terça-feira, 3 de março de 2020

BENTO XVI FALA SOBRE A NECESSIDADE DE REPARAÇÃO DOS SACRILÉGIOS MEDIANTE A ADORAÇÃO EUCARÍSTICA






O Padre Alberto Pacini, Reitor da Basílica de Santa Anastácia, falou da adoração eucarística perpétua de modo particular da possibilidade de organizar sessões noturnas e pediu ao Papa que explicasse o sentido e o valor da reparação eucarística diante dos roubos sacrílegos e das seitas satânicas.
Já não falemos em geral da adoração eucarística, que está realmente imbuída nos nossos corações e penetra no coração do povo. O senhor formulou esta pergunta específica, sobre a reparação eucarística. É um tema que se tornou difícil. Lembro-me, quando era jovem, que na festa do Sagrado Coração se rezava com uma bonita prece de Leão XIII e depois com uma de Pio XI, em que a reparação ocupava um lugar particular, precisamente em relação já naquela época aos atos sacrílegos que deviam ser reparados.
Parece-me que devemos ir até ao fundo, chegar ao próprio Senhor, que ofereceu a reparação pelo pecado do mundo, e procurar reparar: digamos, estabelecer o equilíbrio entre o plus do mal e o plus do bem. Deste modo, na balança do mundo não devemos deixar este grande plus negativo, mas dar um peso pelo menos equivalente ao bem. Esta ideia fundamental alicerça-se no que foi realizado por Cristo. Daquilo que posso compreender, este é o sentido do sacrifício eucarístico.
Contra este grande peso do mal, que existe no mundo e que abala o mundo, o Senhor põe outro peso maior, o do amor infinito que entra neste mundo. Este é o ponto importante: Deus é sempre o bem absoluto, mas este bem absoluto entra precisamente no jogo da história; aqui, Cristo torna-se presente e sofre o mal até ao fundo, criando assim um contrapeso de valor absoluto. O plus do mal, que existe sempre, se virmos apenas empiricamente as proporções, é ultrapassado pelo imenso plus do bem, do sofrimento do Filho de Deus.
Neste sentido existe a reparação, que é necessária. Parece-me que hoje é um pouco difícil compreender estas coisas. Se virmos o peso do mal no mundo, que cresce de maneira permanente, e que parece prevalecer de forma absoluta na história, até poderia como diz Santo Agostinho numa meditação desesperar. Mas vemos que há um plus ainda maior no facto de que o próprio Deus entrou na história, se fez partícipe da história e sofreu até ao fundo. Este é o sentido da reparação.
Este plus do Senhor é para nós uma exortação a pormo-nos ao seu lado, a entrar neste grande plus do amor e a torná-lo presente, mesmo com a nossa debilidade. Sabemos que também para nós havia a necessidade deste plus, porque inclusive na nossa vida existe o mal. Todos nós vivemos graças ao plus do Senhor. Mas Ele oferece-nos este dom a fim de que, como diz a Carta aos Colossenses, possamos associar-nos a esta sua abundância e, digamos, fazer aumentar ainda mais esta abundância concretamente no nosso momento histórico.
Parece-me que a teologia deveria fazer mais, para compreender melhor ainda esta realidade da reparação. Na história havia também ideias erradas. Nestes dias li os discursos teológicos de São Gregório de Nazianzo, que num certo momento fala sobre este aspecto, e pergunta: por quem ofereceu o Senhor o seu sangue? Ele diz: o Pai não queria o sangue do Filho, o Pai não é cruel, não é necessário atribuir isto à vontade do Pai; mas a história queria-o, desejavam-no as necessidades e os desequilíbrios da história; devia-se entrar nestes desequilíbrios e aqui recriar o verdadeiro equilíbrio. Isto é mesmo muito iluminador. Mas parece-me que ainda não dispomos suficientemente da linguagem para fazer compreender este facto a nós e, em seguida, também aos outros. Não se deve oferecer a um Deus cruel o sangue de Deus. Mas o próprio Deus, com o seu amor, deve entrar nos sofrimentos da história para criar não apenas um equilíbrio, mas um plus de amor, que é mais forte do que a abundância do mal existente. O Senhor convida-nos para isto.
Parece-me uma realidade tipicamente católica. Lutero diz: nada podemos acrescentar. E isto é verdade. E depois continua: portanto, as nossas obras nada contam. E isto não é verdade. Porque a generosidade do Senhor se manifesta precisamente no facto de que nos convida a entrar e dá valor inclusive ao nosso estar com Ele. Devemos aprender melhor tudo isto e sentir também a grandeza, a generosidade do Senhor e a grandeza da nossa vocação. O Senhor quer associar-nos a este seu grande plus. Se começarmos a compreendê-lo, sentir-nos-emos felizes se o Senhor nos convidar para isto. Teremos a grande alegria de ser levados a sério pelo amor do Senhor.

(ENCONTRO DE BENTO XVI COM OS PÁROCOS E O CLERO DA DIOCESE DE ROMA NO INÍCIO DA QUARESMA
Sala das Bênçãos - Quinta-feira, 22 de Fevereiro de 2007 )


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