Segundo a Tradição o primeiro Evangelista foi São Mateus, seguido por São Lucas. No entanto, acredita-se que, efetivamente, São Marcos foi o primeiro a escrever o seu Evangelho. A respeito de dados históricos sobre as origens dos Evangelhos, vejamos o que disse sobre o assunto o padre Matos Soares em sua Bíblia Sagrada, ao comentar sobre o Evangelho de São Marcos: “A composição do segundo Evangelho deve ser colocado antes do ano 70, ou melhor, antes do ano 63, época em que já tinha sido publicado o Evangelho de Lucas, o qual, como já admitem também os críticos acatólicos, depende de S. Marcos. Ora, sabemos pela tradição, como foi dito ao falarmos do Evangelho de S. Mateus, que, em ordem cronológica, este Evangelho ocupa o primeiro lugar, e que teria sido escrito, provavelmente, entre os anos 50 e 54. Podemos, portanto, afirmar que Marcos escreveu o seu Evangelho depois do ano 54 e antes do ano 61, no período em que ele devia encontrar-se em Roma, junto com o apóstolo Pedro, como seu auxiliar na fundação da Igreja de Roma” [1] No texto sobre o Evangelho de São Mateus, a que se refere acima o padre Matos Soares, ele afirma, no entanto, que “não se pode estabelecer com certeza a data da composição do primeiro Evangelho”.
Eusébio de Cesaréia, o
primeiro historiador da Igreja, narra que, estando São Pedro e São Marcos em
Roma, os romanos, "não satisfeitos com o ensinamento não escrito da
pregação divina (que lhes ministrava S. Pedro), importunaram a Marcos,
companheiro de Pedro, com todo gênero de exortações, para que lhes deixasse um
memorial escrito da doutrina que de viva voz lhes havia sido transmitida.
Converteram-se, desta maneira, em causa do texto chamado Evangelho de São
Marcos. O Apóstolo, quando soube sobre o que havia sido feito, alegrou-se pela
boa vontade daquelas pessoas e aprovou o escrito para ser lido nas
Igrejas".(História Eclesiástica, II, 15).
No entanto, é tão
importante assim a data? Qual o que surgiu primeiro? O que se deve levar em
consideração é que surgiram na mesma época, enquanto estavam vivos os
principais Apóstolos que foram testemunhas dos fatos ali narrados e os
confirmaram pela via oral. De outro lado, qual o fator que deve ser levado em
consideração para se considerar a primeira impressão? Impressão? Naqueles
tempos não havia impressão como hoje, mas os documentos surgiam de uma forma
diferente. Eram papiros ou outros recursos. E às vezes poderiam ter sido dados
ao conhecimento público em épocas diferentes de sua impressão ou redação. Um
evangelista pode ter escrito seu texto num ano, mas somente após passar pela
censura superior, por exemplo, de São Pedro, o documento passou a ser divulgado
entre os cristãos; e isso poderia levar algum tempo.
Na sua História
Eclesiástica, Eusébio narra também que foi este mesmo São Marcos o primeiro a
ser enviado ao Egito para pregar o Evangelho, vindo ali a morrer mártir na
qualidade de primeiro patriarca de Alexandria: "Este Marcos", diz
ainda Eusébio de Cesaréia, "dizem que foi o primeiro a ter sido enviado ao
Egito e que ali pregou o Evangelho que ele mesmo havia escrito e fundou
igrejas, começando pela própria Igreja de Alexandria. Surgiu ali, logo de
início, uma multidão de crentes, homens e mulheres, com um ascetismo ardente e
conforme à sabedoria". (História Eclesiástica, II, 16). Correndo o ano
oitavo do império de Nero, o primeiro que, depois de Marcos o Evangelista,
recebeu em sucessão o governo da Igreja de Alexandria foi Aniano". (H. E.
II, 24). Quer dizer, além de haver escrito o Evangelho, São Marcos o pregou e
fundou em Alexandria uma escola de pensamento cristão.
Alexandria tornou-se,
assim, um “cento propulsor de estudos e divulgação da doutrina cristã”. No
entanto, a localidade já era conhecida como centro de estudos merecedor de
credibilidade, como ocorreu nos séculos anteriores ao Cristianismo (cerca de II
ou III a.C), quando ali foi feita a famosa tradução da Sagrada Escritura pelos
“setenta” sábios. Uma obra coletiva feita por doutores hebraicos que vieram à
Alexandria com esta finalidade a pedido de Ptolomeu Filadelfo (rei do Egito que
governou de 285 a 247 a.C). Até hoje essa tradução para o grego de textos de
idiomas diferentes do Antigo Testamento é tida como certa e inspirada por Deus,
Em Alexandria surgiram
estudiosos famosos pela filosofia e pela teologia cristãs nascentes, os quais
foram denominados “Padres Alexandrinos” pelo fato de terem estudado na escola
desta cidade. Destacaram-se nesta escola Panteno (200 dC), Clemente de
Alexandria (220 dC), Orígenes (250 dC), etc deixando a toda Cristandade um
legado de doutrina e catequese.
Uma
escola de formação de catequistas
A catequese foi o método de doutrinação primordial para o Cristianismo,
tendo sido o mais usado por Nosso Senhor Jesus Cristo em sua vida pública.
Ensinar e doutrinar é a parte principal da atividade apostólica. E somente após
surgir os primeiros Evangelhos foi possível se estabelecer um critério didático
de funcionamento destas escolas. Nos primeiros séculos, a Igreja só tinha
mestres semelhantes aos Apóstolos, especialmente nas primeiras décadas tudo era
passado de uns para os outros através da tradição oral, dando-se credibilidade
às palavra daqueles que foram testemunhas dos fatos. Aos poucos foram surgindo
os catequistas, que eram seus “doutores”. Esta função divina de ensinar, de
maneira simples e familiar, a Doutrina Cristã era a mesma que os bispos
herdaram de Jesus Cristo; consideravam-na peculiar à sua qualidade de pais e
pastores. Quando, com o aumento do número de fiéis, viram-se constrangidos pela
força das circunstâncias a passar essa tarefa a outros, tiveram o cuidado de
escolher, para tão nobre missão, os homens mais capacitados e virtuosos de sua
igreja. E nessa oportunidade sentiram a necessidade de ter algo escrito, como
os Evangelhos, conforme narra Eusébio de Cesaréia sobre o de São Marcos.
Os mais destacados doutores dos primeiros séculos da Igreja ufanaram-se
da função de catequista e da preparação dos catecúmenos para o batismo. São Cirilo, bispo de Jerusalém, Santo
Ambrósio, arcebispo de Milão, São Gregório de Nissa e Santo Agostinho até
compuseram livros, que ainda conservamos, para orientar os catequistas e
ensinar-lhes o método de transmitirem os princípios da fé às crianças e aos adultos que se preparavam
para o batismo. Todas estas obras catequéticas, é claro, se baseavam nos
Evangelhos e formaram um corpo de doutrina para as gerações futuras.
Na igreja de Alexandria funcionava uma célebre escola de catequistas
para instruir os catecúmenos. Panteno, São Clemente de Alexandria e Orígenes,
que sucessivamente a dirigiram, deram à escola tanta fama, que para ela
acorriam pessoas das mais longínquas regiões.
Nela, São Gregório Taumaturgo aprendeu os rudimentos da fé e fez
progressos tais, que o tornaram célebre pelos séculos afora.
Entre as honrarias da Igreja de Constantinopla, o registro dos serviçais
menciona a de catequista, cujas funções eram instruir o povo e todos os que
abandonavam a heresia para retornar ao seio da Igreja Católica. Orígenes foi
encarregado da doutrina aos catecúmenos já aos dezoito anos quando ainda era
leigo. Em Cartago, São Cipriano nomeou
para o mesmo serviço um mestre de retórica chamado Optato. Declara-o nestes termos: “Nomeamos Optato, um
dos leitores, mestre dos catecúmenos”. Duzentos anos depois, o diácono
Deogratias exercia idêntica função na mesma igreja, e foi a seu pedido que
Santo Agostinho compôs o belo livro intitulado: “De catequizandis rudibus”[2]. Tudo isso
comprova que se confiava essa tarefa ora a um diácono, ora a um sacerdote e, às
vezes, até a um simples leigo e que, na seleção de catequistas, olhava-se menos
a posição social da pessoas do que seus talentos, virtudes e dons particulares.
Isso continuou até que, tendo a maioria dos homens abraçado o
cristianismo, a falta de catecúmenos fez desaparecer aos poucos a função de
catequista. Em tal situação, os pais e as mães e, na falta deles, os padrinhos
e as madrinhas assumiram o encargo de ensinar a doutrina às crianças. Ao mesmo tempo,
os bispos fundaram escolas para instruir a juventude na religião e nas ciências
humanas. A criação, nas igrejas catedrais, do título de “écolâtre”, ou
chanceler, remonta àquela época. Os que eram investidos dessa dignidade deviam
supervisionar as escolas primárias e tinham o direito de: nomear os mestres e
as mestras de primeiras letras e dar-lhes posse; resolver e julgar eventuais
divergências; e, elaborar estatutos e regulamentos para as escolas primárias e
exigir-lhes exata observância.
Catequese e o surgimento da Escolástica
Foi daí
que surgiu a “Escolástica”. O termo “Escolástico” vem do
latim “Scholasticus”, que designava o clérigo dirigente da escola vinculada à
igreja catedral. Na França medieval, a
palavra latina foi deformada para “scolastre”, gerando o termo francês
“Écolâtre”. No início do Cristianismo
era muito comum se determinar que alguém ensinasse o Catecismo, sendo depois
regulamentada aquela função com a designação de um clérigo que, futuramente,
ficou dirigindo a escola vinculada à igreja principal, ou catedral. No decorrer dos anos, o termo foi evoluindo
até tomar o significado que tem hoje: nome de um método de ensino utilizado nas escolas e
universidades medievais a partir do século XI. Várias etapas compõem esse
método. A primeira consiste em comentar e explicar os autores, isto é, os
escritores considerados autoridades na matéria tratada. A isso chama-se
“lectio”, na verdade uma exposição que começa com a análise do texto, de sua
correção e significação. A seguir, uma discussão (“disputatio”), onde se
estabelece a sentença, isto é, o ensinamento que se pode tirar do texto. A
partir do momento em que esse texto é posto em questão, surge a terceira fase
do método (‘questio”) na qual alunos e mestres apresentam a conclusão do que
examinaram (“determinatio”), sempre dirigida pelo professor. Então, “lectio”,
“disputatio”, “questio”, e “determinatio” formam o caminho percorrido pela
Escolástica para se chegar á Verdade, que seria a “conclusio”. Duas vezes por ano, os professores organizavam
uma reunião chamada “quodlibet”, em que propunham o debate de um tema sugerido
por qualquer pessoa presente. A Escolástica tornou-se, com o tempo, o nome que
sintetiza as doutrinas teológicas e filosóficas dominantes na Idade Média, cujo
cume foi atingido com o Tomismo.
A maioria dos concílios medievais, notadamente os de Châlons-sur-Saône
(813), Aix-la-Chapelle (816), Paris (829), Meaux (845), Troflé (909), e Latrão
(1179 a 1198), recomendavam encarecidamente a fundação de escolas e obrigaram
os párocos a ensinarem o catecismo ao povo.
Apesar do empenho da Igreja, ainda havia muita ignorância
religiosa. Jean Charlier, conhecido como
Jean de Gerson, ou simplesmente como Gerson, (1363-1429) famoso reitor da
Universidade de Paris e teólogo notável, teve que escrever um livro , “Traité
du zèle pour attirer les petits enfants à Jésus-Christ” (Tratado do zelo para
levar as criancinhas à Jesus Cristo), com objetivo de catequizar as
crianças. Ele próprio, reitor e teólogo
de fama, exerceu as funções de catequista em Lion, tendo por isto sido julgado
como pessoa de mente fraca.
Anos depois, o Concílio de Trento promulgava vários decretos cujos
objetivos eram a catequese. Num deles
cada vigário era obrigado a dar o catecismo às crianças, aos domingos e dias de
festa. Numerosos concílios provinciais confirmaram e publicaram os decretos do
Concílio de Trento, obrigando por sua vez seus pastores a serem catequistas de
suas paróquias. Na Itália, São Carlos Borromeu foi o primeiro a apoiar a
medida, ordenando inclusive que as crianças fossem chamadas ao catecismo pelo
toque do sino.
Nos dias atuais a catequese (dar aulas de catecismo) é função quase
exclusiva dos leigos, havendo pouquíssima (ou quase nula) participação de
sacerdotes ou religiosos de modo geral nesta sublime missão. Da mesma forma, o
catecismo dedicado às crianças não sofreu substanciais modificações didáticas,
sendo que a última data ainda do tempo de São Pio X. João Paulo II autorizou a
atualização do Catecismo da Doutrina Cristã, mas não é voltado inteiramente
para crianças e sim para pessoas já instruídas e adultas.
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