quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Bom Jesus atrai 300 mil romeiros no sertão da Bahia
Bom Jesus da Lapa. Este nome evoca um dos santuários mais concorridos do mundo, situado em pleno sertão baiano. Segundo informa a própria imprensa, é o terceiro do Brasil em afluência de público (só perde para o Círio de Nazaré, em Belém, e Aparecida, em São Paulo). Em 1937 o Capelão daquele santuário, Pe. Turíbio Villanova Segura, espanhol, publicou interessante relato histórico sobre a gruta e o sacerdote que fundou aquela romaria, Pe. Francisco Mendonça Mar, ou Francisco da Soledade.
Assim descreve o padre Segura a localização do povoado e da gruta:
“A povoação está situada na margem direita do Rio São Francisco, a leste da capital do Estado da Bahia, a três léguas acima da foz do Rio Correntes. Dista pelo este 74 km da Vila do Riacho de Santa Ana, 82 da cidade de Rio Branco, pelo norte; 136, pelo sul, de Carinhanha; e 114, pelo oeste, de Santa Maria da Vitória. 1324 km separam-na da capital da Bahia, por Joazeiro, donde dista 749 km. Para chegar a Pirapora, estação terminal da Estrada de Ferro Central do Brasil, e base da Navegação Mineira do São Francisco, é preciso percorrer 622 km em vapor, o que demora de cinco a sete dias, subindo, e três a cinco, descendo. Quando chegará o dia em que estas distâncias possam vencer-se com facilidade, em breve espaço de tempo, em possantes máquinas aéreas? Para estas regiões do sertão, em que a densidade da população é tão baixa e as distâncias enormes, é indicadíssimo o avião, como meio rápido de locomoção”. Hoje, como desejava o padre Segura, as facilidades de transportes já permitem que multidões cada vez maiores freqüentem aquele Santuário. Segundo aquele pesquisador a região da Lapa anteriormente era habitada por uma tribo chamada “acoroaces” (ou coroados) da família dos Gês (ou tapuias). Levanta a hipótese daquela gruta haver sido habitada em tempos pré-históricos, mas de uma forma temporária, pois as cheias periódicas do Rio São Francisco ultrapassavam a altura da mesma levando para seu interior camadas de barro e lama. Informa que a tradição diz que o primeiro a avistar aquela gruta foi Duarte Coelho, o donatário da Capitania de Pernambuco, em viagens de exploração pelo rio, entre os anos de 1543 e 1550. Outros personagens importantes de nossa História a visitaram posteriormente, como Belchior Dias Moreira, “o Muribeca” (que deixou registrado sua passagem com inscrição feita na pedra).
No final do século XVII surgiu então o ermitão Francisco Mendonça Mar. Tinha vindo de Portugal para o Brasil juntamente com um amigo4 e, em meio à viagem, quando corriam risco de vida por causa de uma tempestade, fizeram ambos uma promessa: se chegassem vivos à Salvador se dedicariam á vida religiosa, um entraria na Ordem Franciscana e o outro iria para o interior pregar missões e levar vida eremítica. Escaparam e, no sorteio, coube a Mendonça Mar ir para o sertão e seu amigo foi ser monge franciscano num convento próximo a Salvador, exatamente o mesmo onde professou por algum tempo o famoso pernambucano Frei Jaboatão. Em sua obra “O Novo Ordo Seráfico”, frei Jaboatão faz referências aos dois religiosos.
Antes de chegar à gruta atual, Francisco Mendonça Mar peregrinou por várias outras localidades que margeavam o rio São Francisco: levava consigo uma riquíssima imagem do Bom Jesus, um primoroso crucifixo que trouxera de Portugal, e de Nossa Senhora da Soledade. Junto à gruta o monge eremita construiu um asilo-hospital destinado aos doentes pobres que procuravam auxílio. Segundo o padre Segura, no ano de 1750 (27 anos após a morte do “monge da gruta”) o arraial já possuía uns cinqüentas casebres, de barro com teto de palha. Um século depois já se contavam 128 casas na localidade. No início do século XVIII, pelo ano de 1702, havia chegado à Bahia o bispo Dom Sebastião Monteiro da Vide, o qual realizou importante trabalho cultural e religioso no Brasil. Sabedor da fama do monge, chama-o à Capital e o estimula e receber as ordens sacerdotais, necessárias a fazer na região um trabalho religioso mais completo. Não só conseguiu ordená-lo sacerdote, mas encomendou a um historiador espanhol que colhesse dados sobre a vida dele e de seu amigo com vistas à documentação. Assim, no ano de 1722 era publicado tal relato histórico no livro “Santuário Mariano e história das imagens milagrosas de Nossa Senhora”, escrito por Frei Agostinho de Santa Maria. A única menção sobre a morte do padre Mendonça Mar, no livro do padre Segura, é esta: “em 1723 morreu santamente”. É claro que o autor faz conjecturas sobre a possível doença que o levou a morte, talvez a febre do impaludismo, muito comum na região, mas nada documentado. E a gruta transformada em Santuário? Ao longo dos anos foi aumentando a concorrência de romeiros e peregrinos, até que no início do século XX ocorreu um fato insólito: o incêndio da gruta, ocorrido em maio de 1903. Há suspeitas de que o mesmo tenha sido proposital, pois coincidiu com a chegada de alguns protestantes à localidade exatamente no dia anterior. De qualquer modo, foi providencial: o incêndio fez desabar o teto de pedras que havia por dentro da montanha, revelando outra gruta bem maior do que a primitiva. A imagem original de Nossa Senhora da Soledade foi destruída pelas chamas, mas ficou intacta (com algumas chamuscaduras) a do Bom Jesus, que é venerada até hoje. Hoje, quem visitar o Santuário de Bom Jesus da Lapa pode verificar que a entrada é feita por intermédio de uma pequena gruta (a antiga, descoberta pelo Francisco da Soledade) e ao penetrar no interior da montanha vai ver a outra imensa gruta (descoberta com o incêndio).
Abaixo, vídeo mostrando aspecto da procissão ocorrida em agosto do ano passado.
HINO DE BOM JESUS DA LAPA
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