sábado, 20 de fevereiro de 2021

COMO PERVERTER A INOCÊNCIA



(Os revolucionários de hoje possuem métodos mais requintados para perverter as inocentes crianças, mas sempre tiveram predecessores na História, como o sapateiro Simon, encarregado de perverter o filho de Luís XVI. Vejam como Dr, Plínio narra num “Santo do Dia” o que sucedeu com aquele desventurado príncipe)

 

Hoje é dia de Santo Anselmo bispo de Cantuária. Mas aqui há um trecho sobre Luís XVII: “L’enfant Louis XVII et son mystère”, de Madeleine Louise S. (Beauchesne, Paris, 1957):

     “Sem dúvida alguma, entre os crimes perpetrados pela Revolução contra a família real o aviltamento do pequeno delfim foi um dos maiores. Arrancado aos sete anos de idade dos cuidados de sua família e entregue ao sapateiro Simon, a criança embruteceu-se totalmente.

     “Quando a 3 de julho de 1793, às 11 horas da manhã, Luís Charles, o futuro Luís XVII, encontrou-se na casa de seu novo pai, chorou durante quase três dias. Depois, sentindo que com isso nada obtinha e acostumado a sentir-se centro de atenção, enxugou as lágrimas e iniciou vida nova, de início resistindo ao ambiente, mas depois nele integrando-se dolorosamente. A missão de Simon era inculcar-lhe princípios e lhe ensinar modos do povo. Era preciso fazê-lo perder a idéia de sua posição e que ele esquecesse sua realeza. Simon iniciou seu pupilo nas belezas do estilo do Père Duchesnes, jornal obsceno dirigindo por Hébert, assim como no palavreado grosseiro dos moleques de rua. Nada de ortografia ou fábulas ou histórias variadas. O descendente de Luís XIV aprenderia os direitos do homem e cantaria as canções do povo. Testemunhas inequívocas atestaram o êxito dessa missão. A criança assimilava tudo com grande facilidade. Isso chegou a tal ponto, que um dia  o municipal Lebouef repreendeu Simão pelos discursos que ele fazia ante o menino, dizendo que o sapateiro o ensinava a blasfemar e lhe dava uma educação completa de um sans-culotte.

     “O jovem príncipe perdeu gradativamente os vestígios de sua primeira educação, afogada por atitudes vulgares que ele mesmo aceitou, como muito masculinas. Percebeu também que sua linguagem de soldado agradava aos municipais, dos quais recebia elogios e aprovação por cada palavra de baixo calão que pronunciava. Aqueles homens sentiam-se radiantes por verem o filho da orgulhosa austríaca semelhante a um pequeno vagabundo. 

     “Dois testemunhos, o do municipal (...?) e de Madame Royale [irmã do pobre príncipe], de Madame Elisabeth [irmã de Luís XVI], nos mostram a que ponto chegou a pobre criança. Daujon era um revolucionário com tendências artísticas e certa cultura, relata que uma vez jogava com o delfim, enquanto nos aposentos de cima, onde se supunham estar Maria Antonieta e suas parentas, ouviam-se ruídos como de arrastar cadeiras. Num movimento de impaciência, gritou a criança: ‘Será que essas.... ainda não foram guilhotinadas?’ Daujon retirou-se sem querer ouvir o resto. 

     “Madame Royale afirma, por sua vez, que ouvira o irmão cantar a Carmagnole, a ária dos marselheses e mil outros horrores; que Simon lhe colocava um gorro vermelho na cabeça e lhe ensinava a pronunciar juramentos afrontosos contra Deus, sua família e os aristocratas. O sapateiro o fazia comer e beber muito. Ele engordou demais e cresceu pouco. 

    “Finalmente, durante as horríveis acusações feitas pelos revolucionários à rainha Maria Antonieta, o príncipe tomou partido contra sua mãe e contra sua irmã. Enquanto Madame Royale negava as infâmias, o delfim as afirmava verdadeiras. Quando chegou a vez de interrogar Madame Elisabeth, ela respondeu a tudo com sua costumeira dignidade e prudência. Mas ao ver seu sobrinho desmenti-la e acusar a mãe, não conteve um grito de horror: ‘Oh, o monstro!’ 

     “As últimas notícias sobre o jovem filho de Luís XVI foram dadas por Gagnié, chefe das cozinhas do palácio real. O menino chegara a ponto de infringir pequenos castigos a Gagnié porque esse o chamava ‘Monsieur Charles’. O príncipe não admitia ser chamado de Monsieur e dizia ao cozinheiro que esse não havia acertado o passo com a época”.

Os senhores estão vendo aqui, nesta ficha, algo que indica perfeitamente o espírito da Revolução Francesa. É um desses episódios onde, por assim dizer, esse espírito pode ser tocado com a mão, de maneira que vale a pena ser pormenorizadamente estudado por nós.

Nós vemos que os historiadores que apresentam a Revolução Francesa como um acontecimento preponderantemente político... Aliás, seria uma coisa para se perguntar se há acontecimento preponderantemente político. Todo acontecimento político, por sua própria natureza, seria conseqüência e efeito de mudanças de ordem religiosa, moral e filosófica do espírito dos povos. De maneira que num acontecimento, o aspecto político é sempre secundário, enquanto o pressuposto religioso, filosófico ou moral é o aspecto principal. Eu sou muito dessa segunda opinião e eu vejo a Revolução Francesa - como, aliás, muitos outros escritores e pensadores - vemos na Revolução Francesa não um acontecimento preponderantemente político, mas um reflexo político de um acontecimento de ordem moral, de ordem religiosa, de ordem filosófica, que chega ao seu cume, que chega ao seu auge com a explosão política da Revolução. 

Em outros termos, nós podemos medir o alcance da Revolução com a modificação da mentalidade da alma humana, analisando quem era esse Luís XVII e depois considerando o que desejaríamos que ele fosse e o que gostariam de fazer dele os revolucionários. E aí o contraste dos dois espíritos está muito claramente em evidência. E aqui também o profundo das duas causas, o ponto de desacordo de ambas as causas, pelas quais se batem eles e pelas quais nos batemos nós.

Luís XVII, como os senhores sabem, era o segundo filho do rei Luís XVI. Ele teve de Maria Antonieta - Arquiduquesa de Áustria e Lorena - três filhos. O primeiro morreu antes da Revolução Francesa e esse segundo filho era criança quando a Revolução arrebentou. Era, portanto, o herdeiro do trono; deveria usar, portanto, o título de Luís XVII, uma vez que estava estabelecendo o hábito de que todos os reis da França, a partir de Luís XIII, usassem o nome de São Luís, que foi, por assim dizer, o fundador da dinastia. 

Nessa idéia, nós vemos Luís, o menino, que é educado na corte de Versailles, e que representa, a vários títulos, uma série de preciosos requintes. Ele é, em primeiro lugar, de um modo ou de outro, o herdeiro de todos os reis da Europa. Não há, a bem dizer, dinastia importante nenhuma da qual ele não tivesse o sangue nas veias. Mais proximamente, ele tinha nas veias o sangue da Casa de Bourbon, que é a Casa de São Luís; ele tinha nas veias o sangue da Casa d´Áustria,  que é a casa de Habsburgo, as duas mais importantes dinastias do Ocidente; e, com esse sangue, ele tinha todos os carismas, ele tinha todas as graças com que a Providência cumulou essas duas famílias para que realizassem sua obra providencial na história. 

Lembro-me que há um certo tempo eu li para os senhores um trecho muito bonito a respeito dos carismas da casa d’Áustria. E que se poderia ter escrito a respeito dos carismas da Casa de Bourbon. Eram todos esses carisma - não porque eles se transmitam com a carne e o sangue, mas porque a Providência os pode manter fixos numa determinada família -, eram todos esses carismas que se concentravam sobre esse menino. Além de ele ser, assim, o ponto de encontro de tantas graças e de tantas bênçãos de Deus, ele era uma pessoa preparada por essa lei misteriosa da hereditariedade que transmite de pais para filhos não apenas caracteres estritamente biológicos, mas disposições de alma, circunstâncias temperamentais, um mundo, enfim, de propriedades; ele era preparado, no plano natural, para ser ponto de encontro de dons naturais importantes que essas famílias tinham.

  E esses dons tinham sido trabalhados desde o berço por um dos ambientes mais requintadamente culturais que a história tenha conhecido, e que era o ambiente do castelo de Versailles, até o momento em que o espandongou a Revolução Francesa. 

Os senhores estão vendo, portanto, que esse menino era uma obra-prima. Era uma obra-prima à luz da fé, era uma obra-prima à luz da sociologia, era uma outra obra-prima à luz da história. O que nós quereríamos fazer desse menino? Adão também era uma obra-prima saída das mãos de Deus quando ele foi criado no Paraíso. Ele também recebeu de Deus dons sobrenaturais, dons naturais excelentes. Mas não basta ao homem ter recebido dons magníficos ao nascer; pode-se até dizer que o principal não está nisso; o principal está no aproveitamento que ele dê a esses dons. Nós quiséramos que todo esse heroísmo, toda essa glória, todo esse requinte, toda essa delicadeza, toda essa educação, fossem por ele aproveitados de modo exímio, de maneira que ele desse num herói da civilização cristã. Ele desse num santo, ele desse num homem inteiramente entregue ao serviço de Deus e da Santa Igreja Católica Apostólica, Romana, ele desse num rei perfeito. Talvez num outro Carlos Magno. Se a Europa tivesse tido nessa ocasião um outro Carlos Magno, seria possível frear a Revolução que subia aos borbotões, como Carlos Magno freou - tarefa, aliás, menos difícil - as invasões dos bárbaros que se desencadearam no continente europeu. 

Nós teríamos querido, portanto, um homem que tivesse reunido em si a santidade de São Luís, com a majestade de Luís XIV, com a graça de Luís XV, com a força de alma de todos os Bourbons. Nós teríamos tido um homem providencial, um desses homens para quem a gente olhasse com entusiasmo e pudesse dizer: “Como ele é fora do comum! Como ele é extraordinário! Como ele não tem seu igual em ninguém! Como nos alegra sermos homens, pensando que o gênero humano pode dar homens assim! Como nós nos alegramos de ser católicos, pensando que a Santa Igreja Católica Apostólica Romana pode produzir um homem assim!” Nós participaríamos da grandeza dele precisamente nos sentindo inferiores a ele, e contemplando essa grandeza e compreendendo o laço que tudo quanto é católico tem com o que é católico e tudo que é humano tem com o que é humano.

Os revolucionários, o que fazem? Eles fazem precisamente o oposto! Tomam essa jóia preparada pela Providência, pela História, pelos séculos, pela cultura, eles tomam essa jóia e acanalham o menino o quanto podem, debaixo de todos os pontos de vista. Eles isolam o menino, o circunscrevem, o maltratam; eles, sobre a alma débil dessa criança - que carregará diante de Deus uma responsabilidade que só Deus conhece, que tanto pode ser pequena, como pode ser enorme; isso é mistério que só Deus sabe -, eles descarregaram sobre essa criança uma ação anti-educativa brutal. 

Os senhores podem imaginar qual a sensação de uma criança que sai de Versailles, sai do centro de todos os afetos, de todos os mimos, de todas as atenções, de todo esplendor, de repente passa, numa transição cronologicamente muito rápida, para um cárcere onde vive sozinho e – o que não diz aqui a ficha – durante muito tempo murado vivo. Quer dizer, numa sala, onde ele não tem contato com ninguém para fora. Apenas um guichê por onde passam comida para ele. No escuro. E isso depois de um período em que tomava sovas noturnas, em que durante a noite brutalizavam, maltratavam. Os senhores podem imaginar o que é a estrutura de uma alma de uma criança submetida a todos esses terrores?! 

Os senhores podem imaginar... Um dos senhores... Os senhores se coloquem no seu tempo de criança. Imaginem um dos senhores aos cinco anos separado de seus pais e colocado, por exemplo, não sei, numa casinhola de um sapateiro qualquer, da última laia do povo e apanhando todas as noites. A minha casa não tem comparação com Versailles; é provável que a dos senhores também não tenha, os senhores podem imaginar que choque os senhores teriam com isso? Os senhores podem imaginar o choque de quem vem de Versailles, o que isso pode ter sido? O tombo, a estranheza, a queda, a impressão de ter caído vivo no inferno? Os senhores podem imaginar o que eram esses sonos em que a criança caía de cansaço e imergia no sono já no pavor da surra que deveria vir durante a noite? O que eram esses sustos ao acordar durante a noite? Surra brutal! E depois, o que  era esse resto de sono, esse resto de noite que ficava? Como tudo isso deveria ser uma coisa tremenda?

 Os senhores podem imaginar através disso, o que era a degenerescência desse caráter? O menino começa a perceber que ele é bem tratado quando ele diz palavrões; que ele é bem tratado quando ele usa um vocabulário novo, que não lhe tinham ensinado até então. Ele é bem tratado quando ele toma um tipo de pseudo varonilidade – e a ficha acentua isso bem – de pseudo varonilidade que é a varonilidade revolucionária. Eles opunham muito à delicadeza do nobre do Ancien Régime, a essa delicadeza eles opunham muito a violência brutal popular nascida na Revolução Francesa. E eles então estimulavam o menino a dizer palavras porcas, a falar de um modo cafajeste, a ostentar sentimentos contrários à família real, a injuriar o próprio pai, a injuriar a própria mãe. Eles, naturalmente, caluniavam o pai e a mãe para o menino e o menino era aplaudido quando dizia essas coisas. 

Resultado: a degeneração moral, que é a mais importante de todas, vai crescendo acentuadamente pelo efeito do álcool. Eles embriagavam o menino e ensinavam o menino a cantar canções revolucionárias. Por fim, eles chegaram, como os senhores vêem, a dar uma superalimentação ao menino que lhe prejudicou a própria estrutura física: ele engordou enormemente, e cresceu pouco. Um verdadeiro monstrengo! Quer dizer, eles modelaram aquele menino à imagem e à semelhança do espírito deles. Era aquele o símbolo da humanidade nova que eles desejavam que viesse. 

O que era aquele menino? Vamos dizer numa palavra só: era o primeiro anteprojeto do playboy. Quando  a gente vê um playboy andando pela rua, quando a gente vê um hippie andando pela rua, a gente se pergunta: tirados os aspectos – fisicamente doentios – até lá não se chegou ainda, mas se chegará com as “bolinhas” [drogas] e com mil outras coisas – tirados os aspectos doentios, que diferença há entre um hippie e Luís XVII? Eles não modelaram nessa criança a prefigura do homem que a Revolução, séculos depois, haveria de produzir como um padrão para a humanidade inteira? Foi precisamente isso que eles fizeram. Sem tirar nem pôr. 

Quer dizer, era um mundo novo que surgia à imagem e à semelhança deles: do menino revoltado contra os pais, do menino obsceno, do menino "espontâneo", do menino sem controle, sem censura, sem caráter, sem fidelidade a nenhum princípio, oportunista, procurando a popularidade. 

Os senhores dirão: “Mas pobre menino! Ele teria tanta culpa quanto o senhor está dizendo?”

Eu não estou tratando do fenômeno culpa. Foi feita ali uma escultura pedagógica. Foi criado um modelo. Esse modelo está andando aqui pela rua. Luís XVII, o que há de mais importante a respeito dele, é que ele constitui, ao mesmo tempo, algo que encerra uma série [e começa outra]. E nesse contraste, entre o menino que ele era em Versailles e o menino como a Revolução modelou, nesse contraste vai um contraste de dois mundos, de dois modos de ver o homem, de dois modos de ver a vida, de dois modos de ver o universo. Para resumir:  de um modo católico e que crê em Deus – embora com possíveis deformações de uma época de decadência – de um lado; de outro lado, de um modo anticatólico, que nega completamente a Deus, e que não quer o menino feito à imagem e semelhança de Deus, mas quer um menino feito à imagem e semelhança dos vícios, das taras, de tudo aquilo quanto há de mais repugnante na natureza humana. Isso é que a gente tem que considerar, isso é que a gente tem que ver de frente. Isso se espelha, aliás, em toda a Revolução Francesa.

 A Revolução Francesa foi uma ofensiva do monstruoso contra o belo, da desordem contra a ordem. Quando a gente vê, por exemplo, a mudança por que passaram as modas da Revolução Francesa, a gente vê que exatamente foi o fim de uma era de modas requintadas para o estabelecimento de uma era de modas ridículas, de modas grotescas. Por isso que durante a Revolução a moda feminina foi tão ridícula que ela foi quase tão ridícula quanto hoje em dia. Olha que não é dizer pouco! Bem, em moda masculina, idem. As maneiras baixaram, se degradaram. 

Se a gente vai estudar o modo pelo qual a vida social se estabeleceu depois da Revolução, é uma vida social indignadamente rebaixada em relação à vida social anterior. Se a gente vai estudar a literatura, a música, artes menores, a arquitetura, tudo leva um tombo. Esse tombo é rumo ao sapateiro Simon, rumo a Luís XVII. Eles não configuraram tudo à maneira do sapateiro Simon e de Luís XVII, mas a distância de todas as coisas em relação ao sapateiro Simon e o aspecto do que Luís XVII tomou, diminuiu. E de lá para cá elas não têm feito outra coisa senão diminuir, diminuir, diminuir. Porque a Revolução vai aos poucos diminuindo ou eliminando as distâncias existentes entre o estado da humanidade atual e uma ordem de coisas para onde quer levar, ou eliminando as distâncias existentes entre o estado da humanidade atual e a ordem de coisas para onde quer levar a humanidade. (...)

É a marcha para o monstruoso, é a marcha para o hediondo, para uma forma de barbárie pior que a barbárie dos bárbaros. Porque a barbárie do bárbaro que é bárbaro porque não sabe fazer de outra maneira, uhm, vá lá!... Mas a barbárie do que se faz bárbaro porque acha que assim é que é bom, há nisso um toque de pecado contra o Espírito Santo, que é verdadeiramente abjeto! É isso o que nós vemos representado nessa ficha.

Cena final: é o encontro do menino com Maria Antonieta. Os senhores conhecem esse fato, que tantas vezes tem sido repetido entre nós. Maria Antonieta está sendo julgada por um tribunal revolucionário. Então, acusaram-na de ser uma mulher depravada, adúltera, uma messalina. Engraçado é que as fileiras revolucionárias só tinham messalinas, porque aquelas mulheres que acompanhavam os exércitos revolucionários - segundo os dizeres de todos os historiadores – eram mulheres públicas. Só tinham messalinas. Ela é acusada disso e o nega. O juiz diz para ela: “Não, a prova disso é que você – porque era “você” que se usava, o “senhor” ou a “senhora” tinha sido abolido – você iniciou sexualmente o seu filho”. Ela contesta. Dizem: “Vai entrar aqui a prova!” Entra o menino, de tamanco, bêbado, vestido de república, quer dizer com uma roupazinha listrada, comprida, de azul e branco e um gorro vermelho republicano na cabeça e, interrogado pelos juizes, conta que a mãe o iniciou sexualmente. Não se podia fazer sofrer mais uma mulher que já estava sendo destinada para o cadafalso!

Maria Antonieta teve essa tirada sublime: não disse uma palavra contra seu filho. Dos lábios da cunhada dela, que estava presente, tia, portanto, do menino, escapou esse brado: “Oh, que monstro!” Dos lábios dela não escapou uma palavra nem nessa ocasião. Ela apenas voltou para a sala cheia de mulheres e disse o seguinte: “Eu apelo para todas as mães da França, especialmente para as aqui presentes, para dizerem se acreditam nessa acusação”. As mulheres todas começaram a aplaudir a rainha. O juiz “Ponha para fora todo mundo!” O processo continuou na solidão. Era a época da “liberdade” que começava... 

Aqui os senhores têm tudo. Eu creio que mais do que isso não é necessário dizer. São dois mundos: um que acaba com as suas últimas luzes e o outro que entra com sua careta hedionda. O que mais eu tenho a dizer, não precisa... Está tudo dito! 

A aplicação de ordem espiritual é a seguinte: nós compreenderemos melhor o que significam tantas transformações que nos cercam. Percebemos que por assim dizer todas essas pequenas mil transformações que se dão na humanidade, não são transformações comuns. São transformações que indicam um passo nessa marcha para o abismo, para a hediondez completa, para o nudismo, para a completa ausência de moralidade, de fé, de cultura e de civilização. Então, as menores coisas: a mini-saia, um modo monstruoso de se arranjar ou de se desarranjar, um modo novo de se tratarem, um modo novo de dançar. Inclusive uma nova forma de garrafa, ou um novo material que se faz, não sei, um lenço, em tudo isso entra uma influência a mais dessa força histórica que conduz o mundo para a hediondez. 

Eu ouvi dizer – os senhores devem ter ouvido dizer também – que na Europa e nos Estados Unidos usam, às vezes, vestidos para senhoras feitos de papel, que é todo novinho, todo lampeiro, a pessoa tira de uma caixa, quando chega à noite a pessoa joga fora o vestido. No dia seguinte compra outro. Porque é de papel – um papel um pouco mais resistente – como é de papel, não há razão para guardar, nem conservar. Os senhores estão vendo que é a imersão do homem que rola da seda, do cetim, do damasco, para matéria plástica e para o papel. Daí ele rola para a barbárie. Quer dizer, entra a influência da mesma força.

Qual é essa força? Essa força é, no fundo, a força do demônio. Porque é abaixo da maldade humana ser assim. O homem é muito ruim, mas não é tão ruim que chegue até lá. Essa marcha prova a existência do demônio. E cada uma dessas transformações nessa linha é uma ascensão nessa posse do demônio sobre nós, sobre o mundo que nos cerca. E é, portanto, algo ainda da claridade da Idade Média que vai nos deixando de lado, vai nos abandonando. E tantas coisas que nos cercam é um contínuo morrer da luz e um contínuo aumento das trevas.

Que dizer de uma pessoa que ouvindo isso dissesse: “Dr. Plinio, eu não me interesso por isso. Eu me interesso - isso sim - por mim! Quer dizer, eu saber que hoje lançaram uma nova moda e que essa moda é um aumento das trevas do mundo e um aumento do poder do demônio, isso não tem muita importância. Tem importância que eu hoje ganhei dinheiro! Ou tem importância que hoje me fizeram um desaforo. Não podiam ter feito! Ou tem importância que hoje me lisonjearam, o que deveriam ter feito. Mas tem importância o que aconteceu comigo. O resto é colateral, é uma coisinha! O que é? É um episódio a mais na luta entre dois personagens muito pequenos em comparação comigo. Quem são esses personagens? O demônio e Deus. 

(Plinio Corrêa de Oliveira - Santo do Dia, 21 de abril de 1973)

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