quinta-feira, 22 de setembro de 2022

O QUE É A CASTIDADE

 




 Transcrevemos abaixo a doutrina exposta por Francisco Spirago no seu “Catecismo Popular Esplanado” sobre a Castidade:

“a). É Casto o que conserva o corpo e a alma limpos de tudo o que ofende à Inocência.

São Estanislau Kostka (1568) evitava até ouvir uma só palavra pouco decente: o mesmo fizera São Luís e outros. Alguns ofereceram de boa vontade o sangue e quanto tinham, antes que manchar a virtude da pureza; assim o fizeram o Patriarca José, solicitado no Egito; as santas Inês, Luzia, Úrsula, Águeda, etc. A castidade é uma perfeição mais que humana (São Cirilo de Jerusalém). É de origem divina, pois Deus a traz do céu à terra (Santo Ambrósio). Os homens que vivem com pureza, são como lírios (Cânt. 2, 1). Qualquer pequena sevandija que aparece num lírio, lhe tira a deslumbrante brancura e o deforma. Assim, o que vive puro se mancha com qualquer representação desonesta. Qualquer contato grosseiro tira ao lírio a beleza, e o murcha: assim se arruína a pureza do que viveu inocente, com o trato inconsiderado com o mundo exterior. O lírio cresce reto até o céu e tem as pétalas em forma de línguas. Assim o homem puro caminha direto ao céu, porém é mister que tenha sua língua reprimida. O lírio enche toda a casa de agradável fragrância, e o homem puro exerce um influxo benéfico em tudo o que  o rodeia. A alma do que vive na pureza se parece a uma água cristalina: quando se joga nela uma pedrinha, se comove, mas não por isso se turva (S. Vicente Ferrer).

- Os homens que levam uma vida pura são parecidos aos santos anjos e muito agradáveis a Deus.,

Os que levam uma vida pura "são anjos em carne" (S. Basílio).  A castidade é uma virtude angélica, pois por ela se faz o homem semelhante aos anjos (S. Cristóvão). As almas castas formam uma família de anjos, que Cristo tem estabelecido na terra, para ter anjos que O louvem não só no céu mas também na terra (S. Jerônimo).  As almas castas sobrepujam, em certo modo, os anjos, porque conquistam sua pureza, o que não podem fazer eles (S.Cipriano). As almas puras são anjos de superior hierarquia, pois os anjos não têm combates que sustentar; mas as almas puras conservam a castidade contra as contínuas tentações do demônio (S. Basílio). Há, em verdade, diferença entre o anjo e a alma pura; mas não na virtude, senão na felicidade; a pureza do anjo é mais feliz, porém a do homem é mais forte (S. Ambrósio). Os santos anjos conversam amiúde com as almas castas, como o mostra a vida dos santos, o que é uma prova de que reconhecem neles seus semelhantes. O demônio sabe que os homens, pela castidade, alcançam a dignidade angélica, que ele perdeu; por isso se esforça com ardor em trazer-nos impuras representações (S. Isidoro).

Os homens que levam uma vida casta são por extremo agradáveis a Deus. Cristo Nosso Senhor amava sobretudo as almas puras; escolheu por Mãe a mais pura das virgens; por Pai nutrício, a São José, cuja pureza era angelical; a São João Batista, santificado antes que nascido, por Precursor, e ao virgem São João amou entre todos os apóstolos, e o reclinou em seu peito na última Ceia. Em sua morte estiveram, ao pé da Cruz, duas almas castas. Também amou tanto aos meninos, por sua pureza.  O que ama a pureza de coração, terá por amigo o Rei do céu (Prov. 12, 2). À alma casta, chama Deus irmã, amiga, esposa (Cânt. 4, 6-8). As virgens têm por esposo o Rei dos anjos (S. Ambrósio). Qualquer alma casta é rainha, porque está desposada com o Rei dos reis. A virgindade roubou de sorte o coração de Cristo, que quis nascer de uma Virgem e permanecer Ele mesmo virgem (S. Jerônimo).

Os homens castos gozam também de uma "estimação" (predileção) particular de seus próximos; já dos pagãos foram muito estimados. Quanto não honraram os romanos às vestais, que tinham de permanecer virgens os trinta anos de seu serviço no templo! Quando apareciam na rua, se lhes tributavam honras públicas, e se encontrava-se com elas um malfeitor levado ao suplício, se lhe indultava e dava liberdade. Vede! Os pagãos premiam suas filhas que preferem a castidade e virgindade ao matrimônio, e entre nós cristãos, seria menosprezada a virgem que se abstém do matrimônio por motivo superior? (S. Ambrósio). Oh, quão formosa é a geração casta com o resplendor das virtudes! Sua memória é imortal ante Deus e ante os homens (Sab. 4, 1)

b). Os que vivem vida casta  possuem claro conhecimento de Deus, grande força de vontade, paz de alma e serão particularmente distinguidos no céu.

A pureza de coração é a saúde do espírito (S. Bernardo). As pessoas castas têm maior ilustração do entendimento, principalmente claro conhecimento de Deus. A elas se referem as palavras de Cristo: Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus (Mt 5, 8). Os castos são como um cristal puro, pelo qual penetram todos os raios do sol. São como uma pura e perene fonte de água, na qual se reflete o céu. A pureza do coração e a interior formosura e liberdade do anjo, faz eruditos e mestres, ilustrados, filósofos e teólogos, e em todas as matérias instruídos (S. Agostinho). A castidade nos faz capazes de olhar o Sol de justiça, ponto por ponto, com olhos puros (S. Isidoro).  A grande pureza habilitou São João Evangelista para penetrar tão fundamente os mistérios da religião. Como uma águia, se eleva no começo de seu Evangelho até à Divindade. A pureza é a que comunica à alma o heroísmo (S. Ambrósio). A casta Judite mostrou tal heroísmo, no cerco de Betúlia, que foi ao acampamento dos inimigos e cortou a cabeça de Holofernes. A Sagrada Escritura diz, dela: Obraste varonilmente, porque tens amado a castidade (Jud 15, 11). Os castos chegam por isto rapidamente à todas as virtudes. Como a cor branca é a harmonia de todas as outras cores, assim é a castidade a base de todas as outras virtudes (S. Boaventura).

O que leva vida casta é ditoso já na terra. A castidade traz consigo uma indescritível graça e suavidade, e proporciona um prazer mais doce que todos os prazeres da carne (S. Isidoro). É ao próprio tempo saúde para o corpo. O que leva vida virginal possui já aqui a glória da ressurreição (S. Cipriano). A pureza é uma figura da eterna incorruptibilidade dos corpos (S. Agostinho). Ela derrama sobre todo o corpo humano uma atrativa graça (S. Efrém). Os castos têm geralmente cor formosa no rosto, sinal de saúde, e regularmente alcançam grande longevidade. Quando, por exceção, um dos tais morre cedo, o permite Deus por sábio conselho; o leva deste mundo para que a malícia dos pecadores, entre os quais vive, não perverta seu entendimento (Sab 4, 11).  Além do mais, tem vivido bastante quem tem vivido bem.

Os que vivem vida casta serão um dia, no céu, particularmente "distinguidos". As almas virgens estarão no céu muito perto de Deus; estarão perto do Cordeiro e o seguirão onde quer que vá, e cantarão um cântico que não poderão cantar os outros bem-aventurados (Apoc. 14, 4). Deus coroará no céu as almas castas (Cânt 4, 8), isto é, lhes concederá uma glória (auréola) especial entre os outros bem-aventurados. Eternamente triunfa a geração casta com a coroa da vitória (Sab. 4, 2). As almas castas terão no céu sua parte com a Virgem Maria (S.Cirilo). Já aqui na terra as distingue muitas vezes Deus com particulares revelações. As almas virginais são secretárias de Deus, pois Ele lhes descobre seus segredos (S. Teotônio Vilela). Como vivem em trato com Deus, seu estado se chama com freqüência desponsório com Deus, ou núpcias espirituais (Tertuliano). Também Deus ouve com benignidade as orações das almas puras. Como a rainha Ester alcançou de seu esposo tudo o que quis, porque lhe era fiel amante, assim também o celestial Esposo concederá às almas puras todas suas petições.

c). Todo homem está estritamente obrigado, até que contraia matrimônio, a levar uma vida virginal

Entre os judeus, era apedrejada a mulher que havia perdido a virgindade antes de casar-se (Deut 22,21).  Os romanos condenavam a ser sepultada viva à vestal que quebrava sua castidade. Para que vejas como velavam aquelas leis pela castidade!

d). Para conservar a castidade servem os meios seguintes:

Exercício da própria vontade, temperança no comer e beber, recepção freqüente dos santos Sacramentos, oração à Mãe de Deus, meditação das verdades religiosas, principalmente da presença de Deus em todo lugar e dos novíssimos. Também se devem evitar o baile, o teatro, e o trato livre com pessoas de sexo diferente.

Entre todos os combates do cristão, o mais duro é o da castidade (S. Agostinho). Os pagãos gregos tinham entre suas divindades uma virgem, por nome Minerva, à qual representavam com armadura militar, com elmo, escudo e lança, significando com isto que a castidade não se pode conservar sem combates (S. Jerônimo).  Os Doutores da Igreja chamam à castidade um martírio incruento, porém em certo sentido maior até que o cruento, pois o cruento dura breves instantes e conduz em seguida à glória do céu; pelo contrário, para a conservação da castidade é necessário um combate larguíssimo que se deve sustentar durante toda a vida.

Tem que enfrentar, sobretudo, a tagarelice e a "concupiscência dos olhos". Ao que é tagarela e curioso não é possível tê-lo por casto, senão mais bem por perdido (S. Agostinho). Pelas janelas dos olhos a morte entra na alma (Jer 9, 21). O leão perde sua ferocidade e se faz tímido quando se cobrem seus olhos com um pano (Plínio), e assim ficam reprimidos em nós os maus desejos quando guardamos os olhos. Também o jejum aproveita para a castidade. Uma fortaleza se ganha seguramente quando se intercepta a introdução de víveres: a carne rebelde se rende com segurança quando se lhe tira a comida (S. Boaventura). Mas pela intemperança se perde a  inocência, como Esaú perdeu sua primogenitura (S. Efrém). Onde há intemperança, há desonestidade (S. Ambrósio). O Etna e o Vesúvio, quando arrojam fogo, não se enfurecem tão violentamente como o sangue juvenil quando se acende com o vinho e a comida supérflua (S. Jerônimo). Não vos embriagueis com vinho, porque nele está a luxúria (Ef. 5, 18). A má concupiscência se nutre nos convites (S. Ambrósio)

Com a freqüência aos Sacramentos e a oração se alcança a graça de Deus, sem a qual não é possível vencer-se. Erra o que imagina que poderá, por suas próprias forças, vencer a sensualidade e guardar a castidade.  A misericórdia de Deus há de apagar a ardente chama da natureza (S. Crisóstomo). Não se pode ser continente se Deus não o concede (Sab 8, 21). A castidade se parece com a neve: a uma e a outra vêm só de cima. Pela confissão e a comunhão alcança o homem força de vontade para permanecer livre de pecado. (Vejam-se os efeitos de ambos os Sacramentos). O Sacramento do altar é o trigo dos escolhidos, e o vinho que engendra virgens (Zac 9, 17).  O vinho da terra é  prejudicial para a castidade, porém o celestial, ou seja, o Sacramento do Altar, é meio para conservá-la (S. Afonso Ligório). Entre todas as orações tem eficácia especial para isto a oração à Mãe de Deus.  Oh, quantos jovens, por meio da devoção à Maria Santíssima, se têm conservado puros como anjos. O Padre Señeri, célebre pregador, refere de um jovem desonesto, à quem o confessor mandou em penitência rezar todas as manhãs três Ave-Marias em honra da pureza da Mãe de Deus: passados alguns anos voltou o jovem a ele e lhe declarou que devia àquela oração sua conversão perfeita.

A meditação das verdades da religião tira o gosto das coisas sensuais. Andai em espírito e não cumprireis os desejos da carne (Gál 5, 16). Enquanto gozamos os santos deleites de Deus, todas as demais coisas se nos fazem insípidas.  O que tem gozado os prazeres espirituais enoja todos os carnais. Sobretudo, o que pensa que Deus está presente em todo lugar e vê tudo, nunca fará coisa que desagrade a Deus (S. Jerônimo). Isto se viu com José, no Egito (Gên 39, 9), e em Susana (Dan 13, 35). Não te deixes enganar pela esperança que teus pecados ficarão ocultos, pois Deus está presente, a quem nada se oculta nem se escapa (S. Ambrósio). Pensa, em todas tuas ações, em teus novíssimos, e nunca pecarás (Eccli 7, 40). Se penetra em teus membros o fogo da impureza, apague-o o pensamento do fogo infernal (S. Pedro Damião). São Martiniano, eremita da Palestina, tentado por uma má mulher, meteu seus pés no fogo e exclamou: Se não posso sofrer um fogo tão fraco como este, como poderia tolerar logo o fogo do inferno? Onde há temor de Deus, ali há castidade; mas onde não há temor de Deus, buscareis a castidade em vão (S. Crisóstimo). Ao baile se vai com a maior vaidade, e esta é a melhor disposição para os maus pensamentos e desejos (S. Francisco de Sales). Os bailes soem acontecer de noite, como se quisesse indicar que neles se penetra outra tanta obscuridade e malícia na alma. Os bailes são mortalha da inocência e sepulcros do pudor (S. Ambrósio). O que não quer cair neles tem de ser um anjo.  Muitas das peças que se representam nos teatros são imorais. Um espetáculo todo moral se re-presentaria em nossos dias ante os bancos vazios. O teatro é, não raras vezes, mestre de uma hora e sedutor de muitos anos.  O "teatro livre" com pessoas de sexos diferentes é igualmente nocivo para a castidade. Quando a palha se junta com o fogo, toda ela se acende numa viva chama: uma coisa parecida acontece quando se trata com liberdade com pessoas de sexo diferente (S. Vicente Ferrer). Ninguém diga que as pessoas com quem trata são muito honestas. A um homem que deu esta resposta a São João Jordão, disse-lhe este: O caminho é bom e boa é a chuva; mas quando ambos se juntam se faz lodo”. ("Catecismo Popular Explanado" - Rdo. Francisco Spirago - pp. 614/622.)

 (Extraído de “A FELICIDADE ATRAVÉS DA CASTIDADE”, pág. 42/49 – Desejando receber o texto integral desta obra, favor enviar mensagem para o email juracuca@gmail.com – Juraci Josino Cavalcante)

 

 

 


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