No último dia 23 celebrou-se a festa do Beato Miguel Agustin Pró, assassinado pelos comunistas mexicanos pouco tempo depois da promulgação da Encíclica de Pio XI que instituiu a Festa de Cristo Rei. Esta encíclica foi publicada em março de 1925, no mesmo período em que os católicos eram perseguidos no México pela revolução comunista, tendo despertado neles uma grande devoção a Cristo Rei. Pouco mais de 2 anos depois, em novembro de 1927, o padre Pró morre mártir proclamando bem alto o título de Cristo Rei perante seus verdugos. Com o exemplo do Beato Padre Pró diversos outros católicos morreram mártires proclamando também a Cristo Rei do Universo. Vários deles foram beatificados alguns até já canonizados.
A partir de 2009 começou a se realizar na Cidade do México uma solene procissão em homenagem ao Beato Padre Pro. O cortejo parte do local onde o jesuíta foi executado, percorre algumas grandes ruas e termina na igreja da Sagrada Família e faz uma parada na Paróquia de Guadalupe, Rainha da Paz, onde o sacerdote exercia sua ação pastoral. Na igreja da Sagrada Família é, onde encontra-se hoje os restos mortais do beato. Os fiéis passam todo o tempo da procissão proclamando brados e entoando o hino em honra de Cristo Rei.
Na frente segue um relicário contendo o fragmento de um osso do beato.
VIVA CRISTO REI! (ouça o hino)
A respeito da Festa de Cristo Rei, reproduzimos abaixo artigo publicado pela
revista “Arautos do Evangelho”, de novembro de 2004:
Cristo, Rei do Universo
Evangelho:
35 O povo estava a
observar. Os príncipes dos sacerdotes com o povo O escarneciam dizendo:
"Salvou os outros, salve-Se a Si mesmo, se é o Cristo, o escolhido de
Deus!" 36 Também o insultavam os soldados que, aproximando-se dele e
oferecendo-lhe vinagre, 37 diziam: "Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti
mesmo!" 38 Estava também por cima de sua cabeça uma inscrição: "Este
é o Rei dos judeus". 39 Um daqueles ladrões que estavam suspensos da cruz,
blasfemava contra ele, dizendo: "Se és o Cristo, salva-Te a Ti mesmo e a
nós" 40 O outro, porém, tomando a palavra, repreendia-o dizendo: "Nem
tu temes a Deus, estando no mesmo suplício? 41 Quanto a nós se fez justiça,
porque recebemos o castigo que mereciam nossas ações, mas Este não fez nenhum
mal." 42 E dizia a Jesus: "Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares
no teu Reino!" 43 Jesus disse-lhe: "Em verdade te digo: Hoje estarás
comigo no Paraíso." (Lc 23, 35-43).
Por direito de herança e de conquista, Cristo reina com
autoridade absoluta sobre todas as criaturas. Entretanto, não governa segundo
os métodos do mundo.
Mons. João Clá Dias, EP
I - REI NO TEMPO E NA
ETERNIDADE
Ao ouvirmos este
Evangelho da Paixão, de imediato surge em nosso interior uma certa
perplexidade: por que a Liturgia, para celebrar uma festa tão grandiosa como a
de Cristo Rei, terá escolhido um texto todo ele feito de humilhação, blasfêmia
e dor?
Tanto mais que, em
extremo contraste com esse trecho de São Lucas, a segunda leitura de hoje nos
apresenta Jesus Cristo como sendo "a imagem do Deus invisível, o Primogênito de
toda a criação (...) porque foi do agrado do Pai que residisse n'Ele toda a
plenitude" (Col 1, 15 e 19). Como conciliar esses dois textos, à primeira
vista, tão contraditórios?
Para melhor
compreendermos esse paradoxo, devemos distinguir entre o Reinado de Cristo nesta
terra e o exercido por Ele na eternidade. No Céu, seu reino é de glória e
soberania. Aqui, no tempo, ele é misterioso, humilde e pouco aparente, pelo
fato de Jesus não querer fazer uso ostensivo do poder absoluto que tem sobre
todas as coisas: "Foi-me dado todo o poder no Céu e na terra" (Mt 28,
18).
Apesar de as
exterioridades nos causarem uma impressão enganosa, Ele é o Senhor Supremo dos
mares e dos desertos, das plantas, dos animais, dos homens, dos anjos, de todos
os seres criados e até dos criáveis. Porém, diante de Pilatos, assevera:
"O meu Reino não é deste mundo" (Jo 18, 36), porque não quer
manifestar seu império em todas as suas proporções, a não ser por ocasião do
Juízo Final.
Assim, enquanto o
Evangelho nos fala de seu Reinado terreno, a Epístola proclama o triunfo de sua
glória eterna. No tempo, vemo-Lo exangue, pregado na Cruz entre dois ladrões,
sendo escarnecido pelos príncipes dos sacerdotes e pelo povo, insultado pelos
soldados e objeto das blasfêmias do mau ladrão. A Liturgia exige de nós um
esforço de fé para, indo além do fracasso e da humilhação, crermos na
grandiosidade do Reino de Jesus.
Por outro lado, errôneo
seria imaginar que Ele não deve reinar aqui na terra. Para compreender bem o
quanto Cristo é Rei, é preciso diferenciar seu modo de governar daquele
empregado pelo mundo.
O governo humano, quando
ateu, encontra sua força nas armas, no dinheiro e nos homens. Tem por
finalidade as grandes conquistas territoriais, perdurar longamente e alcançar a
felicidade terrena. Porém, o tempo sempre demonstra o quanto esses objetivos
são ilusórios e até mentirosos. As armas em certo momento caem ao solo, ou se
voltam contra o próprio governante; o dinheiro é por vezes um bom vassalo mas
sempre um mau senhor; os homens, quando não assistidos pela graça, neles não se
pode confiar.
Napoleão Bonaparte é um
bom exemplo do vazio enganador no qual se fundamentam os Impérios neste mundo.
Basta imaginá-lo proclamando seu fracasso do alto de um penhasco na ilha Santa
Helena, durante o penoso exílio ao qual ficara reduzido. Em síntese, a
plenitude da felicidade de um governador terreno é um sonho irrealizável. E
ainda que ela fosse atingível, a nós caberia a frase do Evangelho: "Que
aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma?" (Mc 8,
36).
II - A REALEZA ABSOLUTA
DE CRISTO
A Realeza de Cristo é bem
outra. Ele de fato é Rei do Universo e, de maneira muito especial, de nossos
corações. Ele possui uma autoridade absoluta sobre todas as criaturas e já
muito antes de sua Encarnação, quando se encontrava no seio do Padre Eterno,
ouviu estas palavras:
"Tu és
meu Filho, eu hoje te gerei. Pede- me; dar-te-ei por herança todas as nações;
tu possuirás os confins do mundo, tu governarás com cetro de ferro" (Sl 2,
7-9).
Rei por direito de
herança
Ele é o unigênito Filho
de Deus e por Este foi constituído como herdeiro universal, recebendo o poder
sobre toda a criação, no mesmo dia em que foi engendrado (1).
Rei por ser Homem-Deus
Por outro lado, Jesus
Cristo é Deus e, assim sendo, tudo foi feito por ele, o Criador de todas as
coisas visíveis e invisíveis. Senhor absoluto de toda existência, do Céu, da
terra, do sol, das estrelas, das tempestades, das bonanças. Seu poder é capaz
de acalmar as mais terríveis ferocidades dos animais bravios e as procelas dos
mares encapelados. Os acontecimentos, as forças físicas e morais, a guerra e a
paz, a pobreza e a fartura, a humilhação e a glória, o revés e o sucesso, as
pestes, os flagelos, a doença e a saúde, a morte e a vida, estão todos ao
dispor de um simples ato de sua vontade. Aí está um Governo incomparável,
superior a qualquer imaginação, e do qual ninguém ou nada poderá se subtrair.
O título de Rei Lhe cabe
mais apropriadamente do que às outras duas Pessoas da Trindade Santíssima, por
ser o Homem-Deus, conforme comenta Santo Agostinho: "Apesar de que o Filho é Deus
e o Pai é Deus e não são mais que um só Deus, e se o perguntássemos ao Espírito
Santo, Ele nos responderia que também o é...; entretanto, as Sagradas
Escrituras costumam chamar de rei, ao Filho" (2).
De fato, o título de Rei,
quando aplicado ao Pai, é usado de forma alegórica para indicar seu domínio
supremo. E se quisermos atribuí-lo ao Espírito Santo, faltará exatidão
jurídica, por tratar-se Ele de Deus não-encarnado, pois, para ser Rei dos homens
é indispensável ser Homem. Deus não encarnado é Senhor, Deus feito homem é o
Rei.
Rei por direito de
conquista
Jesus Cristo é nosso Rei
também por direito de conquista, por nos ter resgatado da escravidão a Satanás.
Ao adquirirmos um objeto
às custas de nosso dinheiro, ele nos pertence por direito. Mais ainda se o
obtivermos através de duras penas, pelos esforços de nosso trabalho, e muito
mais, se for conseguido pelo alto preço de nosso sangue. E não fomos nós
comprados pelo trabalho, sofrimentos e pela própria morte de Nosso Senhor Jesus
Cristo? É São Paulo quem nos assevera: "Porque fostes comprados por
um grande preço!" (I Cor 6, 20).
Rei por aclamação
Cristo é nosso Rei por
aclamação. Antes mesmo das purificadoras águas do Batismo serem derramadas sobre
nossa cabeça, nós O elegemos para ser o regente de nossos corações e de nossas
almas, através dos lábios de nossos padrinhos. Por ocasião do Crisma e a cada
Páscoa, de viva voz nós renovamos essa eleição, sempre de um modo solene.
Rei do interior dos homens
e de todas as exterioridades
Não houve, nem jamais
haverá um só monarca dotado da capacidade de governar o interior dos homens,
além de bem conduzi-los na harmonia de suas relações sociais, seus
empreendimentos, etc. O único Rei pleníssimo de todos os poderes é Cristo
Jesus.
Exteriormente, pelo seu
insuperável e arrebatador exemplo - além de suas máximas, revelações e
conselhos - Ele governa os povos de todos os tempos, tendo marcado
profundamente a História com sua Vida, Paixão, Morte e Ressurreição. Por meio
do Evangelho e sobretudo ao erigir a Santa Igreja, Mestra infalível da verdade
teológica e moral, Jesus perpetua até o fim dos tempos o imorredouro tesouro
doutrinário da fé. Através dessa magna instituição Ele orienta, ampara e
santifica todos os que nela ingressam, e vai em busca das ovelhas desgarradas.
Aqui precisamente se
encontra o principal de seu governo neste mundo: o Reino Sobrenatural que é
realizado, na sua essência, através da graça e da santidade.
Nosso Senhor Jesus Cristo
enquanto a "videira verdadeira" é a causa da vitalidade dos ramos. A
seiva que por eles circula, alimentando flores e frutos, tem sua origem
n'Aquele Unigênito do Pai (Jo 15, 1-8). Ele é a Luz do Mundo (Jo 1, 9; 3, 19;
8, 12; 9, 5) para auxiliar e dar vida aos que dela quiserem se servir para
evitar as trevas eternas. Jesus - segundo a leitura de hoje - é "a
cabeça do corpo que é a Igreja, é o Princípio, o Primogênito entre os mortos,
de maneira que tem a primazia em todas as coisas, porque foi do agrado do Pai
que residisse n'Ele toda a plenitude e que por Ele fossem reconciliadas consigo
todas as coisas, pacificando pelo Sangue da sua Cruz, tanto as coisas da terra,
como as do Céu" (Col 1, 18-20).
O Reinado de Cristo, em
nosso interior, se estabelece pela participação na vida de Jesus Cristo. Só no
Homem- Deus se encontra a plenitude da graça, enquanto essência, virtude,
excelência e extensão de todos os seus efeitos. Os outros membros do Corpo
Místico participam das graças que têm sua origem em Jesus, a cabeça que vivifica
todo o organismo. Quem de maneira privilegiadíssima tem parte em grau de
plenitude nessa mesma graça, é a Santíssima Virgem.
Dada a desordem
estabelecida em nós após o pecado original, acrescida pelas nossas faltas
atuais, nossa natureza necessita do auxílio sobrenatural para atingir a
perfeição. Sem o sopro da graça, é impossível aceitar a Lei, obedecer aos
preceitos morais, não elaborar razões falsas para justificar nossas más
inclinações e conhecer, amar e praticar a boa doutrina de forma estável e
progressiva. Ela refreia nossas paixões e as equilibra nos gonzos da santidade,
orienta nosso espírito, modera nossa língua, tempera nosso apetite, purifica
nosso olhar, gestos e costumes. É através da graça que nossa alma se transforma
num verdadeiro trono e, ao mesmo tempo, cetro de Nosso Senhor Jesus Cristo. E é
nessa paz e harmonia que se encontra nossa autêntica felicidade, e esse é o
Reino de Cristo em nosso interior.
E qual o principal
adversário contra esse Reino de Cristo sobre as almas? O pecado! Por isso
mesmo, se alguém tem a desgraça de o cometer, nada fará de melhor do que
procurar um confessionário e com arrependimento ali declará-lo a fim de ver-se
livre da inimizade de Deus. É impossível gozar de alegria com a consciência
atravessada pelo aguilhão de uma culpa. Nessa consciência não reinará Cristo; e
se ela não se reconciliar com Deus, aqui na terra, tampouco reinará com Ele na
glória eterna.
III - A IGREJA,
MANIFESTAÇÃO SUPREMA DO REINADO DE CRISTO
O júbilo e às vezes até
mesmo a emoção, penetram nossos corações ao contemplarmos estas inflamadas
palavras de São Paulo: "Cristo amou a Igreja e Se entregou a Si mesmo
por ela, para a santificar, purificando-a no batismo da água pela Palavra, para
apresentar a Si mesmo esta Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga ou coisa
semelhante, mas santa e imaculada" (Ef 5, 25-27).
Porém, ao analisarmos a
Igreja militante, na qual hoje vivemos, com muita dor encontramos imperfeições
- ou pior ainda, faltas veniais - nos mais justos, conferindo opacidade a essa
glória mencionada por São Paulo. Entre as ardentes chamas do Purgatório, está a
Igreja padecente, purificando-se de suas manchas. Até mesmo a triunfante possui
suas lacunas, pois, exceção feita da Santíssima Virgem, as almas dos
bem-aventurados foram para o Céu deixando seus corpos em estado de corrupção
nesta terra, onde aguardam o grande dia da Ressurreição.
Portanto, a "Igreja
gloriosa, sem mácula, nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e imaculada" , manifestação suprema
da Realeza de Cristo, ainda não atingiu sua plenitude.
E quando definitivamente
triunfará Cristo Rei? Só mesmo depois de derrotado seu último inimigo, ou seja,
a morte! Pela desobediência de Adão, introduziram-se no mundo o pecado e a
morte. Pelo seu Preciosíssimo Sangue Redentor, Cristo infunde nas almas sua
graça divina e aí já se dá o triunfo sobre o pecado. Mas a morte será rendida
com a Ressurreição no fim do mundo, conforme o próprio São Paulo nos ensina:
"Porque
é necessário que Ele reine, ‘até que ponha todos os inimigos debaixo de seus
pés'. Ora, o último inimigo a ser destruído será a morte; porque Deus ‘todas as
coisas sujeitou debaixo de seus pés' " (I Cor 15, 25- 26).
Cristo Rei, por força da
Ressurreição que por Ele será operada, arrancará das garras da morte a
humanidade inteira, como também iluminará os que purgam nas regiões sombrias.
Ao retomarem seus respectivos corpos, as almas bem-aventuradas farão com que
eles possuam sua glória; e assim, serão também os eleitos outros reis cheios de
amor e gratidão ao Grande Rei. Apresentarse- á o Filho do Homem em pompa e
majestade ao Pai, acompanhado de um numeroso séqüito de reis e rainhas, tendo
escrito em seu manto: "Rei dos reis e Senhor dos senhores" (Apoc 19,
16)
IV - SE CRISTO É REI,
MARIA É RAINHA
Se Cristo é Rei por ser
Homem-Deus e recebeu o poder sobre toda a Criação no momento em que foi
engendrado, daí se deduz ter sido realizada no puríssimo claustro maternal de
Maria Virgem a excelsa cerimônia da unção régia que elevou Cristo ao trono de
Rei natural de toda a humanidade. O Verbo assumiu de Maria Santíssima nossa
humanidade, e assim adquiriu a condição jurídica necessária para ser chamado
Rei, com toda a propriedade. Foi também nesse mesmo ato que Nossa Senhora
passou a ser Rainha. Uma só solenidade nos trouxe um Rei e uma Rainha.
V - CONCLUSÃO
Agora sim, estamos aptos
a entender e amar a fundo o significado do Evangelho de hoje. A resposta ao
povo e aos príncipes dos sacerdotes que escarneciam contra Jesus: "Salvou os
outros, salve-Se a Si mesmo, se é o Cristo, o escolhido de Deus" (v. 35), como
também aos próprios soldados romanos em seus insultos: "Se és o
Cristo, salva-Te a Ti mesmo" (v. 37), transparece claramente nas premissas até aqui expostas.
Eles eram homens sem fé e
desprovidos do amor a Deus, julgando os acontecimentos em função de seu egoísmo
e por isso levados a se esquecerem de sua contingência. Cegos de Deus, já há
muito afastados de sua inocência primeva, perderam a capacidade de discernir a
verdadeira realidade existente por trás e por cima das aparências de derrota
que revestiam o Rei eterno transpassado de dor sobre o madeiro, desprezado até
pelas blasfêmias de um mau ladrão. Não mais se lembram dos portentosos milagres
por Ele operados, nem sequer de suas palavras: "Julgas porventura que Eu não
posso rogar a meu Pai e que poria já ao meu dispor mais de doze legiões de
anjos?" (Mt 26, 53). Sim, se fosse de sua vontade, numa fração de segundo
poderia reverter gloriosamente aquela situação e manifestar a onipotência de
sua realeza, mas não o quis, como o fez em outras ocasiões: "Jesus,
sabendo que O viriam arrebatar para O fazerem rei, retirou-se de novo, Ele só,
para o monte" (Jo 6, 15).
Quem discerniu em sua
substância a Realeza de Cristo foi o bom ladrão, por se ter deixado penetrar
pela graça. Arrependido em extremo, aceitou compungido as penas que lhe eram
infligidas, e reconhecendo a Inocência de Jesus no mais fundo de seu coração,
proclamou os segredos de sua consciência para defendê-La das blasfêmias de
todos: "Nem tu temes a Deus, estando no mesmo suplício? Quanto a nós se
fez justiça, porque recebemos o castigo que mereciam nossas ações, mas Este não
fez nenhum mal" (vv. 40-41). Eis a verdadeira retidão. Primeiro, humildemente ter dor
dos pecados cometidos; em seguida, com resignação abraçar o castigo respectivo;
por fim, vencendo o respeito humano, ostentar bem alto a bandeira de Cristo Rei
e aí suplicar- Lhe: "Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no
teu Reino!" (v. 42)
Tenhamos sempre bem
presente que só pelos méritos infinitos da Paixão de Cristo e auxiliados pela
poderosa mediação da Santíssima Virgem nos tornaremos dignos de entrar no
Reino.
Seguindo os passos da
conversão final do bom ladrão, poderemos esperar com confiança ouvir um dia a
voz de Cristo Rei dizendo também a nós: "Em verdade te digo: Hoje
estarás comigo no Paraíso" (v. 43).
1 ) cf. Hb 1, 2-5.
2 ) Enarrat. in Ps. 5 n. 3: PL 37, 83
2 ) Enarrat. in Ps. 5 n. 3: PL 37, 83
***
Eis uma solução eficaz para todas as crises atuais: a celebração
solene da festa de Cristo Rei
Assim se exprime o Papa Pio XI a esse respeito:
Assim se exprime o Papa Pio XI a esse respeito:
Cristo, fonte da verdadeira Paz
Se soubessem os homens
resolver-se a reconhecer a autoridade de Cristo em sua vida particular e
pública, deste ato para logo dimanariam em toda a humanidade incomparáveis
benefícios: uma justa liberdade, a ordem e o sossego, a concórdia e a paz
(...).
Se os príncipes e
governos legitimamente constituídos tivessem a persuasão de que regem menos no
próprio nome do que em nome e lugar do Rei Divino, é manifesto que usariam do
seu poder com toda a prudência, com toda a sabedoria possíveis Em legislar e na
aplicação das leis, como haveriam de atender ao bem comum e à dignidade humana
de seus súditos! Então floresceria a ordem, então veríamos difundirem- se e
firmarem-se a tranqüilidade e a paz (...).
Oh! que ventura não
pudéramos gozar, se os indivíduos, se as famílias, se a sociedade se deixasse
reger por Cristo! "Então finalmente - para citarmos as palavras que, há 25
anos, o Nosso Predecessor Leão XIII dirigia aos bispos do mundo inteiro - fora possível
sanar tantas feridas; o direito recobraria seu antigo viço, seu prestígio de
outras eras; tornaria a paz com todos os seus encantos. e cairiam das mãos
armas e espadas, quando todos de bom grado aceitassem o império de Cristo, Lhe
obedecessem, e toda língua proclamasse que Nosso Senhor Jesus Cristo está na
glória de Deus Padre" (Enc Annum Sacrum) (...).
As festividades, mais
eficazes que os documentos
A fim de que a sociedade
cristã goze largamente de tão preciosas vantagens, e para sempre as conserve, é
mister que se divulgue quanto possível o.conhecimento da dignidade real de
Nosso Salvador Ora, nada pode, pelo que nos parece, conseguir melhor este
resultado, do que a instituição de uma festa própria e especial em honra de
Cristo Rei.
Com efeito, para instruir
o povo nas verdades da fé e levá-lo assim às alegrias da vida eterna, mais
eficazes que os documentos do Magistério eclesiástico são as festividades
anuais dos sagrados mistérios. Os documentos do Magistério, de fato, apenas
alcançam. um restrito número de espíritos mais cultos, ao passo que as festas
atingem e instruem a universalidade dos fiéis Os primeiros, por assim dizer,
falam uma vez só, as segundas falam sem intermitência de ano para ano; os
primeiros dirigem-se, sobretudo, ao entendimento; as segundas influem não só na
inteligência, mas também no coração, quer dizer, no homem todo Composto de
corpo e alma, precisa o homem dos incitamentos exteriores das festividades,
para que, através da variedade e beleza dos sagrados ritos, recolha no ânimo a
divina doutrina, e, transformando- em substância e sangue, tire dela novos
progressos em sua vida espiritual.
Além disso, ensina-nos a
própria História, que estas festividades litúrgicas foram introduzidas no
decorrer dos séculos, umas após outras, para. responder a necessidades ou
vantagens espirituais do povo cristão. Foram-se constituindo para fortalecer os
ânimos em presença de algum inimigo comum, para premunir os espíritos contra os
ardis da heresia, para mover e inflamar os corações a celebrar com a mais
ardente piedade algum mistério de nossa fé ou algum benefício da divina graça
(...) Assim se deu com a festa de Corpus Christi, instituída quando se esfriava
a reverência e o culto para com o Santíssimo Sacramento.
Instituição da festa
A festa, doravante anual,
de "Cristo-Rei" dá-nos a mais viva esperança de acelerarmos a tão
desejada volta da humanidade a seu Salvador amantíssimo (...) Uma festa,
anualmente celebrada por todos os povos em homenagem a Cristo-Rei, será
sobremaneira eficaz para condenar e ressarcir, de algum modo, esta apostasia
pública (...).
Portanto, em virtude de
Nossa autoridade apostólica, instituímos a festa de "Nosso Senhor Jesus
Cristo Rei", mandando que seja celebrada cada ano, no mundo inteiro, no
último domingo de outubro (...) porque ele, em certo modo, encerra o ciclo do
ano litúrgico. Destarte, os mistérios da vida de Jesus Cristo, comemorados no
decorrer do ano que finda, terão na solenidade de "Cristo-Rei" seu
como termo e coroa.
(Revista
Arautos do Evangelho, Nov/2004)
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