quinta-feira, 26 de novembro de 2015

NECESSIDADE DE UMA "RESSURREIÇÃO" UNIVERSAL PARA OS CATÓLICOS





A Revolução quer fazer dos “mortos” pecadores, homens sem ressurreição

Pela ordem natural das coisas, mesmo que estes “mortos” pelo pecado queiram levar vida nova, tentem fazer penitência e levar vida de piedade e de crescimento no amor a Deus, é tal o ambiente, são tais as dificuldades criadas ao redor deles, que, naturalmente falando, tais homens nunca se recuperariam, nunca “ressuscitariam”. Por que?  Porque a Revolução conseguiu afastar de suas presenças os sinais revivificantes da Santíssima Trindade. Dir-se-ia que a Revolução já implantou o reino de satanás na terra. De modo geral, nota-se que as pessoas perderam completamente o poder de auto-regência.
Amortecendo a presença da Igreja (o Corpo Místico de Cristo), seja de forma material (fechando os templos e expulsando os ministros), seja pelo empobrecimento e aviltamento de seus ritos, o menoscabo dos sacramentos, a irrisão da piedade religiosa, conseguem afastar dos corações a ação benfazeja do Divino Espírito Santo e a operação frutuosa da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade presente no Sacramento do Altar.
Mais longe foi a Revolução. Conseguiu afastar do homem moderno os sinais visíveis da presença de Deus Pai. Em nenhuma outra época histórica existiu o ateísmo, e ainda pior, como sistema filosófico imposto a milhões de pessoas. O ateísmo, seja proposital ou não, seja consciente ou não, foi o que mais afastou o homem de Deus. E isto pelo fato de haver obnubilado, obscurecido e até fenecido a luz da razão, o “lúmen rationis”, afastando Deus das pessoas e tornando impossível qualquer movimento interior de penitência. Pois não vê mais o homem moderno a necessidade do temor de Deus.
Há graus nesta mortandade coletiva, neste genocídio espiritual universal.  Os pagãos, a quem o ateísmo chegou sem conhecer a Revelação, tiveram as portas fechadas para uma conversão. Os hereges, que já negavam várias verdades e dogmas imutáveis, seguem seu caminho rumo ao ateísmo e ao ceticismo completo. Finalmente, os católicos, temos os católicos, aqueles que tiveram o conhecimento e a adesão da Verdade tal qual Nosso Senhor veio revelar, mas aderiram a uma apostasia generalizada desta mesma Verdade. Foi para estes que São Paulo dirigiu estas palavras: “É impossível que os que foram uma vez iluminados, que tomaram o gosto ao dom celestial e foram feitos participantes do Espírito Santo, que degustaram igualmente a boa palavra de Deus e as virtudes do século vindouro, e que (depois disto) caíram, (é impossível ) que eles tornem a ser renovados pela penitência, pois crucificaram de novo o Filho de Deus, em si mesmos e o expõem à ignominia. De fato, a terra que absorve a chuva, que cai muitas vezes sobre ela e produz erva proveitosa a quem a cultiva, recebe 0a bênção de Deus. Porém se ela produz espinhos e abrolhos, é reprovada e está perto de maldição, seu fim é a queima”.[1]

O “animus peccati” do homem revolucionário
Tendo a Revolução implantado no coração do homem moderno um estado de alma, uma situação de quase irreversibilidade de sua perdição eterna, se considerarmos os aspectos naturais, somente com um estupendo milagre universal, uma ressurreição fenomenal em todo o Orbe, seria possível a volta à normalidade no caminho de sua auto-regência e da própria salvação da alma. E este estado de espírito podemos denominar de “animus peccati”, isto é, um ânimo propenso antes de tudo ao pecado e á revolta contra Deus. Um estado de espírito, portanto, inteiramente propício a constituir a formação do corpo místico de satanás.
Como isto se dá? É que, além de negar todos os mandamentos divinos e voltar-se contra eles, a Revolução obscureceu os vestígios de Deus, criando na alma humana uma propensão tão forte para o pecado que em algumas pessoas isto se constituiu como que uma segunda natureza. Diz-se que em pessoas contumaz no vício da carne, como por exemplo o homossexualismo, a própria natureza íntima chega a mudar, trazendo inclusive mutações genéticas e nos hormônios com os quais a pessoa nasceu. Uma pessoa assim, e hoje existem milhões delas, não tem qualquer possibilidade de fazer penitência, arrepender-se de seus pecados, redimir-se de seus erros e levar nova vida. A não ser que a Providência realize nela um portentoso milagre, milagre esse superior à ressurreição de um morto como a de Lázaro. Pois nela todas as propensões, todos os impulsos, todos os anseios, dirigem-se unicamente para a fruição, gozo imoderado e a revolta. Em algumas delas, a revolta contra Deus torna-se um prazer intrínseco de suas apetências desordenadas.

Necessidade de uma ressurreição universal para a Igreja
Assim, nas condições em que as coisas estão postas, só poderia haver uma renovação da Igreja, uma volta ao cumprimento do papel d’Ela e do fiel cumprimento de sua Missão, se houvesse uma ressurreição, um ressurgimento espiritual enorme em todo o orbe católico. Esta ressurreição (que chamamos de “Grand-Retour”) é necessária, conforme explica São Tomás de Aquino, falando a respeito da necessidade da ressurreição do pecador:

“Sobre o que acabamos de expor, podemos fazer quatro considerações para nossa instrução.
“Primeiro, que devemos nos esforçar para ressurgirmos espiritualmente da morte da alma, contraída pelo pecado, para a vida da justificação que se obtém pela penitência.
“Escreve o Apóstolo: “Surge, tu que dormes, ressurge dos mortos, e Cristo te iluminará” (Ef 5, 14).
“Esta é a primeira ressurreição da qual nos fala o Apocalipse:  “Feliz o que teve parte na primeira ressurreição” (Ap 20, 6).
“Segundo, que não devemos protelar esta nossa ressurreição da morte, mas realizá-la já, porque Cristo ressuscitou ao terceiro dia.
“Lê-se: não tardes na conversão para o Senhor, e não a delongues dia por dia  (Ecle 5, 8).
“Por que estás agravado pela fraqueza, não podes pensar nas coisas da salvação, e porque perdes parte de todos os bens que te são concedidos pela Igreja, incorres em muitos males, perseverando no pecado.
“Como disse o Venerável Beda, o diabo, quanto mais tempo possui uma pessoa, tanto mais dificilmente a deixa.
“Terceiro, que devemos também ressurgir para a vida incorruptível, de modo que não mais morramos, isto é, que devemos perseverar no propósito de não mais pecar. Lê-se na Carta aos Romanos:  “Assim também vós vos considereis mortos para o pecado, vivendo para Deus em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo, obedecendo-lhe as concupiscências; não exibais os vossos membros como armas de maldade para o pecado, mas deveis vos exibir a vós mesmos para Deus como vivos que saíram da morte”  (Rom 6,9; 11-13).
“Quarto, que devemos ressurgir para uma vida nova e gloriosa evitando tudo o que antes nos foi ocasião e causa de morte e de pecado. Lê-se na Carta aos Romanos:  “Como Cristo ressuscitou de entre os mortos pela glória do Pai, também nós devemos andar na novidade da vida (Rom 5,4)”.  Esta vida nova é a vida de justiça, que renova a alma e a conduz para a glória. Amém.”  [2]

Poderia alguém isoladamente, nas condições do mundo de hoje, tomar tais propósitos? Como isto seria possível? O católico de hoje, seja homem ou mulher, que passa o dia inteiro, a semana inteira, ou até mesmo o mês e o ano inteiros, freqüentando no seu dia-a-dia um ambiente materialista, onde nada lembra Deus, seja na escola ou no trabalho, como esperar que mude de vida e faça penitência pelo simples fato de ir a uma missa, aliás sempre com rituais pouco piedosos, ou mesmo de fazer uma confissão, que às vezes não sabe se foi bem feita ou não? Daí que hoje se observa tristemente milhões e milhões de comunhões sacrílegas, quando as pessoas nem sequer percebem a gravidade do ato que praticam. Perderam simplesmente o senso natural da razão, não vêem os sinais de Deus na Igreja, na sociedade ou até mesmo na natureza. São ateus “in act”.  Tais pessoas perderam o poder de auto-regência e a falta de humildade lhes impede de buscar essa regência entre outros homens (que sejam santos) ou entre seus próprios anjos da guarda.
Pior do que isso: as comunhões sacrílegas, como o pior dos pecados, sujeitam tais pessoas a um severo juízo de Deus, expondo-as a terríveis castigos conforme explica Santo Antonio Maria Claret em sua obra “Caminho Reto e Seguro para chegar ao Céu”:

"Não há crime com que a Deus mais ofensa faz como é com a comunhão sacrílega. Os Santos Padres no-lo pintam com palavras e exemplos assombrosos. Quem comunga em pecado mortal, diz Santo Agostinho, comete maior crime que Herodes, mais horrendo que o pecado de Judas, acrescenta São João Crisóstomo; e outros santos dizem que é maior ainda que os pecados que fizeram os judeus crucificando o Salvador; e por todos, diz São Paulo, que será réu do corpo e do sangue do Senhor, isto é, diz a Glosa, será castigado como se com suas mãos tivesse crucificado o Filho de Deus. É a comunhão sacrílega um delito tão grande, que Deus não espera castigá-lo no inferno, senão que começa já neste mundo com doenças e mortes; de modo que já no tempo dos Apóstolos, como conta São Paulo, muitos pelas comunhões sacrílegas padeciam gravíssimos males corporais, e outros morriam. São Cipriano refere dalguns de seu tempo, que logo que recebiam indignamente a sagrada comunhão eram acometidos de intoleráveis dores nas entranhas, até morrerem rebentados.  São João Crisóstomo conheceu alguns possessos do demônio por este delito;  e São Gregório, Papa, assegura que em Roma fez grande estrago a peste, que sobreveio por ter-se continuado naquela cidade as diversões, banquetes, espetáculos e impurezas depois da comunhão pascal; e o mesmo conta de seu tempo Santo Anselmo, por ter-se cumprido mal este preceito.  Lê-se na vida de São Bernardo que um monge ousou comungar em pecado mortal; mas, coisa horrível!, apenas lhe deu o Santo a Sagrada Hóstia, rebentou como Judas, e como ele condenou-se eternamente".[3]

Pode-se dizer que as comunhões sacrílegas cometidas hoje em dia constituem um pecado social e podem levar as pessoas que a cometem a ter uma participação, ativa ou não, no corpo místico de satanás. Já não constitui um dos motivos do castigo que nos ameaça?
Há uma expressão francesa para caracterizar esse grande retorno: “Grand Retour”, nome oriundo de uma aparição mariana na França. O “Grand Retour”, ou a Resurreição coletiva de que falamos, viria então  concomitantemente com tais castigos. Esta ressurreição deveria, então, ser coletiva, deveria ser universal e deveria ocorrer ao mesmo tempo, na mesma época. E ela só poderia vir com a Providência fazendo renascer em todos o “lumen rationis”, e isto só seria possível estimulando de uma forma avassaladora o temor de Deus. Tudo isso só viria com os castigos aguardados e previstos em Fátima. Pois chegou a hora em que a intervenção divina faz-se necessária numa regência típica de correção de rumos. E esta ressurreição só virá através de um holocausto também universal, onde pereçam alguns milhões de pessoas, boas e más, estes para satisfazer a Justiça divina e aqueles para satisfazer o amor e a misericórdia.
Por que tais castigos e o “grand retour” deveriam ocorrer simultaneamente e serem coletivos, quer dizer, atingir toda a humanidade? Porque através de um movimento (o castigo) procuraria a Providência barrar os passos do corpo místico de satanás, e do outro (o “grand retour”) a reaglutinação do Corpo Místico de Cristo.  E um não poderia ocorrer sem o outro porque ambos, no final, têm a mesma finalidade em toda a humanidade, que é restabelecer a regência da Igreja e divina sobre os homens.





[1] Epístola de São Paulo aos Hebreus 6, 4-8.

[2] Exposição sobre o Credo – S. Tomás de Aquino – Ed.Loyola, págs. 67/57.
[3] "Caminho Reto e Seguro para Chegar ao Céu" -Santo Antonio Maria Claret - Editora Ave Maria, 1960 - págs. 99/105.

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