quinta-feira, 20 de agosto de 2020

A DUPLA REGÊNCIA DENTRO DO LAR

 


O homem (esposo e pai) exerce, como que, a regência imperativa  dentro do lar, enquanto a mulher (esposa e mãe) exerce a regência “política”, co-regida e misericordiosa. Assim como na sociedade Deus colocou estes dois tipos de regências, representados pelos poderes político e religioso, da mesma forma ambos foram introduzidos no ambiente familiar, pois já nascem com a própria natureza humana. O homem, por sua própria índole, já nasce com pendor para mandar, dirigir, reger imperativamente, enquanto que a mulher demonstra, pelo contrário, uma índole “diplomática”, afetiva e dócil, geralmente mais como auxiliar do homem. Já desde criança a natureza vai demonstrando tais pendores.

Essa dualidade de regências deve atuar em consonância uma com a outra, sem que uma predomine inteiramente, e também de uma forma alternada a depender das circunstâncias: pois há momentos em que há necessidade de impor a ordem pela força e outras em que a mesma deve apenas ser regida, ou co-regida.

Abaixo transcrevemos parte do estudo feito pelo Cardeal Ângelo Herrera, então Bispo de Málaga, “Verbum Vitae – La Palavra de Cristo”, publicado na obra do Dr.. Plínio Corrêa de Oliveira “Nobreza e Elites Tradicionais Análogas” (Editora Civilização), constante de vários esquemas de homilias sobre a aristocracia (aqui apresentada como a regência amorosa):

 Aristocracia na família

“A. Por certa analogia pode-se dizer que o poder aristocrático dentro do lar está reservado à mulher.

a) A autoridade corresponde ao marido.

b) Mas a mulher dentro da família é um elemento de moderação e de conselho.

c) É um elemento de relação entre pai e filhos.

1. Por ela se tornam muitas vezes eficazes, junto aos filhos, as ordens do pai.

2. Através dela chegam ao pai as necessidades e os desejos dos filhos.

B. São Tomás diz que o pai governa os filhos com o governo “despótico”, no sentido clássico da palavra, e a mulher com o governo “político”.

a) Porque a mulher é conselheira e participa do governo do pai.

b) A mulher, por outro lado, tem como que a representação da caridade dentro da família. É como que a personificação da misericórdia no lar.

c) É a que deve estar mais atenta às necessidades dos filhos e criados e mais pronta a mover o pai a remedia-los.

C. No Evangelho aparece muito claro o contraste entre a falta de misericórdia, de caridade, de espírito aristocrático dos apóstolos na cena que comentamos e a inefável missão aristocrática que desempenhou Maria Santíssima nas Bodas de Caná.

a) Atenta às necessidades dos demais, Maria aproxima-se de quem pode remedia-las para as expor.

b) E depois se aproxima do povo, representado pelos criados, para mostrar-lhes que devem ser obedientes” (op. cit. pág. 246)

 O papel da mãe na família

De algum modo a regência da mãe num lar é superior a do pai. Vejamos as razões. Foi dada à Mãe de todas as mães o dom dessa suprema regência já em seu próprio lar santíssimo por ser a que gerou o Filho, o supremo regedor do Universo

Feliz o homem a quem Deus deu uma santa mãe! Essa expressão aparece nos lábios de vários educadores católicos. Quantas mães imprimiram profundamente na alma dos filhos o respeito, o culto, a adoração de Deus; desse Deus de quem elas próprias eram, pela pureza da sua vida, uma imagem viva! A mulher cristã, como mãe, santifica o filho; como filha, edifica o pai; como irmã, ajuda o irmão; como esposa, santifica o marido, exercendo assim um papel eminentemente aristocrático no lar.

A aspiração da santidade deve ser sempre a maior entre as mães. “Quero fazer do meu filho um santo”, dizia a mãe de Santo Atanásio. “Mil vezes obrigado, meu Deus, por me terdes dado uma santa mãe”, exclamava, quando da morte de Santa Emília, o seu filho São Basílio Magno. “Oh meu Deus!, devo tudo à minha mãe!” , dizia Santo Agostinho.

Como reconhecimento por tê-lo marcado tão profundamente pela doutrina de Cristo, São Gregório Magno mandou pintar a mãe Sílvia ao seu lado, vestida de branco e com a mitra dos doutores, estendendo dois dedos da mão direita, como para abençoar e tendo na mão esquerda o livro dos Santos Evangelhos sob os olhos do filho.

Quem nos deu São Bernardo e o tornou tão puro, tão forte, tão abrasado no amor de Deus? A sua mãe, Aleth, embora saibamos que tudo nos santos depende muito mais das graças divinas. Mas as mães são como os Santos Anjos que ajudam abrir as janelas da alma para que as graças nela penetrem.

O próprio Napoleão teve de reconhecer: “O futuro de uma criança é obra da sua mãe”. Quando se é alguém, é muito difícil que isso não se deva, além das graças de Deus, à mãe. “Oh meu pai e minha mãe!, que vivestes tão modestamente – disse Pasteur – é a vós que tudo devo! Oh minha valorosa mãe, comunicaste-me o vosso entusiasmo. Se sempre associei a grandeza da ciência à grandeza da pátria, é porque estava cheio dos sentimentos que me inspirastes”.  A alguém que o felicitava por ter desde a infância o amor à vida de piedade, o Santo Cura d’Ars disse: “Depois de Deus, isso deve-se à minha mãe”.

Quase todos os santos receberam das mães as bases da sua santidade.

Pode-se dizer igualmente que os grandes homens foram formados pelas mães. O Bispo Cartulfo, numa carta dirigida a Carlos Magno, faz-lhe recordar a sua mãe Berta e diz: “Oh Rei!, se Deus Todo-Poderoso vos elevou em honra e glória acima dos vossos contemporâneos e de todos os vossos predecessores, ficastes a devê-lo sobretudo às virtudes da vossa mãe!”

Duas mães piedosas e santas tiveram papel importante na formação de dois grandes reis santos, São Luís, rei de França, e São Fernando, rei de Castela e de Leão. Dizem os cronistas que D. Branca, mãe de São Luís, foi tudo para ele e o Reino. A mãe de São Fernando chorava de emoção ao descobrir que tinha um filho santo, fato que não se dava pelo fato do mesmo ser rei.

 A mãe também deve, às vezes, exercer a regência imperativa e coercitiva

A mãe é no lar aquela chama resplandecente de que fala o Evangelho, a irradiar sobre todos a luz da fé e o fogo da caridade divina. Compete-lhe alimentar na família o pensamento da soberania de Deus, nosso primeiro princípio e nosso último fim, o amor e reconhecimento que devemos ter pela sua infinita bondade, o temor da sua justiça, o espírito de religião que nos une a ele, a pureza dos costumes, a honestidade dos atos e a sinceridade das palavras, o devotamento e ajuda mútua, o trabalho e a temperança. Mas, há momentos em que, na falta do poder paterno, se exige dela um agir mais forte, mais decidida, ou, até mesmo, com o uso da força, como se fora o próprio homem.

Vejamos um discurso de Pio XII sobre o papel da esposa dentro do lar, pronunciado a 11 de março de 1942, ressaltando ser ela “o sol da família”:

 “A esposa vem a ser como o sol que ilumina a família. Ouvi o que dela diz a Sagrada Escritura: Mulher formosa deleita o marido, mulher modesta duplica seu encanto. O sol brilha no céu do Senhor, a mulher bela, em sua casa bem regalada.

“Sim, a esposa e mãe é o sol da família. É o sol com sua generosidade e abnegação, com sua constante prontidão, com sua delicadeza vigilante e previdente em tudo quanto pode alegrar a vida de seu marido e de seus filhos. Ela difunde em torno de si a luz e o calor; e, se ocorre dizer-se de um matrimônio que é feliz quando cada um dos cônjuges, ao contrário, se consagra a fazer feliz não a si mesmo, mas ao outro, este nobre sentimento e intenção, ainda que obrigue a ambos, é, sem embargo, virtude principal da mulher, que lhe nasce com as palpitações de mãe e com a maturidade do coração; maturidade que, se recebe amarguras, não quer dar senão alegrias; se recebe humilhações, não quer devolver senão dignidade e respeito, semelhante ao sol que, com seus albores, alegra a nebulosa manhã e doura as nuvens com os raios de seu ocaso.

“A esposa é o sol da família com a claridade de seu olhar e com o fogo de sua palavra; olhar e palavra que penetram docemente na alma, a vencem e enternecem e se elevam fora do tumulto das paixões, arrastando o homem para a alegria do bem e da convivência familiar, depois de uma larga jornada de continuado e muitas vezes fatigante trabalho no escritório ou no campo, ou nas exigentes atividades do comércio e da indústria.

“A esposa é o sol da família com sua ingênua natureza, com sua digna sensibilidade e com sua majestade cristã e honesta, tanto no recolhimento e na retidão do espírito quanto na sutil harmonia de seu porte e de seu vestir, de seu adorno e de sua modéstia, reservada a par de afetuosa. Sentimentos delicados, graciosos gestos do rosto, ingênuos silêncios e sorrisos, um condescendente sinal de cabeça, lhe dão a graça de uma flor seleta e sem embargo singela que abre sua corola para receber e refletir as cores do sol.

“Oh, se soubésseis quão profundos sentimentos de amor e de gratidão suscita e imprime no coração do pai de família e dos filhos semelhante imagem de esposa e de mãe!”

 

No Livro dos Provérbios se destaca o papel da esposa dentro do lar, como fiel adjutório do marido, especialmente este versículo “Seu marido será ilustre na assembléia dos juízes, quando estiver assentado com os anciãos da terra (Prov 31-10-23)”. Aí está explicitado o papel da esposa auxiliando seu marido na regência da sociedade, pois a “assembleia dos juízes” nada mais é do que a reunião entre aqueles que regem o povo. E se a esposa torna o marido “ilustre” entre os demais é claro que obterá mais influência para bom desempenho de seu papel.

 


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