A Revolução quer
fazer dos “mortos” pecadores, homens sem ressurreição
Pela ordem natural das coisas, mesmo que
estes “mortos” pelo pecado queiram levar vida nova, tentem fazer penitência e
levar vida de piedade e de crescimento no amor a Deus, é tal o ambiente, são
tais as dificuldades criadas ao redor deles, que, naturalmente falando, tais
homens nunca se recuperariam, nunca “ressuscitariam”. Por que? Porque a Revolução conseguiu afastar de suas
presenças os sinais revivificantes da Santíssima Trindade. Dir-se-ia que a
Revolução já implantou o reino de satanás na terra. De modo geral, nota-se que
as pessoas perderam completamente o poder de auto-regência.
Amortecendo a presença da Igreja (o Corpo
Místico de Cristo), seja de forma material (fechando os templos e expulsando os
ministros), seja pelo empobrecimento e aviltamento de seus ritos, o menoscabo
dos sacramentos, a irrisão da piedade religiosa, conseguem afastar dos corações
a ação benfazeja do Divino Espírito Santo e a operação frutuosa da Segunda
Pessoa da Santíssima Trindade presente no Sacramento do Altar.
Mais longe foi a Revolução. Conseguiu afastar
do homem moderno os sinais visíveis da presença de Deus Pai. Em nenhuma outra
época histórica existiu o ateísmo, e ainda pior, como sistema filosófico
imposto a milhões de pessoas. O ateísmo, seja proposital ou não, seja
consciente ou não, foi o que mais afastou o homem de Deus. E isto pelo fato de
haver obnubilado, obscurecido e até fenecido a luz da razão, o “lúmen
rationis”, afastando Deus das pessoas e tornando impossível qualquer movimento
interior de penitência. Pois não vê mais o homem moderno a necessidade do temor
de Deus.
Há graus nesta mortandade coletiva,
neste genocídio espiritual universal. Os
pagãos, a quem o ateísmo chegou sem conhecer a Revelação, tiveram as portas
fechadas para uma conversão. Os hereges, que já negavam várias verdades e
dogmas imutáveis, seguem seu caminho rumo ao ateísmo e ao ceticismo completo.
Finalmente, os católicos, temos os católicos, aqueles que tiveram o
conhecimento e a adesão da Verdade tal qual Nosso Senhor veio revelar, mas
aderiram a uma apostasia generalizada desta mesma Verdade. Foi para estes que
São Paulo dirigiu estas palavras: “É
impossível que os que foram uma vez iluminados, que tomaram o gosto ao dom
celestial e foram feitos participantes do Espírito Santo, que degustaram
igualmente a boa palavra de Deus e as virtudes do século vindouro, e que (depois
disto) caíram, (é impossível ) que eles tornem a ser renovados pela penitência,
pois crucificaram de novo o Filho de Deus, em si mesmos e o expõem à ignominia.
De fato, a terra que absorve a chuva, que cai muitas vezes sobre ela e produz
erva proveitosa a quem a cultiva, recebe 0a bênção de Deus. Porém se ela produz
espinhos e abrolhos, é reprovada e está perto de maldição, seu fim é a queima”.[1]
O
“animus peccati” do homem revolucionário
Tendo a Revolução implantado no
coração do homem moderno um estado de alma, uma situação de quase
irreversibilidade de sua perdição eterna, se considerarmos os aspectos
naturais, somente com um estupendo milagre universal, uma ressurreição
fenomenal em todo o Orbe, seria possível a volta à normalidade no caminho de
sua auto-regência e da própria salvação da alma. E este estado de espírito
podemos denominar de “animus peccati”, isto é, um ânimo propenso antes de tudo
ao pecado e á revolta contra Deus. Um estado de espírito, portanto,
inteiramente propício a constituir a formação do corpo místico de satanás.
Como isto se dá? É que, além de negar
todos os mandamentos divinos e voltar-se contra eles, a Revolução obscureceu os
vestígios de Deus, criando na alma humana uma propensão tão forte para o pecado
que em algumas pessoas isto se constituiu como que uma segunda natureza. Diz-se
que em pessoas contumaz no vício da carne, como por exemplo o homossexualismo,
a própria natureza íntima chega a mudar, trazendo inclusive mutações genéticas
e nos hormônios com os quais a pessoa nasceu. Uma pessoa assim, e hoje existem
milhões delas, não tem qualquer possibilidade de fazer penitência,
arrepender-se de seus pecados, redimir-se de seus erros e levar nova vida. A
não ser que a Providência realize nela um portentoso milagre, milagre esse
superior à ressurreição de um morto como a de Lázaro. Pois nela todas as
propensões, todos os impulsos, todos os anseios, dirigem-se unicamente para a
fruição, gozo imoderado e a revolta. Em algumas delas, a revolta contra Deus
torna-se um prazer intrínseco de suas apetências desordenadas.
Necessidade de uma
ressurreição universal para a Igreja
Assim, nas condições em que as coisas estão
postas, só poderia haver uma renovação da Igreja, uma volta ao cumprimento do
papel d’Ela e do fiel cumprimento de sua Missão, se houvesse uma ressurreição,
um ressurgimento espiritual enorme em todo o orbe católico. Esta ressurreição
(que chamamos de “Grand-Retour”) é necessária, conforme explica São Tomás de
Aquino, falando a respeito da necessidade da ressurreição do pecador:
“Sobre o que acabamos de expor, podemos fazer quatro
considerações para nossa instrução.
“Primeiro, que devemos nos esforçar para ressurgirmos
espiritualmente da morte da alma, contraída pelo pecado, para a vida da
justificação que se obtém pela penitência.
“Escreve o Apóstolo: “Surge, tu que dormes, ressurge dos
mortos, e Cristo te iluminará” (Ef 5, 14).
“Esta é a primeira ressurreição da qual nos fala o
Apocalipse: “Feliz o que teve parte na
primeira ressurreição” (Ap 20, 6).
“Segundo, que não devemos protelar esta nossa
ressurreição da morte, mas realizá-la já, porque Cristo ressuscitou ao terceiro
dia.
“Lê-se: não tardes na conversão para o Senhor, e não a
delongues dia por dia (Ecle 5, 8).
“Por que estás agravado pela fraqueza, não podes pensar
nas coisas da salvação, e porque perdes parte de todos os bens que te são
concedidos pela Igreja, incorres em muitos males, perseverando no pecado.
“Como disse o Venerável Beda, o diabo, quanto mais tempo
possui uma pessoa, tanto mais dificilmente a deixa.
“Terceiro, que devemos também ressurgir para a vida
incorruptível, de modo que não mais morramos, isto é, que devemos perseverar no
propósito de não mais pecar. Lê-se na Carta aos Romanos: “Assim também vós vos considereis mortos para
o pecado, vivendo para Deus em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em
vosso corpo, obedecendo-lhe as concupiscências; não exibais os vossos membros
como armas de maldade para o pecado, mas deveis vos exibir a vós mesmos para
Deus como vivos que saíram da morte”
(Rom 6,9; 11-13).
“Quarto, que devemos ressurgir para uma vida nova e
gloriosa evitando tudo o que antes nos foi ocasião e causa de morte e de
pecado. Lê-se na Carta aos Romanos:
“Como Cristo ressuscitou de entre os mortos pela glória do Pai, também nós
devemos andar na novidade da vida (Rom 5,4)”.
Esta vida nova é a vida de justiça, que renova a alma e a conduz para a
glória. Amém.” [2]
Poderia alguém isoladamente, nas condições do
mundo de hoje, tomar tais propósitos? Como isto seria possível? O católico de
hoje, seja homem ou mulher, que passa o dia inteiro, a semana inteira, ou até
mesmo o mês e o ano inteiros, freqüentando no seu dia-a-dia um ambiente
materialista, onde nada lembra Deus, seja na escola ou no trabalho, como
esperar que mude de vida e faça penitência pelo simples fato de ir a uma missa,
aliás sempre com rituais pouco piedosos, ou mesmo de fazer uma confissão, que
às vezes não sabe se foi bem feita ou não? Daí que hoje se observa tristemente
milhões e milhões de comunhões sacrílegas, quando as pessoas nem sequer
percebem a gravidade do ato que praticam. Perderam simplesmente o senso natural
da razão, não vêem os sinais de Deus na Igreja, na sociedade ou até mesmo na
natureza. São ateus “in act”. Tais
pessoas perderam o poder de auto-regência e a falta de humildade lhes impede de
buscar essa regência entre outros homens (que sejam santos) ou entre seus
próprios anjos da guarda.
Pior do que isso: as comunhões sacrílegas,
como o pior dos pecados, sujeitam tais pessoas a um severo juízo de Deus,
expondo-as a terríveis castigos conforme explica Santo Antonio Maria Claret em
sua obra “Caminho Reto e Seguro para chegar ao Céu”:
"Não há crime com que a Deus mais ofensa faz
como é com a comunhão sacrílega. Os Santos Padres no-lo pintam com palavras e
exemplos assombrosos. Quem comunga em pecado mortal, diz Santo Agostinho,
comete maior crime que Herodes, mais horrendo que o pecado de Judas, acrescenta
São João Crisóstomo; e outros santos dizem que é maior ainda que os pecados que
fizeram os judeus crucificando o Salvador; e por todos, diz São Paulo, que será
réu do corpo e do sangue do Senhor, isto é, diz a Glosa, será castigado como se
com suas mãos tivesse crucificado o Filho de Deus. É a comunhão sacrílega um
delito tão grande, que Deus não espera castigá-lo no inferno, senão que começa
já neste mundo com doenças e mortes; de modo que já no tempo dos Apóstolos,
como conta São Paulo, muitos pelas comunhões sacrílegas padeciam gravíssimos
males corporais, e outros morriam. São Cipriano refere dalguns de seu tempo,
que logo que recebiam indignamente a sagrada comunhão eram acometidos de
intoleráveis dores nas entranhas, até morrerem rebentados. São João Crisóstomo conheceu alguns possessos
do demônio por este delito; e São
Gregório, Papa, assegura que em Roma fez grande estrago a peste, que sobreveio
por ter-se continuado naquela cidade as diversões, banquetes, espetáculos e
impurezas depois da comunhão pascal; e o mesmo conta de seu tempo Santo
Anselmo, por ter-se cumprido mal este preceito.
Lê-se na vida de São Bernardo que um monge ousou comungar em pecado
mortal; mas, coisa horrível!, apenas lhe deu o Santo a Sagrada Hóstia, rebentou
como Judas, e como ele condenou-se eternamente".[3]
Pode-se dizer que as comunhões sacrílegas
cometidas hoje em dia constituem um pecado social e podem levar as pessoas que
a cometem a ter uma participação, ativa ou não, no corpo místico de satanás. Já
não constitui um dos motivos do castigo que nos ameaça?
Há uma expressão francesa para caracterizar
esse grande retorno: “Grand Retour”, nome oriundo de uma aparição mariana na
França. O “Grand Retour”, ou a Resurreição coletiva de que falamos, viria então concomitantemente com tais castigos. Esta
ressurreição deveria, então, ser coletiva, deveria ser universal e deveria
ocorrer ao mesmo tempo, na mesma época. E ela só poderia vir com a Providência
fazendo renascer em todos o “lumen rationis”, e isto só seria possível
estimulando de uma forma avassaladora o temor de Deus. Tudo isso só viria com
os castigos aguardados e previstos em Fátima. Pois chegou a hora em que a
intervenção divina faz-se necessária numa regência típica de correção de rumos.
E esta ressurreição só virá através de um holocausto também universal, onde
pereçam alguns milhões de pessoas, boas e más, estes para satisfazer a Justiça
divina e aqueles para satisfazer o amor e a misericórdia.
Por que tais castigos e o “grand retour”
deveriam ocorrer simultaneamente e serem coletivos, quer dizer, atingir toda a
humanidade? Porque através de um movimento (o castigo) procuraria a Providência
barrar os passos do corpo místico de satanás, e do outro (o “grand retour”) a
reaglutinação do Corpo Místico de Cristo.
E um não poderia ocorrer sem o outro porque ambos, no final, têm a mesma
finalidade em toda a humanidade, que é restabelecer a regência da Igreja e
divina sobre os homens.
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