sexta-feira, 18 de outubro de 2019

PAGANISMO INDÍGENA PERANTE AS ORGIAS,. BEBEDEIRAS E O VÍCIO DE FUMAR







Sem nenhum preceito moral que os contivesse em seus impulsos, os índios quando se entregavam (e ainda se entregam) aos vícios da orgia, faziam-no de forma descontrolada. Além do uso exagerado do fumo e da bebida, nesta oportunidade algumas tribos fazem também o uso de drogas alucinógenas. Quando faziam uma dessas festas, bebiam por vários dias seguidos. O pastor protestante francês Jean de Léry (século XVI) testemunhou uma festa em que eles passaram três dias e três noites consecutivas bebendo, e, mais ainda, “depois de bêbados a mais não poder, vomitaram quanto tinham bebido e recomeçaram bem mais dispostos que antes...  O curioso é que nada comem durante as bebedeiras...”.
O padre Claude d’Abbeville (século XVII) descreve uma dessas orgias:
“Nunca senti tanto espanto como quando entrei numa dessas cabanas onde estava havendo uma cauinagem; no primeiro plano se achavam esses grandes vasilhames de barro cercados de fogo e com bebida fumegando; mais adiante, inúmeros selvagens, homens e mulheres, alguns completamente nus, outros descabelados, outros ainda revestidos de penas multicores, uns deitado expirando a fumaça do tabaco pela boca e pelas narinas, outros dançando, saltando, cantando e gritando. E todos tinham a cabeça enfeitada e a razão tão perturbada pelo cauim que reviravam os olhos a ponto de parecer encontrar-me em presença de símbolos ou figuras infernais. E se na verdade o Diabo se deleita na companhia de Baco e busca por meio da dança perder as almas, há de por certo comprazer-se infinitamente nas reuniões desse miserável povo, que sempre lhe pertenceu pela barbárie, pela crueldade e  pela embriaguez, e que somente encontra satisfação em dançar e cauinar quando se apresenta uma oportunidade, durante dois a três dias seguidos, sem repouso nem para dormir, até que todos os potes se esvaziem. E o que é mais estranho, bebem e fumam sem comer o que quer que seja”. [1]
Todos os cronistas confirmam o que se diz acima. O padre Simão de Vasconcelos chegou a contar 32 tipos de bebidas alcoólicas ou alucinógenas. Varnhagen acrescenta que no Alto Amazonas é comum os índios fazer uso da coca e também de uma substância chamada “ypadu”, droga ainda hoje cultivada e usada não só pelos índios como entre os brancos, para isso existindo lá uma seita iniciática de seu consumo com o nome de “Santo Daime”.

Sobre a origem do fumo
Sobre o fumo, que era usado em qualquer dia, Gabriel Soares diz que “tomam este fumo por mantença, e não podem andar sem ele na boca, aos quais dana o bafo e os dentes, e lhes faz mui ruins cores. Esta cangoeira de fumo é um canudo que se faz de uma folha de palma seca, e tem dentro três e quatro folhas secas da erva santa, a que os índios chamam  petum...”[2] O padre Manuel da Nóbrega, por sua vez, afirma que o fumo também ajuda a digestão e a outros males corporais e a “purgar a fleuma do estômago”, parecendo querer dizer se for usado como medicamento.
Indiscutivelmente o fumo é originário das Américas.  Jean de Léry informa que a nicotina, “cujo nome diz prover do senhor Nicot, que primeiro a remeteu de Portugal para a França, é originária da Flórida...”  O cronista português Damião de Góes, por sua fez, diz que a “Erva Santa” , ou a planta do fumo, foi levada do Brasil para Portugal por Luiz de Góes. Da Flórida ou do Brasil, o fato é que a planta foi introduzida na Europa no século XVI pelos viajantes que retornavam das Américas. 



[1] “História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e Terras Circunvizinhas – Claude d’Abbeville – Ed. Itatiaia e Ed. Universidade de São Paulo, 1975, pág. 239
[2] “Tratado Descritivo do Brasil em 1587” – Gabriel Soares de Sousa – Typografia José Ignácio da Silva, 1879, pág. 296


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