sexta-feira, 27 de junho de 2008

"Caso Lefebvre" ainda indefinido

No próximo dia 30 de junho vai completar 20 anos da data em que o bispo resignatário Marcel Lefebvre consumou seu cisma ao fazer quatro ordenações episcopais, em Econe, na Suíça. Ordenações de bispos são atribuições exclusivas do Papa ou de autoridade episcopal que tenha sido expressamente autorizada pelo mesmo. Apesar do Papa lhe pedir que não o fizesse, o arcebispo rebelde e o bispo brasileiro Antonio de Castro Mayer realizaram a anunciada ordenação. Foram ordenados o suíço Bernard Fellay (que substituiu Lefebvre no cisma), o francês Bernard Tissier de Mallerais, o espanhol Alfonso de Galarreta e o inglês Richard Williamson. Seguiu-se uma série de atos rebeldes dos componentes da “Fraternidade Sacerdotal São Pio X” (FSSPX) (fundada por Lefebvre e que contava com um seminário em Econe), não só com referência aos aspectos litúrgicos mas de ordem hierárquica, com a ordenação de sacerdotes pelos novos “bispos”. Isto fez com que os participantes daquele ato ficassem sujeitos à excomunhão “latae sententiae”.
Dois dias depois daquela ordenação, João Paulo II publica o motu proprio “Ecclesia Dei” em que declara a excomunhão em que incorreram Lefebvre e seus seguidores, convidando todos a se afastarem daquela “Fraternidade”.
Desde o início do cisma a Igreja vem tentando uma volta à Igreja dos rebeldes, tendo criado em 2000 uma Comissão vaticana encarregada de acompanhar o caso, denominada “Pontifícia Comissão Ecclesia Dei”, cujo presidente é o Cardeal Dario Castrillón Hoyos, que na época era Prefeito da Congregação para o Clero.
O bispo que liderou o cisma faleceu em 1991, mas seus seguidores continuaram sua obra de contestação e de rebeldia contra o Papa e a Igreja.
Decorridos vários anos (2006), apenas cinco membros da “Fraternidade Sacerdotal São Pio X” (três sacerdotes e dois seminaristas, todos franceses) a abandonaram, fundando então o “Instituto Bom Pastor”, com a aprovação de Bento XVI. Apesar da linguagem dos cismáticos ter sido sempre ácida e de aberta rebeldia contra a autoridade papal, após a assunção ao pontificado do atual Papa ela tem piorado e se tornado cada vez mais acintosa. O próprio atual dirigente da FSSPX, Bernard Fellay, declarou recentemente que seu grupo está cada vez mais longe de um retorno à uma comunhão com o Vaticano. Nos últimos dias do reinado de João Paulo II chegaram a divulgar uma carta, onde se diz avaliar o pontificado dele como “de uma apostasia silenciosa”. Em resposta, o Cardeal Castrillón disse que os ataques contra o Papa não podem ser justificados sob o manto de “defesa da tradição”.
Uma das exigências dos cismáticos para um retorno à comunhão com a Igreja é que seja levantada a excomunhão que lhes pesa desde 1988. Bento XVI procurou os mesmos e lhes transmitiu que estaria disposto a atender este requisito, desde que o fim fosse “uma perfeita comunhão” da FSSPX com a Igreja. Mas, logo em seguida os lefrebistas passaram a exigir outras cláusulas, como celebrar a liturgia em latim, usando o antigo Ordo, mas principalmente que se declarasse publicamente os erros para eles existentes no Concílio Vaticano II. Esta última exigência, descabida, está entravando o diálogo e a volta deles.
Bernard Fellay declarou em 2007 que a FSSPX exige, para seu retorno, uma mudança nos textos do Concílio Vaticano II e não uma “correta interpretação” como lhe pediu Bento XVI. “Ratzinger – disse ele – deveria preparar-se para uma direta revisão dos textos conciliares e não somente para uma denúncia de sua incorreta hermenêutica”. Mesmo com a promulgação do Motu Proprio “Summorum Pontificum”, que liberou a Missa tridentina em latim em toda a Igreja (um dos motivos da revolta deles foi a missa celebrada em idioma vulgar), recentemente aprovado por Bento XVI, animou os cismáticos para um retorno à paz com o Papado.
Finalmente, no último dia 08 de junho, o Vaticano deu um ultimato a eles, dando-lhes uma data limite para responderem aos apelos do Papa: 28 de junho, véspera da festa dos Apóstolos São Pedro e São Paulo e início do “Ano Paulino”. O Cardeal Castrillón apresentou-lhes cinco condições ou exigências: o compromisso a uma resposta proporcionada à generosidade do Papa; evitar pronunciamentos públicos que desrespeitem a pessoa do Santo Padre; evitar a premissa de um magistério superior ao do Papa; não propor a FSSPX em contraposição à Igreja; e, finalmente, o compromisso por demonstrar a vontade de atuar honestamente na plena caridade eclesial e no respeito e na autoridade do Vigário de Cristo, acatando, inclusive com submissão o cumprimento do prazo dado para resposta e acatamento do presente convite.
O Cardeal Federico Lombardi, diretor de imprensa da Santa Sé, afirmou que estas cinco condições revelam a “mão estendida” de Bento XVI para receber os cismáticos de volta à casa paterna. Esperemo que a resposta de tais cismáticos seja positiva, antes mesmo que se complete o vigésimo aniversário da oficilização do cisma no próximo dia 30.

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