As pessoas no mundo de hoje vivem como que cheias de apetências por algo que pode a qualquer momento lhes despertar os mais recônditos e escondidos princípios psicológicos. Recônditos e escondidos porque estas coisas nunca vêm à tona de uma forma natural e espontânea. É assim, por exemplo, um certo mundo virtual, povoado de imagens, de reflexos, de ilusões utópicas, adquiridos nos instrumentos de comunicação modernos, seja na TV, seja no computador, seja até mesmo no simples cinema. Já se organizam comunidades de “frikis”, de “geeks”, de “nerds”, estes aficcionados por ficção, por imagens virtuais, que vivem num mundo alheio ao real, só tornando a ele quando imitam por empatia os seus ídolos, seus deuses engendrados nas imagens de seus aparelhos eletrônicos. A grande maioria dos fanáticos seguidores de certos cantores ou atores modernos é oriunda destas comunidades.
Quando o vocalista do conjunto Nirvana suicidou-se, de tal forma havia pessoas que assumiam sua personalidade, numa cruel empatia pelo cantor, que chegaram a praticar o mesmo suicídio. E de repente explodiu nestes indivíduos a empatia adormecida pelo músico recentemente falecido, Michael Jackson. Esta assimilação pelo ídolo estava, em muitos, como que em letargo, de repente acordada pela mídia que sabe muito bem acionar seus condões mágicos. De repente, surgem milhares de dançarinos e de indivíduos burlescos a imitar o cantor morto. O mundo todo pareceu, de uma hora para outra, um enorme circo universal a imitar o ídolo. De Nova York a São Paulo, de Paris a Pequim, o burlesco imitar idolátrico se repetiu. De tal forma que se fosse mostrada uma imagem sem o som, vendo-se apenas os indivíduos dançando e imitando o cantor morto, não se saberia se aquilo ocorria no Brasil, na Argentina ou no Vietnã.
Não só a grafia, mas a pronúncia, foi deliberadamente deturpada aqui no Brasil. Num concorrido noticiário de TV o jornalista chegou a pronunciar seu nome como “Maicon”; surgiu até o dístico “Maicon Jécson” (assim mesmo com acento agudo), pronúncia e escrita usada pelo “povão” analfabeto do inglês. Estas coisas popularizam ainda mais o ídolo, mesmo depois de morto. Aliás, ídolo morto é mais idolatrado do que vivo. Diz-se agora que se vende mais camisetas, bottons, DVDs, ou qualquer coisa que tenha a imagem ou voz do falecido do que quando o mesmo era vivo. A idolatria aumenta quando o ídolo morre... E o “povão”, como se diz, imita candidamente os fanáticos encastelados na classe média e alta, o reduto-mor de toda idolatria moderna.
Para aumentar essa sinistra parafernália midiática, pasquins e jornais panfletários divulgam sem cessar rumores, falsos boatos, notícias infundadas, com o visível intuito de manter acesa esta chama da notoriedade e não deixar cair o tom da idolatria. Só que os boatos giram em torno de remédios, de entorpecentes, de escândalos que ainda estão para serem esclarecidos ou qualquer outro fator que possa causar sucesso de venda. Comparo a mídia como um pau destinado a mexer nas fezes e fazer subir o mau cheiro, o fedor da corrupção do mundo. Ela nunca promove o arejamento do ar através de perfumes agradáveis, é sempre o mau odor da corrupção que se exala de suas entranhas....
Sobre a decadência daquele ritmo criado pelo cantor, nada! Sobre a péssima influência que este ritmo e sua música trouxeram para certos grupos de jovens, incentivando-os até mesmo para o uso da droga, também nada! Falou-se, por exemplo, dos grandes enterros de notoriedades ocorridos nos últimos tempos: foi citado cantores, atores, músicos, políticos, mas nenhuma palavra sobre o mais concorrido de todos eles que foi o de João Paulo II. Por que foi omitido neste elenco de grande féretros o do Papa? Porque este fato não servia para exalar mau cheiro, pelo contrário, mostrava uma saudável corrida para uma reforma moral dos povos.
Se um desses tablóides publicar que Michael Jackson era possuidor da mesma doença do goleiro da seleção americana de futebol, Tim Howard, ou seja, a “síndrome de tourette”, alguém vai lhe dar credibilidade, vai ter sucesso de venda? É claro que não. Por que? Porque não seria a síndrome de tourette que iria explicar como é que aquele cantor conseguia provocar movimentos involuntários de seus músculos em suas danças, nem ninguém gostaria de adquirir tal doença para que assim pudesse lhe imitar seus passos misteriosos. Mesmo que isto fosse verdade, não interessaria para a mídia, pois esta vive exclusivamente de escândalos e de sensações populares. E não sabemos ainda quantos dias ainda vai durar a badalação em torno do cantor, do ídolo falecido, morto não se sabe por erro médico ou por assassinato, cujo corpo pemanece também misteriosamente insepulto, segundo se diz.
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