sábado, 4 de outubro de 2025

O QUE FALTA AO BRASIL PARA SER UM COLOSSO?

 



  


 

 

Na segunda semana de agosto de 1995, recebeu Dr.  Plínio um pedido de seus discípulos, especialmente dos mais jovens, de que tecesse comentários ilustrativos da doutrina exposta em seu livro “Revolução e Contra-Revolução”, ou “R-CR”, como costumava chama-lo abreviadamente.

Dr. Plínio atendeu com afabilidade o pedido, começando por comentar os dizeres da página anterior, constantes na introdução da obra, escrita em 1959.

Falando especialmente de sua Pátria, para a qual sempre desejou a única verdadeira grandeza – a de professar unanimemente e com seriedade a religião Católica Apostólica Romana -, as palavras transcritas a seguir foram as últimas dirigidas a seus compatriotas nua reunião plenária, cerca de 20 dias antes de ser prostrado pela doença que o levaria à morte em 3 de outubro daquele ano.

 Notem a razão dessa afirmação (o período transcrito na página anterior) (*). Ela não é solta no ar. O Brasil possui uma extensão territorial imensa, equivalente, no conjunto latino-americano, às dimensões dos Estados Unidos na América do Norte, ou à vastidão russo-eslava na Europa e Ásia. Isso significa uma superfície colossal.

Além de senhores dessa magnitude geográfica, os brasileiros se dizem habitualmente católicos. Sê-lo-ão na realidade? Se o forem, então nosso país passa a ser uma potência enorme, à vista de todo o prestígio que ele terá no meio católico. E depois, em virtude deste prestígio, uma potência que tende ao mundial. Pois, quase que pelo simples fato de existir – quase, ou seja, não de maneira completa – o Brasil é um colosso.

Esta asserção entre pelos olhos, mas levanta uma outra indagação: “Por que o Brasil não é esse colosso? O que lhe falta para ser essa eminência?”

Surge então a pergunta essencial: “Qual é a grave lacuna do Brasil? Qual o seu grande problema?”

Eis a questão a respeito da qual, fundamentalmente, foi escrita a “R-CR”.

 

Tudo crescia no Brasil, menos o amor a Deus

Em alguns espíritos talvez se levante a seguinte interrogação: “Por que é tão importante se conhecer a causa desse não-colossismo do Brasil?”

Eu respondo: pela simples razão de que só se pode retificar o mal corrigindo as suas causas.

Assim, devemos considerar que é dado ao Brasil crescer muito em riqueza, e no tempo em que a “R-CR” foi escrita, de fato ele vinha dilatando suas riquezas. Por toda parte as estradas de ferro e de rodagem, as vias fluviais, as comunicações por transportes aéreos, etc., iam se expandindo, de modo a entusiasmar. Entretanto, esse gigante não se colossificava.

Por quê? Porque no Brasil tudo aparentemente crescia, menos o amor a Deus. E, não se desenvolvendo esse amor, tudo permanecia parado, à espera do único fator que é a verdadeira causa de todo progresso.

Podia a nação sorrir de contentamento diante dos mais variados sinais de avanço e modernidade. Novas cidades, novos centros comerciais e industriais desabrochavam aqui, lá e acolá. Entretanto, uma coisa é positiva: apesar de tudo isto, o florescimento das vias de piedade estava estancado. Sobretudo achavam-se estagnadas a virtude da Caridade, a devoção a Nossa Senhora, à causa católica no que ela tinha de mais profundo.

 

O declínio das Congregações Marianas

Com efeito, o que no Brasil havia de mais essencial, de mais vibrante e de mais cheio de seiva católica, não só não crescia, mas decrescia: era o movimento das Congregações Marianas.

Por uma misteriosa concatenação de causas – cuja análise suporia uma longa e inoportuna explicação – o Brasil conheceu uma imensa explosão de crescimento católico por ocasião das eleições para a Assembleia Constituinte de 1934.

Naquela época, existiam no país alguns partidos políticos inexpressivos, sem importância e sem verdadeiro peso no cenário nacional. O grosso da Nação desejava um Brasil Católico, Apostólico e Romano, em que as leis e doutrinas do Estado fossem todas conformes às doutrinas da Igreja, e no qual, de outro lado, os anseios da população se identificassem claramente com os anseios católicos.

Em suma, aparecera uma população sobretudo de jovens que queria um Brasil jovem, um Brasil onde tudo se pautasse pela Doutrina da Igreja, ativa e imperativamente, de maneira a ninguém ter a coragem de almejar o contrário. Esta grande aspiração coletiva se corporificou no movimento das Congregações Marianas, o qual, por sua vez, se corporificou de modo especial em algumas congregações de uma vitalidade particularmente intensa.

Quando vieram as eleições de 1934, esse desejo explodiu, e em todas as Congregações Marianas do país o que se pediu foi a marianização, a catolicização do Brasil. Antes de tudo, exigia-se a proibição do divórcio. Ainda não tínhamos essa iníqua lei, e os congregados batalhavam contra ela. A par dessa proibição, queriam eles também a imposição do ensino católico obrigatório.

Quer dizer, pelo que as leis do tempo estabeleciam, o Brasil deveria ter um ensino todo ele católico, seja no âmbito público como no particular. Por causa disso, nas escolas oficiais e extra-oficiais, a matéria ensinada deveria ser católica. Os professores dessas matérias deveriam ser católicos, e a medula do pensamento lecionado nessas matérias deveria ser o pensamento católico.

 

Penitenciárias de ontem e de hoje

O Brasil não se conformava, ainda, com a ideia de que nas suas penitenciárias públicas não houvesse o ensino oficial da doutrina católica para os prisioneiros, para aqueles que estavam assenhoreados pelo Estado. Se o tivessem, poderiam eles se capacitar da veracidade do Catolicismo. E então, a esses miseráveis prisioneiros, vítimas dos vícios da época e dos vícios da Nação, seria dada a oportunidade de se modificarem e de – pelo menos em grande número de casos concretos – passarem a praticar verdadeiramente a religião católica.

A esse propósito, lembro-me de uma ocasião em que visitei a penitenciária de São Paulo, na companhia de uma personalidade que era ali recebida oficialmente. Recordo que visitamos a penitenciária inteira, e depois fomos conduzidos pelo diretor a uma espécie de sala de concerto, na qual os prisioneiros se sentaram em cadeiras adequadas. Quando chegou o momento, o maestro da fanfarra da penitenciária começou a fazê-los cantar o arrependimento do mal que tinham feito, a tristeza que sentiam, a vontade de fazer o bem, e a pedir, por meio de orações a Nossa Senhora, que a Providência alterasse a eles no fundo do coração, regenerando-os. E que fizesse os filhos deles parecidos, não aos pais criminosos, mas ao contrário do mau exemplo que eles tinham dado, etc.

Enquanto se ouvia aquela música, impressionei-me vivamente, muito bem surpreendido com o que se cantava. Não tinha prestado atenção no visitante, nem no diretor da penitenciária. Quando olhei para os dois, eles choravam de emoção, de alegria e de vontade de que aqueles pedidos se realizassem, e que assim se remodelasse, até às suas profundidades, o nosso imenso Brasil.

Ora, quando se vai a uma penitenciária de hoje, o que se encontra?

Tráfico de drogas, defeitos de caráter moral de toda ordem, inclusive tendência de permitir a homossexualidade, alegando-se que dessa maneira a vida a dois se torna mais alegre para o homem. Sem mencionar a decadência do ensino religioso, quando há!

Mas, se fosse apenas isto, como seria feliz o Brasil!

Como o Brasil é infeliz... Hoje percebemos a degringolada e o tremendo desvio em que a estagnação de nosso amor a Deus lançou o país, impedindo-o de ser essa potência católica cuja ausência eu lamento logo nas primeiras páginas da “R-CR”.

 

“Tornamo-nos um colosso porque nos tornamos de Deus”

De tudo o acima dito, resta a conclusão de que devemos conhecer e combater o mal em virtude do qual o Brasil não é um colosso. Importa-nos saber que temos muitíssimos para sermos um colosso, mas que não o somos. E o que falta para sermos o que deveríamos ser, é aquilo que nós não temos, não possuímos, e que nos toca realizar em nós, dolorosa, esforçada e combativamente. Cumpre que, na vida de todos os dias, no modo de agir, de pensar, de progredir, todos os brasileiros entendam que devemos recolossificar-nos, por assim dizer. Devemos crescer, e crescer em  profundidade, em raízes, em sulco, em força, e não apenas em território, nem apenas em riqueza.

Assim, raiará para o Brasil o momento em que possamos dizer: “Tornamo-nos um colosso porque nos tornamos de Deus!”[1]

 

(*) – Eis o texto a que ele se refere:

“O estudo da Revolução e da Contra-Revolução excede de muito, em proveito, este objetivo limitado.

Para demonstrá-lo, basta lançar os olhos sobre o panorama religioso de nosso País. Estatisticamente, a situação dos católicos é excelente: segundo os últimos dados oficiais, constituímos 94% da população. Se todos os católicos fôssemos o que devemos ser, o Brasil seria hoje uma das mais admiráveis potências católicas nascidas ao longo dos vinte séculos de vida da igreja.

Por que, então, estamos tão longe deste ideal? Quem poderia afirmar que a causa principal de nossa presente situação é o espiritismo, o protestantismo, o ateísmo ou o comunismo? Não. Ela é outra, impalpável, sutil, penetrante como se fosse uma poderosa e temível radioatividade. Todos lhe sentem os efeitos, mas poucos saberiam dizer-lhe o nome e a essência”.

Mais adiante, ele, o próprio Autor, a define: “Esse inimigo tem um nome: ele se chama Revolução”.

(Extraído de “Revolução e Contra-Revolução”, Chevalerie Artes Gráficas e Editora Ltda, 1993, Introdução, págs. 4/5)

   

 



[1] Revista “Dr. Plínio”, n. 13, abril de 1999, págs. 22/26

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