domingo, 28 de setembro de 2025

TITANIC, SÍMBOLO DE UMA SOCIEDADE QUE AFUNDA CHEIA DE FALSOS OTIMISMOS

 


O NAVIO QUE “NÃO PODIA” AFUNDAR

 Nós temos analisado o estado de espírito próprio à nossa época, que consiste muitas vezes, dentro das catástrofes, das desgraças, em não querer ver de frente o que vai acontecer, mas, pelo contrário, se iludir a respeito da natureza dos acontecimentos. De maneira tal que as coisas vão afundando e as pessoas que estão, por exemplo, numa sociedade que desaba, num país que desaba, num lugar assolado por uma catástrofe, não querem olhar isso. E até o último momento vão se agarrando à ideia de que nada vai acontecer, até o momento final em que elas estouram junto com a coisa. Em geral, as sociedades até decaem por causa desse estado de espírito.

Esse otimismo à prova de fogo, que não se altera diante das mais evidentes manifestações de que as coisas vão mal, indica uma insensibilidade diante dos planos da Providencia, um divórcio entre os homens e Deus, lembrando aquelas palavras de Nosso Senhor aos Apóstolos: "As vossas cogitações não são as minhas cogitações, nem as vossas vias são as minhas vias. Eu cogito em coisas diversas das vossas. E caminho por rumos que não são os vossos, que vós não seguis". Isso disse Nosso Senhor aos apóstolos antes de eles prevaricarem durante a Paixão e isso mesmo é o que diz a Providencia aos homens que não sabem perceber o curso dos acontecimentos e para onde é que Deus quer conduzir as coisas.

Por causa disso, por exemplo, nas vésperas da queda do Império Romano do Ocidente, nós encontramos uma cegueira tremenda: os romanos não percebiam. Na véspera da queda do Império Romano do Oriente era a mesma coisa. Na véspera da Revolução Francesa a mesma coisa. O Papa Leão X, por ocasião do protestantismo, não viu o alcance dos acontecimentos e disse que era uma simples luta de frades. Até no fato semi-lendário e semi-verídico da guerra de Tróia, vemos a mesma atitude. Os gregos introduzem o cavalo com guerreiros em Tróia, Cassandra prediz as desgraças que devem decorrer daí, mas os troianos não acreditam. E de fato, com o cavalo, entraram em seu bojo os guerreiros e, com estes é o fim de Tróia.

Esse é um estado de cegueira que merece ser analisado por nós, para que sejamos sensíveis à voz de Deus, para que compreendamos bem o que significa essas ondas de terrorismo em torno de nós, e essas explosões quando atingem até uma de nossas sedes.

Então, eu resolvi trazer aqui, para conhecimento dos senhores, uma narração do naufrágio do navio Titanic:

Esse navio Titanic era, no tempo em que foi construído, o maior navio do mundo.

Ele inspirava a maior tranquilidade no ano de 1912, no fim da Belle Epoque, que era uma época de prazer, de alegria leve, de distensão que preparava a I Guerra Mundial. Era considerado um navio que não podia ser posto a pique. Era um navio inafundável, era o maior navio do mundo.

Ele pertencia à companhia White Star Line, a companhia "Linha Estrela Branca", e jamais tinha sido feito um navio daquele tamanho. Exatamente por isso ele chamava Titanic. Era um navio titânico.

No dia 10 de abril de 1912 ele iniciou a travessia da Inglaterra, no porto Southampton, para Nova York. E ele, além de ser considerado o maior navio do mundo, era considerado também o que oferecia a maior segurança. O engenheiro tinha estudado, para ele, uma configuração e um revestimento da parte de baixo do navio tal, que se considerava que aquilo nunca podia romper.

De maneira tal que ainda que rompesse, entre a primeira e a segunda casca do navio, havia uma zona com ar de maneira tal que rompendo, havia não sei que choque de vácuo que a água que entrasse era expulsa. De maneira que o navio continuava a navegar, mesmo depois do primeiro rombo. Era uma verdadeira obra-prima de segurança. E então se encheu de pessoas de alta categoria social, de milhardários norte-americanos, de nobres europeus, de artistas; havia uma segunda classe muito grande. Havia uma terceira classe de imigrantes, que iam para os Estados Unidos, como quem vai para o Eldorado fazer fortuna, abandonando a miséria da condição operária em que estavam na Europa. E foi num ambiente de alegria que o navio saiu dirigindo-se para os Estados Unidos.

Essa situação do navio criou, naturalmente, a bordo, uma atmosfera de festas contínuas, e o navio tinha 2201 passageiros.

Isso já em 1912. Dois mil passageiros, os senhores podem calcular, é uma pequena aldeia flutuante.

Além disso tinha uma carga muito grande, calculada mais ou menos em 420 mil dólares-ouro naquele tempo, que representava muito mais do que o dólar de nossos dias. A bordo, na primeira classe, festas continuamente. Um tempo magnífico. O céu muito sereno, o mar muito tranquilo. Na segunda classe também uma atmosfera muito animada. Na terceira classe diversões populares, danças populares. Estava todo mundo alegre dentro do navio.

Três dias de navegação, na aurora do domingo, quando o dia, mais uma vez tinha levantado muito belo e muito claro, outra coisa que tornava radiosa a viagem, da chaminé do navio escapava apenas um pouco de fumaça.

Porque se tinha conseguido um tipo de combustível que não deitava quase fumaça, de maneira que era uma fumacinha branca, ligeira apenas, para não entristecer a viagem com o longo sulco da fumaça preta. Era o estado de alma de todos aqueles elegantes. Era apenas um pouquinho de alegria que se exalava de lá; mais nada; não havia tristeza, nem agressão.

Estavam sendo realizados a bordo - era domingo - serviços religiosos. E haviam... ...e tocava pífaro perdidamente na terceira classe, fazendo se ouvir pelo navio inteiro.

As nove horas da manhã, o operador do rádio do navio recebeu um despacho de um navio chamado Caronia, que dizia o seguinte: Mensagem ao comandante do Titanic: "Navios fazendo o mesmo caminho que o vosso, em sentido inverso, assinalaram em tais locais importantes massas de gelo flutuante. Esse gelo parece vir da Terra Nova".

Mais adiante, outro navio que passa um telegrama, uma comunicação pelo rádio. Era o navio California chamando o Titanic. Como o operador de rádio de bordo participava do otimismo geral, ele não deu importância ao primeiro aviso e quando ele viu que era o Califórnia que estava chamando, pelos sinais, ele achou que era um navio de segunda classe que não teria nada de importante a comunicar.

E nem tomou nota do telegrama, nem ouviu. O telegrama bateu, e ele tocou a viagem... Os senhores estão vendo como o otimismo ia grosso. Também não podia ser afundado o navio: era insubmergível um navio tão grande, tão bonito, uma época de tanta alegria. Como é que ia afundar esse navio? Não é possível...

Às treze horas e quarenta e dois, novo aviso. Era o Valtic, era outro navio que anunciava também que estavam se deslocando massas de gelo, icebergs, na direção do Titanic. Então o telegrafista tomou nota da mensagem e mandou para a sala de comando. O oficial que estava de serviço no momento leu e mandou levar para o comandante. O comandante estava na hora do almoço. Ele almoçou, depois foi para o tombadilho e percebeu no tombadilho, andando de um lado para outro, o senhor diretor da Companhia, e parou diante dele para mostrar a mensagem.

Os senhores estão vendo o que é o próprio do subordinado indolente: vai empurrando as decisões para cima para continuar na moleza, com a intuição de que ele encontrará um mais mole em cima também, e que aquilo vai para cima e se perde na estratosfera... como a fumaça azulada do navio.

Lê o telegrama e o coloca no bolso; estava passeando com duas senhoras. Explicou a elas, de um modo muito amável, que era um pequeno incidente de viagem, eram icebergs que iam atravessar a rota, e continuou a passear com elas, não dando atenção nenhuma.

Os senhores estão vendo uma espécie de quase evidente fatalidade caminhando para o desenlace.

Mais tarde, às dezenove horas e quinze o comandante pediu de volta o telegrama, a fim de colocar no quadro de avisos dos oficiais. O jantar realizou-se normalmente na grande sala de jantar, estilo século XVII, estilo glorioso.

Os senhores podem imaginar.

Os senhores sabem que nos grandes navios daquele tempo, os homens e as senhoras jantavam em vestido de baile todas as noites. E os homens de casaca, os mais moços de smoking. Os senhores podem imaginar o que seria o jantar do Titanic esse dia.

O jantar foi muito alegre. Fazia frio no tombadilho, mas a noite estava muito bela, sem lua, mas cheia de estrelas. Depois da refeição, vários passageiros de segunda classe se reuniram no salão onde o reverendo Carter dava um concerto religioso.

Devia ser um concerto protestante.

Eram perto de 22 horas e os empregados já tinham preparado os biscoitos e cafés para toda a assistência, quando se ouviram na primeira classe os acordes de música da segunda classe. E era uma música religiosa: "Senhor, ouvi nossas orações para aqueles que estão no perigo do mar". Na ponte de comando, o primeiro tenente, um marinheiro consumado muito experimentado, foi acordado às vinte e duas horas pelo segundo capitão Murdock. Tinham discutido com os outros oficiais da vizinhança a respeito de gelos que pelo menos cinco telegramas tinham anunciado. As vigias tinham recebido ordem de trazer, de ver com atenção qualquer particularidade a esse respeito. Previa-se que o navio pudesse encontrar os icebergs a partir das nove horas e meia, portanto, a velocidade foi calculada para essa eventualidade..., o tal capitão, foi se deitar.

O navio era insubmergível, portanto eles não tinham tratado disso, a possibilidade de desviar a rota, nem nada. Fugir, que é o que se faz nesses casos, nada! Diminuir um pouco a velocidade para diminuir o impacto... e acabou!

O comandante do navio também foi para o quarto. A calma reinava há muito tempo na parte dos emigrantes. Nas cabines de primeira e de segunda classe as lâmpadas iam se extinguindo. Os icebergs iam chegando.

Os senhores vêm: é o símbolo de uma civilização, de uma ordem de coisas caminhando à deriva para o perigo.

No posto de rádio estavam Philips, que tinha substituído o tenente...

Novamente começaram as faíscas no aparelho telegráfico e era novamente o navio California. O California dizia para o Titanic: "Meu caro, é bom você saber que nós estamos bloqueados de gelo aqui". Resposta do Philips, do telegrafista do Titanic. Ele disse: "Fecha essa geringonça, meu caro. Eu estou aqui conversando com um cabo e você está atrapalhando todas as minhas emissões".

Quer dizer, estava conversando com outra pessoa no rádio... "eu estou de prosa com outro no telegrafo em outro lugar".

Eram vinte e três horas e quarenta. Nesse momento preciso, como se surgisse do vácuo, uma grande forma branca apareceu e foi direto para a proa do Titanic... que era um dos oficiais, durante um momento não pode acreditar em seus olhos. Estava anunciado longamente, mas ele não podia crer no que via. Mas como? Uma viagem com gente tão fina, um navio tão bonito e acontecer isso? Não tem perigo, é uma coisa que não acontece.

Mas ele teve que se dar conta da realidade sinistra. Freneticamente ele deu três sinais de alarme, assinalando que havia alguma coisa diante dele. Depois telefonou para o posto de comando e disse: "Um iceberg imediatamente diante de nós". O capitão, o sub-comandante não teve sequer tempo de dar a resposta regulamentar. Ele urrou: "À esquerda com toda velocidade!"

O timoneiro manobrou rapidamente o comando do navio e começou a desviar. Mas o iceberg estava de tal maneira próximo que foi impossível evitar o choque. O choque se deu.

Houve um grande choque, uma pequena inclinação num dos lados do navio. Pedações de gelo caíram sobre a proa, na parte da frente. O Titanic lentamente parou.

Quer dizer, o golpe foi tão forte que o navio perdeu a sua velocidade.

O navio estava mortalmente ferido. O comandante ferido. O comandante aí saiu correndo do quarto...

Só aí é que ele acordou! Quer dizer, nem acordaram o comandante...! ...perguntando: "Nós fomos abordar no que?" – "Abordar! Bem um iceberg, comandante, respondeu um dos homens".

Algumas lâmpadas se acenderam nas cabines de primeira e segunda classe. Começa novamente o arrepio.

Os senhores vão ver as reações...

Passageiros com olhos cheios de sono passaram as cabeças por aquelas janelinhas redondas, que davam sobre o tombadilho. "Por que é que nós paramos?", perguntou um deles ao maître d'hotel. "Eu ignoro, senhor, mas eu não penso que se trate de qualquer coisa de importância" – "Ah, está bem!"

Na sala de fumantes do navio, jogadores de pôquer ainda estavam jogando a essa hora. Eles sentiram um ligeiro abalo, viram desfilar uma montanha de gelo, alta de vinte metros pela janela da sala em que eles estavam, mas a noite era calma e bela. O Titanic era insubmergível. Eles nem sequer tomaram o trabalho de sair do lugar onde estavam. Continuaram a jogar. Por que? Porque o Titanic é insubmergível...

De cada estralo sai cada bombada, sai coisas do outro mundo! Mas a sociedade atual é insubmersível... Não se discute!

Entretanto, alguns da tripulação começaram a compreender a situação e já entreviam que o ferimento do navio era mortal. Nos porões notava-se, por algumas fendas, a água do mar que entrava aos borbotões. Praticamente a proa do navio estava aberta para o mar. Em dois minutos houve dois metros e meio de água na caldeira do navio....

Gravíssimos. Os sacos com correspondência começaram a boiar no porão. Nas instalações de aquecimento do navio um jorro de água de mar caiu em cima e apagou tudo. Os seis compartimentos da frente estavam completamente inundados.

Em dez segundos, o iceberg tinha aberto no navio insubmersível, um corte de noventa metros.... ... o diretor da Companhia, chegou, afinal, ao tombadilho do navio, enrolado num grande chambre e perguntou: "Afinal, o que é que está acontecendo?" O comandante... disse: "Aconteceu que nós esbarramos num iceberg" – "O senhor crerá que serão muito graves as avarias?"

Com um robe-de-chambre tão bom, com é que poderia ter graves avarias?...

"O senhor crerá que serão muito graves as avarias?" O comandante: "Eu receio bem".

Aos poucos a vida foi se reanimando no navio onde todo mundo dormira. Homens e mulheres e crianças que acordaram, puseram questões. A ordem foi dada de tirar as lonas dos barquinhos de salvamento. A água subiu cada vez mais e até alguns passageiros já subiam dos andares mais profundos com os pés molhados. Mas os passageiros, quase todos, ainda ignoravam que o navio estava afundando.

Quer dizer, o navio pára, o navio esbarra, alguns estão com os pés molhados, a pergunta é normal: "Não vai afundar isso?" – "É insubmersível". Se é insubmergível, não afunda! Diante das coisas mais evidentes, não tem perigo. É a mentalidade das épocas de decadência...

Afirma o historiador:

"O navio era grande demais para que simples icebergs, flutuando sem eira nem beira, pudessem lhe causar uma avaria grave. A noite era calma demais, bela demais para trazer a morte".

Esse era o estado de espírito dos passageiros, afirma esse historiador.

Lança o sinal de desespero, que naquele tempo não era SOS, mas CQB. Os operadores lançaram o sinal de salvamento para todos os navios da zona, e o navio Provence e o navio... responderam. Aos poucos foram descendo para baixo para os barquinhos de salvamento, mas não com a rapidez desejada, porque os marinheiros, eles mesmos relaxados, levaram muito tempo para cada um vir tomar conta do barquinho que devia ir. De maneira que o serviço de salvamento se efetuou com atraso. E alguns até nem sabiam para que barquinhos deviam ir.

Havia sido esquecido de indicar para eles para onde eles deviam ir em caso de naufrágio. Por que esqueceram? Razão muito simples: não haveria naufrágio. Quer dizer, o barquinho estava mais lá como enfeite do que como uma medida concreta.

Era preciso urrar as ordens para que os marinheiros obedecessem. De outro lado, o navio começou a apitar horrendamente, por efeitos acústicos da água que entrava por vários lados, de maneira tal que ao cabo de algum tempo ninguém mais se entendia.

Os senhores devem imaginar passageiros apavorados: "Não, o navio não pode afundar, está todo mudo mais ou menos calmo". Essa obstinação...

À meia-noite e meia a ordem foi lançada: "As mulheres e as crianças para os barquinhos". Separar-se do navio que não pode afundar, para tomar um barquinho afundável... E o medo deles era esse. Houve mesmo uma senhora que recusou e disse que do Titanic ela não saía.

Os empregados acabaram de acordar os passageiros que ainda estavam dormindo e puseram neles os salva-vidas. Alguns sorriam diante dessa precaução. Eles diziam: "Não, isso é um excesso de precaução". E ainda sorriam...

O sinal de desespero, o CQD, foi dado com tal potência, os aparelhos do navio eram tão bons, que em Nova York os jornais começaram a tirar edições extraordinárias, sensacionalistas, anunciando que o navio ia afundar, porque o sinal chegou até Nova York.

É um estado de espírito, que de um certo ponto de vista é otimismo, e de outro ponto de vista é o pânico do medroso, que não ousa olhar de frente a realidade, não quer se engajar na coisa.

O navio, de repente, começou a inclinar para frente. Na ponte de passeio começam a se notar sinais de pânico. Um músico, por exemplo, que corre de um lado para outro com seu instrumento. Preocupação fixa: salvar o instrumento.

À meia-noite e quarenta e cinco desce a primeira canoa, o primeiro barco de salvamento toca na água. As mulheres, que estavam numa espécie de escada para tomar aquilo em baixo, resistem. Elas ficam enloucadas de medo diante da ideia de deixar o Titanic e elas exclamam: "O Titanic não pode ir a pique, ora essa, eu não vou entrar nesse barquinho". Os homens encorajam as mulheres, dizendo para elas que se trata apenas de uma medida de precaução, mas que o navio vai ser salvo. E despedem-se, muitos deles assim, muitos homens às esposas: "Para o café da manhã nós nos encontramos aqui de novo no navio". E as mulheres vão, enquanto os homens ficam.

Apesar desse pânico das mulheres que descem, o resto dos passageiros se mostram calmos e todos vão subindo das cabines com toda tranquilidade, para o tombadilho.

Os emigrantes se divertem enormemente com o caso e conversam com animação. Para eles é novidade. Mais ainda: a orquestra de bordo se reúne no tombadilho e começa a executar danças.

Os senhores estão vendo até onde pode ir este estado de espírito...

Vejam isso. É incrível!

... aí foi posta fora a canoa número 6: continha apenas 28 pessoas, só 28 embarcaram quando podia receber 65.

Mas é a obstinação: "Nosso navio não vai afundar!"

A uma hora da manhã, a água continua a subir. As canoas de salvação descem uma a uma para o mar. Os acentos da orquestra chegam sempre através dos gritos de ordem dados da ponte de comando, para retardar a entrada da água etc. Afinal, chega a vez da canoa número 1, mais confortável e reservada para os milionários de bordo.

Isso é muito do tempo: uma canoa mais confortável para os milionários.

Ela tem uma capacidade de quarenta homens, mas contém somente Sir... e Lady... e dez outros passageiros. Os imigrantes, pelo contrário, percebem o perigo e começam então a lutar uns com outros pelas suas próprias canoas.

Quer dizer, esses menos apegados à vida, porque têm menos dinheiro, e quando percebem o perigo, querem escapar mais depressa. Os ricaços desdenham, por essa forma, a canoa de luxo, a salvação do luxo que estava proporcionado a eles.

Para por em ordem os emigrantes, um oficial desce entre eles e dá três tiros no ar. Quatro chineses, no meio do susto, por via das dúvidas, entram numa canoa escondidos e ficam lá no fundo. E, de fato, desceram.

A uma e vinte, começa-se a se notar na classe mais alta também um certo pânico e o pessoal começa a querer também salvar-se.

Mas olhem, leva tempo, hein!?

Algumas senhoras começam a se despedir umas das outras abraçando-se e beijando-se no choro. A água continua a subir, a orquestra continua a tocar. A uma e meia o oficial é obrigado a dar tiros no ar para segurar a classe de luxo que vai voando por cima das canoas também. Uma mulher faz questão de levar consigo o cachorro dinamarquês. Como não permitem que ela leve o cachorro, ela prefere não entrar dentro da canoa. O pintor Millet perdeu o pequeno sorrisinho que ele costumava conservar sempre. Seus lábios estão contraídos, ele traz cobertores para as mulheres e começa a fazer para todo mundo gestos de adeus.

Quem conhece o Angelus de Millet, tão tranquilo...  ...um judeu famoso, chamado Benjamin pelo contrário, está vestido de um modo impecável de casaca e diz ao Millet: "Eu subi de casaca para morrer como um gentleman".

O major.... ajudou as últimas mulheres a entrar nas suas embarcações. Uma judia riquíssima, madame... está no ponto de colocar o pé no barco quando ela se volta para o marido e diz o seguinte (o marido estava numa espécie de escaler): "Nós passamos a vida inteira juntos e havemos de morrer juntos". O marido topa a parada, ela volta para o navio.

O coronel John Jacob Astor, que é um sujeito muito importante da Inglaterra, e sua jovem esposa, embarca sua jovem esposa e quando ela parte vê-se que ele está batendo um cigarro numa cigarreira de luxo e dizendo para ela: "Querida, não se incomode, daqui a pouco nós estaremos juntos".

Um dito muito equivoco, não é?...

A orquestra continua a tocar. As duas horas da manhã o Titanic entra em agonia e começa a se inclinar cada vez mais no sentido longitudinal.

E aqui eles reproduzem o desenho que um passageiro fez, de dentro de um barquinho, das várias fases do Titanic afundando.

Mais ou menos 660 pessoas embarcaram. 1500 pessoas estão afundando junto com o navio. Com o rosto lívido, o comandante aparece numa das portas e diz para a tripulação: "Meus caros, vós fizestes vosso dever. Cada um agora trate de fazer o que puder, porque não há mais barcos e todo mundo é livre".

O comandante volta para o seu posto de comando, onde está o seu valet de chambre, o qual tranquilamente pergunta que ordem ele tem para dar. No meio da classe de luxo irrompe uma figura horrorosa: era um carvoeiro, todo sujo de carvão, louco de medo, que procura de todo lado um salva-vidas. Entretanto, na sala de ginástica, o professor de educação física está olhando dois gentleman que sobre bicicletas imóveis fazem exercícios e um outro que joga ....ball, durante o naufrágio.

Essa coincidência de pânico com a despreocupação completa são duas formas de pânico.

A orquestra afinal pára de tocar danças e começa hinos religiosos.

Aí que eles se lembram de Deus...

Então, ouvem-se cânticos de passageiros que então começam a rezar e acompanhar, e cantam todos juntos: "Perto de ti, meu Deus, perto de ti". Algumas mulheres se ajoelham. Muitos correm aloucadamente pela ponte. Quando o hino vai chegando ao fim o chefe da orquestra, o violinista.... bate com o arco do violino contra um objeto de madeira e encomenda a música "Outono" aos seus oito músicos, cujos pés já estão dentro d’água e que fazem força para não cair, não rolar no tombadilho já inundado. As pessoas começam a pular no mar gelado. Uma mulher urra: "Salvem-me, salvem-me." Um homem lhe responde: "Só Deus pode lhe salvar agora, minha boa senhora".

A orquestra começa a tocar o hino "Outono" cujos dizeres são: "Deus de piedade e misericórdia, inclina-te sobre as minhas dores".

São duas horas e dezessete da manhã; todas as luzes do navio estão extintas e reina a escuridão por toda parte. Às duas horas e dezoito começa-se a perceber homens que pulam de todos os lados no mar gelado.

Quer dizer, desespero completo.

O navio vai inclinando cada vez mais; a parte detrás está cada vez mais alta; ainda se ouvem hinos da orquestra tocando até o fim.

Às duas horas e vinte, o maior navio do mundo desapareceu. Ouvia-se só no mar um longo gemido contínuo, que saía de dentro, que era o ar que o navio levava consigo e que era expulso por essa forma. As embarcações para levar os passageiros começam a correr risco porque eram mal construídas, mal armadas mal equipadas, e mal carregadas.

Ninguém tinha pensado nas medidas de prudência, no maior navio do mundo. Por que? Porque o navio era insubmergível...

Em algumas havia por demais pouco marinheiros, de tal maneira que as mulheres tinham que remar para o barquinho poder andar. Houve uma lady, por exemplo, que tomou o leme do barco e guiou, porque os marinheiros não davam conta do recado. Um italiano, que estava com um pulso quebrado, se tinha oculto e se tinha disfarçado de mulher, com chapéu e capote de mulher e envergonhado diante das mulheres (porque estas viam que ele não era mulher e estava em uma embarcação destinada a mulheres).

Em algumas embarcações onde havia lugar de sobra, os passageiros recusavam aos náufragos a entrada, e davam com o remo em cima dos náufragos para ver se ao menos eles se salvavam. Em alguns lugares, as mulheres ficavam loucas e os homens tinham que desmaiá-las, desacordá-las a bofetadas, para elas não criarem dificuldades.

Afinal de contas apareceu um outro navio, pegou-os e eles foram para Nova York.

Aqui a gente vê os náufragos nesse navio. Os senhores sabem qual é o incrível? As poucas caras que a gente vê eram caras sossegadas. Esse novo navio não era afundável, eles não tinham afundado, não ia acontecer nada... Passou para outro. Provavelmente alguns pereceram depois da I Guerra Mundial.

Esse é o estado de otimismo desesperado das épocas de decadência.

Uma pessoa com esse estado de otimismo, se pertencesse à TFP cometeria um erro que nenhum de nós cometeu, depois da bomba que os terroristas colocaram na sede da (Rua) Martim Francisco, que seria dizer: "Foi apenas um meteoro; não aconteceu nada. A sede da Rua Pará é inatingível..." Isso seria esse estado de espírito.[1]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Conferência de Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, “Santo do Dia”, 25 de julho de 1969

 

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

A FIGURA DO MALANDRO E O JEITINHO BRASILEIRO

 


 

De modo geral, todo mundo entende o que se quer dizer quando se fala do famoso “jeitinho brasileiro”.  Trata-se de algo que nasce e cresce em todo brasileiro de uma forma natural. Mas, vamos ver como se pratica tal jeitinho de uma forma lícita ou de uma outra ilícita.

Vejamos alguns exemplos. Alguém chega a um hospital de pronto socorro, mas é avisado que tem muitos na frente e tem que aguardar. Geralmente, as pessoas necessitadas de atendimento de urgência dizem logo para o atendente: dá um jeitinho aí. Quando o atendente diz ser impossível por causa das normas internas, surgem então duas opções para o necessitado: esperar com paciência ou procurar outros recursos, como ligar para um político amigo. Nesse último caso está o jeitinho ilícito, pois se usa de um recurso para infringir as normas.

Um outro exemplo muito comum: ao ser multado por um guarda de trânsito, pede-se ao mesmo para dar um jeito, isto é, não emitir a multa. Talvez seja lícito o guarda, sob sua responsabilidade, atender o pedido e não lavrar a multa, mas a coisa fica feia se o infringente oferecer uma propina ao mesmo. Pior, se o guarda aceitar a propina. Aí, temos o jeito não apenas ilícito mas até criminoso.

Soube do caso de uma senhora que usou do recurso desse jeitinho de uma forma muito sutil, mas lícita. Seu filho foi acusado do crime de pedofilia, sendo que ela deveria ser a única testemunha do caso pois moravam juntos apenas ela com o filho e a suposta vítima. Chamada à delegacia para testemunhar, negou tudo e disse que não ter visto nada, visando unicamente livrar seu filho da prisão. Muitos pais, em casos semelhantes, simplesmente dão testemunho contra o filho com o objetivo de castiga-lo. No caso dessa senhora, como de outros semelhantes, ninguém pode condená-la por proteger o filho, e nisso podemos dizer que estamos perante um caso de jeitinho brasileiro, podendo ser censurado por muitos, mas legítimo por outros.

Enfim, existe uma infinidade de casos em que se pratica o jeitinho, competindo apenas a nós analisarmos se lícitos ou ilícitos.

Talvez os piores casos de jeitinhos ilícitos sejam o da malandragem.  

 Qual o papel da figura do malandro na psicologia popular?

Uma figura que a mídia sempre propagou foi a do malandro. Desde o início do século XX que ela é apresentada como certo “modelo” ao nosso povo.

 Primeiramente, veio o malandro do samba, do morro, pintado como um cara esperto e ladino, conseguindo levar vida mansa, inclusive enganando aos incautos. Esse modelo de esperteza ganhou a simpatia popular e passou a pautar a vida pública, inclusive de políticos. Para contrastar com a figura do malandro, criaram a figura daquele que é facilmente lesado por ele, chamado de “Mané”.

Quando se pretendia criar uma música nova sobre o Rio, ou que se referia ao samba ou ao carnaval carioca, a figura do malandro era sempre realçada. Foi assim que o famoso Noel Rosa se destacou em suas melodias, embora seu título mais conhecido seja o de “Poeta da Vila”. Mas outros compositores sobressaíram-se mais como exemplo de malandros realizados e completos, como Dicrós e Bezerra da Silva, sambistas famosos que criaram até uma música com o título de “ópera do malandro”, que é também o nome de uma peça de Chico Buarque.

A fim de que a figura do malandro fosse mais propagada, a Walt Disney criou um personagem famoso, o Zé Carioca: um papagaio, como não poderia deixar de ser, muito esperto e que sempre sabe se sair bem das enrascadas e dar golpes até em seus amigos. Até a década de 60, havia um outro personagem que também personificava o malandro: foi o famoso “Amigo da Onça”, criação de Péricles Moreira da Rocha na revista “O Cruzeiro”, cuja esperteza era sempre elogiada pelos leitores da revista como exemplo de inteligência e sagacidade. Outros malandros ficaram célebres no passado, alguns criados no cinema, como Oscarito que o personificava muito bem.

Será que a figura do malandro, sendo assim tão propalada como um exemplo para a sociedade, não tornou-se um mal, por inspirar em todos a ideia de que é lícito ser esperto e enganar os semelhantes? Quer dizer, será que essa figura não gerou o político corrupto e o traficante labioso? Não que os tenha produzido na raiz, mas sim que tenha criado clima psicológico na sociedade para que atuem impunemente. Nessa figura podemos encontrar, na maioria dos casos, a aplicação do jeitinho ilícito.

Então, temos o jeitinho lícito e o ilícito, sendo este último resultado de pura esperteza. É claro que há um tipo de esperteza legítima, como aquela, por exemplo, da história do Gato de Botas, onde o gato faz seu amo passar por um marquês a fim de se sair bem das complicações em que se metiam. Mas a do malandro carioca sempre tendia para a desonestidade, a sagacidade para enganar o próximo, o esperto que vivia num mundo cercado de pessoas incautas e bobas. Pois bem, essa esperteza do malandro fez escola, muito bem assimilada pelos políticos e traficantes, que a usam naturalmente no seu dia a dia. Hoje, podemos constatar que a esquerda soube muito bem usar este tipo de malandragem, na qual eles são exímios.

Esse tipo de esperteza, como a do malandro, porém, não é coisa nova. Há exemplos similares no passado.

Temos exemplo dentre os próprios bandidos. Um deles nos é contado pelo historiador francês Henri Robert, ao retratar a vida de um bandido que dominava a Paris do Ancien Regime. O tipo de esperteza dele é muito conhecido: fazia-se passar por um homem bom e amigo dos humildes, auxiliando os mais necessitados dos bairros pobres de Paris. Com isso conseguia proteger-se contra as investidas da polícia, pois era ocultado dela pelos próprios moradores seus vizinhos, que o tinham como um homem bom. Este tipo de esperteza tornou-se hoje o mais usado pelos traficantes, ao lado, sempre, da malandragem, do engodo, etc. Há também a lenda de Robin Hood que tornou mais popularizado esse método de acobertamento de bandidos entre os cidadãos de bem. Quer dizer, não é nenhuma novidade. Nesse caso não temos exemplos isolados de jeitinho, mas um conjunto de maus jeitinhos produzidos pela esperteza somente.

 Vejam também nossa postagem anterior sobre o tema:

 https://quodlibeta.blogspot.com/2011/11/qual-o-papel-da-figura-do-malandro-na.html

 (publicada em 14 de novembro de 2011)

 

 

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

NOSSA SENHORA DA ESPERANÇA

 





NOSSA SENHORA DA ESPERANÇA 

(Festa, terceiro domingo de setembro)

Quando Pedro Álvares Cabral partiu em 1500 da praia do Restelo com destino à Terra de Santa Cruz, trazia na nau capitânea uma imagem de Nossa Senhora da Esperança, que seria a protetora de sua esquadra durante a viagem. Era uma pequena imagem representando a Virgem Maria de pé, com o Menino Jesus sentado em seu braço esquerdo e segurando, carinhosamente, com a mão direita, o pezinho d’Ele. O Divino Infante alimenta uma pomba (símbolo do Espírito Santo) com alguns grãos, pousada sobre o braço direito de Sua Mãe.

O fidalgo de Belmonte, tornado então Capitão-Mor de uma esquadra que se dirigia às Índias em missão oficial do Rei de Portugal, Dom Manuel “O Venturoso”, deveria enfrentar  “mares tormentosos” ao contornar o famoso “Cabo da Boa Esperança”, anteriormente chamado “das Tormentas”. Segundo alguns, desviou demais o rumo de sua viagem e sua esquadra veio avistar o Monte Pascoal no dia 22 de abril daquele ano. Alguns dias depois, a 26 de abril, num Domingo de Páscoa, o capitão tomava posse da nova terra desembarcando em Porto Seguro. 

Os cronistas não o dizem, mas é claro que Pedro Álvares Cabral levou para terra a piedosa imagem de Nossa Senhora da Esperança. Assim, no Altar onde Frei Henrique de Coimbra celebrou a primeira missa em solo brasileiro, havia não só a Santa Cruz, que deu nome à nova terra, mas também a imagem de Nossa Senhora da Esperança. A Virgem da Esperança, que amansou o “cabo das tormentas” e lhe trocou até o nome, vinha agora com seu terno olhar amansar e abençoar a selvagem terra recém-descoberta. 

Alguns dias depois seguiu Cabral a rota da Índia, agora com 11 navios, onde foi enfrentar, além do Cabo da Boa Esperança, bárbaros reis mouros na esperança de lá também propagar a Fé Católica. Em junho do ano seguinte começaram a chegar as seis embarcações que restaram das 13 que partiram: dentre elas se destacava a nau capitânea, relicário ambulante que continha intacta, soberana e vencedora a Virgem da Boa Esperança.

Foi, pois, sob o olhar materno de Nossa Senhora da Boa Esperança que nasceu o Brasil.

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

PERANTE A CRISE ATUAL DA IGREJA DEVEMOS SORRIR OU CHORAR?






Apesar das enormes crises e sofrimentos do mundo atual há uma mentalidade predominante que só pensa em sorrir. Até autoridades de peso vivem no mundo dos sorrisos. A propósito do tema (sorriso ou choro), o site “Corazones.org” divulgou o seguinte texto:

A VIRGEM MARIA, SANTA CATARINA DE SIENA E AS LÁGRIMAS.

Santa Catarina de Siena, na sua famosa obra “O Diálogo”, tem um belo capítulo sobre as diferentes classes de lágrimas, seu valor e fruto. Esta Doutora da igreja distingue até cinco tipos de lágrimas:

1. Lágrimas más, que geram morte. São as que vêm do pecado e levam ao pecado: lágrimas de ódio, de inveja ou desespero, vêm de um coração confuso e afastado de Deus.

2. Lágrimas de medo pelos próprios pecados. São as que se levantam do pecado por medo do castigo: o medo fá-los chorar. A sua motivação não é perfeita, pois não há necessariamente arrependimento.

3. Lágrimas dos que, longe do pecado, começam a querer servir a Deus; mas, privados de consolação visíveis, choram por se verem com tanta incapacidade e tribulações.

4. Lágrimas dos que amam com perfeição a Deus e ao próximo, doendo-se das ofensas que são feitas a Deus e pena do dano do próximo, em completo esquecimento de se.

5 . Lágrimas de doçura, derramadas com grande suavidade pela união íntima da alma com Deus. São lágrimas de puro amor que derramam os santos nas mais altas cimeiras de perfeição cristã.


CHOROU MARIA SANTÍSSIMA?

A Virgem Maria sofreu muitas dores e dores. Simeão lhe anuncia que ¨ "uma espada sobreposição seu coração" (LC 2, 35). E os quatro evangelistas relatam eventos que não podiam menos de causar uma profunda dor em Maria.

O livro do Apocalipse descreve-nos a " Mulher vestida de sol, com a lua a seus pés e coroada com uma coroa de doze estrelas... e diz-nos que " gritava com dores de parto " (Ap 12,1 _ 2 . Estas dores são os que lhe produziram o parto sobrenatural da igreja e dos membros do corpo místico do seu filho. O parto onde Maria nos recebe a todos como filhos, aconteceu ao pé da cruz do seu amado filho Jesus. E Maria continuará a sofrer dores de parto até que o seu filho não tenha nascido em todos os corações dos homens.

Sabemos que Cristo chorou ao prever a ruína de Jerusalém (Lc 19,41) e que também, derramou lágrimas diante da dor de Marta e Maria pela morte de Lázaro (Jo 11,35). Da Santíssima. Virgem Maria, os Evangelhos não nos dizem explicitamente, mas ao nos narrar situações dolorosas em que ela participou plenamente na sua missão de associada ao trabalho redentor, ou seja, como Co-redentora, devemos concluir que se ela realmente sofreu, então deve ter chorado, derramado muitas lágrimas dos seus olhos tão puros.

Chorar não é imperfeição quando o motivo do choro é santo. Chorar não é efeito de fraqueza, mas de sensibilidade fina. Chorar a impulsos do amor divino é um dom de Deus, dom que só a grandes almas é concedido.

São Francisco de Assis, chorava tanto pelos seus pecados, que quando se visita a Basílica de Santa Maria de Los Angeles, onde se encontra a porciúncula e outros lugares cruciais para a vida do Santo, encontramos uma caverna que se chama a “Capela das Lágrimas¨. esta capela é a caverna onde São Francisco muitas vezes chorou ao contemplar tão pecador diante da santidade de Deus”. 

Aqui termina o  texto do site “Corazones.org”..


NOSSA SENHORA CHORA NOS DIAS ATUAIS?

Perante a situação da terrível crise por que passa a Igreja nos dias atuais, Nossa Senhora tem manifestado constantemente o quanto tem derramado suas lágrimas. E o exemplo mais característico foi o pranto derramado em Nova Órleans, no ano de 1972. Mas, não foi suficiente, pois desde então tem surgido vários outros prantos em várias partes do mundo.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

QUEM REPRESENTA REALMENTE A OPINIÃO PÚBLICA?

Com a reviravolta causada pelas chamadas redes sociais o domínio da opinião pública não é mais de uma elite intelectual e política, agora está cada vez mais patente que é a manifestação mais ou menos espontânea dos cidadãos. A mídia oficial, representada pelos canais de TV abertas, revistas, jornais e rádios, já está ciente de que não consegue mais dominar e controlar a opinião pública. 

Quando essa elite intelectual mandava no pensamento coletivo ficava fácil a partidos de esquerdas, com elementos infiltrados nas mídias oficiais, manobrar e influir na opinião pública. Porém, hoje isso está ficando cada vez mais difícil para eles. É claro que ainda mantêm algum domínio, mas sem influir de modo preponderante no cômputo geral das opiniões de todos. Por isso, aqueles que pensam representar o pensativo coletivo apenas com base nas mídias oficiais, ou com base em elementos pertencentes aos chamados “movimentos sociais” (tipo CUT, MST, etc), erram redondamente e estão fadados a ficar na poeira histórica do passado. Estes grupos vivem para si mesmos, uns bajulando os outros e seus representantes, sem pertencer a quanta distância estão do pensamento coletivo.  Dizem para eles mesmos que representam o pensamento coletivo, enganam-se nessa miragem psicológica e não vêem a realidade bem palpável ante seus olhos.

Um exemplo: a esquerda nunca representou o pensamento coletivo, nunca foi produto do pensamento nacional, nunca representou a opinião pública, mas manteve-se nesse erro porque os elementos colocados em postos importantes da mídia oficial lhes alimentavam essa ilusão. 

Hoje, têm tudo para enxergar a realidade e reconhecer que não são reconhecidos pelo povo.

No entanto, é bom que se frise que as redes sociais também têm seus manipuladores. Mas, estes dificilmente conseguirão impor seu modo de pensar à maioria, hoje tão livre para dizer o que pensa e não seguir um figurino imposto pelas mídias oficiais. 

Finalmente, a população pode ver realmente o que é a tão decantada “liberdade de expressão”, festejada por juristas constitucionais como um dos maiores bens das democracias modernas, mas sem uma definição clara que evitasse sua manipulação pelas elites midiáticas do passado. 

Esperemos que surjam finalmente destas livres manifestações da opinião pública, agora possuída de uma liberdade de expressão completa, alguns princípios ordeiros e pacíficos para orientar os destinos de nosso povo.

domingo, 7 de setembro de 2025

QUAIS OS DESÍGNIOS DA PROVIDÊNCIA PARA O FUTURO DO BRASIL?





7 de Setembro, dia da nossa independência, é também celebrado o dia do Anjo da Guarda do Brasil. Como se sabe, a exemplo de cada pessoa, também as nações têm seus anjos protetores. Aproveitemos este dia para meditar sobre nosso futuro, o qual, com certeza, terá atuação intensa do nosso anjo protetor.

1. Por ser uma nação predestinada, onde provavelmente deve se iniciar o Reino de Maria (ou já se iniciou), deve ser também a mais provada;

2. Durante a "bagarre" o Brasil deve sofrer castigos que possam servir de exemplo para o mundo, isto é, fazendo surgir ou crescer aqui uma forte têmpera de um povo preparado para grandes lances históricos;

3. Assim, a temática esquerda-direita não tem tanta importância, a não ser momentaneamente, devendo permanecer na opinião pública uma pujante opinião católica capaz de influenciar o mundo; 

4. Deste modo, espera-se que a aparente vitória da esquerda, assumindo o poder no país, possa servir para provar o povo, que pode ficar decepcionado com seus líderes, mas se ficar fiel às suas tradições cristãs poderá superar todo impasse;

5. O que pode estar ocorrendo no momento: uma grande frustração e indignação da população a faz lutar contra as atuais situações de uma forma diferente, enfrentando problemas com garra e combatividade; surgirá, então, uma grande provação permitida pela Providência divina pelos seguintes motivos:

a) O povo vem cometendo grandes pecados coletivos, como o da sensualidade e do liberalismo, ou mesmo do relativismo, sendo merecedor de muitos castigos para que possa  reparar tais pecados;

b) Na contingência de ser tolhida sua liberdade deverá purgar o pecado do liberalismo, e o sofrimento o fará engrandecer mais a alma;  de outro lado, as privações econômicas o fará pecar menos sensualmente, isto é, a miséria como castigo pode levar um povo a reparar pecados de sensualidade;

c) Mas, sendo provado e reparando seus pecados, deverá surgir uma plêiade de católicos que possa levar a população a construir uma nova sociedade, nascida sob os escombros da velha então falida e arruinada. 

d) Num outro panorama em que haja grande progresso social e econômico o povo afundaria mais ainda nos pecados; por isso, a Providência permitiu a vitória da esquerda que vai promover grande decadência econômica e sofrimentos sem conta. Isso pode durar pouco tempo, mas com intensidade suficiente para produzir os efeitos que a divina Providência deseja para nosso povo. De outro lado, outros castigos, como pragas e desastres naturais, poderão produzir muitas mortes e despertar nas populações o temor de Deus, aproximando mais ainda as pessoas da Religião e de suas obrigações e necessidades espirituais. 

e) Por fim, o Reino de Maria virá após muita catequese, muito ensino dado às populações sobre a natureza de tais eventos e a necessidade de se arrepender de seus pecados, tanto individuais quanto sociais ou coletivos, reparando-os e mudando de vida. Os bons serão martirizados, como disse Nossa Senhora em Fátima, mas deixarão o legado de uma nova sociedade que servirá de modelo para o mundo. Como se viu, é a conjugação de vários fatores que poderá fazer este povo reconhecer seus pecados, pedir perdão e mudar de vida, e dentre estes fatores o domínio ignominioso da esquerda poderá produzir os frutos desejados pela Providência divina para educar as populações, assim como o povo hebreu viveu 4 séculos como escravos dos egípcios a fim de vencer seu orgulho e se privar de tantos pecados que cometiam, principalmente o da idolatria.

f) Há ainda uma questão: como a Providência pode permitir que membros do corpo místico do demônio obtenham o poder de governar um povo católico? Sim, pode permitir para a própria ruína deste corpo maldito, pois o Corpo Místico de Cristo continuará vivo e alimentado pelo poder e das graças divinas vencerá de qualquer  forma o corpo místico do demônio. Talvez isso até sirva para fazer crescer mais ainda o Corpo Místico de Cristo, pois o confronto atrairá muitas graças de Nossa Senhora para este povo. 

 A QUESTÃO DIREITA-ESQUERDA PERANTE A VISÃO RCR

O Senhor Doutor Plínio Corrêa de Oliveira nos ensinou a ver o papel preponderante da Revolução nos últimos acontecimentos. Podemos analisar tudo com base em seu livro "Revolução e Contra-Revolução" (RCR). Disse ele certa vez que a Revolução estava “morta”. Isso queria dizer que ela estava como uma cobra mortalmente ferida pela cabeça, embora ainda rastejando. E este rastejo pode ser visto nos seus últimos lances. Desesperada porque nunca conseguiu apoio popular às suas idéias, tramaram nova forma de ação. Essa nova modalidade dela pode ser sintetizada num livro escrito pelo americano Gene Sharp sob o título de “como fazer uma revolução pacífica”. Trata-se de um manual orientando como fazer a Revolução sem violência. Se alguém tiver o trabalho de confrontar o que diz aquele manual e como agem os “direitistas” de  hoje vai ver que há inteira consonância entre eles. Quer dizer: a Revolução resolveu queimar as etapas de avanço para tentar aplicar um retrocesso. Eles querem transparecer a idéia de que a Revolução seja “espontânea”, partida de grupos naturais sem qualquer influência de organizações políticas ou sociais. Primeiramente, este método é aplicado contra regimes políticos de esquerda, antipáticos à população e fácil de angariar opositores. Nota-se uma aparente teatralização destes governos de esquerda na América Latina, parecendo que agem de propósito com o fim de incrementar as ações “pacíficas” da direita. Muitos estranham suas atitudes pois só fazem lhes dar mais impopularidade e crescimento da indignação popular. O trabalho do STF no Brasil visou então estimular o crescimento popular da direita, despertando enorme reação popular contra o golpe que deram.  E no final, o que viria se a direita vencesse? Dizem que uma era de prosperidade. Mas, não é bem assim. Nos países onde venceu essa “revolução pacífica”, o que houve depois da queda do governo de esquerda foi o caos. O  caso característico foi a Colômbia, que teve um governo muito “direitista” que deu anistia às FARCs e contribuiu para eles tomarem o poder. Pois,  eles só levam em conta velhos chavões revolucionários “como o poder emana do povo” e ‘liberdade de expressão”. No Egito também usaram essa tática de “revolução pacífica”, derrubaram o governo, mas nada de bom surgiu depois, só o caos político e social. Observem que os seus elementos que falam na internet usam muitos palavrões e dão sinais de serem realmente filhos das trevas. A própria maçonaria já andou tomando ares de direitista e se pronunciando contra a esquerda. Não pode ser boa coisa.  Distoa desse manual (de fazer uma Revolução pacífica) o movimento violento surgido no Nepal  em setembro de 2025,  numa reaçao contra o regime de esquerda que quis controlar e reprimir as redes sociais. Por causa disso, entende-se a razão de Monsenhor João Clá e seus sacerdotes nada falarem sobre o assunto. A missão dos Arautos do Evangelho é evangelizar e nisso vamos preparando as populações para construir uma nova civilização. Os acontecimentos políticos passam, mas as instituições e as construções nascidas como fruto destas evangelizações vão ficar para sempre, além da boa formação moral e religiosa do povo.

PODEMOS PREVER NOSSO FUTURO?

A respeito da meditação acima vejamos o que diz o Livro da Sabedoria, cuja leitura foi feita na Santa Missa de hoje:

"Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Ou quem pode imaginar o desígnio do Senhor? Na verdade, os pensamentos dos mortais são tímidos e nossas reflexões incertas: porque o corpo corruptível torna pesada a alma tenda de argila oprime a mente que pensa. Mal podemos conhecer o que há na terra, e com muito custo compreendemos o que está ao alcance de nossas mãos: quem, portanto, investigará o que há nos céus? Acaso alguém teria conhecido o Vosso desígnio sem que lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses vosso Santo Espírito? Só assim se tornaram retos os caminhos dos que estão na Terra, e os homens aprenderam o que Vos agrada, e pela Sabedoria foram salvos" (Sab 9, 13-18).

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

A LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA IDADE MÉDIA

 NA IDADE MÉDIA HAVIA MAIS LIBERDADE DE EXPRESSÃO DO QUE NOS DIAS ATUAIS - Como se explica isso? As pessoas que emitiam seus conceitos, suas opiniões, naquele tempo, eram os religiosos em suas escolas e locais de estudo. Assim, entre os Escolásticos, por exemplo, os temas eram discutidos acaloradamente, ocasião em que se punha em ação um sistema de críticas e refutações a fim de se atingir o objetivo que era a elucidação do tema. Foi daí que surgiu entre eles a explicitação da finalidade da "Crítica", que era opor argumentos contrários no momento das discussões.

Hoje não se vê mais isso. Qualquer pessoa que quiser opor algum argumento de peso contra qualquer idéia, isto é, fazer uma crítica, é logo taxado de "preconceituoso", aquele que tem suas idéias refutadas fica cheio de melindres, simplesmente porque foi contraditado. E isso ocorre especialmente entre aqueles que abraçam ideais políticos, isto é, políticos partidários, geralmente cheios de fanatismos ideológicos, como os esquerdistas e simpatizantes.

Na Idade Média é claro que havia também estes fanáticos, mas eles diziam suas heresias e conceitos errados de uma forma clara e tranquila, da mesma forma que também eram refutados. Quando o sujeito insistia demais, a ponto de ir de encontro clamoroso aos conceitos morais e religiosos já aceitos por toda a sociedade, aí era que os governantes interferiam a fim de evitar que a praga se propagasse na sociedade.  O esclarecimento surgia depois dos debates e os assuntos eram aceitos porque houve honestidade nas discussões.

E hoje? ai daquele que tentar levar a público algum argumento contra qualquer desvio moral, como adultério, aborto, homossexualismo, etc., Será logo  taxado de preconceituoso, de intolerante, mesmo que use de mansidão no falar.