Saudades da esquerda? Como é que se pode ter
saudades de uma coisa tão ruim? É que
minha saudade é apenas por causa de certos fatores dignos de nota, e que hoje a
esquerda não tem mais. Embora cheia de erros de filosofia a esquerda no passado
tinha pensadores, havia alguns que ainda botavam a cabeça para funcionar,
embora iludidos e tentando iludir os demais.
Lembro bem que no meu tempo de colégio, quando
frequentava o Liceu do Ceará, passava pela Praça do Ferreira antes de pegar meu
ônibus e lá encontrava uma turma entusiasmada em debates ideológicos. Naquele
tempo a esquerda tinha pensadores. Havia um líder estudantil, chamado
“Parangaba” (comunista tão finório que terminou seus dias de vida em Cuba),
diretor do DCE do Liceu, que era um dos principais elementos dos debates, ao
lado de outros personagens do povo. Discutia-se temas como liberdade,
propriedade privada, socialização da economia, poder estatal, imperialismo
americano (sem falar no imperialismo russo, é claro) etc. Após as discussões todo mundo ia para sua
casa com as mesmas concepções, com exceção de um ou outro jovem. Eu, apesar de
muito jovem , ouvia os debates, mas nunca me simpatizava por aquelas ideias
esquerdistas, havia algo de bom senso que o impedia. E era esse o comportamento
de toda a sociedade, toda a opinião pública, a qual nunca aprovava os ideais da
esquerda quando estes eram apresentados de forma direta e com sinceridade.
Apesar de tudo, naquele tempo o pessoal da
esquerda ainda pensava. Alguns deles tinham alguma ideia na cabeça, mesmo
errada e levando ao caos.
Hoje, tudo mudou. É bem verdade que se trata de
um fenômeno generalizado em toda a sociedade: as pessoas não conseguem mais
pensar antes de tomar qualquer atitude, agem somente por impulsos. Sim, mas o
pessoal da esquerda anda na pior situação de broncura intelectual. Intelectuais
de esquerda de hoje, quem são? Além de alguns professores de escolas públicas,
com emprego garantido pelo resto da vida, quem mais? Ciro Gomes no Brasil?
Macron na França? Biden nos Estados Unidos? Maduro na Venezuela? Que miséria!
Que pobreza intelectual! Eu diria que não se deve citar Lula porque ele nem é
de esquerda propriamente dito, pertence ao partido dos oportunistas
simplesmente. É mais vazio do que o caos do espaço.
Mas, essa mudança não foi abrupta, não foi
repentina, foi feita aos poucos.
Primeiramente, após a queda do muro de Berlim, pararam de pregar a
república sindicalista, o poder estatal comunista pleno, com promoção em escala
mundial para o “socialismo capitalista chinês” (onde os magnatas do capitalismo mundial
passaram a aplicar seu dinheiro), dando ênfase ao movimento ecológico. O
partido verde passou a ser a vedete, embora com poucos seguidores. Chegaram até
a proscrever as siglas do PC em alguns países, pois o termo comunista só causava
repulsa na população. Em vez de socialismo, em vez de PC e outras siglas
assustadoras, passaram a incrementar LGBT, feminismo, etc. E, de sigla em
sigla, o movimento esquerdista perdeu seu colorido ideológico principal,
ficando completamente vazio de sentido filosófico econômico e social.
Que defendem eles hoje? Em vez de discursos ideológicos
inflamados como outrora o que se vê hoje são mulheres mal vestidas, algumas
despidas, junto com alguns homens também seminus, a maioria cheio de tatuagens,
manifestando-se como se fossem os bárbaros dos tempos pré medievais. Os
expoentes da esquerda passaram a ser representados por arruaceiros tipo “Black
blocs”, por aqui, enquanto que na Europa e Estados Unidos eles compunham um
violento grupo de agitação social indefinido. Ideias: nada! Sim, há algumas ideias
que não se podem chamar como tais, pelo conteúdo de coisas desconexas e
antinaturais, como ideologia de gênero, homossexualismo, aborto, promíscuo uso
de drogas, etc. Ideias de comportamento social ou até mesmo o próprio
socialismo de estado é coisa morta. E quando o fazem, como o MST, caem logo no
isolamento social. A esquerda hoje não age na sociedade como quem prega ideias,
mas como grupo que faz agitação com convulsões sociais, visando não o poder mas
espalhar o caos na sociedade.
O poder, pelo menos o poder, deveria ser esse o objetivo principal. Mas em 1968, na revolução de Sorbonne, em Paris, pregaram a derrubada do próprio poder. Alguns chegaram a pregar “abaixo o poder!”. Também criaram “slogans” até um pouco inteligentes, como o famoso “é proibido proibir” e tantos outros. Hoje, não se vê nada disso a não ser palavreados idiotas e sem sentido, feitos por quem não consegue mais botar o cérebro para funcionar. A esquerda continua um fenômeno de elite, tão podre quanto as elites modernas, mas destituída hoje da capacidade intelectual das elites do passado. Tudo indica que a força principal que lhes alimenta é o PCC, tanto o daqui (o Primeiro Comando da Capital) quanto o da China (Partido Comunista Chinês), mas ambos pensando unicamente em dinheiro.
O exemplo mais frisante dessa morte ideológica
da esquerda é a guerra sem quartel que eles faziam (e ainda fazem) contra o ex
presidente Bolsonaro, nomeando-o gratuitamente de genocida e dando razão aos
que condenam o medicamento que estava curando o povo da covid. Envolviam-se com
a pandemia, um problema sanitário, com fanatismo invulgar, e nada mais. Ideias,
zero! Pois é: tomara que a esquerda aprenda a pensar e volte a mostrar
claramente suas ideias ao povo: só assim eles enterrarão mais rapidamente seus
conceitos com a rejeição popular. Descolados do povo, eles nunca mais
conseguirão defender claramente seus ideais.
Ah, esqueci de frisar: nas décadas passadas
eles pensavam um pouco, mas também agiam muito, pois foi quando fizeram várias
guerrilhas genocidas tentando tomar o poder. Ainda bem que fracassaram
completamente e, hoje, até mesmo tais guerrilhas faliram por falta de apoio
popular. A única saída deles, caso o Brasil volte para as mãos de um presidente
conservador, será novamente a guerrilha, talvez até comandada pelas quadrilhas
de traficantes. Idealismo, porém, nada!