sexta-feira, 22 de julho de 2022

NOSSO SENHOR JESUS CRISTO REVELA COMO FOI A CONVERSÃO DE SANTA MADALENA

 



Uma vidente italiana do século XVIII, a Bem-Aventurada Maria Cecília Baij, assim descreve como Nosso Senhor lhe contou a conversão de Santa Madalena, operada de uma forma fulminante pelo olhar divino de Jesus Cristo:

“Chegando, portanto, o dia festivo, concorreu a Jerusalém uma multidão de pessoas, muitas das quais vieram para ouvir-me pregar e para ver-me, outras ainda para serem liberadas de várias enfermidades. Veio também Marta, irmã de Lázaro, e tanto se empenhou que conseguiu trazer também a irmã, Madalena. Tinham eles uma boa casa em Jerusalém para suas vindas nos dias festivos.

“Madalena debatia-se intensamente no íntimo. O demônio com suas sugestões violentas dissuadia-a de vir, temendo o que depois ocorreu. Isto é, que, ouvindo minha prédica, se convertesse, como se converteram também outros pecadores. O demônio segurava-a muito fortemente. Era, no entanto, atraída pelos convites da graça, que poderosamente a impeliam a vir ao Templo. Eu esperava com grande desejo a pecadora para convertê-la e fazê-la inteiramente minha. Em vista disto, pedia ao Pai dar-lhe a graça de superar as sugestões do inimigo infernal, que fortemente a dissuadia, bem como de vencer as persuasões dos amantes que a aconselhavam a não vir, porque ali, diziam eles, havia um certo homem que pregava e atraía todos para seu partido e encantava a quem o ouvia. Por isso, também ela se deixaria enganar e abandonaria seus amores.

“Por fim, venceu a graça divina, que a convidava com veemência. Madalena dominou todas as persuasões e sugestões, e veio; porém não para ouvir minha palavra, nem para ver-me, mas só com a intenção de ser galanteada e conquistar mais amantes.

“Veio a Jerusalém com a irmã. Perdeu a manhã da festa em adornar-se, levantando-se cedo para enfeitar-se mais comodamente. Foi exortada pela irmã a desistir de tanta vaidade.Mas ela, surda à suas palavras, enfeitou-se mais ainda. A irmã contava-lhe muitas coisas acerca de minha pessoa. Ela, porém, nem sequer quis escutá-la, mostrando-se desgostosa até mesmo de ouvir mencionar-me.

“Eu via tudo. Naquela noite orei sempre ao Pai pela conversão de Madalena, a qual ia desmerecendo cada vez maisa graça da conversão. Mas o Pai prometeu-me para ela a plenitude da graça, conforme me tinha prometido em outras ocasiões.  Eu o louvei e agradeci-lhe por tanta bondade e misericórdia.

“Ao raiar do dia, fui ao Templo com os Apóstolos e discípulos. Demorei-me a orar ao Pai, a fim de que as funções dos Fariseus acabassem.Nesta oração pedi ao Pai tivesse misericórdia de todo o povo, iluminando-o e fazendo-lhe conhecida a verdade que eu lhe pregasse. Via então que Madalena se mostrava arredia a vir ao Templo. Por isso pedi de novo por ela, a fim de que viesse, vencida pelas exortações da irmã e atraída muito mais ainda pelos convites da graça. Sua vinda causou a todos os presentes grande admiração, atraindo a si os olhares de todos, seja por sua beleza, seja também por sua vaidade.

“Terminadas as funções e tendo pedido ajuda a meu divino Pai, ergui-me para começar a prédica. De pé, fixei os olhos em Madalena. Ao olhá-la, chamei-a com voz interior a minha seqüela. Simultaneamente, Madalena também fixou seus olhares em minha pessoa. De fato, seu coração ficou ferido pela potente a amorosa seta. De repente, sentindo o convite, deu-se por vencida, tanto que, antes que eu começasse a falar, ficou presa de meu amor. Fez, porém, grande esforço para resistir e ficar a ouvir minha prédica.

“Comecei a pregar as grandezas do divino Pai. Madalena desfazia-se em lágrimas ao ouvir a doçura e a sublimidade de minhas palavras, ao ver a amabilidade de meu semblante, meus admiráveis atrativos. Foi necessária uma graça especial para ela não morrer de puro amor e juntamente de dor por suas culpas.  Seu coração estava preso de um vivo incêndio de amor e traspassado de dor aguda. Olhei-a amiúde, para que mais e mais vezes ficasse ferida e inflamada. Seu coração destilava lágrimas de dor e se consumia nas chamas de um amor ardente.

Dizia-lhe ao coração:“Madalena, Madalena!Bastante tempo viveste longe de mim. Doravante serás inteiramente minha. Sacrificareis todos os teus afetos a mim.  Prova e vê quão suave e quão doce e potente é o meu amor!”  Continuava a falar-lhe ao coração. Ela respondia-me com todo afeto e não cessava de pedir perdão pelos erros cometidos. Ouvia minhas palavras – que lhe pareciam outros tantos dardos – e cada uma delas feria-lhe o coração.

“Prossegui um pouco minha prédica. Todos os presentes estavam admirados ao ouvirem minhas palavras e minha divina sabedoria.Muitos olhavam Madalena. Ao vê-la tão compungida, ficavam eles também compungidos. Alegrei-me muito ao ver aqueles corações e muito mais me alegrei  à vista do coração contrito e amoroso de Madalena. Alegrava-me qual caçador com sua presa.

“Encontravam-se ali numerosos Escribas e Fariseus, os quais começavam também a sentir comover-se-lhes o coração de compunção. Para não se renderem, fechavam os ouvidos a fim de não me ouvirem; tal era sua obstinação maligna, que os pérfidos amarguravam a consolação por mim sentida pela conversão de Madalena.

“Depois de ter falado algum tempo das perfeições divinas, da obrigação de amar o divino Pai e de observar a Lei divina, narrei a parábola do filho pródigo, seja para inspirar ânimo e confiança a Madalena contrita, como também para animar a todos os outros pecadores presentes.

“Madalena, presa de forte resolução,decidiu vir aos meus pés.  Não fez este ato no Templo, porque não ousou aproximar-se de mim, coberta de enfeites e objetos de vaidade.  Mas quis vir despojada de todas as pompas, inteiramente pobre, com veste humilde, como via minha pessoa, totalmente pobre e humilde.

“Terminada minha prédica, Madalena partiu depressa, como louca, vencida pela paixão do amor e traspassada de dor. Chegando a sua casa, despojou-se de todas as pompas, as quais calcou generosamente. E muito mais, despojou-se do amor próprio de qualquer respeito humano, odiando tudo  o que tinha mantido longe de Deus. Soltou também o cabelo, e inteiramente contrita, chorou amargamente. Não podendo no entanto mais reter a chama que lhe ardia no peito, resolveu repentinamente vir aos meus pés para desafogar o amor e a dor”[1].

 

Ao que muito se perdoa é porque muito amou

O episódio seguinte é muito conhecido, narrado por todos os 4 Evangelistas  (Lc 7, 36-50; Mt 26, 6-13; Mc 14, 3-9 e Jo 12, 1-8): Santa Madalena, após despir-se de todo mundanismo, foi ajoelhar-se aos pés do Salvador para Lhe despejar um vaso de alabastro cheio de bálsamo e Lhe enxugar os mesmos pés com seus cabelos.  Pelo relato de São João, São Lázaro participava do banquete de Betânia e já havia sido ressuscitado.

Foi desta forma que o próprio Nosso Senhor narrou à Abadessa Maria Cecília Baij o banquete de Betânia, na casa do ex-leproso Simão:

“Terminada, então, minha oração e tendo dado graças ao Pai, saí do Templo com os Apóstolos e fui à casa de Simão, o leproso, para ali restaurar-me com os apóstolos, porque estávamos muito necessitados.

“Depois de entrar na dita casa e das costumeiras bênçãos, quando estavam todos à mesa, veio a contrita e amante Madalena. Saíra de casa para vir até mim e prostrar-se aos meus pés. Tendo ouvido dizer que eu, com os apóstolos, tinha ido ao banquete na casa de Simão, foi velozmente para lá, superando todo respeito humano.

Causou admiração aos que a viram. Em verdade, ocasionou admiração e estupor ver uma pecadora pública, pessoa nobre, rica e bela, despojada de toda vaidade, coberta de veste vil, os cabelos soltos, correr velozmente àquela casa. Mas não conheciam o amor que ardia no coração de Madalena, nem a dor que a traspassava. Por isso todos ficaram estupefatos e admirados.

“Veio a penitente e entrou generosamente no lugar do banquete.Não olhou a ninguém. Mas tendo chegado aos meus pés, prostrada em terra, beijou-os amorosamente.  Lavava-os com suas lágrimas e enxugava-os com os cabelos, por meio dos quais havia captado vaidosamente tantas almas. Trouxera também um vaso de precioso e fragrante ungüento para ungir-me os pés. Mediante tal perfume pensava ela mitigar o mau cheiro que me causaria sua iniquidade”.

 

O contato de Santa Madalena arrependida com Jesus foi de Coração a coração

Após o arrependimento, Santa Madalena foi aos pés de Jesus manifestar o que havia dentro de seu coração:

“A dolente Madalena estava, portanto, detrás de meus pés desfazendo-se em lágrimas de dor e satisfazendo seu grande amor. Depois de beijar e ungir por algum tempo meus pés, ergueu-se e derramou todo o precioso e fragrante perfume em minha cabeça, voltando depois aos meus pés. A penitente Madalena não proferia palavra alguma, porque a dor não lhe permitia. Falava-me, no entanto, com o coração. Oh! Quantos afetos de amor exprimia esse coração amante e quantos atos de dor fazia no coração contrito e dolente! Eu falava-lhe ao coração com amor, convidando-a a seguir-me e assegurava-lhe meu amor.

Desde o primeiro instante em que me viu, e eu a mirei, Madalena teve um claro conhecimento acerca de minha pessoa e acreditou ser eu o verdadeiro Messias.O divino Pai concedera-lhe esta graça por causa das numerosas súplicas que eu lhe dirigira por ela. Minhas orações foram bem empregadas, pois ela correspondeu inteiramente à graça e aproveitou as luzes divinas”..

Ao afirmar que “o divino Pai concedera-lhe esta graça” Nosso Senhor confirma que a ação divina no nosso interior se inicia pelas chamadas “locuções interiores”, que são inspiradas por ação do Pai, como ocorreu com São Pedro: “Não foi a carne e o sangue que to revelastes, mas meu Pai que está no Céu” (Mt 16.17).

Após comentar sobre a raiva que o gesto de Santa Madalena causou em Judas e a ironia crítica dos fariseus, Nosso Senhor conclui:

“Tendo então Madalena se expandido, e dado algum reconforto a seu ardente amor e a sua grande dor, disse-lhe: “Tua fé te salvou; vai em paz” (Lc 7, 48). Despedi Madalena e mandei-a embora, absolvida de todas as suas culpas, porque grande foi sua dor e seu amor” [2]

O gesto de Santa Madalena foi assim reconhecido por Nosso Senhor: “Em verdade vos digo que em toda a parte onde for pregado este Evangelho por todo o mundo, publicar-se-á também para sua memória o que ela fez”(Mt 26.13) 



[1]A Vida Íntima de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Maria Cecília Baij, OSB, Acrópole Editora e Distribuidora Ltda, 1984, págs. 443/444

[2]op. cit. pp. 445/446


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