sábado, 15 de abril de 2023

O ESCÂNDALO NA PROPAGAÇÃO DOS PECADOS SOCIAIS

 



“E aquele que receber uma criança como esta por causa do meu nome, recebe a mim. Caso alguém escandalize um destes pequeninos que creem em mim, melhor seria que lhe pendurassem ao pescoço uma pesada mó e fosse precipitado nas profundezas do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos! É necessário que haja escândalos, mas ai do homem pelo qual o escândalo vem!” (Mt 18, 5-7)).

Praticamente, toda a doutrina sobre escândalos encontra-se nessa passagem do Evangelho. Nosso Senhor Jesus Cristo mostrou uma criança para que todos vissem ali uma alma inocente que pode ser atingida pelos escândalos feitos pelos pecadores que lhe querem tirar a inocência. Ele frisa também que aquela criança, ou “aqueles pequeninos” são escandalizados porque creem n’Ele, quer dizer, a Fé deve estar com ela e a animar para a prática do Bem. Quanto ao causador de escândalos entre os inocentes, as crianças, os pequeninos, Nosso Senhor não fala que melhor seria lhe colocar uma “pedra de tropeço” ao pescoço, mas uma “pesada mó”, quer dizer, uma grande rocha, pois além de tropeço o causador deste tipo de escândalo fica preso eternamente por algo do qual ele não pode se desvencilhar. No fim, vem a apóstrofe: “ai do homem pelo qual o escândalo vem”, embora seja necessário que haja escândalos. Essa necessidade não é porque eles façam algum bem ás pessoas, mas para advertir os bons sobre as ciladas dos maus, pois o escândalo surge como uma cilada, uma “pedra de tropeço” e serve de advertência para o justo evitar cair nela..

Essa imagem da grande pedra atada ao pescoço significa que o fato do pecador provocar escândalo com seus atos também fica imobilizado sem poder sair de sua perdição, especialmente quando tal escândalo fere a inocência. Isso ocorre porque o escândalo é consequência de um pecado social, tornado assim por causa de sua propagação na sociedade. Aí está também representado o encalhe espiritual de muitos, como fala Dr. Plínio (comentários sobre o livro o poder da oração de Santo Afonso de Ligório) presos a uma pesada mó. Nesse sentido, pode-se dizer que, de algum modo, o pecado social e os escândalos que ele provoca são pecados contra o Espírito Santo, pelos quais a perdição é certa.

Segundo a etimologia da palavra, escândalo é um fato ou acontecimento que contraria e ofende sentimentos ou o pensamento comum, crenças sociais, convenções morais, sociais ou religiosas de um povo. O escândalo é provocado porque o fato causa indignação, perplexidade ou até mesmo sentimento de revolta entre parte ou de toda a sociedade envolvida. Pode também servir de mal exemplo e divulgar um mal costume. 

Vejamos a definição dada pelo Catecismo da Igreja Católica: “O escândalo é a atitude que leva outrem a praticar o mal. Aquele que escandaliza torna-se o tentador do próximo. Atenta contra a virtude e a retidão; pode arrastar seu irmão à morte espiritual. O escândalo constitui uma falta grave se, por ação ou omissão, conduzir deliberadamente o outro a uma falta grave” (tópico 2284). Se é grave conduzir “um outro” a uma falta grave, imaginem se levar toda uma sociedade ou parte dela à prática ou pertinácia no pecado: nesse caso a gravidade do mal é maior ainda.

De modo geral, o termo se origina da expressão “pedra de tropeço”, tanto em hebraico quanto em grego. O termo português se origina do grego “skandalon”, que significa também “pedra de tropeço”, ao qual se associa o verbo “skandalizo”, com o mesmo sentido de fazer alguém tropeçar, ou pecar.  Esta expressão era usada no Antigo Testamento, como em Isaías, quando comparou o próprio Deus como “pedra de tropeço e rocha de escândalo” para ambos os reinos de Israel daquele tempo (Judá e Israel) (Is 8, 14). Isso quer dizer que até mesmo o próprio Deus pode causar escândalo, desde que a sociedade não entenda suas revelações e até se revolte contra elas pelo fato de contrariar certos costumes sociais. Em outra ocasião Isaías se refere aos “tropeços do caminho” que devem ser removidos para a chegada do Messias   (Is 57, 14), semelhante ao que pregou São João Batista pedindo para “preparar os caminhos e endireitar as veredas”(Mt 3, 3), isto é, retirar do caminho aquilo que poderia atrapalhar o Messias, como, por exemplo, os escândalos que dava a sociedade judaica como os pecados de adultério de Herodes..

A Revolução usa escândalos para propagar os pecados sociais

Assim, quando alguém comete um grande pecado que chama a atenção de todos, nem sempre é porque o próprio pecador quis que o fato fosse de conhecimento geral, muitas vezes ocorre fortuitamente de haver tal revelação pública. E qual a causa do escândalo?

Primeiramente, isso ocorre quando a pessoa é tida como virtuosa, mas comete alguns pecados graves às escondidas que são depois revelados, ou então, no dia em que resolveu cometer um deles é descoberta em flagrante por alguém que o revela aos demais. Aqui temos o exemplo do escândalo mais comum, que é a revelação pública de um pecado, ou prática habitual dele, por uma pessoa tida como boa e virtuosa. Por exemplo, uma pessoa tida por todos como bom esposo e pai de família é flagrado num romance amoroso adulterino com outra mulher: não somente sua esposa e família, mas a sociedade em peso fica escandalizada com o ato dele; isso só não ocorreria com todo o corpo social se as pessoas já estivessem vivendo naquele modo de vida pecaminosa como coisa normal.

Em segundo lugar há casos também de escândalos causados por pessoas que os provocam de propósito, isto é, praticando atos imorais e pecados públicos a fim de que todos o saibam e propaguem seu modo de vida. O escândalo ocorre porque as pessoas não aceitam pacificamente aqueles atos como exemplo para a sociedade, daí o escândalo. Faz parte de uma técnica revolucionária de mover a opinião pública através da divulgação de escândalos a fim de que as pessoas se acostumem aos poucos com pecados sociais transformadores dos bons costumes. Quando a primeira mulher usou os reduzidos biquínis numa praia causou grande escândalo na época, mas aos poucos a sociedade foi aceitando aquilo como normal até que hoje tornou-se um hábito corriqueiro como ocorre hoje em dia.

Sobre a natureza do escândalo assim falou São Paulo: “Deixemos, portanto, de nos julgar uns aos outros, cuidai antes de não colocar tropeço ou escândalo diante de vosso irmão”  (Rom 14, 13). Quer dizer, em vez de julgar devemos servir de bom exemplo e nunca causar escândalos.

Em algumas passagens do Antigo Testamento é usada a expressão “pedra de tropeço” ou simplesmente “tropeço”, como em Ezequiel 14, 3-4, cujo escândalo ou tropeço era a idolatria, quer dizer, um pecado social. Esse mesmo sentido é usado por São Paulo, ou de pedra de tropeço ou de escândalo, advertindo os cristãos para não provocarem escândalos que levam os outros a pecar (Rom. 14, 13 e I Cor 8, 9). Também São João em seu Apocalipse usa a expressão “pedra de tropeço” (Ap 2, 14).

"Escândalo ativo" é realizado por uma pessoa; "escândalo passivo" é a reação de uma pessoa ao escândalo ativo (escândalo fornecido ou em Latim scandalum datum), ou a atos que, por causa da ignorância do espectador, ou sua fraqueza, ou malícia, são considerados como escandalosos (escândalo aceito ou em latim ”scandalum acceptum”).

Escândalo ou “Pedra de Tropeço”?

Ocorre também chamar de escândalo um ato virtuoso, praticado por uma pessoa santa, mas que choca a sociedade porque rompe com alguns maus costumes sociais. São Bento, por exemplo, resolveu deixar a corrupta sociedade romana de seu tempo para viver na solidão, causando certo escândalo em pessoas de sua família ou de seu relacionamento pelo fato de romper completamente com os péssimos costumes sociais. Outros exemplos desta natureza podemos ver entre os antigos mártires, que escandalizavam a sociedade pagã pelo fato de não aceitar a idolatria dos falsos ídolos.

Embora chamem de escândalo, na verdade tais atos podem ser considerados o que na Sagrada Escritura se chama de “pedra de tropeço”, expressão usada em outras ocasiões como, por exemplo, no nascimento de Cristo, quando São Lucas escreveu no Evangelho o que disse Simeão: Ele seria motivo de quedas, mas também de soerguimento de muitos (Lc  2.34). Isso foi explicado depois por São Paulo, citando o Antigo Testamento: “Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço, uma rocha de escândalo, mas quem nela crer não será confundido” (Rom 9, 32-33). São Pedro usou da mesma expressão para se referir aos que rejeitaram a Revelação (I Ped 2, 7-9). Em outra ocasião São Paulo afirma que Cristo crucificado era motivo de escândalo para os judeus e loucura para os gentios (I Cor 1, 23).

Dr. Plínio Corrêa de Oliveira assim comentou sobre isso:

“Quando o Profeta Simeão teve nos braços o Menino Jesus e entoou o seu famoso cântico Nunc dimittis servum tuum, Domine… – Senhor, agora envia em paz o teu servo… –, ele disse que Nosso Senhor foi enviado como pedra de escândalo para a perdição e salvação de muitos, e para que se conhecessem as cogitações ocultas dos corações.

Portanto, Nosso Senhor foi mandado para salvar a todos, mas a perdição daqueles que O recusassem não significava o fracasso d’Ele, e sim um elemento intrínseco à sua Missão, ou seja, criar condições para os justos conhecerem a verdade e se salvarem, para os ímpios manifestarem a sua impiedade e, não se arrependendo, irem para o Inferno.

Christianus alter Christus – o cristão é um outro Cristo. Também nós somos pedra de escândalo posta para a salvação e a perdição de muitos, e para que se revelem as cogitações dos ímpios. A nossa missão é, pois, suscitar nas pessoas a definição, para a salvação dos bons”.[1]

O próprio Dr. Plínio Corrêa de Oliveira foi, em toda a sua vida, uma espécie de “pedra de tropeço”, pois todas as suas atitudes demonstravam as divisões latentes entre bons e maus e, com isso, ao mesmo tempo provocava a fidelidade a Deus dos bons e uma maior prevaricação dos maus. Os verdadeiros escândalos, porém, começaram com a investida dada pelos progressistas apresentando ao público católico reformas litúrgicas ofensivas às leis divinas, como o caso de Taubaté citado na revista Dr. Plínio (edição de março 2023, página 18). De modo que quando Dr. Plínio, em 1943, lançou seu livro “Em Defesa da Ação Católica”, causou uma espécie de escândalo entre alguns católicos, especialmente, nos meios eclesiásticos, mas podemos classificar isso como se fosse uma “pedra de tropeço”. O seu brado de alerta abriu os olhos dos bons, provocando entre os maus uma reação fulminante contra ele, causando-lhe grande ostracismo, pelo que ele mesmo disse que sua atitude foi um ato semelhante aos dos pilotos japoneses “kamikazi”: destrói o inimigo mas também morre...

Em depoimento sobre os episódios que antecederam ao lançamento de seu livro “Em Defesa da Ação Católica”, declarou ele alguns anos depois:

“Eu notava que a corrente oposta ia crescendo cada vez mais, não só em São Paulo, mas no Brasil, e penetrando nos seminários, tomando influência no clero, enfim, entrando como uma torrente em todos os lados.

Percebi, num relance só, o seguinte: se nós demorássemos para ataca-los, acabariam levando para o lado deles todo o mundo, inoculando sua mentalidade. Ou eu denunciava toda a trama para a maioria ingênua que, tomando a sério os esmagaria pela recusa, ou ela se deixaria cominar completamente. Existia um só meio de conter a gangrena: criar um escândalo. Criado esse escândalo, muitos ficariam atemorizados e recuariam. Essa gente não se uniria a nós, mas também não aderiria a eles. Ficaria com uma interrogação na cabeça.

Tornava-se, pois, urgente preparar uma denúncia monumental, que não podia ser feita num artigo de jornal ou de revista, porque tantos eram os fatos a mencionar e os argumentos a dar, que só mesmo redigindo um livro.”  (revista “Dr. Plínio”, março 2023, pág. 19)

Este livro deixou-o em completo isolamento, mas, aos poucos foi se unindo em torno dele um pequeno punhado de seguidores, aumentando gradativamente ao longo dos anos, até que ao final de sua vida constituiu um grandioso movimento católico que se espalhou pelo mundo todo. Então, aquilo que pode ser chamado por alguns de escândalo, ou de “pedra de tropeço”, tornou-se, nada mais nada menos, do que a “pedra angular” de uma grande obra.

Há referências também à chamada “pedra angular” porque esta era a pedra principal das construções antigas, aquela pedra que sustentava as demais numa edificação. Após narrar a parábola dos vinhateiros, Nosso Senhor assim se refere à tal Pedra que Ele representava:  “Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular: pelo Senhor foi feito isso e é maravilha aos nossos olhos? Por isso vos afirmo que o Reino de Deus vos será tirado e confiado a um povo que o fará produzir seus frutos. Aquele que cair sobre esta pedra ficará em pedaços, e aquela sobre quem ela cair, ficará esmagado” (Mt 21. 42  Mc 12, 10, e Lc 20, 17).

Tudo indica que Nosso Senhor está se referindo acima ao que consta no livro de Isaías: “É por esta razão que assim diz o Senhor Javé: Eis que porei em Sião uma pedra, uma pedra de granito, pedra angular e preciosa, uma pedra de alicerce bem firmada: aquele que nela puser a sua confiança não será abalado” (Is 28, 16).

O mesmo sentido é utilizado nos Atos dos Apóstolos: “É Ele a pedra desprezada por vós, os construtores, mas que se tornou a pedra angular” (At 4, 11). A mesma pedra pode ser motivo de escândalo, sendo por isso desprezada, mas também ser alicerce e sustentação para os que a aceitam, por isso chamada de angular, conforme explica detalhadamente São Pedro: “Com efeito, nas Escrituras se lê: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida e preciosa; quem nela crê não será confundido. Isto é, para vós, que credes, ela será um tesouro precioso, mas para os que não creem, a pedra que os edificadores rejeitaram, essa tornou-se a pedra angular, uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair. Eles tropeçam porque não creem na Palavra, para os que também foram destinados”  (I Ped 2, 6-8)

O Juízo Final – Revelação e eliminação de todos os escândalos de uma só vez e de forma universal

Nosso Senhor disse: “O Filho do Homem enviará seus anjos e eles apanharão do seu Reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade e os lançarão na fornalha ardente”  (Mt 14, 41). “De maneira que, assim como é colhida a cizânia e queimada no fogo, assim acontecerá no fim do mundo. O Filho do homem enviará os seus anjos, e tirarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniqüidade, e lançá-los-ão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. Então, resplandecerão os justos como o sol no reino de seu Pai”.   (Mt 13, 40-43).

São Crisóstomo comentando a correspondente passagem de S. Mateus, escreveu alguns comentários sobre o Juízo Final, assim concluindo: “Oh, pecador miserável, colhido por todos os lados! Por onde poderás escapar? Conseguirás ocultar-te? Não; isso é impossível; visível permanecerás ainda que isso te resulte intolerável”.

Todos os delitos e iniquidades dos réprobos ficarão postos de manifesto no juízo de que falamos, como disse Jeremias: “Chegará o dia em que nossas obras ficarão tão patentes como se as houvéssemos pintado num quadro”. O veredito, finalmente, se executará sem demora, naquele mesmo instante, com a rapidez de um abrir e fechar de olhos”.[2]

Segundo Santo Agostinho “com suma diligência nos recordará as palavras de nossa profissão e frente a elas fará desfilar tudo o que temos obrado, o lugar e a hora em que pecamos e o que deveríamos ter feito em vez do que realmente fizemos

O pecador verá que todos seus males praticados em vida ficarão expostos, como afirma o Livro da Sabedoria no capítulo 4: “Tremerão ao recordar suas culpas; suas iniqüidades se voltarão contra eles, acusando-os”. “Todas suas obras”, comenta São Bernardo, “falarão ao mesmo tempo e dirão ao pecador: Tu nos tens feito; coisa tua somos; não te abandonaremos; permaneceremos sempre junto a ti; contigo estaremos quando fores julgado”.   Essas obras acusarão ao pecador de muitos e de diversas más ações.

Até mesmo o mundo em que viveu acusará o pecador. “Se perguntas”, escreve São Gregório, “quem te acusará, responder-te-ei; todo o mundo;  porque quem ofende ao Criador, ao mundo em sua totalidade ofende”.  Como os escândalos foram pecados sociais, estes afetaram o mundo em que o pecador viveu, sendo este um dos acusadores no referido Juízo. Sobre isso diz São Crisóstomo: “Nada teremos que responder naquele dia, quando o céu, a água, o sol, a lua, os dias, as noite e todo o universo levante sua vós contra nós denunciando ante Deus nossos delitos; porém mesmo que todas as coisas calassem, não calarão ante o Senhor contra nós e darão testemunho de nossos pecados”.

O olhar de Jesus no Juízo Universal

Podemos apenas imaginar, ter uma pálida ideia, de como o olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo refletiu o Seu bondoso coração. Já antes de nascer, os místicos dizem que Ele se privou da luz de seus olhos no seio virginal de Maria Santíssima como um verdadeiro martírio, prevendo já os piores momentos que iria passar ao final de Sua vida. Ao nascer, derramou todo seu inocente olhar dentro dos olhos de Sua Mãe Santíssima, com a qual teve colóquios e olhares amorosos durante toda a vida terrena.

Em Sua Paixão e Morte, os olhares de Nosso Senhor percorriam a multidão à procura de um coração piedoso que tivesse compaixão d’Ele. Até que os ímpios lhe vendaram os olhos para que não tocasse tão bondosamente os olhares das pessoas que estavam ali e os convertesse, como o fez a Madalena.

Na Cruz, Nosso Senhor pronunciou o “Consumatum est” referente à Sua Missão na primeira vinda à terra; no Juízo Final, repetirá a frase, mas desta forma como sinal da consumação de sua Obra e do fim dos tempos: após o sétimo anjo derramar a sua taça pelo ar, saiu uma grande voz do templo (vindo) do trono, que dizia: está feito ou então, estão consumados os tempos. (Ap 16, 18).

Finalmente, no Juízo Final teremos o último olhar de Jesus Cristo, que será terrível para os ímpios e cheio de bondade para os justos. Naquele momento ninguém terá poder suficiente para lhe colocar uma venda como o fizeram na sua Paixão. Santa Catarina de Sena diz como será aquele olhar final: Aos olhos do condenado, sem embargo, ele aparecerá com aquele olhar terrível e tenebroso, que tem o mesmo condenado em si mesmo”. Completa Santa Catarina dizendo que isto não quer dizer que Jesus Cristo, a Bondade suma e infinita, tenha um “olhar temível e tenebroso”, mas sim que será esta a forma com que o condenado O verá por “ter o mesmo olhar dentro de si mesmo”... Este olhar será bastante forte e poderoso para destruir todos os escândalos produzidos pelos pecados dos homens naquele Juízo Universal.

Santa Teresa de Jesus manifesta também grande temor daquele olhar terrível: “Nunca tive tanto medo dos tormentos do inferno que não fosse menos que nada em comparação do que tinha quando me lembrava que os condenados haviam de ver irados estes olhos tão formosos e mansos e benignos do Senhor...”[3]

“Seu olhar”, escreve o Papa São Leão, é impressionante.  Ante ele, o compacto se torna transparente; o oculto, manifesto; o luminoso obscuro e os mudos se tornam loquazes; em sua presença até o silêncio fala e a mente, sem necessidade de vocábulos, declara seus pensamentos. Sendo, pois, tal sua sabedoria e tanta, de nada valerão frente a ela nem os discursos dos advogados nem os sofismas dos filósofos nem a brilhante eloquência dos oradores nem a habilidade dos mais astutos e sagazes”.

Da vida de São Metódio relata-se o fato de ter pintado um quadro representando o Juízo Final. São Metódio converteu à fé cristã a Bulgária no século IX. Um dia ele foi chamado pelo rei dos búlgaros, de nome Bógoris, o qual lhe pediu que pintasse um quadro para colocar em seu palácio. Queria que ao olhar no quadro todas as pessoas sentissem terrível medo. O santo, então, recomendando-se a Deus, pintou o Juízo universal. No meio do quadro via-se Jesus Cristo em sua tremenda majestade entre as nuvens e num trono de glória, rodeado pelos anjos; à direita uma fila de pessoas com os rostos esplendorosos de luz (os justos); à esquerda uma multidão de pessoas monstruosas com caras horríveis, cheias de pavor e de desesperada angústia (os pecadores). Em baixo afinal se via um abismo cheio de figuras horrendas de demônios, e desse abismo saíam chamas ameaçadoras e foscas.

 Quando o rei viu esse quadro, ficou impressionado e perguntou: “Que espetáculo é esse tão magnífico e pavoroso?” Após narrar a explicação do significado do Juízo Final que São Metódio deu ao rei pagão, conclui o Autor no texto que ora citamos que, apenas mediante o olhar de Jesus como supremo Juiz de todos houve um “exame de consciência” geral dos pecadores. Em seguida o Autor narra um exemplo de como um simples olhar pode revelar a consciência pecaminosa. 

O rei Frederico II da Prússia (1756), durante a guerra dos 7 anos, após uma batalha vitoriosa, invernava na Saxônia. Ali um copeiro de nome Glasau deliberou matá-lo, e lhe apresentou num copo uma bebida envenenada. O rei, que havia notado qualquer coisa estranha na atitude de seu servo, fixou-o profundamente no rosto. Ante este olhar o servo começou a tremer tão forte, que lhe cai da mão o copo. Aí confessou ao rei o assassínio que havia meditado. – Eis como só o olhar penetrante de um rei bastou para fazer tremer e aniquilar um malvado.

Ora, como deverão tremer os pecadores quando os fulminar o olhar de Deus que tudo conhece e que de tudo pedirá pormenorizadíssimas contas.

E tudo o que está oculto surgirá, e ninguém ficará impune.”[4]

 

Os escândalos do mundo moderno que difundem pecados sociais

Quatro vícios e crimes predominam hoje em toda a sociedade humana, em todo o orbe terrestre: o homicídio, a sodomia, a opressão dos pobres e viúvas e a defraudação do salário do trabalhador. Com estas quatro espécies de vícios e torpes crimes todos os outros se difundem na sociedade. Alguns anos atrás tais pecados sociais, ou crimes, causavam grande escândalo na sociedade. Mas, hoje, por tornarem-se prática comum vão aos poucos deixando de causar escândalos. No entanto, são pecados que por si mesmo pedem a Deus por vingança, pois se não causam escândalos entre os homens o promovem entre os Santos Anjos, os Bem-Aventurados e a Santíssima Trindade.

Tudo começou, mais ou menos na Renascença, após a decadência da Idade Média. E os escândalos a partir dessa época começavam sempre nas cortes e na nobreza, que deveriam ser modelo de pureza e castidade. Havia sempre um “caso” amoroso de um rei ou de um príncipe ou princesa que causava escândalo à sociedade da época. Até culminar com os escândalos mais audazes no período que antecedeu à Revolução Francesa, geralmente girando em torno do adultério e pecados da carne. A moda, a forma de propagar costumes de vestir, surgiu nessa época já escandalizando o público com vestidos decotados. No âmbito civil e religioso os escândalos ficavam por conta das heresias como o protestantismo, preparando o terreno para o surgimento das filosofias agnósticas e ateias que vieram depois. Com o passar dos anos a sociedade ocidental e cristã foi se acostumando com tais escândalos e começou a achar normal o adultério, a poligamia, a vida conjugal irregular, ou concubinato, como se fosse um casamento normal. Hoje, é tão comum tais uniões malformadas como os adultérios que já não causam mais escândalos como antigamente. O que poderia causar escândalo na atualidade seria o casamento monogâmico e indissolúvel como prescreve as leis divinas.

Outros pecados sociais foram se disseminando na sociedade através de escândalos. A assombrosa liberdade sexual do mundo atual começou com os filmes eróticos de Hollywood da década de 50 em diante. No começo as atrizes apenas ficavam despidas e gravavam cenas de amor lúbrico escandaloso. Com o passar do tempo foram sempre avançando e gravando cenas mais escandalosas, chegando aos filmes abertamente eróticos dos dias atuais, sem qualquer censura, divulgados em todos os recursos de imagens e vídeos da internet. Não se admira que haja tantos tarados sexuais agindo e promovendo horrendos crimes até mesmo contra crianças, pois seus baixos instintos são cotidianamente estimulados por tais filmes.

Os pecados sociais citados acima são no âmbito da moral e da castidade. No entanto, outros escândalos foram amortecendo na população os sadios convívios sociais em torno de direitos familiares e individuais, ocorrendo por causa da investida das idéias socialistas no mundo. De tal forma que em muitos ambientes o ato de roubar o próximo já não causa estranheza e até é tido como um “bem social” em favor dos “menos favorecidos”.

 

Escândalos para todos, mas “blindagem” de donos de jornais e TV

Um dos meios com que a mídia propaga os males sociais, os pecados mais horrendos, é através da divulgação de escândalos. Não podem pregar abertamente a violência urbana, mas divulgam incansavelmente reportagens sobre os crimes mais hediondos, dando grande destaque aos mais escandalosos e impactantes na opinião pública. O amor livre, o adultério, o liberalismo exacerbado, o relativismo, principalmente moral e religioso, são temas em que eles são especialistas, mas não os pregam abertamente, apenas dão destaque espalhafatoso aos crimes que servem para espalhar tais pecados na sociedade. Um exemplo: o aborto não é defendido abertamente pela mídia, isto é, não dão grande ênfase aos que propagam tal crime; no entanto, fazem reportagens escandalosas onde mostram mulheres que morreram por ocasião de um aborto clandestino, dando destaque à idéia de que se fossem feitos oficialmente pelo governo não causariam tais mortes.

De modo geral, todas as redes de TV e emissoras de rádio possuem programas de crimes policiais de grande alcance no público e expostos em horários de grande audiência. Tais empresas da mídia gastam fortunas no aparelhamento de tais reportagens, usando até helicópteros e equipamentos caríssimos, tudo com o objetivo de pregar e banalizar a criminalidade. E o que eles dão muito destaque são os escândalos causados por políticos ou empresários de grande porte, pois precisam expor à execração pública os dirigentes da nação e suas elites. .

No entanto, qual a razão de os donos de empresas jornalísticas nunca serem  envolvidos em escândalos políticos ou financeiros? Há fatos que podem até ser vazados mas não são divulgados, ou esquecidos após a primeira notícia. Não se sabe quantos porque a falta de divulgação nos impede de sabê-lo. No entanto, é muito estranho que riquíssimos proprietários de empresar jornalísticas, muitos deles sócios de outras envolvidas em escândalos públicos, não tenham seus nomes incluídos quando são divulgados pela mídia. Protegidos pelo silêncio cumplicioso de seus empregados, tais cidadãos vivem incólume da degradação pública. Um exemplo foi o famoso Roberto Marinho, proprietário da maior rede de jornais e TVs do Brasil, homem que enriqueceu ás custas de golpes e tramas financeiras, mas que nunca teve seu nome ventilado pela mídia sobre tais aspectos negativos de sua atividade. Quando falavam dele era para homenageá-lo por alguma medalha de “honra ao mérito” recebida por alguma instituição que lhe devia alguma coisa. E passado tanto tempo depois de sua morte, até hoje seus escândalos continuam encobertos. O mesmo ocorre com os demais proprietários de grandes empresas jornalísticas: trata-se de uma elite que é “blindada” (protegida) por seus veículos de publicidade, sempre concordes umas com as outras.

 



[1] Plínio Corrêa de Oliveira - Extraído de conferência de 31/1/1966

[2]              Legenda Dourada”, versão espanhola, Editora Alianza Forma, páginas 25/29, volume 2

[3] Obras Completas de Santa Teresa de Jesus – Carmelo do Porto, Portugal – pág. 801

[4] Extraído com adaptações de  “A Palavra de Deus em Exemplos” – G. Morotarino J. C. – Ed.Paulinas, 1961 – págs. 68/75.


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