Algumas das teses do filósofo de esquerda americano (uma espécie de “esquerda de frases de efeito”) Noam Chomsky sobre o papel da mídia nos dias hoje realmente são interessantes e cabíveis, outras duvidáveis; no entanto, vale a pena elencar algumas delas, como as citadas abaixo.
O ponto de vista do filósofo é sempre baseado na crítica da burguesia e seus instrumentos de dominação, como é o caso da mídia. Os aspectos psicológicos, éticos e até mesmo conspiratórios não são por ele analisados. Apesar do último caso de Murdoch, em Londres, quase ninguém fala sobre esse último aspecto. É claro que não se deve cair no exagero da “teoria da conspiração”, título de um filme de Mel Gibson e que criou sucesso entre as redes sociais imaginando conspiração em tudo.
Como se sabe. o magnata Rupert Murdoch disse ao parlamento britânico que não era o responsável pelo escândalo das escutas telefônicas ilegais feitas por seu jornal News of the World. No entanto, o que não ficou bem claro é que nem sempre é o dono quem dá a tônica dos jornais, pois eles apenas dirigem os negócios financeiras da empresa jornalística, enquanto os editores é que fazem a manipulação da opinião pública. Tanto nos jornais quanto nas emissoras de rádio e TV, quem realmente manda na forma de usar o sagrado direito de liberdade de expressão são os jornalistas.
Eis algumas das teses de Noam Chomsky:
A estratégia da distração (que eu chamaria de “cortina de fumaça”)
“O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas.
A técnica é a do dilúvio ou inundação de contínuas distrações e de informações sem importância.
A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética.
Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, atraída por temas sem importância real”.
Utilizar o aspecto emocional muito mais que a reflexão
"Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para curto-circuitar a análise racional, e neutralizar o sentido critico dos indivíduos.
Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir a determinados comportamentos".
Estimular o público a ser complacente com a mediocridade
"Fazer crer ao povo que está na moda a vulgaridade, a incultura, o ser mal falado ou admirar personagens sem talento ou mérito algum, o desprezo ao intelectual, o exagero do culto ao corpo e a desvalorização do espírito de sacrifício e do esforço pessoal."
O Papel da ética e da moral
A meu ver, os aspectos éticos são mais importantes. Vocês já perceberam que em quase toda notícia de um assalto o repórter sempre termina ressaltando... “o bandido até agora não foi preso”, ou então, que o ato de violência foi realizado bem perto de algum destacamento ou delegacia policial? Qual a razão dessa ênfase? É para criar descrédito nas instituições. Geralmente as notícias de caráter político também vão nessa linha. Se isso é feito de forma generalizada na imprensa não significa o propósito de criar uma comoção social, de revolta e de desejo de vingança, por exemplo, quando os crimes ficam impunes? Há ainda outro aspecto: a exposição da boa fama e da moral de pessoas perante o público, como ocorreu com a Escola de Base de São Paulo, simplesmente porque o que lhes importa é a audiência.
Uma onda recente que invade os canais de TV em todo o Brasil, cujo programa-modelo pode ser o que é dirigido pelo jornalista Datena da Band: violências, escândalos e sensacionalismos, com o intuito aparente de se defender o público das coisas erradas que ocorrem no país. O jornalista e seu canal funcionaria como o verdadeiro paladino em defesa da população. Há muita notícia que ninguém necessita de saber, como a do namorado que mata a namorada e depois se suicida, a do ladrão que executa a vítima depois do assalto, a do policial corrupto que recebe propina para soltar um bandido, etc. No caso de denúncias do tipo corrupção há um batalhão de repórteres espalhados pelo Brasil com câmaras e microfones escondidos a fim de revelar segredos, muitos dos quais de nada servem para a população serem ou não revelados. O normal seria que esses assuntos ficassem restritos aos canais competentes, ou seja, a polícia e a justiça. E não pensem que o problema se circunscreve ao Brasil: recentemente, na Espanha, um jornalista ganhou um prêmio, concedido a reportagens feitas exatamente no mesmo feitio das citadas acima – são chamadas “reportagens investigativas” ou coisa que o valha. Em toda essa onda uma coisa fica patente: cada vez mais a população vai perdendo a esperança nas instituições, nas pessoas, nos poderes, enfim, em tudo, e se cria a impressão de que tudo está perdido, o único caminho daqui pra frente é o do desespero, da revolta, da indignação...
Técnica da “cortina de fumaça”
Na manipulação da opinião pública, tão volúvel e manipulável que ela é nos dias de hoje, acho que estão se utilizando no Brasil de uma técnica que eu denominaria de “cortina de fumaça”. Um público não afeito à reflexão, sujeito aos impulsos da mídia eletrônica e imediatista, fica muito fácil de ser manipulado para desígnios escusos.
No que consiste a “cortina de fumaça”? Consiste em chamar a atenção do público para um tema e com isso proteger a imagem de algumas personalidades, deixadas em segundo plano. Como assim? Vejamos.
Vou começar por relatar os últimos casos que andei analisando. Desde que a presidente Dilma assumiu a presidência começaram a explodir denúncias contra seus ministros, dando a clara impressão de que se trata de coisa orquestrada. Quer dizer, orquestrada pela mídia. As denúncias e o desenrolar delas cansam o público de tão repetitivas e monótonas. Todo dia a mesma coisa: “o ministro viajou no avião pago por um empresário”, “o ministro mentiu”, “o ministro diz que ninguém prova que é corrupto...”, etc., etc. Isso não se parece com o denuncismo anterior, desde aqueles contra Sarney, ou contra o deputado que pagava a pensão da amante com o dinheiro de uma empresa? Estas eram do tempo de Lula, mas agora mesmo estando em “novo” governo, elas seguem o mesmo esquema.
Algumas revistas, como a “Veja” e “Istoé”, arvoraram-se a si o papel de fiscais de moral pública e se aplicam religiosamente ao denuncismo profissional. Dizem eles que faz parte da tão decantada “liberdade de expressão” acusar, denunciar, fazer o papel de ministério público e levar as pessoas às barras dos tribunais. Inclusive se orgulham de com isso estar prestando inestimável e louvável serviço à sociedade, a qual pareceria desamparada não fosse essa mídia acusatória. Considero o papel da imprensa nesse caso (toda a mídia, escrita, falada ou televisiva) como se fosse um pau de mexer em estercos: as fezes estão como que escondidas, mas o pau da mídia mexe nelas para que se sinta seu mau cheiro, sem, no entanto, aplicar nenhum desinfetante a fim de acabar com a fedentina.
Em suma: é necessário que a opinião pública esteja sendo sempre sacudida com escândalos contra o governo e as instituições sociais, pois isso faz parte da técnica de causar desilusão e frustração no público, mas é preciso que os alvos sejam pessoas específicas que giram em torno do (ou da) presidente, ou da personalidade que se quer ocultar, sem que atinja a autoridade (ou a imagem) que se quer proteger. Na hora que o escândalo estoura, a presidente (ou antes, o presidente) aparece simplesmente como juiz ou como autoridade séria e proba, ás vezes até “punindo” o culpado, mas não transparecendo que arranhe sua moral ou sua imagem perante o público.
E a mídia tem cumprido religiosamente seu papel. E repetem as fofocas contra os ministros em queda livre de forma até cansativa. O último foi o da pasta da Trabalho, e sou capaz de apostar que (logo que ele caia) não demorará uma semana para aparecer outro escândalo com outro membro do governo. Menos com Dilma, é claro.
Depois que o sujeito cai, seu nome sai do noticiário. Ninguém fala mais dos ministros defenestrados nos últimos meses do governo Dilma. Por que? Porque só se falava deles quando estavam no cargo e por causa dos escândalos, pois assim se desmoralizava a autoridade do governo enquanto tal, mas a imagem da pessoa que se queria proteger ficava incólume. Dilma nunca teve seu nome ligado a nenhum comentário desmerecedor que saía ou sai na mídia. Continua tão intocável quanto Lula.
Mas isso não ocorre somente no Brasil, pois na Espanha, apesar do grande fracasso do governo socialista de Zapatero, as notícias nunca o atingem mas somente seus ministros ou colaboradores mais próximos. Ou seja, a mídia é a mesma em toda parte, sempre protegendo as esquerdas.
Isso não é verdadeiramente uma coisa orquestrada?
Um comentário:
A humildade é o caminho para Deus.
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