Imbuídos de falsas concepções
do mundo pagão, nunca os judeus poderiam entender que o Messias seria um Homem
dotado de grande mansidão e bondade. Talvez o único historiador judeu a tratar
de Jesus Cristo teria sido Flávio Josefo (séc. I), mas quase nada fala da
personalidade e traços físicos do Messias.
Aspectos admirativos de Jesus
A Beata Anna Catharina Emmerich
nos traz um relato sobre o que ela viu no porte físico e personalidade de Nosso Senhor Jesus Cristo:
“Vi de súbito diante de mim o Senhor, como viveu na terra. Era uma
figura alta, esbelta e viril, tinha o rosto comprido, de uma alvura puríssima,
a fronte alta, de um branco sem mescla e o nariz bem formado e oblongo. O
cabelo, repartido no alto da cabeça, caía-lhe de ambos os lados do rosto, até
os ombros; vestia uma longa túnica, de cor cinzenta, semelhante a uma camisa,
terminando em simples pregas e cingida debaixo do peito. As mangas eram bem
largas, as mãos cruzadas sobre o peito. O Senhor tinha algo de imóvel, reto,
comovedor, sério e amável. Era infinitamente nobre, simples e bom.
“Jesus era mais alto do que os apóstolos; onde iam ou estavam, sempre
parecia sobressair-lhe a fronte branca e séria. Tinha o andar sempre ereto e
direito; não era magro nem corpulento, mas de aparência absolutamente sadia e
nobre, com peito e ombros largos. Tinha músculos bem exercitados pelas viagens
e exercícios, mas não mostravam sinais de trabalho pesado. As palavras, o som
da voz do Mestre eram como raios vivos, penetrantes. Falava sem defeito de
pronúncia, calmo e forte, nunca muito depressa, a não ser algumas vezes aos fariseus,
mas então as palavras eram como flechas agudas e o som da voz mais severo. A
voz era barítono agradável, puríssima, sem igual. Ouvia-se-lhe a voz entre
todas as outras vozes, numa multidão, sem que Ele gritasse.
“Era um aspecto comovedor o de Jesus pelas ruas de Cafarnaum, ora com
as vestes compridas, ora arregaçadas, sem muito movimento, mas também sem
rapidez, tão calmo, quase sem tocar a terra, mais simples e mais poderoso do
que os outros homens. Nada de
excêntrico, nada de vacilante ou de afetação; tudo n’Ele era natural no ardor,
no olhar e no falar.
“Os amigos de Lázaro, Nicodemos, o filho de Simeão, João Marcos, tinham
falado com Jesus e todos ficaram cheios de admiração pela atitude, pela
sabedoria, pelas qualidades humanas e até corporais do Mestre e sempre que Este
estava ausente, diziam uns aos outros: “Que homem extraordinário! Tal não houve
e nem haverá; tão sério, tão amável, tão sábio e perspicaz e ao mesmo tempo tão
simples. Não compreendo tudo que diz, mas vejo-me obrigado a crer, de tal modo
fala. A gente não o pode olhar de frente; Ele parece ler todos os pensamentos e
sentimentos do coração. Que figura, que porte sublime! Que rapidez, sem se lhe
notar precipitação! Quem pode andar com
Ele? Caminha com tanta velocidade; chega, sem mostrar cansaço e, após uma hora,
já está novamente a caminho. Que homem excelente se tornou!” Mas ninguém imaginava que era do Filho de
Deus que falavam. Achavam-no o maior de todos, veneravam-no com certo temor,
mas sempre o tomavam por homem, apesar de maravilhoso” [1]
A Sagrada Face de Jesus, reflexo de personalidade fascinante
Transcrevemos alguns
comentários de Dr. Plínio Corrêa de Oliveira sobre aspectos do semblante de
Nosso Senhor Jesus Cristo, especialmente Sua Sagrada Face:
“Claro está, Nosso Senhor Jesus Cristo, em sua humanidade santíssima, é
o único acima de sua Mãe. Aliás, algumas revelações de Sóror Maria de Ágreda a
respeito de ambos, nos dão a conhecer aspectos tocantes. Segundo a vidente, o
Divino Redentor era sumamente parecido com Nossa Senhora, cujo rosto seria a
transposição para um semblante feminino do semblante masculino de Jesus. Então,
a perfeição de todas as perfeições tinha de ser, forçosamente, a Sagrada Face
de nosso Salvador.
“Por quê? Pelo olhar e fisionomia, Ele espelhava todas as formas e
graus de excelência de alma possíveis no homem, além de sua natureza divina
inefável. Por outro lado, sendo perfeito, o que Nosso Senhor deveria ter de
mais sublime era a face, pois esta é a condensação de todas as riquezas do
corpo.
“Certo estou de que se alguém conseguisse conhecer essa Face em seu
estado normal (não, portanto, desfigurada pelas torturas da Paixão), na sua
integridade, compreenderia que as proporções de seus traços tinha de conter as
regras de harmonias do universo, cuja beleza nos seria dado decifrar, em se
estudando o mesmo sagrado semblante.
“Assim como entenderíamos outra coisa, tão raramente encontrada unida à
beleza: a graça, o charme, o encanto. Frequentemente se acham modalidades de
encanto, mas separadas da verdadeira beleza.
Ora, em Nosso Senhor essas qualidades se uniam na sua plenitude. E como
Ele era atraente! Era a majestade mais empolgante e arrebatadora aliada à
graciosidade mais meiga, afável, acessível, capaz de se fazer pequena e nos
acariciar; era o charme incomparável por trás da beleza perfeita, somado à expressão de uma
inteligência infinita e uma santidade transcendente. Tudo isso nos faria ter a ideia da
esplendorosa fisionomia d’Ele.
“No fundo, o que São Tomás entendeu e escreveu, o que o Beato Angélico
discerniu e pintou, é o que no Reino de Maria se verá. Contemplar-se-á através
de todas essas harmonias, algo que nos faça pensar no semblante imaculado,
sacratíssimo, régio, maternal e meiguíssimo de Nossa Senhora. E naquilo para o
qual não há palavras, cessam os adjetivos, tudo é silêncio e adoração
reverente: a Face de Nosso Senhor Jesus Cristo.
“Compreendendo essas harmonias nos preparamos para entender a Sagrada
Face e para a visão beatífica, por toda a eternidade”. [2]
O fascínio na conquista das almas
Como Nosso Senhor mostrou-Se
inicialmente a seus Apóstolos, a ponto de atraí-los para Si? Imaginemos como
isto deveria ter ocorrido, acompanhando o pensamento de Thomas Walsh:
“Como pareceu o Senhor aos olhos desse pescador, uns poucos anos mais
velho do que Ele, que O contemplava com algo de desconfiança, esperança, temor,
curiosidade e uma rígida certeza de que uma força decisiva, acima de seu poder
de compreensão, penetrava em sua vida? Para o judeu médio de Seu tempo pareceria
Ele provavelmente com qualquer outro jovem rabino, usando uma túnica inconsútil
de lã, um tanto mais comprida do que a usada pelos outros, uma barba curta e
sérios olhos sondadores. Talvez nada
houvesse na Sua aparência que sugerisse ao observador comum (a menos que esse
observador recebesse uma secreta e profunda certeza espiritual do fato) que
aqui, diante dele, havia infinita imensidade inclusa em carne humana
vulnerável, onipotência ligada com simples faixa sob um turbante enrolado, o
Verbo Eterno que saltou do céu à terra, nas proféticas palavras do Livro da
Sabedoria, “enquanto todas as coisas estavam em tranquilo silêncio e a noite no meio do seu curso”,
para submeter-se às algemas do tempo e de lugar. Isto era obviamente oculto
para muitos, do contrário toda Israel tê-Lo-ia imediatamente reconhecido e
aceito, quando menos apenas por motivos de interesse próprio. Até mesmo os
homens corruptos teriam adquirido grátis o dom que devia ser pago com
humildade, sinceridade e amor. Evidentemente isto não ocorria.
“Nenhuma palavra descrevendo Nosso Senhor foi deixada por qualquer dos
quatro evangelistas. Este silêncio em si mesmo é uma espécie de descrição,
sugerindo inefável e majestática presença, que tinha ás vezes um predominante
efeito tanto sobre amigos como sobre inimigos. Contudo, em outros momentos,
parecia tão comum na sua humanidade que os homens não hesitavam em deitar sobre
Ele mãos violentas...”
“..Tudo quanto Simão sabia, ao olhar aquele rosto, pela primeira vez,
era que reverenciava e amava aquele Homem, como nunca reverenciara e amara
ninguém mais. E antes que pudesse dizer qualquer coisa, Jesus olhou-o fixamente
dentro dos olhos e disse:
- Tu és Simão, o filho de Jonas. Serás chamado “Kepha”. “Kepha”
significa “Rocha”; em latim, “Petrus”; em português, “Pedro”.
“Foi somente anos mais tarde que pôde Simão Pedro escrever a respeito
do “inefável e abençoado deleite” (I Ped
1, 9) de contemplar o Cristo. É duvidoso que então tivesse ele plenamente
compreendido a significação do momento, ou as duas Naturezas do Homem que lhe
estava falando. Mas sentia n’Ele alguma
qualidade que antes nunca encontrara em qualquer ser humano. Era algo ao mesmo tempo aterrorizador e tranquilizador,
de devastador e de exaltante, uma censura ardente e um infinito deleite e
consolação. Torna a pessoa pronta e esquecer tudo – trabalho, prazer, ambição,
a própria vida – e a acompanhar aquele Homem aonde quer que Ele pudesse
levá-la” [3]
Thomas Walsh não o vislumbrou,
mas na realidade Nosso Senhor fascinou São Pedro para em seguida tocar seu
coração com a graça da conversão.
Que dizer de Seu sacrossanto olhar?
Não temos uma descrição do
sacrossanto olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas podemos imaginá-lo
analisando o que referido olhar produziu, principalmente na conversão de
pecadores. Um exemplo foi a conversão de Santa Madalena. Uma vidente italiana
do século XVIII, a Bem-Aventurada Serva de Deus Maria Cecília Baij, assim
descreve como Nosso Senhor lhe contou a conversão da Santa, operada de uma
forma fulminante pelo olhar divino de Jesus Cristo:
“Chegando, portanto, o dia festivo, concorreu a Jerusalém uma multidão
de pessoas, muitas das quais vieram para ouvir-me pregar e para ver-me, outras
ainda para serem liberadas de várias enfermidades. Veio também Marta, irmã de
Lázaro, e tanto se empenhou que conseguiu trazer também a irmã, Madalena.
Tinham eles uma boa casa em Jerusalém para suas vindas nos dias festivos.
“Madalena debatia-se intensamente no íntimo. O demônio com suas
sugestões violentas dissuadia-a de vir, temendo o que depois ocorreu. Isto é,
que, ouvindo minha prédica, se convertesse, como se converteram também outros
pecadores. O demônio segurava-a muito fortemente. Era, no entanto, atraída
pelos convites da graça, que poderosamente a impeliam a vir ao Templo. Eu
esperava com grande desejo a pecadora para convertê-la e fazê-la inteiramente
minha. Em vista disto, pedia ao Pai dar-lhe a graça de superar as sugestões do
inimigo infernal, que fortemente a dissuadia, bem como de vencer as persuasões
dos amantes que a aconselhavam a não vir, porque ali, diziam eles, havia um
certo homem que pregava e atraía todos para seu partido e encantava a quem o
ouvia. Por isso, também ela se deixaria enganar e abandonaria seus amores.
“Por fim, venceu a graça divina, que a convidava com veemência.
Madalena dominou todas as persuasões e sugestões, e veio; porém não para ouvir
minha palavra, nem para ver-me, mas só com a intenção de ser galanteada e
conquistar mais amantes.
“Veio a Jerusalém com a irmã. Perdeu a manhã da festa em adornar-se,
levantando-se cedo para enfeitar-se mais comodamente. Foi exortada pela irmã a
desistir de tanta vaidade. Mas ela,
surda à suas palavras, enfeitou-se mais ainda. A irmã contava-lhe muitas coisas
acerca de minha pessoa. Ela, porém, nem sequer quis escutá-la, mostrando-se
desgostosa até mesmo de ouvir mencionar-me.
“Eu via tudo. Naquela noite orei sempre ao Pai pela conversão de
Madalena, a qual ia desmerecendo cada vez mais a graça da conversão. Mas o Pai
prometeu-me para ela a plenitude da graça, conforme me tinha prometido em
outras ocasiões. Eu o louvei e
agradeci-lhe por tanta bondade e misericórdia.
“Ao raiar do dia, fui ao Templo com os Apóstolos e discípulos.
Demorei-me a orar ao Pai, a fim de que as funções dos Fariseus acabassem. Nesta oração pedi ao Pai tivesse misericórdia
de todo o povo, iluminando-o e fazendo-lhe conhecida a verdade que eu lhe
pregasse. Via então que Madalena se mostrava arredia a vir ao Templo. Por isso
pedi de novo por ela, a fim de que viesse, vencida pelas exortações da irmã e
atraída muito mais ainda pelos convites da graça. Sua vinda causou a todos os
presentes grande admiração, atraindo a si os olhares de todos, seja por sua
beleza, seja também por sua vaidade.
“Terminadas as funções e tendo pedido ajuda a meu divino Pai, ergui-me para
começar a prédica. De pé, fixei os olhos em Madalena. Ao olhá-la , chamei-a com voz interior a
minha sequela. Simultaneamente, Madalena também fixou seus olhares em minha pessoa. De fato, seu coração ficou
ferido pela potente a amorosa seta. De repente, sentindo o convite, deu-se por
vencida, tanto que, antes que eu começasse a falar, ficou presa de meu amor.
Fez, porém, grande esforço para resistir e ficar a ouvir minha prédica.
“Comecei a pregar as grandezas do divino Pai. Madalena desfazia-se
em lágrimas ao ouvir a doçura e a sublimidade de minhas palavras, ao ver a
amabilidade de meu semblante, meus admiráveis atrativos. Foi necessária uma graça especial para
ela não morrer de puro amor e juntamente de dor por suas culpas. Seu coração estava preso de um vivo incêndio
de amor e traspassado de dor aguda. Olhei-a amiúde, para que mais e mais vezes
ficasse ferida e inflamada. Seu coração destilava lágrimas de dor e se consumia
nas chamas de um amor ardente.
“Dizia-lhe ao coração; “Madalena, Madalena! Bastante tempo viveste
longe de mim. Doravante serás inteiramente minha. Sacrificareis todos os teus
afetos a mim. Prova e vê quão suave e
quão doce e potente é o meu amor!”
Continuava a falar-lhe ao coração. Ela respondia-me com todo afeto e não
cessava de pedir perdão pelos erros cometidos. Ouvia minhas palavras – que lhe
pareciam outros tantos dardos – e cada uma delas feria-lhe o coração.
“Prossegui um pouco minha prédica. Todos os presentes estavam admirados
ao ouvirem minhas palavras e minha divina sabedoria. Muitos olhavam Madalena.
Ao vê-la tão compungida, ficavam eles também compungidos. Alegrei-me muito ao
ver aqueles corações e muito mais me alegrei
à vista do coração contrito e amoroso de Madalena. Alegrava-me qual
caçador com sua presa.
“Encontravam-se ali numerosos Escribas e Fariseus, os quais começavam
também a sentir comover-se-lhes o coração de compunção. Para não se renderem,
fechavam os ouvidos a fim de não me ouvirem; tal era sua obstinação maligna,
que os pérfidos amarguravam a consolação por mim sentida pela conversão de
Madalena.
“Depois de ter falado algum tempo das perfeições divinas, da obrigação
de amar o divino Pai e de observar a Lei divina, narrei a parábola do filho
pródigo, seja para inspirar ânimo e confiança a Madalena contrita, como também
para animar a todos os outros pecadores presentes.
“Madalena, presa de forte resolução, decidiu vir aos meus pés. Não fez este ato no Templo, porque não ousou
aproximar-se de mim, coberta de enfeites e objetos de vaidade. Mas quis vir despojada de todas as pompas,
inteiramente pobre, com veste humilde, como via minha pessoa, totalmente pobre
e humilde.
“Terminada minha prédica, Madalena partiu depressa, como louca, vencida
pela paixão do amor e traspassada de dor. Chegando a sua casa, despojou-se de
todas as pompas, as quais calcou generosamente. E muito mais, despojou-se do
amor próprio de qualquer respeito humano, odiando tudo o que tinha mantido longe de Deus. Soltou
também o cabelo, e inteiramente contrita, chorou amargamente. Não podendo no
entanto mais reter a chama que lhe ardia no peito, resolveu repentinamente vir
aos meus pés para desafogar o amor e a dor.”[4]
Ao que muito se perdoa é porque muito amou
O episódio seguinte é muito
conhecido, narrado por todos os 4
Evangelistas (Lc 7, 36-50; Mt 26, 6-13;
Mc 14, 3-9 e Jo 12, 1-8): Santa Madalena, após despir-se de todo mundanismo, foi
ajoelhar-se aos pés do Salvador para despejar-Lhe um vaso de alabastro cheio de
bálsamo e enxugar-Lhe os mesmos pés com seus cabelos. Pelo relato de São João, São Lázaro
participava do banquete de Betânia e já havia sido ressuscitado.
Foi desta forma que o próprio
Nosso Senhor narrou à Abadessa Maria Cecília Baij o banquete de Betânia, na
casa do ex-leproso Simão:
“Terminada, então, minha oração e tendo dado graças ao Pai, saí do
Templo com os Apóstolos e fui à casa de Simão, o leproso, para ali restaurar-me
com os apóstolos, porque estávamos muito necessitados.
“Depois de entrar na dita casa e das costumeiras bênçãos, quando
estavam todos à mesa, veio a contrita e amante Madalena. Saíra de casa para vir
até mim e prostrar-se aos meus pés. Tendo ouvido dizer que eu, com os
apóstolos, tinha ido ao banquete na casa de Simão, foi velozmente para lá,
superando todo respeito humano.
“Causou admiração aos que a viram. Em verdade, ocasionou admiração e
estupor ver uma pecadora pública, pessoa nobre, rica e bela, despojada de toda
vaidade, coberta de veste vil, os cabelos soltos, correr velozmente àquela
casa. Mas não conheciam o amor que ardia no coração de Madalena, nem a dor que
a traspassava. Por isso todos ficaram estupefatos e admirados.
“Veio a penitente e entrou generosamente no lugar do banquete. Não
olhou a ninguém. Mas tendo chegado aos meus pés, prostrada em terra, beijou-os
amorosamente. Lavava-os com suas
lágrimas e enxugava-os com os cabelos, por meio dos quais havia captado
vaidosamente tantas almas. Trouxera também um vaso de precioso e fragrante unguento
para ungir-me os pés. Mediante tal perfume pensava ela mitigar o mau cheiro que
me causaria sua iniquidade.
“A dolente Madalena estava, portanto, detrás de meus pés desfazendo-se
em lágrimas de dor e satisfazendo seu grande amor. Depois de beijar e ungir por
algum tempo meus pés, ergueu-se e derramou todo o precioso e fragrante perfume
em minha cabeça, voltando depois aos meus pés. A penitente Madalena não
proferia palavra alguma, porque a dor não lhe permitia. Falava-me, no entanto,
com o coração. Oh! Quantos afetos de amor exprimia esse coração amante e
quantos atos de dor fazia no coração contrito e dolente! Eu falava-lhe ao
coração com amor, convidando-a a seguir-me e assegurava-lhe meu amor.
“Desde o primeiro instante em que me viu, e eu a mirei, Madalena teve
um claro conhecimento acerca de minha pessoa e acreditou ser eu o verdadeiro
Messias. O divino Pai concedera-lhe esta
graça por causa das numerosas súplicas que eu lhe dirigira por ela. Minhas
orações foram bem empregadas, pois ela correspondeu inteiramente à graça e
aproveitou as luzes divinas”..
Após comentar sobre a raiva que
o gesto de Santa Madalena causou em Judas e a ironia crítica dos fariseus,
Nosso Senhor conclui:
“Tendo então Madalena se expandido, e dado algum reconforto a seu
ardente amor e a sua grande dor, disse-lhe: “Tua fé te salvou; vai em paz” (Lc
7, 48). Despedi Madalena e mandei-a embora, absolvida de todas as suas culpas,
porque grande foi sua dor e seu amor.”
[5]
O Sacrossanto olhar de Jesus
O Dr. Plínio Corrêa de
Oliveira, ao longo de sua vida pública, teceu alguns comentários sobre o olhar de Nosso Senhor. Em
sua famosa Via Sacra, por exemplo: “Vós, Senhor,
o fitaste (Pilatos) por longo tempo com aquele olhar que em um segundo
operou a salvação de Pedro. Era um olhar em que transparecia vossa suprema
perfeição moral, vossa infinita inocência, e, entretanto, ele Vos condenou”.[6]
A Beata Anna Catharina Emmerich
narra em detalhes o tocante episódio em que os olhares de Nosso Senhor e São
Pedro se encontraram naquele momento. Segundo ela, após haver negado Nosso
Senhor pela primeira vez, São Pedro encontrou-se por acaso com Seu Mestre, o
qual lançou-lhe terrível olhar de repreensão:
“O Senhor lançou a Pedro um olhar sério de repreensão. Pedro ficou como
que esmagado pela dor. Mas, lutando com o medo e ouvindo alguns dos
circunstantes dizerem: ‘Quem é esse sujeito?’, saiu novamente para o pátio, tão
abatido e tão confuso pelo medo, que andava cambaleando a passos lentos.
Vendo-se, porém, observado, entrou de novo no átrio, aproximou-se da fogueira,
ficando ali bastante tempo sentado, até que diversas pessoas, que fora lhe
tinham notado a confusão, entraram, começando de novo a provocá-lo, falando mal
de Jesus e de suas obras. Um deles, chamado Cássio e mais tarde Longino, disse
então: ‘É verdade, também és daquela gente; és Galileu, tua linguagem prova-o’.
Como Pedro quisesse sair com um pretexto, impediu-o um irmão de Malcho,
dizendo: ‘O que? Não te vi com eles no horto das oliveiras? Não feriste a
orelha de meu irmão?’ Tornou-se Pedro
então como insensato, pelo pavor que o dominou e livrando-se deles, começou a
praguejar (tinha um gênio violento) e jurar que absolutamente não conhecia esse
homem e correu do átrio para o pátio interior. Foi à hora em que o galo cantou
de novo; os soldados conduziram Jesus, nesse mesmo momento, da sala circular,
pelo pátio para o cárcere que ficava sob a sala. Virou-se, porém, o Senhor e
olhou para Pedro com grande dor e tristeza; lembrou-se Pedro então da palavra de
Jesus: ‘Antes do galo cantar duas vezes, negar-me-ás três vezes’, e essa
lembrança pesou-lhe com terrível violência sobre o coração. Fatigado pela
angústia e o medo, tinha-se esquecido da promessa presunçosa de querer antes
morrer do que O negar e do aviso profético de Jesus; mas à vista do Mestre, esmagou-o a lembrança
do crime que acabara de cometer. Tinha pecado, pecado contra o Salvador, tão
cruelmente tratado, condenado, inocente, sofrendo tão resignado toda a horrível
tortura. Como desvairado de contrição, saiu apressadamente pelo pátio exterior,
a cabeça velada e chorando amargamente; não temia mais ser interrogado; teria então dito a todos quem era e que
pecado lhe pesava na consciência”.[7]
O olhar misericordioso da Santíssima Virgem Maria
“...De súbito, se abriu a porta e na frente de algumas pessoas saiu
Pedro, correndo para eles, cobrindo com as mãos o rosto velado e chorando
amargamente. À luz da lua e das lanternas, conheceu logo a João e a Santíssima
Virgem; parecia-lhe que a voz da consciência lhe vinha ao encontro, na pessoa
da Mãe de Jesus, depois que o seu Divino Filho a tinha despertado. Ah! Como ressoava a voz de Maria na alma de
Pedro, quando ela disse: “Oh! Simão! Que fizeram de Jesus, meu Filho?” Ele não podia enfrentar o olhar de Maria,
desviou os olhos para o lado, torcendo as mãos e não pôde proferir
palavras. Mas Maria não o deixou,
aproximou-se-lhe e perguntou com voz triste: ‘Simão, filho de Jonas, não me
respondes?’ Então exclamou Pedro na sua
dor: ‘Oh, Mãe, não faleis comigo; vosso Filho sofre coisas indizíveis; não me
faleis a mim, pois condenaram-nO à morte e eu O neguei vergonhosamente por três
vezes’. E como João se aproximasse para
falar-lhe, fugiu Pedro, desvairado de tristeza e saindo do pátio e da cidade,
retirou-se àquela gruta do monte das oliveiras, na qual as mãos de Jesus se
tinham imprimido na pedra...”[8]
O olhar de Jesus fulgura como um sol
Nas páginas da revista “Dr.
Plínio” vamos colher mais um precioso comentário sobre o olhar de Jesus:
“Em Jesus, o semblante, as expressões da face e até o timbre da voz não
são senão comentários ao que mais O exprime, isto é, seu olhar. Este é
sumamente ordenado e feito de gradualidades. Quando fulgura, é como um sol.
Quando não, mostra-se sempre de um certo modo, semelhante ao que representa o
barítono para a música vocal: nem muito alto nem muito baixo.
“Não é um olhar que sai de si para penetrar nos outros, a não ser
raramente. Antes, convida que se entre
nele, para entabular elevados colóquios conosco.
“Olhar muito sereno, aveludado quase...
No fundo, porém, revelando uma sabedoria, retidão, firmeza e força que
nos enchem ao mesmo tempo de encanto e de confiança.
“A meu ver, todas as perfeições existentes na ordem do Universo – a das
estrelas como as de uma Gruta de Capri, ou as de qualquer outra maravilha –
estão contidas no olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo, e os estados de alma
d’Ele correspondem a todas as belezas do mundo. Por isso, ao apreciarmos algum
esplendor da criação, seria bastante proveitoso meditarmos na excelência do
olhar d’Ele que se acha espelhada naquela grandeza criada.
“Por exemplo, quando estou sozinho e contemplo o céu todo estrelado
acima de mim, experimento a curiosa impressão de que sou visto, e de que aquele
firmamento todo converge sobre mim. Esta é a sensação que se tem quando Nosso
Senhor nos olha. É todo um céu que se debruça sobre nós. Mas quando somos nós
que nos pomos a fitá-Lo e colhemos o fundo de seu olhar, nos sentimos melhor do
que ao sermos olhados por Ele.
“Pois ali, no conjunto dos olhares d’Ele, a ordem do Universo se
reflete inteiramente, as regras da estética se resumem de modo perfeito, os
princípios da lógica se articulam de maneira admirável. Numa palavra, o “pulchrum” e o significado
interno de tudo quanto existe estão contidos no olhar de Nosso Senhor.
“De sorte que, por exemplo, ao conversar com Lázaro, com Marta ou com
Maria Madalena, a fisionomia, a voz e o olhar de Jesus – sem indiscrição alguma
– iam muito naturalmente mudando, e em sua expressão se podia compreender um
número incontável de coisas.
Olhar que acompanha a História
“Por isso mesmo, considero o olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo como se
fosse quase outro Evangelho, e uma prodigiosa “leçon des choses”.
“De fato, Jesus é Rei do Universo e, portanto, Rei da História. Não o é
apenas da história das nações, mas também da existência individual de cada um
de nós. E os desígnios d’Ele vão se fixando e se traçando na medida em que a
nossa trajetória neste mundo se desenvolve. Ele vai olhando para nós, e se
pudéssemos vê-Lo em cada momento, teríamos o sentido daquilo que estamos
vivendo a cada passo.
“Imaginemos Nosso Senhor por ocasião da multiplicação dos pães,
considerando o povo reunido em torno d’Ele: “Tenho piedade desta multidão” (Mt 15, 32). É concebível que Ele tenha
proferido essa frase com os olhos fechados? Não pode ser.
“Se os olhos de Jesus não estivessem abertos enquanto Ele falava ou
caminhava, teria atraído aquela multidão? Claro está que, se assim o quisesse,
Nosso Senhor tocaria aquelas almas mesmo sem lhes dirigir o olhar. Porém, não
procedeu dessa forma, e foi o olhar d’Ele que as atraiu.
“Outra passagem do Evangelho na qual me parece que o divino olhar do
Salvador se reveste de maior expressividade é o momento em que Jesus, flagelado
e coroado de espinhos, foi apresentado ao povo por Pilatos. Para mim,
excetuando o instante em que Nosso Senhor fita o Apóstolo Pedro que acabara de
negá-Lo, não há episódio no Evangelho onde o papel do olhar se manifesta tão
evidente como no “Ecce Homo”. Tanto mais quanto, naquela circunstância, o
Redentor não proferiu qualquer palavra, permanecendo num majestoso silêncio.
“Cumpre ressaltar, aliás, o fato impressionante de que os algozes de
Nosso Senhor, quando O esbofetearam durante a Paixão, não suportaram o divino
olhar que os fitava. Para consumar as suas atrocidades contra Jesus, tiveram de
Lhe vendar os olhos..
Devoção ao Sacrossanto olhar
“Essas considerações nos fazem compreender bem que noite tremenda se
fez para o mundo quando o olhar d’Ele se extinguiu! Noite na qual se teria
vontade de pedir a Deus que nos levasse desta Terra. Pois uma vez que alguém se
habituou ao convívio daquele olhar, tendo este se apagado, nenhum sentido
restaria para se continuar a viver no mundo. Para fazer o quê? Turismo em
alguma linda cidade europeia? Visitar Paris, conhecer Viena? Como estas nos
parecem pobres e insípidas, em comparação com a graça de ver aquele divino
olhar! As maravilhosas joias da casa d’Áustria, a extraordinária coroa do
Sacro-Império, nada seriam para o homem sobre quem pousaram os olhos
misericordiosos do Salvador.
“Muito embora a devoção ao Sagrado Coração de Jesus me fale tanto à
alma, na realidade toca-me ainda mais a devoção ao olhar d’Ele. Talvez, pela
razão mesma de ser o olhar a melhor expressão do coração. E esta seria, caso
não o impugnasse a Teologia, a “devoção ao Sacrossanto Olhar...”.
“A partir dessa ideia, poder-se-ia introduzir no “Anima Christi” outras
invocações como: olhar padecente, olhar misericordioso, olhar de divino
Juiz... penetrai em mim e fazei-me
entrar em vós. Poder-se-ia, igualmente,
compor uma “Ladainha dos olhares de Jesus”, a qual reluziria de uma beleza
arrebatadora.
“Concluo, fazendo notar que, quando se analisa assim o Evangelho,
encontram-se nele profundidades insuspeitadas. Suas páginas constituem um
tesouro repleto de “nova et vetera” – coisas antigas e recentes.
“Tudo quanto acima foi dito nos revelou algo imensamente valioso, mas é
natural que se procurem também outras gemas preciosas nesse tesouro. As joias
que acabamos de admirar, a nós nos regalam, porque são as meditações que se
acrescentam ao cântico antigo, em função de nossa vida, nossas batalhas e
nossos sofrimentos nesta terra de exílio”.[9]
Eis mais um comentário que Dr.
Plínio teceu sobre o olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo:
“Se nós pudéssemos fazer uma coleção dos timbres de voz de Jesus
ensinando como Mestre!... Ninguém foi
Mestre como Ele, que é o Divino Mestre! Explicando com clareza, com sabedoria,
com profundidade, horizontes extraordinários, mas com uma simplicidade de
desconcertar. Seu ensino é tão simples e, ao mesmo tempo, tão profundo! Santo
Agostinho dizia que o ensinamento d’Ele era como um rio no qual um elefante se
afogaria e um cordeiro passaria sem molhar senão os pés.
“Como nós gostaríamos também de, por exemplo, colecionar os seus
sucessivos olhares! Para falar senão em dois: o olhar para São Pedro, que o
converteu e o fez chorar a vida inteira, e um olhar para Nossa Senhora.
Escolham o momento. Talvez o momento do último olhar nesta vida. Com certeza,
antes de morrer, Eles trocaram um olhar em que transpareciam o carinho e
adoração da parte d’Ela, e o amor indizível, o apreço extraordinário e o carinho
da parte d’Ele, ao se separarem.
“Como seria a história de todos os seus olhares? E como seria o olhar d’Ele
expulsando os vendilhões do Templo? Para Pilatos, desprezando toda a covardia
do Procurador romano? E o olhar de
repreensão aguda e severa para Anás e Caifás?” [10]
O olhar de Jesus no Juízo Final
Assim, podemos imaginar como o
olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo refletiu o Seu bondoso coração. Já antes de
nascer, os místicos dizem que Ele se privou da luz de seus olhos no seio
virginal de Sua Mãe, a Santíssima Virgem Maria, como um verdadeiro martírio,
prevendo já os piores momentos que iria passar ao final de Sua vida. Ao nascer,
derramou todo seu inocente olhar dentro dos olhos de Sua Mãe Santíssima, com a
qual teve colóquios e olhares amorosos durante toda a vida terrena.
Em Sua Paixão e Morte, os
olhares de Nosso Senhor percorriam a multidão à procura de um coração piedoso
que tivesse compaixão d’Ele. Até que os ímpios Lhe vendaram os olhos para que
não tocasse tão bondosamente os olhares das pessoas que estavam ali e os
convertesse, como o fez a Madalena.
Finalmente, no Juízo Final
teremos o último olhar de Jesus Cristo, abarcando não somente toda a humanidade
mas toda a historia, que será terrível para os ímpios e cheio de bondade para
os justos. Naquele momento ninguém terá poder suficiente para Lhe colocar uma
venda como o fizeram na sua Paixão.
Santa Catarina de Sena diz como
será aquele olhar final:
“Aos olhos do condenado, sem
embargo, ele aparecerá com aquele olhar terrível e tenebroso, que tem o mesmo
condenado em si mesmo”. Completa Santa Catarina dizendo que isto não quer dizer
que Jesus Cristo, a Bondade suma e infinita, tenha um “olhar temível e
tenebroso”, mas sim, que será esta a forma com que o condenado O verá por “ter
o mesmo olhar dentro de si mesmo”...
Santa Teresa de Jesus manifesta
também grande temor daquele olhar terrível:
“Nunca tive tanto medo dos tormentos do inferno que não fosse menos que nada em comparação do que
tinha quando me lembrava que os condenados haviam de ver irados estes olhos tão
formosos e mansos e benignos do Senhor...”.[11]
Semblante de Jesus nas visões de uma mística italiana
“Uma manhã, não me recordo muito bem, creio que haviam passado cerca de
três meses desde que comecei a estar continuamente na cama, quando estava em
meu acostumado estado veio meu doce Jesus com um aspecto todo amável, como um
jovem de dezoito anos, oh como era belo! Com sua cabeleira dourada e toda
cacheada, parecia que encadeava os pensamentos, os afetos, o coração. Sua fronte
serena e larga, onde se olhava como dentro de um cristal o interior de sua
mente e se descobria sua infinita sabedoria, sua paz imperturbável. Oh como me
sentia tranquilizar minha mente, meu coração, muito mais, minhas próprias
paixões ante Jesus caíam por terra e não se atreviam a dar-me a mínima
moléstia. Eu creio, não sei se me engano, que não se pode ver a este Jesus tão
belo se não se está na calma mais profunda, tanto que o mínimo assomo de
intranquilidade impede ter uma vista tão bela. Ah, sim! Somente ao ver a
serenidade de sua fronte adorável, é tanta a infusão de paz que se recebe no
interior, que acredito que não há desastre, guerra mais feroz que ante Jesus
não se acalme. Oh meu tudo e belo Jesus, se por poucos momentos que te
manifestas nesta vida comunicas tanta paz, de modo que se podem sofrer os mais
dolorosos martírios, as penas mais humilhantes com a mais perfeita
tranquilidade, parece-me uma mistura de paz e de dor, que será no Paraíso? Oh,
como são belos seus olhos puríssimos, cintilantes de luz; não é como a luz do
sol que querendo olhá-la prejudica nossa vista, não, em Jesus embora seja luz
pode-se muito bem fixar o olhar, e somente com o olhar o interior de sua
pupila, de uma cor celeste escuro, oh, quantas coisas me dizia. É tanta a beleza
de seus olhos que uma só olhada sua basta para fazer-me sair fora de mim mesma
e fazer-me correr atrás d’Ele por caminhos e por montes, por terra e pelo céu,
basta somente uma olhada para transformar-me n’Ele e sentir descer em mim algo
de divino. Quem pode descrever ademais seu rosto adorável? Sua pele branca,
parecida à neve tingida de uma cor de rosas das mais belas; em suas bochechas
bem rosadas se descobre a grandeza de sua pessoa, com um aspecto majestosíssimo
e todo divino, que infunde temor e reverência e ao mesmo tempo dá tanta
confiança, e quanto a mim, jamais encontrei pessoa alguma que me dê ao menos
uma sombra da confiança que dá meu amado Jesus, nem em meus pais, nem nos
confessores, nem em minhas irmãs. Ah, sim, esse rosto santo, enquanto é tão
majestoso, ao mesmo tempo é tão amável, e essa amabilidade atrai tanto que a
alma não tem a mínima dúvida de ser acolhida por Jesus, por quão feia e
pecadora se veja. Belo é também seu nariz afilado, proporcionado a seu
sacratíssimo rosto. Graciosa é sua boca, pequena, porém extremamente bela, seus
lábios finíssimos de uma cor escarlate, enquanto fala contém tanta graça que é
impossível poder descrevê-lo. É doce a
voz de meu Jesus, é suave, é harmoniosa, enquanto fala sai de sua boca um
perfume tal que parece que não se encontra sobre a terra, é penetrante, de modo
que a tudo penetra, se sente descer pelo ouvido ao coração e, oh, quantos
afetos produz, mas quem pode dizê-lo todo? Ademais, é tão agradável que creio
que não se podem encontrar outros prazeres como os que se podem encontrar numa
só palavra de Jesus. A voz de Jesus é potentíssima, é operante, e no mesmo
momento que fala opera o que diz. Ah sim, é bela sua boca, mas muito mais sua
formosa graça no ato de falar então se veem seus dentes tão nítidos e bem
alinhados, e exala seu hálito de amor que incendeia, asseteia, consuma o
coração. Belas são suas mãos, suaves, brancas, delicadíssimas, com seus dedos
proporcionados e que move com uma maestria tal que é um encanto. Oh, como sois
belo, todo belo, ou meu doce Jesus! O que tenho dito de vossa beleza é nada,
tem mais, parece-me que tenho dito muitos desatinos, mas que queres de mim?
Perdoa-me, é a obediência que assim o quer, por mim não me teria atrevido a
dizer nem uma palavra, conhecendo minha incapacidade”. [12]
Notas:
[1] Vida,
Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus “– Anna Catharina Emmerich - Editora
Mir – págs. 81/82
[2] revista
“Dr. Plínio”, n. 83, de fevereiro de 2005, pág. 30
[3] “O Apóstolo São Pedro “, Ed. Melhoramentos - pp. 46/47
[4] A
Vida Íntima de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Maria Cecília Baij, OSB, Acrópole
Editora e Distribuidora Ltda, 1984, págs. 443/444
[5] op.
cit. pp. 445/446
[6] Publicada
originalmente no mensário “Catolicismo”, de março de 1951, e divulgada em forma
de opúsculo pela campanha “Vinde Nossa
Senhora de Fátima, não tardeis!” – pág. 6
[7] Vida,
Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus” – Mir Editora – São Paulo, 1999 –
págs. 189/190
[8] op.
cit. págs. 191/192
[9] revista
“Dr. Plínio”, janeiro de 2004, págs. 18/20
[10] revista
“Dr. Plínio”, edição de junho de 2003:
[11] Obras
Completas de Santa Teresa de Jesus – Carmelo do Porto, Portugal – pág. 801
[12] Memórias
da Serva de Deus Luísa Piccarreta – “A Pequena Filha da Divina Vontade” –
págs..93/95
Nenhum comentário:
Postar um comentário