem e a posteridade do demônio. Quer dizer, Deus estabeleceu inimizades, antipatias e ódios secretos entre os verdadeiros filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e escravos do demônio. Não há entre eles a menor sombra de amor, nem correspondência íntima existe entre uns e outros. Os filhos de Belial, os escravos de Satã, os amigos do mundo (pois é a mesma coisa) sempre perseguiram até hoje e perseguirão no futuro aqueles que pertencem à Santíssima Virgem, como outrora Caim perseguiu seu irmão Abel, e Esaú, seu irmão Jacob, figurando os réprobos e os predestinados. Mas a humilde Maria será sempre vitoriosa na luta contra esse orgulhoso, e tão grande será a vitória final que ela chegará ao ponto de esmagar-lhe a cabeça, sede do orgulho”. (São Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, Vozes, Petrópolis, 7ª ed. pp. 54 a 57 / Imprimatur: por comissão especial do Exmo. E Revmo. Sr. Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra, Bispo de Petrópolis, Frei Desidério Kalverkamp, OFM, Petrópolis, 16-1-61).

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