sexta-feira, 21 de novembro de 2025

AS PUNHALADAS NUM FUNDADOR

 


Ao longo de sua vida o Dr. Plínio Corrêa de Oliveira trabalhou intensamente fazendo apostolado entre os católicos, tendo sido líder de movimentos como a Ação Católica, diretor de jornais católicos, como o “Legionário”, deputado constitucionalista pela Liga Eleitoral Católica, fundador do jornal “Catolicismo” e a principal alma do movimento que ele chamava de “grupo”: primeiramente, o “Grupo do Plínio”, depois o “Grupo do Catolicismo” e, posteriormente, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que alguns chamavam de "Grupo da TFP", atuante em mais de 20 países até o dia de seu falecimento. O “Grupo” por ele fundado foi mais longe e criou uma instituição internacional denominada “Arautos do Evangelho”, aprovada oficialmente pela Igreja e hoje atuante em mais de 80 países.

Verificou-se que, apesar de tudo, em toda a sua vida este foi um homem que viveu em quase total isolamento. Até mesmo alguns de seus discípulos e correligionários, em vários momentos, o traíram. Não ocorre diferente com seu sucessor, Monsenhor João Scognamíglio Clá Dias, cuja atuação fenomenal entre os católicos obteve traições tão clamorosas entre alguns ex membros e atuais desafetos que serviu até para fortalecer a ação de inimigos irreconciliáveis, possibilitando inclusive o tão falado Comissariado, criado em 2017, objeto de volumoso levantamento publicado no livro “O COMISSARIADO DOS ARAUTOS DO EVANGELHO – Crônica dos Fatos – 2017-2025 – PUNIDOS SEM DIÁLOGO, SEM PROVAS, SEM DEFESA”.

Vejamos alguns fatos não relatados naquela obra.

 

A)          ASPECTOS POUCO FALADOS DA DIVISÃO

 Após a morte do Sr. Dr. Plínio, em 1995, o apostolado que ele desenvolvia tomou novos rumos, uma graça nova começou a surgir e o Sr. João Clá assumia aos poucos a direção de todo o Movimento. Os chamados provectos, membros do grupo da Martim Francisco resolveram, inopinadamente, fazer internamente uma campanha contra tudo o que fazia o Sr. João Clá, chegando ao cúmulo de perseguir e até expulsar vários membros que estavam no apostolado há muitos anos e eram fiéis ao Fundador. Vou descrever aquilo que conheço mais de perto, isto é, fui testemunha na época.

Em Salvador, eles ordenaram que o encarregado, Sr. Isoldino, entregasse a casa da sede juntamente com alguns pertences e até veículos. Até um “fusca”, que era propriedade particular do Sr. Isoldino, mas ele o havia transferido para a TFP, foi vendido juntamente com uma van, uma Kombi e, se não me engano, uma ou duas motos. O que antes era usado para fazer apostolado foi transformado agora em dinheiro, e nada mais. Quanto à casa sede, havia ela sido comprada por um provecto, não pertencente ao grupo da Martim, mas antigo companheiro de lutas do Sr. Dr. Plínio. A compra havia sido feita a pedido do Sr. Dr. Plínio, mas o comprador exigiu que os Correspondentes entrassem com 10% do valor, enquanto a escritura era lavrada só em nome dele, que passou a ser único proprietário legal. Juntamos nossas poucas economias, eu, Dr. Renato, Sr. Lobo, Sr. Jessé, (e alguns outros veteranos da Bahia, talvez uns 10 ou mais), e resolvemos entrar com nossa parte para a casa ser comprada. Pois bem, a casa (na época da divisão) teve que ser desocupada, tendo o encarregado ido para outra juntamente com os rapazes que lhe acompanhavam a anos. Para morar na antiga casa vieram duas ou três pessoas de São Paulo, mas não faziam apostolado, talvez apenas resolvessem problemas financeiros. Soube que andaram levando a imagem peregrina de Nossa Senhora a algumas residências, mas sempre para pedir dinheiro. O justo seria que o proprietário devolvesse os 10% que os correspondentes lhe deram para ajudar a comprar a casa, mas nunca se cogitou disso.

Esta situação de Salvador mostra bem o que deve ter ocorrido no resto do Brasil, especialmente na sede de Jasna Gora, em São Paulo, de onde foi expulso o Sr. Ramon Leon. A casa também havia sido comprada por doações de vários correspondentes, numa campanha de arrecadação feita na época pelo Sr. Acúrcio Batista Torres. Após os provectos assumir aquela enorme casa, de lá foram expulsos os discípulos do Sr. João.

Quando os acontecimentos encontravam-se no auge, em torno do final de 1997, sabedor dos rumos que poderia tomar a Causa do Sr. Dr. Plínio, elaborei o texto abaixo e o enviei para São Paulo, se não me engano, para o próprio Sr. João Clá..

Socorro! Que assassinam nosso irmão! Socorro que apunhalam nosso bom pai!

Os fatos que ultimamente vêm acontecendo, mais ou menos a partir de outubro de 1995, têm causado as impressões e reações as mais divergentes em nossa imensa família de almas. Logo após o falecimento do SDP começaram a se manifestar os pruridos de inquietação naqueles que viviam insatisfeitos com o espírito do Fundador e desejam a tudo custo impor aos demais seus modos de pensar e de viver. E isto passou a ser feito com tanta ansiedade que degenerou nas descabidas medidas draconianas e persecutórias contra seus próprios irmãos de ideal, tão contrárias aos desejos de NPF. Tais medidas deram ensejo a uma justa ação judicial para defesa dos direitos tão injustamente açambarcados pelos mais velhos da Martim.

Que impressão tudo isto vem causando nos espíritos, tanto nos mais clarividentes e lúcidos quanto naqueles confusos e indecisos? Que reações tais espíritos são chamados a ter em vista dos fatos que quotidianamente lhes afetam?

Para os apóstolos, os eremitas, os camaldulenses e muitos outros sócios ou cooperadores, que acompanham mais de perto os fatos ou são tolhidos por eles, os primeiros instantes de pasmo e perplexidade deram lugar a reações as mais variadas, indo da simples indignação até ao revide tempestivo. Face ao acúmulo e à gravidade das difamações e calúnias lançadas em borbotões contra o nosso queridíssimo Sr. João, aprestaram-se todos aqueles que ainda permanecem fieis ao Fundador e ao mandato apostólico legado por ele, aprestaram-se todos eles em procurar defender a honra e a boa fama maculadas de um cristão autêntico, de um católico apostólico íntegro. Afora os que, como o próprio Sr. João, o Sr. Átila e o Sr. Ramon, defenderam-se a si mesmos de calúnias, de ameaças, de medidas injustas, etc. E para o mister tiveram que se  arrimar em maçudos estudos documentados, elaborando exaustivos trabalhos contendo centenas de páginas, onde se descrevem detalhadamente os fatos e se procuram com lógica e farta documentação desfazer as intrigas, as calúnias, as aleivosias, as contumélias, os sussurros, as murmurações lançadas contra nossos irmãos de ideal.

Para os que leram aquela documentação, principalmente os que ainda estão dotados de bom espírito, não restam dúvidas: estamos em face, realmente, de uma trama de autodemolição do Apostolado que o SDP formou tão arduamente durante mais de 7 décadas! Trata-se de um trabalho idêntico ao que fizeram os autodemolidores da Igreja, destruindo-A por dentro e sem quererem d’Ela sair. Era o que o SDP mais temia. Numa das últimas reuniões para Correspondentes e Esclarecedores, ao ser indagado se temia a destruição da TFP, respondeu que não temia muito as investidas de fora, mas que as internas, uma espécie de autodemolição, era o que mais temia. Temia porque sabia ser o método mais eficaz do demônio investir contra a sua Obra.

A maioria dos Correspondentes e Esclarecedores talvez não dispõe de tempo ou de aptidão para ler os documentos já divulgados internamente e assim fazer seu juízo sobre as questões levantadas. Alguns porque não têm naturalmente apetência para leituras mais longas; outros porque seus afazeres os tolhem de tal forma que só lhes permitem fazer leituras curtas. É assim a média do público leitor brasileiro. Desta forma, muitas pessoas se informam dos fatos com aqueles amigos mais próximos em seu círculo íntimo. Casos se contam alhures de visitas e telefonemas com o fim único de tratar do assunto. Alguns com o benéfico propósito de esclarecer, mas outros com a maligna intenção de caluniar e aumentar a confusão nas mentes e nas almas. E aí as versões correm ou chegam aos ouvidos, de uma forma ou de outra, sem que se consiga penetrar mais profundamente no âmago da questão. E os ventos continuam levando as calúnias e difamações aos quatro cantos da terra.

Que dizer de tudo isto? A Sagrada Escritura diz que não se deve falar mal dos governantes. “Não digas mal do monarca, ainda no teu pensamento... porque as aves do céu levarão a tua voz e os pássaros publicarão tuas palavras” (Eclesiastes 10, 20). E por monarca e governante entende-se não só aqueles que dirigem as nações, mas todos os que receberam a missão de dirigir pessoas e almas. É assim que se pode interpretar que o Venerável Holzhausen se refere ao SDP quando fala do Grande Monarca que há de vir para restaurar a Igreja. E que quer dizer “aves do céu” ou “pássaros”? Como se trata de levar más notícias, de um trabalho maligno, considera-se que tais aves seriam as línguas maledicentes que se contentam em espalhar e propagar vícios e pecados. Quer dizer, tratar-se-ia de aves malignas, aquelas que trabalham com o solerte espírito maligno e têm interesse em espalhar má fama dos governantes. Por que? Porque a Revolução necessita que os governados, discípulos ou filhos, percam a veneração, a admiração e o encanto que nutem por seus superiores, e passem a propagar certos defeitos, supostos ou não, divulgando vícios em vez de virtudes.

Nos episódios que nos afetam diretamente, a intenção das aves malignas é espalhar ao máximo calúnias e difamações contra o nosso querido Sr. João Clá, ou contra aqueles que se mantêm fiéis ao espírito do Fundador, maculando assim a honra e a boa fama de bons e exemplares filhos do SDP.

Ora, quando se tem notícias de fatos que possam macular a honra e a boa fama de um dirigente, principalmente de quem dirige almas, a caridade cristã manda que não se dê publicidade a tais fatos. Pois os mesmos não edificariam as pessoas dirigidas, mas causariam escândalo e prejudicariam a formação moral daquelas pessoas. Temos certeza de que se o SDP, ou mesmo o próprio Sr. João Clá, soubesse de fatos desabonadores do Sr. Luizinho, por exemplo de que estaria “fassurando”, com toda certeza nada comentaria a ninguém, preferindo calar e rezar pela alma dele. Por que? Porque tratando-se de pessoas que têm representação, aqueles fatos desabonadores não edificariam as pessoas em sua volta.

Que fatos desedificantes a respeito do Sr. João Clá o pessoal ligado aos chamados provectos divulgaram, esfregando as mãos de contentamento, como a dizer “vocês viram como ele está fassurando?” Os rumores, as insinuações maldosas, as calúnias e aleivosias divulgadas em Cardoso Moreira, em Spring Grove e pelo Sr. JAU edificaram ou causaram escândalos?

Qualquer tratado de moral nos leva a classificar com perfeição todos os pecados cometidos por essas pessoas. Nas defesas feitas pelo Sr, Ramon Leon (“Quia Nominor Provectus”) e pelos eremitas do São Bento (“E Mons. Lefebvre não morreu...”) vê-se, pela abundante documentação apresentada, que os membros da Martim cometem claramente pecados públicos clamorosos, como traição, calúnias, detrações, perseguições em nome de sua suposta “autoridade”, etc.

Nas páginas de números 149 a 172 da defesa do Sr. Ramon Leon consta vários textos tirados de reuniões em que o SDP analisa o grupo da Martim, de onde se conclui que eram possuídos de mundanismos, concepção errada da aristocracia e da nobreza do Fundador, falta de chama e de impulso, incapacidade para liderança interna, desintelectualização, rejeição da RCR, egocentrismo, quebra da vontade, falta de ascese, admiração pelo dinheiro, recusa da liderança do SDP porque não era rico, completa falta de seriedade etc. etc. O Sr. Átila em sua defesa, narra fatos que caracterizam claramente ter havido, nas últimas atitudes deles, casos de:

- “.. generalizações excessivas e as precipitações”  (pág. 154);

- “.. mediocridade – diminui desmesuradamente os planos de Doutor Plínio -, e a pusilanimidade – a obstinação em não enfrentar o inimigo claramente descrito por Doutor Plínio”  (pág. 154);

- “...suspeita de pusilanimidade ao defender a posição de “resistência passiva” como sendo o ideal da TFP. Houve suspeita de cumplicidade com os inimigos da Igreja...” (pág. 155);

- “o depoente (Nelson Fragelli) é réu de perjúrio e de pecado contra o segundo Mandamento (pág. 156);

- “réu de má fé” (pág. 157);

- Isto posto, além dessas conclusões, projeta-se sobre o Dr. Plínio Xavier e, de certa forma, sobre os demais membros da Diretoria, uma grave suspeita sobre a honestidade de propósitos que confessam. Com as inevitáveis consequências que daí decorrem em relação à violação dos preceitos da Moral católica e em relação ao escândalo que causa aos subordinados”  (Pág. 203).

Os Diretores burocráticos da TFP são ainda acusados de “negar salário justo ao trabalhador” (pág. 207), hipocrisia e difamação (pág. 206), calúnia (pág. 208), dissimulação, calúnias e deslealdades, desejo de destruir (pág. 210), falso testemunho (pág. 217) e má fé (págs. 214 e 220), promotora de rumores (pág. 221), “...atitude... violenta, arbitrária e injusta (pág. 226. Tudo isso baseado em documentação irretorquível, como, por exemplo, cartas, fax, textos assinados ou declarações de pessoas idôneas, ou mesmo de palavras extraídas das fitas de reuniões do SDP.

Relembrando a moral católica

O oitavo Mandamento da Lei de Deus manda respeitar a boa fama e a honra do próximo. O Pe. Royo Marin nos ensina o que diz a Moral Católica sobre alguns pecados cometidos contra a honra e a boa fama do cristão.

Toda verdadeira mentira é de si intrinsecamente má e não pode dizer-se jamais, sob nenhum pretexto”

Na Sagrada Escritura a mentira é terminantemente proibida: “Afasta-te de toda mentira” (Ex 23, 9); “Os lábios do mentiroso os aborrece Javé” (Prov 12, 22); “Guarda-te de mentir e de acrescentar mentiras a mentiras, que isso não acaba em bem (Eclo 7, 14); “É infâmia no homem a mentira” (Eclo 20, 16); “Não os enganeis uns aos outros” (Col 3, 9).

Como vícios subsidiários da Mentira encontramos a simulação, a hipocrisia, a jactância e a ironia.

A fama e a honra do próximo

A fama – Em geral entende-se por fama a “opinião boa ou má que se tem comumente de uma pessoa”. Se sua conduta honrada é inatacável aparece manifesta entre os demais, adquire entre eles “boa fama”; se, pelo contrário, é do domínio público sua conduta imoral ou escandalosa, adquire “má fama”. Em seu sentido próprio, a fama verdadeira é a boa.

O direito à boa fama é natural ao homem. Todo homem tem direito natural a sua boa fama, já que ninguém há de ser considerado como mau enquanto não se demonstre que o é. Daí que a injusta difamação do próximo constitui um pecado contra a justiça estrita, que obriga, por conseguinte, a restituir.

A honra -  Se entende por honra o “testemunho da excelência de alguém”. O qual pode fazer-se de três maneiras: ou com palavras, ou com fatos (reverências, inclinações, etc.), ou com as coisas exteriores (obséquios, estátuas, dando seu nome a uma praça, etc). Ante Deus, que “escuta os corações”, é suficiente o testemunho da consciência; porém ante os homens se requerem sinais exteriores.

Note-se a diferença entre a honra e a fama. A honra é a testificação da excelência alheia; a fama é a opinião pública dessa excelência. A honra se exibe ao presente; a fama se refere ao ausente. A honra se quebra com a contumélia, que consiste na injúria verbal ou real lançada contra o próximo em sua presença. A fama se quebra principalmente com a calúnia e a detração, que recaem de si sobre o próximo ausente.

 

1.            Pecados contra a fama do próximo

 

A)   Suspeita – A simples suspeita temerária é pecado contra a justiça, de si leve, mas poderia ser grave em determinadas circunstâncias.

B)   O juízo temerário propriamente dito é pecado de si grave contra a justiça, porém admite parvidade de matéria.

C)   A detração do próximo – Se entende por detração ou difamação a denegritude (ou denegrimento) injusta da fama do próximo ausente. A detração do próximo, seja simples ou caluniosa, direta ou indireta, formal ou material, é de si pecado grave contra a justiça e a caridade, porém admite parvidade da matéria. [Parvidade de matéria, significa diminuir a gravidade do pecado conforme o caso].

 

É de si pecado grave. Consta claramente pela Sagrada Escritura e a razão teológica, como veremos em seguida. É menos grave que o homicídio ou adultério, porém mais grave que o roubo; porque a fama vale menos que a vida ou a fidelidade conjugal, porém muito mais que os bens exteriores.

Contra a justiça e a caridade. Contra a justiça, porque lesa o direito estrito do próximo à sua própria fama. Contra a caridade, porque nos manda amar o próximo e nos proíbe fazer-lhe danos.

A Sagrada Escritura elogia a boa fama e condena severamente a detração do próximo.: “Mais que as riquezas vale o bom nome (Prov 22, 1); Tem cuidado de teu nome, que permanece, mais que de milhares de tesouros (Eclo 41, 15); Não murmureis uns de outros, irmãos; o que murmura de seu irmão ou julga a seu irmão, murmura da Lei, julga a Lei (São Tiago, 4, 11)”.

 

D)   A Sussurração – Se entende por tal a “injustiça do que semeia cizânia entre os amigos com o fim de dissolver sua amizade”. É o pecado do que conta intrigas e sussurra palavrórios ao ouvido de um amigo para esfriar ou dissolver a amizade com outro, ou de umas famílias com outras.

É um pecado de si grave contra a caridade, e muitas vezes também contra a justiça, sobretudo se se vale da detração como procedimento para conseguir seus perversos fins.

A Sagrada Escritura fustiga duramente este feio pecado: “Maldito o murmurador e o de língua dupla, porque têm sido a perdição de muitos que viviam em paz (Eclo 28, 15); Por falta de lenha se apaga o fogo, e onde não há intrigante cessa a contenda (Prov 26, 10); Seis coisas aborrece Javé e ainda sete abomina sua alma: olhos altaneiros, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama iniquidades, pés que correm pressurosos ao mal, falso testemunho que difunde calúnias e ao que semeia discórdia entre irmãos” (Prov 16, 19).

 

E)   Falso testemunho – O falso testemunho em juízo é de si pecado mortal e envolve tripla deformidade: perjúrio, injustiça e mentira.

 

2.    Pecados contra a honra do próximo

A)   A contumélia – Se entende por contumélia a injusta lesão da honra causada ao próximo em sua própria presença. Esta presença pode ser física ou moral. É de si pecado mortal contra a justiça.

B)   A burla ou irrisão – Se entende por burla ou irrisão do próximo o vício ou pecado de deitar na cara do próximo suas culpas ou direitos de forma jocosa para envergonhá-lo ante os demais.

 

Obrigação de reparar

“Aquele que, de qualquer modo, lesa injustamente a fama do próximo, tem obrigação de restituí-la quanto antes, e tem de reparar, ademais, todos os danos materiais que eficaz e culpavelmente se tenham seguido da difamação e tenham sido previstos ao menos confusamente”.

O mesmo princípio acima aplica-se também aos que lesam a honra do próximo: têm obrigação de reparar inclusive todos os danos causados ao lesado.

Tudo o que está descrito acima pode ser encontrado no livro “Teologia Moral para Seglares”, de D. Antono Royo Marin, Editora BAC, páginas 738/776, vol. I. Mas o que consta inscrito nos manuais de moral católica nem sempre encontram-se insculpidos nas almas de certas pessoas: é que, às vezes, o material de que compõem-nas é tão duro que nada se consegue gravar de bom nelas. Ou então se apagam com facilidade, como aquilo que se escreve nas areias do deserto.

 

Que pensam os correspondentes?

Os Correspondentes e Esclarecedores têm muitas impressões e observações a fazer sobre tudo o que está ocorrendo em nossa família de almas. Nossas conjecturas nos servem para alimentar nossos corações com os propósitos mais nobres: tentar reparar, de alguma forma, o mal feito, e fazer tudo para evitar que continue a grassar a cizânia entre os filhos do SDP. Para tanto, precisamos externar os nossos sentimentos: o que pensamos sobre a pessoa do Sr. João e do seu apostolado? Para nós, ele continua sendo um homem de boa fama e merecendo toda honra possível? A despeito de tanta calúnia e difamação que tentou manchá-lo, ainda vemo-lo com bons olhos? De outro lado, que pensamos nós sobre as pessoas que espalham calúnias e difamações contra nossos irmãos de ideal? Que pensamos sobre o pessoal da Martim e os que os seguem temerariamente?

Todos os Correspondentes e Esclarecedores que acompanham o Grupo há algumas décadas, acostumaram-se a ver com interesse e total aderência o apostolado desenvolvido pelo Sr. João Clá. Embora soframos sua influência de uma forma menos direta do que os cooperadores, no entanto sabemos perfeitamente no que tem consistido sua atuação, inteiramente consonante com o espírito do Fundador. E aí poderemos enumerar os Êremos, as Camáldulas, a Fanfarra, as peregrinações tantas vezes abençoadas das imagens de Nossa Senhora de Fátima, com adesões entusiastas de tantas pessoas, havendo até conversões numerosas, etc. Sobretudo, o quanto o Sr. João Clá já fez pela Causa do SDP, que é a de Nossa Senhora e da Igreja! Tudo isto está sendo combatido por alguns que ainda se dizem seguidores do SDP, mas nada fizeram de grandioso pela Causa de NPF; no máximo produziram algumas mediocridades egocêntricas passageiras.

Todo este esforço apostólico do Sr. João, o mais condizente com o espírito profético do Fundador, nos faz supor que de certo modo, a inerrância do SDP haja se transferido para o discípulo mais perfeito. E não poderia ser de outra forma, pois do contrário a irreversibilidade da Contra-Revolução estaria seriamente comprometida, e o Reino de Maria sem esperanças de consolidação. O SDP levou sua inerrância para o Céu? E onde fica a lição evangélica de aqui temos Abraão e seus profetas?

Para aqueles que procuraram defender sua boa fama e honra, feridas pelos provectos da Martim, os cinco membros que atualmente dirigem burocraticamente a TFP estão cometendo todos aqueles crimes enumerados em seus diversos documentos fartamente comprovados. Para os Correspondentes, também há uma opinião formada sobre aqueles senhores. Eles pareciam-nos representar um “staf” de assessores de NPF, pois estavam sempre presentes nas reuniões, compondo a mesa, uns para marcar no relógio o fim da reunião, outros para informar algum dado esquecido ou para tomar alguma medida prática. Alguns até para aproveitar e dormir um pouco... Hoje, estes senhores passaram a nos causar impressões diferentes. Constituem atualmente uma espécie de clube fechado, que poderia se denominar de Clube dos Provectos da Martim, ou simplesmente CPM. Permanecem completamente alheios ao que ocorre nos diversos Grupos espalhados pelo mundo, mas inteiramente senhores das contas bancárias que movimentam os recursos arrecadados das campanhas. Talvez pensem que exercem uma ação contra-revolucionária bem nos moldes descritos na RCR, parte II, cap. XIII, 8-D: “...se dedicam á luta em certos campos como o da ação especificamente cívico-partidária, ou de combate à Revolução por meio de empreendimentos econômicos”. Encastelados nesta situação privilegiada, de um prazenteiro “laissez-faire”, se sentem incomodados com o crescimento do apostolado, com o aumento do número de correspondentes, porque estas pessoas estão sendo convertidas pelo trabalho do Sr. João. É tanta a inveja da graça fraterna que procuram afastar as pessoas do Sr. João Clá, atiçando, assistindo ou se omitindo perante a campanha de calúnias e difamações movida contra o mesmo, esperando depois aproximar as mesmas pessoas de seu clubezinho.

E as línguas maledicentes continuam alimentando as aves malignas que espalham calúnias, detrações, difamações. Parece que assimilaram muito o que disse Voltaire: “Caluniai, caluniai, caluniai... alguma coisa ficará”. Na realidade estas aves malignas não conseguiram apagar de nossa alma toda a admiração, entusiasmo e veneração que mantemos por nosso queridíssimo Sr. João Clá. Pela graça de Nossa Senhora, as calunias e vilipêndios soçobraram em meio ao impetuoso e caudaloso mar das argumentações contrárias e da ululante realidade dos fatos.

No entanto, não podemos dizer o mesmo destas aves malignas, destas línguas maledicentes, destas pessoas que continuam seu jogo de detrações. Nos deixam perplexos e escandalizados, pois como católicos que se professam e como se dizem filhos e discípulos do SDP, não podem caluniar, difamar e manifestar juízo temerário sobre seus irmãos de ideal sem que não nos cause perplexidades e escândalos.

Sim, estamos perplexos, pasmos e escandalizados em ver nossos irmãos de ideal, aos quais tanto admiramos a pureza de costumes, a honestidade, a castidade, a sinceridade de propósitos, a fidelidade ímpar ao SDP, serem acusados de tantos crimes hediondos como foram as insinuações e calúnias veiculadas nos Estados Unidos, em Cardoso Moreira, em São Paulo e em tantos outros lugares. Estamos perplexos em vermos que apesar desta absurda campanha de calúnias, encetada até por elementos que tinham apostatado da Causa (utilizando-se muitas vezes de recursos baixos), não houve o menor movimento de censura ou de reparação por parte dos senhores do citado CPM, como o Sr. PX, nem o Sr. Eduardo, nem o Sr. Caio, nem o Sr. PB, ninguém se manifestou sequer pessoalmente para manifestar sua repulsa a tais sussurros. Será que todos fazem coro com o Sr. Luizinho aprovando tacitamente tais coisas? Se não, por que se calam?

Perplexos e pasmos ficamos em ver que estes senhores nada fazem sequer para limpar suas próprias honras e boas famas, a nossos olhos completamente maculadas com tais episódios, alguns baixos, vis, deslustrosos a um católico que se diz como tal. Nem sequer após as defesas cerradas, que os mostram de corpo inteiro, vieram a público para salvaguardar suas honras. O que os senhores aprenderam com o SDP a respeito de honra e respeito que não sabem mais colocar em prática?

Nossa perplexidade aumenta ao tomarmos conhecimento de que tais senhores procuram expulsar do Grupo zelosos e dedicados filhos do SDP, cortam os recursos financeiros de grupos pobres, onde não há a mínima condição de sobrevivência, mandam fechar a sede dos correspondentes onde eles são mais numerosos, ameaçando tomar as demais casas onde funcionam as sedes de apostolado e delas expulsar os zelosos apóstolos que durante anos a fio se dedicaram à Causa de nosso Fundador.

Estarrecidos e perplexos estamos, sabendo que os Srs. Caio, Plínio Xavier, Eduardo, Paulo Brito e Luizinho, no memorável dia 3 de outubro de 1995, colocaram todo o apostolado nas mãos do Sr. João Clá, quando estavam ainda perante o corpo quase quente do SDP, e que hoje tenham mudado completamente, tentando fazer um “apostolado” não só diferente mas contrário ao espírito do Fundador, quando durante décadas não soubemos de seus interesses por fazer apostolado.

Perplexidade tamanha nos assalta, que não conseguimos exprimir nossos sentimentos uns aos outros, sabendo que aqueles que se diziam fiéis de NPF aderiram a um abominável espírito financista e tentam de todo modo manter suas empresas a custo do dinheiro do apostolado, conseguido com o sangue e suor dos eremitas em suas campanhas, aqueles mesmos que o Sr. João formou nos êremos com o espírito inteiramente pliniano, e, em represália por serem tais eremitas fieis ao espírito do Fundador, apoiando o Sr. João, cortam-lhe os recursos financeiros e os condenam ao definhamento material.

Perplexos estamos com a adesão ou meia adesão dada a este grupo por pessoas ditas neutras, ferindo princípios rigorosamente plinianos que nunca aceitam acomodação covarde perante injustiças praticadas, como é o caso de tudo o que vem ocorrendo ultimamente.

Nossa perplexidade sobe de ponto quando sabemos que até mesmo antigos amigos, investidos dos mais sagrados tesouros da graça que é a ordenação sacerdotal, tiveram a coragem de aderir a este grupo caluniador e com ele somam forças contra os filhos fiéis do SDP. Osculamos os pés e as mãos sagradas de tais sacerdotes, mas não aceitamos suas atitudes, seja de acomodação, seja de omissão, seja até de ostensiva movimentação contra a Obra de NPF personificada no apostolado do Sr. João Clá. Parece-nos ouvir aquela admoestação dada aos sacerdotes pelo Profeta Malaquias: “... como não guardastes os meus caminhos, e, quando se tratava de sentenciar, segundo a minha lei, fizestes acepção de pessoas, também eu vos tornei desprezíveis e vis aos olhos de todos os povos”  (Mal 2, 9). Quer dizer, quando o sacerdote se desvia de sua sagrada missão ocorre o que costumamos chamar de “decalagem”. Esta lição, hoje tão patente com o clero progressista, não foi assimilada pelo padre David?

Até quem Deus honrou no nascimento com a graça nobiliárquica e que prometia no Reino de Maria ser a esperança de restauração da Nobreza tão decaída, nos deixa perplexos por continuar com seu périplo de temerária campanha de sussurros a certos ouvidos incautos e divulgando calúnias e causando mal estar em muitos.

Não, senhores! Não se iludam! Não foi o Sr. João, nem o Sr. Ramon Leon, nem o Sr. Átila, nem algum outro filho fiel do SDP atingido por suas medidas quem saiu perdendo com tudo isto. Foram os senhores quem saíram perdendo! Perderam a boa fama que mantinham, a honra que tão belamente os merecia entre os melhores filhos do SDP, perderam a direção das almas boas, ganharam apenas as perdidas! Perderam as graças da Vocação, ganharam apenas a maldição da apostasia! Nós, Correspondentes e Esclarecedores, nunca os seguiremos! Seremos sempre fiéis ao espírito de NPF refletido no apostolado de nosso queridíssimo Sr. João Clá. E com isto a Causa não será demolida. Os senhores, como autodemolidores, demolirão a si mesmos! Todos os Correspondentes e Esclarecedores, verdadeiramente cônscios de sua vocação, escandalizados e perplexos com os procedimentos vis e traiçoeiros dos membros do citado CPM, repudiam tudo o que estes senhores estão fazendo, tramando, divulgando. Repelimos com asco suas afirmações contra nossos irmãos de ideal, rejeitamos categoricamente seus comunicados, suas circulares, suas cartas, suas ordens draconianas e coarctadoras de nossas liberdades de homens cristãos e contra-revolucionários.

Por isto, bradamos como o fez São Luís Grignion de Montfort: “Socorro! Socorro! Socorro! Socorro que assassinam nosso irmão! Socorro que apunhalam nosso bom pai!” Então não parece que esta oração abrasada e denunciativa foi uma antevisão que São Luís Grignion teve de nossos dias? De nossa família de almas? De nós? Não nos parece que assassinam nosso irmão de ideal, não em seu corpo mas em sua boa fama e em sua honra? Não nos parece que apunhalam nosso bom pai, não no corpo já sem vida do SDP mas na sua Causa? Que palavra pode ser usada para classificar as atitudes tomadas pelo CPM nestes dois últimos anos contra os eremitas, contra o Sr. João Clá, contra as peregrinações abençoadíssimas das imagens de Fátima, contra a fidelidade dos correspondentes de Campos, etc.? Não estão realmente apunhalando o SDP? Não se trata claramente de alta traição ao mais sublime e nobre ideal que já houve na terra? Se alguém tem alguma palavra diferente para classificar tais atitudes, que a traga ao nosso conhecimento. Assassinos! Traidores! Assassinos porque matam as almas, traidores porque procuram nos amordaçar e enterrar a Contra-Revolução num vendaval de cizânias e divisões internas que só favorecem ao inimigo.

Que Nossa Senhora do Bom Sucesso abençoe a todos aqueles que, como o Sr. João Clá, continuam fiéis ao SDP e os traga sempre unidos para impedir que a Obra do Varão da Destra d’Ela seja demolida, para que a TFP sofra uma renovação e seja conduzida por filhos fiéis do SDP, antes que os atuais a arruínem inteiramente; que o Apostolado em todo o mundo continue com o impulso sacral que vinha tendo, o impulso dos “flashes”, do entusiasmo e da dedicação desinteressada, sem temor das “estruturas” e daqueles escrúpulos que procuram nos colocar no porão sombrio da mediocridade”.

Juraci Josino Cavalcante, Correspondente e Esclarecedor - (Salvador(BA), 1998)

 

(texto de carta que dirigi a “O Amanhã de Nossos Filhos”)

O AMANHÃ DE NOSSOS FILHOS - São Paulo- SP FAX (011)-3955-1140

Salvador(BA), 10 de novembro de 1998

Caro Sr. Paulo Brito,

A carta do OANF datada de 27.10.98 é mais uma que soma a inúmeras outras campanhas da TFP, ontem meritórias, hoje visivelmente duvidosas.

Se em algumas destas campanhas eu me incluí, e até propaguei ardorosamente, era porque julgava haver boas intenções em seus dirigentes. Passaram-se os senhores Paulo Henrique e Rui Coelho, e o OANF tem na direção Paulo Brito, um dos responsáveis por toda uma onda de perseguições que a diretoria da TFP está movendo contra os filhos do Sr. Dr. Plínio mais fieis.

Aqui em Salvador, a Sede local foi violentamente ferida por esta perseguição quando aqui estiveram dois elementos portando procuração para extorquir os veículos e leva-los para lugar ignorado. Fizemos nosso protesto, pois aqueles bens em parte foram doados pelos Correspondentes locais; mas falamos a ouvidos moucos e não obtivemos nenhuma explicação. Que foi feito dos veículos? Vendidos? Não foi para isto que os doamos à Sede local, quer dizer, fazer dinheiro, mas sim para o Apostolado. O produto da venda de tais veículos, somente, daria para manter várias campanhas do OANF durante alguns anos. Este é um dos graves motivos que me movem a não apoiar mais OANF nem a TFP enquanto máquina de arrecadar dinheiro. O segundo vem abaixo:

Seus constantes pedidos de dinheiro vêm causando transtorno entre minha família e eu. Como estamos com dificuldade financeira muito séria, minha esposa e filhos veem chegar em casa suas correspondências e imaginam que a cada uma delas eu atendo seus pedidos de dinheiro. Cada uma carta é uma contenda. Cada pedido dos senhores se torna motivo de atritos familiares. Assim, quando o objetivo é mais dinheiro do que a família, esta se vê vítima como que de um assalto e reage com indignação.

Para um grupo de pessoas que se diz católico, o procedimento dos senhores nesta questão está eivado de desvios doutrinários e morais: de um lado porque perseguem irmãos de ideal e de outro lado porque nunca se esquecem de pedir dinheiro, sempre dinheiro, quando em algumas de suas campanhas poderia estar presente apenas princípios elevados. Muitos aderentes do OANF já sabem das perseguições que a diretoria estatutária da TFP está movendo contra seus próprios membros. Muitos estão deixando de dar seu apoio também por este motivo, além de verificarem o abuso com que os senhores pedem dinheiro.

Desta forma, solicito que mande retirar meu nome de seus arquivos. Não desejo, doravante, em hipótese alguma, sequer receber suas correspondências. Não me interessa mais o que os senhores estejam fazendo, não me mandem seus boletins, não me incomodem com seus pedidos financeiros, não me interessa que tipo de campanha seja encetada se ao final os senhores visam mais um fim diferente que é o capital.

Estou rezando pelos senhores. JURACI JOSINO CAVALCANTE

  

B)          INTERPELANDO A “FUMAÇA”

 Era uma vez um fogo contrarrevolucionário que crepitava em alguns corações; em determinado momento, algo veio e apagou este fogo deixando apenas sua fumaça no ar. E isso ocorreu com um grupo que era contrarrevolucionário, mas apostatou da vocação e se envolveu num torvelinho de fumaças. Por isso, nós os chamamos de “fumaça”. Teria sido o encalhe espiritual que toma conta do mundo que extinguiu este fogo?

Se fosse possível interpelar ao vazio ou à própria fumaça é claro que, se houver resposta, a mesma será vazia e fumacenta. No entanto, aqui vão algumas interrogações aos elementos desta fumaça que ainda tragam em si algo do fogo de onde vieram. Pelo menos sirva de meditação sobre os fatos que se sucederam antes da explosão e que ainda repercutem em suas consciências

Falamos do grupo que se separou dos seguidores do Sr. Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, seguindo caminhos diversos, entrando em choque com aqueles que realmente mantiveram-se fieis ao Fundador. A criação de um instituto com o nome deste Fundador não justifica, por si mesmo, as atitudes deste grupo, quase todas elas por simples inveja e ódio ao discípulo mais perfeito de Dr. Plínio, João Clá. O pior pecado é a inveja da graça fraterna, e isso ocorreu entre os provectos, que chamamos simplesmente de “fumaça”.

Se o Sr João Clá, falecido como Monsenhor, era fiel ao Fundador, qual a razão de tanto ódio? Ele não era de origem nobre, mas de família simples. Apesar disso, foi dotado de carismas especiais que o faziam ser o líder natural a reger a Contra-Revolução juntamente com o Fundador.

Quando nosso Fundador foi para a eternidade, repentinamente, ergueu-se contra seu discípulo mais fiel os elementos desta fumaça derramando-lhe tramas de ódios, calúnias e difamações as mais abjetas. Vejam eles que de nada adiantaram tais manifestações odiosas. A graça de Nossa Senhora, que sempre o acompanhou, superou tudo isso super-abundantemente e a obra da Contra-Revolução só fez crescer.

Que resta desta fumaça sem o fogo que a antecedeu?. O vento a está dispersando até sumir completamente.

Talvez este ódio os fizesse desejar sua morte. Pois bem, ele morreu. Mas, sua memória agora está mais viva entre nós. E as graças divinas superabundam após sua morte. A fumaça sabe disso? Se sabe, reconheçam a verdade sobre este santo varão. Qual a razão do silêncio? Afinal, não se trata de um ex companheiro de lutas?

Quando morre um inimigo, se este tem algum valor, nada impede de lembrar do fato entre nós. Se seu nome era omitido antes, agora não há mais motivos para tanto. Reflitam uma maneira de tomar este gesto assim cheio de nobreza pliniana.

 

Quando o discípulo faz algo mais do que o próprio mestre

Isso ocorreu durante a História por várias vezes: o discípulo fazer mais obras do que o mestre ou fundador. Moisés fez o mar se abrir e Josué fez um rio parar, as muralhas de Jericó caírem e o sol parar no horizonte. Moisés venceu cerca de 7 reis, enquanto Josué venceu mais de 30! Eliseu fez milagres mais estupendos do que Santo Elias, seu mestre. São Paulo fez mais do que São Pedro. São Francisco Xavier mais do que Santo Inácio.

O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo disse que aquele que tivesse fé faria obras maiores do que as que Ele fez. Ele ressuscitou Lázaro após poucos dias de morto, mas São Tiago ressuscitou São Pedro de Rates vários anos após a morte deste. Baseado nesse princípio, Monsenhor João Clá realizou mais obras do que o Sr. Dr. Plínio, e em pouco menos do que 30 anos após a morte de seu mestre.

Segundo dados publicados pela revista “Arautos do Evangelho”, edição especial de novembro de 2024, a ação apostólica de Monsenhor João Clá deixou-nos um lastro espantoso de obras fenomenais. Além de ter fundado mosteiros, igrejas e entidades católicas sacrais, realizou estudos importantes em várias universidades. “Aprofundou seus estudos teológicos com renomados catedráticos” de destaque, sendo que, de alguns, publicou pequenas biografias em inglês e espanhol. “No desenvolvimento de seus estudos acadêmicos obteve láureas em diversas universidades: Bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Ítalo-Brasileiro, de São Paulo; Licenciado em Humanidades pela Pontifícia Universidade Católica Madre y Mestra, da República Dominicana; Mestre em Psicologia pela Universidade Católica da Colômbia; Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino – “Angelicum”, de Roma; Doutor em Teologia pela Universidade Pontifícia Bolivariana”

Também destacou-se como grande escritor, sendo autor de quase 30 obras, com milhões de exemplares vendidos. Alguém pode indagar como alguém pode publicar tantos livros somente em seu nome, não indicando em suas obras os que colaboraram nelas. Essa questão eu já levantei com relação a autores antigos: como é que grandes escritores do passado, como Santo Agostinho, São Tomás, ou até mesmo aqueles oradores famosos tipo Cícero etc., publicaram tantas obras se naqueles tempos não havia recursos que facilitassem tal trabalho? A resposta veio através de um estudioso (não lembro agora o nome) que levantou essa questão a respeito de Santo Agostinho: publicou dezenas de grandes obras, alcançando em edições modernas milhares de exemplares numa época em que se escrevia com penas de aves ou através lapidação em pedras. Segundo aquele estudioso, Santo Agostinho dispunha de mais de 40 copistas, para os quais ele ditava seus pensamentos para os mesmos escrever, ou em pedras ou papiros, não me lembro. Não, não era necessário que tais colaboradores aparecessem em seus livros. Da mesma forma, tanto o Sr. Dr. Plínio quanto o Monsenhor João dispunham de dezenas de colaboradores, munidos dos melhores recursos modernos, como computadores, etc., facilitando digitação e compilação de tais textos para publicação. Eles apenas coordenavam e conferiam a excelência de tal trabalho. Aquilo era fruto de uma liderança natural nos grupos católicos que fundaram, hoje todos debaixo da ordem dos Arautos do Evangelho.

 

Relação das obras de Monsenhor João Clá já publicadas:

 

1.            Organizador de Reflexões e exemplos de Santos, oportunos para nossos dias (1984);

2.            Fr. Santiago Ramírez, OP. A Champion of the Angelic Doctor Advances His Work (1984);

3.            Fr. Cabreros de Anta. CMF. A Firm Pillar of Canon Law in Our Century (1986);

4.            Cardinal Sticker: Salesian Erudite and Librarian of the Holy Catholic Church (1987);

5.            Antonio Royo Marin, OP. A Master on the Spiritual Life, a Brilliant Preacher and a Famous Writer (1987);

6.            Organizador de Como Ruiu a Cristandade Medieval? Humanismo, Renascença e protestantismo (Edições Brasil de Amanhã - 1992);

7.            Mãe do Bom Conselho (Edições Brasil de Amanhã – prefácio de Plínio Corrêa de Oliveira - 1992-2016);

8.            Organizador de Despreocupados... rumo à guilhotina. A autodemolição do Ancien Régime (1993);

9.            Victorino Rodriguez y Rodriguez, OP. A Star of Thomism Shines on Catholic Culture Amid the Store of the Contemporary Crisit (1995);

10.         Dona Lucília (1995-2013);

11.         Pequeno Ofício da Imaculada Conceição comentado (1997-2010 – Associação Católica Nossa Senhora de Fátima – Instituto Lumen Sapientiae), em dois volumes;

12.         Fátima, Aurora do terceiro milênio (1998-2007);

13.         Rosário, escudo e força dos católicos (1999);

14.         Jacinta e Francisco, prediletos de Maria (2000);

15.         Orações do dia a dia (2001);

16.         Sagrado Coração de Jesus, tesouro de bondade e amor (2002);

17.         Via-Sacra (2002);

18.         Os mistérios luminosos do Rosário (2003);

19.         A medalha milagrosa. História e celestiais promessas (2003);

20.         Rosário, oração de paz (2003);

21.         Uma hora no pudiste velar conmigo? Reflexiones para el tiempo cuaresmal (2010);

22.         O inédito sobre os Evangelhos. Comentários sobre os Evangelhos dominicais (2012-2014 – Libreria Editrice Vaticana, Citá del Vaticano – Instituto Lumen Sapientiae), coleção em sete volumes;

23.         O dom da sabedoria na mente, vida e obra de Plínio Corrêa de Oliveira (Libreria Ediitrice Vaticana, Citá del Vaticano – Instituto Lumen Sapientiae, São Paulo - 2016), coleção em cinco volumes;

24.         Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará (2017);

25.         Plínio Corrêa de Oliveira. Um profeta para os nossos dias (Instituto Lumen Sapientiea – Arautos do Evangelho - 2017);

26.         São José: quem o conhece? (Instituto Lumen Sapientiae – Arautos do Evangelho - 2017);

27.         Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens (Associação Brasileira Arautos do Evangelho - 2019-2010), coleção em três volumes.

28.         Organizador e prefácio de “Opera Omnia – PLÍNIO CORRÊA DE OLIVEIRA” – (Editora Retornarei, 2008), já prontos 3 volumes e em fase de conclusão os demais.

29.         Organizador e apresentador de “Notas Autobiográficas PLÍNIO CORRÊA DE OLIVEIRA” (Editora Retornarei, 2008), já prontos 4 volumes e em fase de conclusão os demais.

 Sua ação apostólica teve salutar acolhida em várias partes do mundo. “Foi condecorado em diversos países por sua atividade evangelizadora, cultural, científica e até mesmo militar”. Recebeu a medalha Marechal Hermes dada pelo 2º Batalhão de Polícia do Exército Brasileiro e o diploma de “Amigo do Regimento Raposo Tavares. A Assembleia Legislativa de São Paulo lhe concedeu o “Colar de Honra ao Mérito” e da Câmara Municipal da capital a “Medalha Anchieta”. Da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro recebeu a ‘Medalha Tiradentes". “Entre as distinções acadêmicas, contam-se a elevação a membro da Sociedade Internacional Tomás de Aquino, na Espanha, e da Academia de Ciências do México, como também o prêmio PROIN e o título de Doutor Honoris Causa, concedido pelo Centro Universitário Ítalo-Brasileiro”

“No campo eclesiástico, foi eleito membro efetivo da Pontifícia Academia da Imaculada, da Cidade Eterna, e da Academia Marial de Aparecida, no Brasil. Bento XVI o nomeou Cônego Honorário da Basílica Papal de Santa Maria Maior, em Roma, e Pronotário Apostólico, assim como lhe conferiu a medalha “Pro Ecclesia Pontifice”, como reconhecimento por sua obra em prol da Santa Igreja Católica” [1]

Sua maior ação, porém, foi disseminar cada vez mais pelo mundo as famílias de almas que giravam em torno da vocação do Sr. Dr. Plínio. Assim, fundou três institutos de Direito Pontifício: Arautos do Evangelho, Sociedade Clerical de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli (ramo sacerdotal dos Arautos), Sociedade Feminina de Vida Apostólica Virgina Virginum (ramo das religiosas professas dos Arautos), Instituto Filosófico-Teológico Santa Escolástica, entre os quais foram organizados mais de 50 corais espalhados pelo mundo nos quase 80 países onde atuam. Para dar maior formação religiosa aos seus membros fundou em São Paulo o Instituto Teológico São Tomás de Aquino e o Instituto Filosófico Aristotélico-Tomista. De outro lado, sob sua orientação também foram fundadas várias escolas de níveis primários e médio, onde a primazia do ensino se baseia na disciplina e no ensino da Doutrina Católica.

Para divulgar sua obra entre a população fundou as revistas “Arautos do Evangelho” e “Dr. Plínio”, além da revista acadêmica “Lumen Veritatis”, cujas edições somam mais de um milhão de exemplares por mês. Faz parte também dessa divulgação das doutrinas e princípios os vários canais que atuam na Internet, levando a Contra-Revolução aos corações e aos lares mais distantes. Somados todos estes canais espalhados pelo mundo ascendem a milhões a quantidade de acessos diários.

De outro lado, com seu apostolado foram e estão sendo construídos vários mosteiros, basílicas e capelas, com estilos góticos de algo nível, como, por exemplo, o complexo da casa de formação Thabor, em Caieiras (SP), junto à Basílica de Nossa Senhora do Rosário; a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Tocancipa (Colômbia); Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Cotia (SP); mosteiro das freiras dos Arautos, denominado Casa Monte Carmelo, em Caieiras (SP); Casa Lumen Prophetae, em Franco da Rocha (SP); Oratório de Nossa Senhora da Reconquista, em Medelin (Colômbia).  Outras obras de grande destaque pela beleza artística e espíritos de piedade estão sendo construídas, como no Paraguai e até na África. Também no restante do Brasil, como a capela de São Salvador, na capital baiana e em outras capitais. Para a realização de tão importantes templos sagrados, os Arautos do Evangelho possuem grupos especializados de artistas, os quais se dedicam tempo integral à sua vocação por amor a Deus e à causa católica. Destacam-se, entre eles, excelentes pintores, escultores, decoradores, arquitetos, músicos (muitos são até compositores, embora anônimos por vocação). O lema é aquele dito pelo Papa João Paulo II: a beleza pode salvar o mundo.

Que outro discípulo de Dr.  Plínio realizou algo parecido com isso? Destaca-se entre os tais “provectos” algum seguidor fiel do nosso Fundador que tenha pelo menos dado continuidade ao que ele realizava?

Só lhes resta uma saída: batam no peito, reconheçam seus erros e peçam perdão. Somente assim conseguirão o milagre estupendo desta fumaça voltar a ser fogo, e um fogo santo, bendito, sagrado, e não um fogo maldito.

 

 

C)          COMO DOUTOR PLÍNIO APLICAVA PRINCÍPIOS DE REGÊNCIA UNIVERSAL NO SEU DIA A DIA DIRIGINDO O GRUPO E A TFP

 

Após o seu falecimento, em 3 de outubro de 1995, houve uma grave cisão interna entre os seguidores do Sr. Dr. Plínio, especialmente provocada pelo antigo grupo chamado de “provectos”. Todos os membros deste grupo faziam parte da direção administração da TFP e compunham, em sua maioria, o que se formou na sede da Rua Martim Francisco, chamado também de “Grupo da Martim”. Mesmo entre seus seguidores tinha gente que não entendia ainda perfeitamente o espírito do Fundador, havendo alguns tomados do “encalhe espiritual” que lhes toldava a visão clara das coisas, e até outros completamente afins com o espírito revolucionário. Assim, quiseram eles mesmos assumir o papel de principais dirigentes da entidade e da família de almas sem levar em consideração outros aspectos como, por exemplo, se havia ascendência natural sobre os demais, isto é, verdadeira aceitação dessa autoridade, especialmente dos mais jovens. Estes últimos tinham grande admiração pelo Sr. João Clá e o tinham, naturalmente, como o novo líder e mestre, já que verdadeiramente ele o era.

Os pretensos novos dirigentes começaram, a partir de certo momento, a agir com violência e com espírito diametralmente contrário ao Fundador, perseguindo e expulsando aqueles que admiravam e tinham o Sr. João Clá como orientador e mestre. Um destes colaboradores e admiradores do Sr. João Clá foi o Dr  Ramon Leon, o médico que acompanhou Dr.. Plínio grande parte de sua vida e lhe assistiu nos momentos de sua morte. Tendo sido arbitrariamente expulso dos quadros da entidade, elaborou uma apostila destinada aos irmãos de ideal onde relata todos os fatos. Extraímos de tal apostila o texto em que o mesmo descreve como Dr. Plínio dirigia a TFP, uma maneira completamente contrária aos métodos utilizados pelos “provectos”

 

“O modo do Sr. Dr. Plinio dirigir a TFP

Todos nós, que tivemos a felicidade de, pelo favor de Nossa Senhora, ingressar na TFP, pudemos nos beneficiar largamente, durante anos ou até décadas, do modo sábio, dignificante, nobre, respeitoso, afável, bondoso e, sobretudo, paternal, de nosso Fundador dirigir sua Obra.

Bondoso sem deixar de ser firme, sua firmeza era sempre permeada de sua incansável solicitude em ajudar, em estimular no cumprimento do dever, em encorajar a perseverança no caminho da virtude, em soerguer do desalento, em animar na confiança, em manter os olhos voltados para Nosso Senhor Jesus Cristo, para Nossa Senhora, para a Santa Igreja Católica, para a Civilização Cristã e a luta RCR.

Modo dignificante de dirigir, dissemo-lo acima, porque, ao exercer a autoridade no interior da Obra que fundou, o Sr. Dr. Plinio procurava sempre elevar os subordinados, nunca deixando transparecer o menor laivo de desprezo em vista de sua superioridade social, intelectual, cultural e nem mesmo daquela advinda da maior idade ou dos anos de militância católica. Por mais destituído de qualidades pessoais que fosse algum subordinado seu, por mais jovem ou mais humilde, nunca deixava de sentir-se interpretado, ouvido, entendido, dignificado e tratado por nosso Fundador com todo o respeito.

Invariavelmente fiel a uma concepção paternal de governo, que antes de tudo visa obter a adesão entusiasmada de seus subordinados, o Sr. Dr. Plínio imprimia um rumo firme à TFP sem nunca apelar para medidas de caráter absolutista, mesmo nas raras vezes em que chegou ao extremo de ter de punir. Lembrando a antiga máxima de que “christianus alter Christus” (o cristão é um outro Cristo), não seria demasiado dizer que se realizavam, no estilo de governo de nosso Fundador, essas sublimes palavras, que Nosso Senhor Jesus Cristo aplicou a si mesmo: ”O meu jugo é suave e o meu peso é leve”(Mt 11, 30).

Foi por causa de seu modo sapiencial de governar que nosso Fundador pôde, em meio aos incontáveis escolhos que dificultam a ação contra-revolucionária nos nossos dias, conduzir praticamente incólume sua Obra providencial.

A respeito do modo de dirigi-la, ele mesmo teceu várias considerações ao longo dos anos, com o intuito evidente não apenas de explicar-se, mas também para que isso fosse assimilado por seus filhos espirituais, na previsão da hora em que não mais estaria conosco. E, a esse propósito, nosso Fundador sempre fez questão de frisar a característica paternal de tal estilo de governo.

Para adentarmos esse tema tão atraente e essencial para nós, nada melhor do que recordarmos as próprias palavras do Sr. Dr. Plínio a respeito. Tomemos inicialmente suas afirmações num Santo do Dia de 1993:

 

O que posso dizer como “vue d’ensemble” (da matéria tratada) não estará na expectativa dos senhores, mas afinal de contas acaba se resumindo no seguinte:

É que o perfeito convívio entre o líder e os liderados supõe algo que seja o mais possível parecido com a autoridade entre o pai e os filhos. Mas um pai que conheça perfeitamente o seu métier de pai: a sua função, etc. E que compreende que faz parte dessa missão algo que é insubstituível – faz parte, não se reduz a isto, mas é uma coisa indispensável – é o querer bem.

Ora, para a gente querer bem é preciso a gente ter entendido aquele que quer. Os  homens são dessa maneira: para a gente conseguir querer bem, depois de ter entendido, é preciso [o superior] ter uma forma de perdão, uma forma de suavidade, uma forma de mansidão que faça com que a gente consiga querer bem.

Agora, aquele que é objeto deste sentimento, se ele for uma pessoa reta ele não pode deixar de se sentir profundamente tocado. Porque essa é a escola que a gente aprende no Sagrado Coração de Jesus, no Coração Imaculado de Maria”[2]

 

Eis, mencionados por nosso Fundador, os modelos de superior no relacionamento com o inferior: os Corações de Jesus e Maria. O exercício do mando, segundo tais modelos, pressupõe, da parte do superior, “uma forma de perdão, uma forma de suavidade, uma forma de mansidão” capaz de mover o subordinado. Quer dizer, o superior não deve visar a impor, custe o que custar, seus pontos de vista, mas, antes, saber apontar caminhos que explicitem os bons anseios de todos, mantendo assim a união de metas. Nosso Fundador voltou muitas vezes a esse tema, dizendo por exemplo em outro Santo do Dia:

 

Quando eu faço qualquer coisa, os senhores têm a sensação de encontrar a explicação de pensamento e de vias para as quais os senhores tendiam. De maneia que, com o favor de Nossa Senhora, vamos todos juntos.

É uma autoridade, portanto, eminentemente paterna. É uma autoridade em que todos nós já estamos unidos antes de eu pensar e antes de eu mandar, por esse lado comum da vocação [...]

O modo normal de governar é paterno, é afetuoso, dá explicações, respeita, coordena, atrai; não arrasta. Esse é o modo pelo qual na TFP se governa, [3]

 

À primeira vista, pareceria que esse estilo de governo enfraquece a autoridade. Não é o que pensava Dr. Plínio, para quem um forte princípio de autoridade se conjuga harmoniosamente com uma direção paternal:

 

Não se pode negar que a TFP dá muita força ao princípio da autoridade. E que sobretudo no que diz respeito ao trato comigo, que a TFP estabelece todo um cerimonial de coisas que não se veem mais hoje em dia. Agora, isto é dosado com uma forma de paternalidade, de bondade, e até de intimidade que nunca se veem entre pessoas de idades tão diferentes. E é um tipo de relações que aí fora não existe, mas que vocês são levados a achar que é a coisa mais natural do mundo. Porque ela é! Ela é a mais natural do mundo porque é a mais conforme a natureza, mas que foi o bem, que desvencilhando das influências más, tomando a circunstâncias foi modelando, e sem plano.[4]

 

Tal forma de governo é, portanto, a mais apropriada para dirigir os homens, por ser a mas conforme a natureza, no entender de nosso Fundador. Mais adiante veremos exposto este princípio detidamente por ele, ao tratar do mando na sociedade orgânica.

 

O único estilo de dirigir viável na TFP

 

Esse estilo paternal de dirigir, por ser o “mais conforme a natureza”, é o único aplicável a uma entidade como a TFP, de formação fundamentalmente orgânica. Outro fundamento do governo na nossa entidade é o fato de haver nela, como afirmou o Sr. Dr. Plínio, “um grande acordo de princípios, uma grande concórdia de almas” e desígnios finais idênticos da parte de todos. Na mesma reunião em que desenvolvia esta ideia, ele explicava:

 

Também por causa desse acordo de princípios, em matéria de métodos, também existe uma grande unidade. A experiência, que é a mãe da ciência, o hábito de verem as coisas como se fazem, de ver como se resolvem, etc., etc., tudo isto foi criando entre nós um mesmo modo de fazer que não é imposto, mas que decorre de uma participação na mesma doutrina, participação no mesmo princípio, participação numa mesma experiência.

É uma coisa bem evidente que, sendo eu o mais velho da TFP, o meu papel nisso é maior do que de alguns outros. É de toda a evidência. Mas é de toda a evidência também que nada disso é imposto, mesmo porque qualquer um sai da TFP na hora que quer [...]

Pelo contrário, o clima entre nós na TFP é do maior afeto, do maior respeito, da maior cortesia. E, por isso, no que diz respeito à direção, da maior liberdade.[5]

 

Nunca fazer arbitrariedades, era outra norma traçada para si pelo Sr. Dr. Plínio, no exercício da autoridade dentro do Grupo. Certa vez, numa reunião do MNF, nosso Fundador fazia comentários a respeito dos Dez Mandamentos, e em determinado momento mostrou a abominação que constitui o fato de um pai matar o próprio filho, o que caracteriza uma profunda ofensa a Deus. Na ordem metafísica, seria a causa que se volta contra seu efeito. Um dos participantes da reunião lembrou então que o modo de o Sr. Dr. Plínio dirigir o Grupo tinha esses pressupostos. Nosso Fundador comentou:

 

É, mas me permita dizer uma coisa: graças a Deus vocês estão muito habituados a nunca me terem visto fazer uma arbitrariedade dessas com ninguém. Portanto, nem lhes passa pela cabeça. Mas não é raro encontrar grupos como o nosso, enfim, organizações, ordens religiosas, etc., onde de repente haja arbitrariedades dessas, hein? São monstruosidades.

Por exemplo, eu dirigir uma ordem religiosa, vamos dizer, e de repente implicar com um  porque acabo descobrindo que ele é parente de uma gente de que eu não gosto, e eu tenho ressentimentos e queixas, e uma vontade enorme de esmagar um daqueles para descontar queixas que tenho. E vou, persigo e depois esmago aquele que é meu súdito. É um pecado medonho! Mas...

(Dr, Adolpho Lindenberg: O perigo da autoridade é esse, não é?)

É o perigo, por exemplo, dos reis e de tudo o mais. É muito perigoso.[6]

 

Perseguir implacavelmente um subordinado, especialmente em virtude de ressentimentos e queixas, é, portanto, uma atitude execrável não apenas num Fundador, mas em qualquer pessoa que exerça autoridade.

Na já citada reunião para Correspondentes da TFP, de 1984, o Sr. Dr. Plínio criticava severamente os que pensam ser possível dirigir a TFP por meio de coerção:

 

Vendo essa coesão interna [existente na TFP] e vendo o meu modo pessoal de ser, [...] essas pessoas pensam que isso é obtido pela coerção, e que eu faço uma cara brava, as pessoas se amedrontam e se retiram. Uma coisa infantil isso! É infantil! É infantil imaginar que um homem, pela carranca que faz, possa habituar mil outros, mil, mil e tantos outros a combater o mundo inteiro, de medo da carranca de um homem! Como pode caber isso na cabeça de alguém?! Espadachinar porque um outro, chegando em casa, vai lhe franzir as sobrancelhas, isso é uma coisa absurda! Eu não compreendo como uma pessoa inteligente imagina isso![7]

 

No livro “Guerreiros da Virgem – A réplica da autenticidade – A TFP sem segredos”, no qual responde aos caluniosos e injustos ataques feitos contra nossa entidade pelo Sr. J. A. Pedriali, um egresso dela, o Sr. Dr. Plinio sintetiza brilhantemente essa mesma ideia:

 

Com temperamento fortemente sujeito á angústia e ao medo (cfr., por exemplo, GV pp 14, 97, 157, 161-162), o sr. J. A. P. parece só ver como causa de tanto idealismo e de tão autêntico heroísmo... o terror e o pânico! [...]

Para compreender a inverossimilhança dessa sua tese, especialmente em se tratando de jovens brasileiros, teria sido aconselhável que o Sr. J. A. P. considerasse, antes de escrever seu livro, aquele dito atribuído a um antigo guerreiro português.

Ter-lhe-iam perguntado, depois da batalha de Aljubarrota (1385), como o Condestável de Portugal, Bem-aventurado Dom Nun’Álvares Pereira, à testa de uma tão diminuta tropa, conseguira vencer um tão mais numeroso exército de adversários. Ao que o guerreiro, bom conhecedor da alma de seu povo, teria dado esta resposta:

- Nosso rei venceu porque seu exército não é de soldados, é um exército de filhos!

Aí está a explicação bem lusa – e bem brasileira – da psicologia nacional, que o sr. J. A. P. não soube interpretar.  Posto ante os lances de destemor e intrepidez dos jovens da TFP, ele se perguntou como se originariam na mentalidade deles. E só encontrou como explicação o terror que ele sentiu ante certos aspectos da TFP. Ignora ele, infeliz, que não é o terror que suscita os verdadeiros heróis. É o amor. Ignora que, na alma do brasileiro, a brutalidade, o mau-trato, as ameaças, não conduzem à submissão, mas ás exacerbações do brio malferido, ao revide, à inconformidade e à justa revolta.[8]

 

Destacamos, sem a intenção de aprofundar agora o tema, a expressão “justa revolta”. É ela prova cabal de que, no pensamento autêntico de nosso Fundador, não se pode ir tachando precipitadamente de “revolucionária”[9] qualquer revolta, pois alguma vez esta terá justificativa, o que é abonado inclusive por São Tomás[10] . A sociedade orgânica medieval, por exemplo, não teria sucumbido ao absolutismo real se este tivesse encontrado uma reação à altura, vinda de grandes e pequenos. Quem o diz é o próprio Fundador no livro de cabeceira dos membros da TFP.

 

No século XIV começa a observar-se, ne Europa cristã, uma transformação de mentalidade que ao longo do século XV cresce cada vez mais em nitidez [...]

O absolutismo dos legistas, que se engalanavam com um conhecimento vaidoso do Direito Romano, encontrou em Príncipes ambiciosos um eco favorável. E “pari passu” foi-se extinguindo nos grandes e nos pequenos a fibra de outrora para conter o poder real nos legítimos limites vigentes nos dias de São Luís de França e de São Fernando de Castela.[11]

 

Será “revolucionário” e “igualitário” resistir ao pretenso direito de mando dos membros da Martim?

Gostaria de abordar ainda um ponto relacionado com os anteriores. De vez em quando os novos  dirigentes estatutários da TFP brasileira ou alguns de seus “ideólogos” – como o Sr. J. A. Ureta – alegam o fato de serem os membros da Martim pertencentes à aristocracia paulista, para justificar um direito de mando automático que lhes caberia  sobre o movimento. Ao mesmo tempo, qualificam de “revolucionária” e “igualitária” qualquer atitude que signifique não apenas uma resistência, mas até mesmo uma “falta de consonância” com a autoridade absoluta e discricionária deles.

A alegação está mal posta e não tem consistência, como é fácil mostrar. Em primeiro lugar, pergunto: quando é que o fato de pessoas pertencerem à aristocracia lhes confere automaticamente o poder? Se nem os reis podiam, nos bons tempos anteriores ao absolutismo – e muitas vezes mesmo depois -, ir subindo aos tronos sem assumir determinados compromissos com seus súditos, por que razão teriam direito a um mando automático e ilimitado pessoas pertencentes a uma elite análoga? Se este princípio vale para o governo da sociedade temporal, a necessidade de contar com a aceitação ou o consenso dos dirigidos aplica-se a fortiori a uma associação particular de fiéis como o é a TFP enquanto “família de almas”, que supõe uma dedicação integral.

Ai do rei que, em Espanha, não respeitasse os fueros: podia contar com a resistência do reino inteiro – e resistência a la espanhola. É famosa a expressão, usada nesses casos: “Se obedece, pero no se cumple!”

Em Portugal, D. Sancho chegou a perder o trono e mais tarde também D. Filipe III, IV de Espanha, por não procurarem o bem comum. Assim Camões cantou a resistência de Portugal ao rei D. Sancho:

 

Mas o Reino, de altivo e costumando

A senhores em tudo soberanos,

A Rei não obedece nem consente

Que não for mais que todos excelente.

 

Isso é, aliás, o que ensina a Doutrina Católica e não significa, pois, aceitar o falso princípio de que o poder reside no povo ou na comunidade, e que, por isto, estes o delegam a um representante. O poder vem de Deus mas, segundo a Doutrina Católica, o modo de escolher o governante ou o gênero de governo é normalmente determinado  de diversas formas pela própria sociedade governada, tanto no regime monárquico quanto no aristocrático ou no democrático (historicamente só houve duas exceções a este princípio referente à ordem natural das coisas estabelecidas por Deus: a teocracia judaica no Antigo Testamento e a designação direta de São Pedro, como chefe da Igreja, por parte de Nosso Senhor Jesus Cristo). Este princípio pode parecer contraditório à primeira vista com os regimes monárquicos e aristocráticos, para um analista superficial; mas não o é na realidade, dado que a geração orgânica de um conjunto de pares ou de uma dinastia equivale a um verdadeiro plebiscito mudo de séculos, consolidado pela tradição, como certa vez definiu o Sr. Dr. Plínio num almoço da célebre série sobre sociedade orgânica. Destacar o rol da sociedade na determinação do tipo de governo e. conforme o caso, da pessoa ou das pessoas que o exercem é defender a ortodoxia católica na matéria. Não pode, pois, ser tachado legitimamente de revolucionário e igualitário.[12]

O absolutismo monárquico, este sim, é revolucionário e igualitário, conforme diz nosso Pai e Fundador em seu livro sobra a Nobreza.[13] Se os ingleses do século XVI tivessem mais fé e mais fibra, não se teriam deixado levar à apostasia geral por um Henrique VIII. E os alemães não se teriam curvado ao iníquo costume, oficializado pelos príncipes do século XVII, do “cujus regio, ejus religio”, concepção pagã da autoridade que dá aos príncipes até mesmo o poder de definir a religião dos súditos.

E mais: será que Luís Filipe, filho do regicida, tinha o direito de reinar sobre a França só por ser príncipe? Foi “revolucionária” e “igualitária” toda a resistência que então se fez a ele?

São pontos que cito apenas como ilustração, mas que podem merecer um estudo bem mais aprofundado. De qualquer modo, a tese dos membros da Martim e de pessoas como o Sr. J. A. Ureta, como se vê, não resiste a uma análise ainda que superficial. Ou será que membros de uma “elite análoga” têm, na devida proporção, mais direitos que reis e príncipes?

Ao longo desta exposição, irá ficando evidente que uma autoridade que aja de modo discricionário e autocrático, procurando impor-se sem dar ouvidos a seus subordinados, situa-se nas antípodas do pensamento do Sr. Dr. Plínio. Quando isto se passa dentro da TFP, configura-se gravíssima infidelidade aos desígnios de nosso Fundador. A doutrina tradicional da Santa Igreja, nas penas dos diversos grandes expoentes da teologia, considera também a possibilidade de depor a autoridade, quando ela se manifesta totalmente incapaz de governar. O pressuposto dessa ousada mas ortodoxa afirmação é que o poder é dado diretamente por Deus aos homens, mas depende da eleição e do consenso dos governados.[14]

A glória de Deus e o bem comum justificam a mudança das autoridades, como vimos. Nada há nesta tese que possa ser qualificada de “democrático-igualitária”, nem de revolucionária. Autonomear-se num cargo, ainda mais sem ter condições para arcar com o peso da responsabilidade a ele inerente, querer governar ditatorialmente e sem tomar em consideração as necessidades dos subalternos, são sintomas do absolutismo no governo, que, como nos ensinou nosso Pai e Fundador, constituem um passo decidido rumo à Revolução “nomenklaturesca” do Soviet Supremo...

Na TFP nunca imperou esse sistema ditatorial. No simpósio “O que somos nós e o que dizemos de nós”, o Sr. Dr. Plínio insistia em que a autoridade dentro do Grupo “não tem poderes para impor o que quer”, mas “que age por meios suasórios”.

É a esse tipo de autoridade eminentemente pliniano, que se funda especialmente na influência e na capacidade de persuasão, que todos nós estamos acostumados, e á qual nos entremos com confiança. Assim, dizia nosso Fundador no dito simpósio:

 

A pessoa, ao entrar para o Grupo, se dá toda a essa vocação, dá todo o seu tempo e, uma coisa que é mais preciosa, dá seu próprio estilo de conhecer e amar a Deus para que o Grupo o modele. A pessoa se dá, então, completamente, a uma autoridade de cima, que vem, que resolve, que decide e encaminha”[15]

 

Para substituir na TFP essa confiança na autoridade, é condição “sine qua non” seus membros perceberem que a cúpula se mantém fiel às normas e ao estilo de governo de nosso Fundador, decorrentes das doutrinas sobre a sociedade orgânica por ele sustentada, a respeito das quais voltaremos a falar mais adiante.

Para perseverar nessa incondicional fidelidade ao Fundador, a autoridade, dentro da TFP, deve dar ouvidos aos anelos e anseios de seus subordinados. Diz a tal propósito o Sr. Dr. Plínio:

 

Dentro do Grupo mesmo, a própria doutrina [sobre a sociedade orgânica] que eu dei aqui agora ainda não é corrente. Não corrente. É preciso chegar  o momento em que se torne corrente. Porque aí se compreende bem tudo, se compreende como eu toco o Grupo. É inteiramente assim.

Quer dizer, aí fora pensam que eu sou um tirano, uma fera, e que é só vocês ouvirem os meus passos pensam no corredor, que vocês já ficam com medo de apanhar.

(Sr.: Saímos correndo para cumprimentar o senhor)

É tão diferente, não é verdade? Mas eles, ainda mais com o negócio da Sempre-viva, eles acham que vocês aqui usam algemas, nem sei o que eles acham.

Mas, a realidade, é ou não é verdade que eu ausculto muito o Grupo – mas muito! – para dar as decisões, para encaminhar, etc., etc.? Ausculto profundamente! Se não fosse isso, eu seria uma autoridade externa, extrínseca ao Grupo, e procurando mandar em vocês de fora para dentro. A TFP tinha deixado de existir. Era uma outra coisa. Podia não morrer, mas a alma era outra.[16]

 

“Podia não morrer, mas a alma era outra”. Se nosso Fundador considerava que a essência da TFP mudaria, se ele modificasse seu estilo de governá-la, o que dizer então de superiores que não são fundadores,  e que querem impor seus pontos de vista pessoais ao conjunto de nossa entidade? Não seria demais afirma que, mais cedo ou mais tarde, acabarão por matar a TFP.

 

 

 

 

 

 



[1] Todos estes dados foram extraídos da revista “Arautos do Evangelho’, edição extra de novembro de 2024, na contra-capa de frente.

[2] Santo do Dia de 28.01.1993.

[3] Santo do Dia de 07.09.1974

[4] Conversa durante almoço de 12.11.1991

[5] Reunião para Correspondentes da TFP de 22.06.1984

[6] Reunião do MNF de 20.09.1989

[7] Reunião para Correspondentes da TFP de 22.06.1984

[8] “Guerreiros da Virgem – A réplica da autenticidade – A TFP sem segredos”, Artpress, São Paulo, p. 43

[9] Tomando este termo no sentido que Dr. Plínio dá no seu livro “Revolução e Contra-Revolução”

[10] [São Tomás explica que] assim como a sociedade tem direito natural de se dar um chefe que a conduza ao bem comum, tem direito igual a se desfazer dele quando é um obstáculo para o bem comum. Nesse caso, o detentor do poder deixa de ser por direito natural rei ou presidente, perde o ponto de apoio natural, ainda mesmo antes de se  produzir o levante por falta de garantias de êxito da tentativa [...]

“Se um povo tem direito a dar-se um rei, o mesmo povo pode justamente depô-lo ou refrear sua autoridade, caso ele abuse tiranicamente do poder real. E não se deve pensar que tal povo comete uma infidelidade destituindo o tirano, ainda que se tivesse submetido a ele para sempre, já que ele mesmo mereceu que, não se comportando fielmente no governo do povo tal como exige seu dever, os súditos não conservam o pacto contraído com ele”  (De Regimine Principum, São Tomás de Aquino, apud “El régimen político de Santo Tomás de Aquino”, Pe. Victorino Rodriguez, Fuerza Nubeva-Editorial S. A, Madrid, 1978, p. 66-69)

[11] Plínio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Parte I, §§ 5, 6 e 7)

[12] São João Crisóstomo já fazia esta distinção entre a origem do poder e a resistência na sociedade da faculdade de escolher o tipo de governo e, conforme o caso, os governantes, ao apontar que o  apóstolo não diz que “todo “príncipe vem de Deus”, mas sim que “toda potestade vem de Deus”  (IHomilia XXIII). Esta doutrina é básica e tradicional. Ensinam-na São Tomás e outros grandes teólogos como Suárez.

São Tomás escreve: Ordinare autem aliquid in bonum commune est totius multitudinis, vel aliculus gerentis vicem totius multitudinis (ordenar algo ao bem comum é próprio de toda a multidão ou de algum que faz suas vezes. (Suma Teológica 2ª parte, sec. 1ª , quest. XC, art. 3º ). Desenvolvem o mesmo princípio grandes luminares da teologia, como São Boaventura, Duns Escoto, Gilles, Pedro Bertrand, Tomás de Estrasburgo, Santo Antonio e Bartolomeo Sacchi “o Piadena”.  A mesma doutrina é sustentada por grandes teólogos do século XVII e teólogos do século XVIII do porte de Santo Afonso de Ligório,  e Balmes, Didon, Audísio e outros no século XIX. 

[13] Na realidade a teoria absolutista que postulava uma suposta origem divina imediata e direta dos reis é obra, como sabemos, dos legistas, nascendo na França e na Alemanha, e sendo defendida com mais rigor ainda por certos teólogos protestantes.

[14] São Roberto Belarmino é um dos célebres defensores do direito da comunidade de depor o príncipe malvado. Na sua companhia  estão grandes tratadistas como Mariana, Soto e Suárez. Este última explica, como vimos, que o poder vem dado aos homens por Deus como faculdade natural, mas não sem que estes prestem de algum modo para isto a sua vontade ou seu consentimento enquanto compõem a comunidade civil. E a comunidade pode, mediante o consentimento, transferir a outrem o exercício do poder supremo ou mudar a forma do mesmo (De legibus, lib. 3º , cap. III §§ 5, 6, e 7)

[15] Do simpósio “O que somos nós e o que dizemos de nós”.

[16] Conversa durante o almoço de 06.06.1991

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