Na segunda semana de
agosto de 1995, recebeu Dr. Plínio um
pedido de seus discípulos, especialmente dos mais jovens, de que tecesse
comentários ilustrativos da doutrina exposta em seu livro “Revolução e Contra-Revolução”,
ou “R-CR”, como costumava chama-lo abreviadamente.
Dr. Plínio atendeu com
afabilidade o pedido, começando por comentar os dizeres da página anterior,
constantes na introdução da obra, escrita em 1959.
Falando especialmente
de sua Pátria, para a qual sempre desejou a única verdadeira grandeza – a de
professar unanimemente e com seriedade a religião Católica Apostólica Romana -,
as palavras transcritas a seguir foram as últimas dirigidas a seus compatriotas
nua reunião plenária, cerca de 20 dias antes de ser prostrado pela doença que o
levaria à morte em 3 de outubro daquele ano.
Além de senhores dessa
magnitude geográfica, os brasileiros se dizem habitualmente católicos. Sê-lo-ão
na realidade? Se o forem, então nosso país passa a ser uma potência enorme, à
vista de todo o prestígio que ele terá no meio católico. E depois, em virtude
deste prestígio, uma potência que tende ao mundial. Pois, quase que pelo
simples fato de existir – quase, ou seja, não de maneira completa – o Brasil é
um colosso.
Esta asserção entre
pelos olhos, mas levanta uma outra indagação: “Por que o Brasil não é esse
colosso? O que lhe falta para ser essa eminência?”
Surge então a pergunta
essencial: “Qual é a grave lacuna do Brasil? Qual o seu grande problema?”
Eis a questão a
respeito da qual, fundamentalmente, foi escrita a “R-CR”.
Tudo crescia no Brasil, menos o amor a Deus
Em alguns espíritos
talvez se levante a seguinte interrogação: “Por que é tão importante se
conhecer a causa desse não-colossismo do Brasil?”
Eu respondo: pela
simples razão de que só se pode retificar o mal corrigindo as suas causas.
Assim, devemos
considerar que é dado ao Brasil crescer muito em riqueza, e no tempo em que a
“R-CR” foi escrita, de fato ele vinha dilatando suas riquezas. Por toda parte
as estradas de ferro e de rodagem, as vias fluviais, as comunicações por
transportes aéreos, etc., iam se expandindo, de modo a entusiasmar. Entretanto,
esse gigante não se colossificava.
Por quê? Porque no
Brasil tudo aparentemente crescia, menos o amor a Deus. E, não se desenvolvendo
esse amor, tudo permanecia parado, à espera do único fator que é a verdadeira
causa de todo progresso.
Podia a nação sorrir de
contentamento diante dos mais variados sinais de avanço e modernidade. Novas
cidades, novos centros comerciais e industriais desabrochavam aqui, lá e acolá.
Entretanto, uma coisa é positiva: apesar de tudo isto, o florescimento das vias
de piedade estava estancado. Sobretudo achavam-se estagnadas a virtude da
Caridade, a devoção a Nossa Senhora, à causa católica no que ela tinha de mais
profundo.
O declínio das Congregações Marianas
Com efeito, o que no
Brasil havia de mais essencial, de mais vibrante e de mais cheio de seiva
católica, não só não crescia, mas decrescia: era o movimento das Congregações
Marianas.
Por uma misteriosa
concatenação de causas – cuja análise suporia uma longa e inoportuna explicação
– o Brasil conheceu uma imensa explosão de crescimento católico por ocasião das
eleições para a Assembleia Constituinte de 1934.
Naquela época, existiam
no país alguns partidos políticos inexpressivos, sem importância e sem
verdadeiro peso no cenário nacional. O grosso da Nação desejava um Brasil
Católico, Apostólico e Romano, em que as leis e doutrinas do Estado fossem
todas conformes às doutrinas da Igreja, e no qual, de outro lado, os anseios da
população se identificassem claramente com os anseios católicos.
Em suma, aparecera uma
população sobretudo de jovens que queria um Brasil jovem, um Brasil onde tudo
se pautasse pela Doutrina da Igreja, ativa e imperativamente, de maneira a
ninguém ter a coragem de almejar o contrário. Esta grande aspiração coletiva se
corporificou no movimento das Congregações Marianas, o qual, por sua vez, se
corporificou de modo especial em algumas congregações de uma vitalidade
particularmente intensa.
Quando vieram as
eleições de 1934, esse desejo explodiu, e em todas as Congregações Marianas do
país o que se pediu foi a marianização, a catolicização do Brasil. Antes de
tudo, exigia-se a proibição do divórcio. Ainda não tínhamos essa iníqua lei, e
os congregados batalhavam contra ela. A par dessa proibição, queriam eles
também a imposição do ensino católico obrigatório.
Quer dizer, pelo que as
leis do tempo estabeleciam, o Brasil deveria ter um ensino todo ele católico,
seja no âmbito público como no particular. Por causa disso, nas escolas
oficiais e extra-oficiais, a matéria ensinada deveria ser católica. Os
professores dessas matérias deveriam ser católicos, e a medula do pensamento
lecionado nessas matérias deveria ser o pensamento católico.
Penitenciárias de ontem e de hoje
O Brasil não se
conformava, ainda, com a ideia de que nas suas penitenciárias públicas não
houvesse o ensino oficial da doutrina católica para os prisioneiros, para
aqueles que estavam assenhoreados pelo Estado. Se o tivessem, poderiam eles se
capacitar da veracidade do Catolicismo. E então, a esses miseráveis
prisioneiros, vítimas dos vícios da época e dos vícios da Nação, seria dada a
oportunidade de se modificarem e de – pelo menos em grande número de casos
concretos – passarem a praticar verdadeiramente a religião católica.
A esse propósito,
lembro-me de uma ocasião em que visitei a penitenciária de São Paulo, na
companhia de uma personalidade que era ali recebida oficialmente. Recordo que
visitamos a penitenciária inteira, e depois fomos conduzidos pelo diretor a uma
espécie de sala de concerto, na qual os prisioneiros se sentaram em cadeiras
adequadas. Quando chegou o momento, o maestro da fanfarra da penitenciária
começou a fazê-los cantar o arrependimento do mal que tinham feito, a tristeza
que sentiam, a vontade de fazer o bem, e a pedir, por meio de orações a Nossa
Senhora, que a Providência alterasse a eles no fundo do coração,
regenerando-os. E que fizesse os filhos deles parecidos, não aos pais
criminosos, mas ao contrário do mau exemplo que eles tinham dado, etc.
Enquanto se ouvia
aquela música, impressionei-me vivamente, muito bem surpreendido com o que se
cantava. Não tinha prestado atenção no visitante, nem no diretor da
penitenciária. Quando olhei para os dois, eles choravam de emoção, de alegria e
de vontade de que aqueles pedidos se realizassem, e que assim se remodelasse,
até às suas profundidades, o nosso imenso Brasil.
Ora, quando se vai a
uma penitenciária de hoje, o que se encontra?
Tráfico de drogas,
defeitos de caráter moral de toda ordem, inclusive tendência de permitir a
homossexualidade, alegando-se que dessa maneira a vida a dois se torna mais
alegre para o homem. Sem mencionar a decadência do ensino religioso, quando há!
Mas, se fosse apenas
isto, como seria feliz o Brasil!
Como o Brasil é
infeliz... Hoje percebemos a degringolada e o tremendo desvio em que a
estagnação de nosso amor a Deus lançou o país, impedindo-o de ser essa potência
católica cuja ausência eu lamento logo nas primeiras páginas da “R-CR”.
“Tornamo-nos um colosso porque nos tornamos de Deus”
De tudo o acima dito,
resta a conclusão de que devemos conhecer e combater o mal em virtude do qual o
Brasil não é um colosso. Importa-nos saber que temos muitíssimos para sermos um
colosso, mas que não o somos. E o que falta para sermos o que deveríamos ser, é
aquilo que nós não temos, não possuímos, e que nos toca realizar em nós, dolorosa,
esforçada e combativamente. Cumpre que, na vida de todos os dias, no modo de
agir, de pensar, de progredir, todos os brasileiros entendam que devemos recolossificar-nos, por assim dizer.
Devemos crescer, e crescer em
profundidade, em raízes, em sulco, em força, e não apenas em território,
nem apenas em riqueza.
Assim, raiará para o
Brasil o momento em que possamos dizer: “Tornamo-nos um colosso porque nos
tornamos de Deus!”[1]
(*) – Eis o texto a que
ele se refere:
“O estudo da Revolução e da Contra-Revolução excede de
muito, em proveito, este objetivo limitado.
Para demonstrá-lo, basta lançar os olhos sobre o panorama
religioso de nosso País. Estatisticamente, a situação dos católicos é
excelente: segundo os últimos dados oficiais, constituímos 94% da população. Se
todos os católicos fôssemos o que devemos ser, o Brasil seria hoje uma das mais
admiráveis potências católicas nascidas ao longo dos vinte séculos de vida da
igreja.
Por que, então, estamos tão longe deste ideal? Quem poderia
afirmar que a causa principal de nossa presente situação é o espiritismo, o
protestantismo, o ateísmo ou o comunismo? Não. Ela é outra, impalpável, sutil,
penetrante como se fosse uma poderosa e temível radioatividade. Todos lhe
sentem os efeitos, mas poucos saberiam dizer-lhe o nome e a essência”.
Mais adiante, ele, o
próprio Autor, a define: “Esse inimigo
tem um nome: ele se chama Revolução”.
(Extraído de “Revolução
e Contra-Revolução”, Chevalerie Artes Gráficas e Editora Ltda, 1993,
Introdução, págs. 4/5)
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