Ó
Senhora Aparecida.
Ao
aproximar-se a data em que completamos um século e meio de existência
independente, nossas almas se elevam até Vós, Rainha e Mãe do Brasil.
Cento
e cinquenta anos de vida são, para um povo, o mesmo que quinze para uma pessoa:
isto é, a transição da adolescência, com sua vitalidade, suas incertezas e suas
esperanças, para a juventude, com seu idealismo, seu arrojo e sua capacidade de
realizar.
Neste
limiar entre duas eras históricas, vamos transpondo também outro marco. Pois
estamos entrando no rol das nações que, por sua importância, determinam o rumo
dos acontecimentos presentes, e têm em suas mãos os fios com que se tece o
futuro dos povos.
AGRADECIMENTO
Neste
momento rico em esperanças e glória, ó Senhora, vimos agradecer-Vos os
benefícios que, Medianeira sempre ouvida, nos obtivestes de Deus onipotente.
Agradecemo-Vos
o território de dimensões continentais, e as riquezas que nele pusestes.
Agradecemo-Vos
a unidade do povo, cuja variegada composição racial tão bem se fundiu neste
grande caudal étnico de origem lusa — e cujo ambiente cultural, inspirado pelo
gênio latino, tão bem assimilou as contribuições trazidas por habitantes de
todas as latitudes.
Agradecemo-Vos
a Fé católica, com a qual fomos galardoados desde o momento bendito da Primeira
Missa.
Agradecemo-Vos
nossa História, serena e harmoniosa, tão mais cheia de cultura, de preces e de
trabalho, do que desavenças e de guerras.
Agradecemo-Vos
nossas guerras justas, iluminadas sempre pela auréola da vitória.
Agradecemo-Vos
nosso presente, tão cheio de realizações e de esperanças de grandeza.
Agradecemo-Vos
as nações deste Continente, que nos destes por vizinhas, e que, irmanadas
conosco na Fé e na raça, na tradição e nas esperanças do porvir, percorrem ao
nosso lado, numa convivência sempre mais íntima, o mesmo caminho de ascensão e
de êxito.
Agradecemo-Vos
nossa índole pacífica e desinteressada, que nos inclina a compreender que a
primeira missão dos grandes é servir, e que nossa grandeza, que desponta, nos
foi dada não só para nosso bem, mas para o de todos.
Agradecemo-Vos
o nos terdes feito chegar a este estágio de nossa História, no momento em que
pelo mundo sopram tempestades, se acumulam problemas, terríveis opções
espreitam, a cada passo, os indivíduos e os povos. Pois esta é, para nós, a
hora de servir ao mundo, realizando a missão cristã das nações jovens deste
hemisfério, chamadas a fazer brilhar, aos olhos do mundo, a verdadeira luz que
as trevas jamais conseguirão apagar.
PRECE
Nossa
oração, Senhora, não é, entretanto, a do fariseu orgulhoso e desleal, lembrado
de suas qualidades, mas esquecido de suas faltas.
Pecamos.
Em muitos aspectos, nosso Brasil de hoje não é o País profundamente cristão com
que sonharam Nóbrega e Anchieta. Na vida pública como na dos indivíduos,
terríveis germes de deterioração se fazem notar que mantêm em sobressalto todos
os espíritos lúcidos e vigilantes.
Por
tudo isto, Senhora, pedimo-Vos perdão.
E,
além do perdão, Vos pedimos forças. Pois sem o auxílio vindo de Vós, nem os
fracos conseguem vencer suas fraquezas, nem os bons alcançam conter a violência
e as tramas dos maus.
Com
o perdão, ó Mãe, pedimo-Vos também a bênção.
Quanto
confiamos nela!
Sabemos
que a bênção da Mãe é preciosa condição para que a prece do filho seja ouvida,
sua alma seja rija e generosa, seu trabalho seja honesto e fecundo, seu lar
seja puro e feliz, suas lutas sejam nobres e meritórias, suas venturas
honradas, e seus infortúnios dignificantes.
Quanto
é rica destes, e de todos os outros dons imagináveis, a Vossa bênção, ó Maria,
que sois a Mãe das mães, a Mãe de todos os homens, a Mãe Virginal do Homem-Deus!
Sim,
ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças, e mais do que todas, concedei-nos
a graça das graças. Ó Mãe, uni intimamente a Vós este Vosso Brasil.
Amai-o
mais e mais.
Tornai
sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos outorgastes.
Tornai
sempre mais largo e mais misericordioso o perdão que sempre nos concedestes.
Aumentai
vossa largueza no que diz respeito aos bens da terra, mas, sobretudo, elevai
nossas almas no desejo dos bens do Céu.
Fazei-nos
sempre mais amantes da paz, e sempre mais fortes na luta pelo Príncipe da Paz,
Jesus Cristo, Filho Vosso e Senhor nosso.
De
sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para lhe sermos fiéis, em nós se
cumpra a promessa divina, do cêntuplo nesta terra e da bem-aventurança eterna.
*
* *
Ó
Senhora Aparecida, Rainha do Brasil! Com
que palavras de louvor e de afeto Vos saudar no fecho desta prece de ação de
graças e súplica? Onde encontrá-las, senão nos próprios Livros Sagrados, já que
sois superior a qualquer louvor humano?
De
Vós exclamava, profeticamente, o povo eleito, palavras que amorosamente aqui
repetimos:
—
“Tu gloria Jerusalem, tu laeticia Israel,
tu honorificentia populi nostro”.
Sois
Vós a glória, Vós a alegria, Vós a honra deste povo que Vos ama.
*
* *
A
perspectiva do sesquicentenário sugeriu esta prece a meu coração de brasileiro.
Resolvi não adiar sua publicação. Espero retomar na próxima semana o assunto
que começara a desenvolver no domingo passado.
(Oração de autoria de Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, publicada no jornal “Folha de São Paulo”, 16 de janeiro de 1972)