sexta-feira, 16 de julho de 2010

A copa do mundo e os cordéis

A literatura de cordel tem contribuído consideravelmente para um aprimoramente cultural do homem do campo, especialmente do nordestino. Convivi com este tipo de cultura, pois meu falecido pai tinha em suas recordações a lembrança de vários versos que decorara em sua juventude. Assim, aqueles homens rústicos, de pouca leitura, ficavam sabendo, pelos cordéis, dos nomes das capitais, tanto brasileiras quanto de outros países; dos nomes de personalidades do mundo político e cultural, como Alexandre Magno, Carlos Magno, César Augusto, Camões, etc.; e de muitos outros detalhes que, muitas vezes, somente nas escolas se aprende.
Um exemplo podemos ver nesta poesia abaixo:

Eu vi um sagüi de espora
Macaco de realejo
Guariba tocar solfejo
Eu vi nos braços da Aurora:
Eu vi uma caipora
Despenseira de um navio
Sapo cantar desafio
Morcego vender fazenda
Catita fazendo renda
O sol tremendo com frio!

O mote é: Eu vi nos braços da Aurora o sol tremendo com frio! Tudo faz crer que o autor da poesia se baseou em nada menos do que no famoso Bocage, que tem uma poesia com o mesmo mote e reza assim:

Se isto vai de foz em fora,
Também com luz diamantina
Vir raiando a matutina
Eu vi nos braços da Aurora:
Só me resta ver agora
O caranguejo de um rio,
Ver os efeitos do cio,
Cantar modas um macaco,
A lua tomar tabaco,
O sol tremendo com frio!

É preciso observar que, realmente, há certa pobreza nas composições, mas primando sempre pela rima, e muitas vezes esquecendo-se de métrica ou outra beleza literária, este tipo de poesia contém a riqueza da informação e da formação cultural e até religiosa. Foi pensando neste tipo de cultura e informação que elaborei os versos abaixo, a propósito da última copa do mundo:


Quem gosta de torcer, também gosta de sofrer


“Futebol só dá alegria”
Assim diz um refrão
Mas quanto sofrimento
Pra um só ser campeão!

Se um jogador dribla
Sai alegre, satisfeito,
Mas o outro, logrado,
Fica logo contrafeito

A alegria de toda uma torcida
Provoca o ódio da rival
E ambas entram em guerra
Em embates às vezes mortal

Se o sofrimento é ruim
E só alegria deve reinar
Por que, então, por gentileza,
Nunca se deixa o outro ganhar?

Nesta Copa, 31 choraram
E só uma ficou a sorrir
E a tristeza foi campeã
Mesmo sem competir

Futebol dá mais tristeza
Do que mesmo alegria
Se um ganha, outros perdem,
E caem em melancolia

E pra vencer tudo vale:
Bater, xingar, gritar
Sem respeito ao semelhante
O importante é ganhar

Chegada a Copa do Mundo
32 nações a disputaram
Mas uma só é campeã
31 tristes ficaram...

19 Copas foram disputadas
Destas, 5 o Brasil ganhou
Se nestas 5, sorriu
Em 14 ele chorou


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